Orgulho e Amor II

Acabo de ver um filme sugerido por uma amiga. Nele o menino chinês “Tan Hong Ming” está apaixonado. Quando a repórter pergunta por que ele não quer que o mundo inteiro saiba, ele responde: “Porque iriam rir de mim”. “Por que vão rir de você?”, pergunta a entrevistadora, e ele responde: “Porque ela não gosta de mim”. O video estará no final.

Anteontem, conversando com um amigo a respeito da minha pancada amorosa sofrida semana passada, ouvi a célebre frase: “Quem ama, liberta”. Ok.

Penso que no texto anterior faltou eu descrever melhor como o orgulho age em nossas vidas amorosas, e o pequeno Tan foi um exemplo propício para o que já vagava em minha mente. Sugiro a leitura do texto anterior, pois aqui farei afirmativas que já foram explicadas. Ou tenham a mente aberta e simplesmente as aceitem!

Somos seres sociais, precisamos de interação. Portanto, a opinião do outro, a imagem que temos perante a sociedade é importante, faz bem à nossa autoestima. O problema é, como sempre, o excesso… Passamos a depender desta opinião e aceitação alheia para nos sentirmos bem conosco. Desta forma, fica cada vez mais difícil fazer algo que a contrarie, mesmo quando nossa individualidade, nossa personalidade, nossas subjetividade, assim o peça.

Isso para tudo. Agora, vamos falar especificamente do amor. Tão presos a este comportamento coletivo, agimos como o menino Tan: “Todos vão rir de mim”. A risada do outro é mais importante que o sentimento belo que nutrimos… A realidade que nos cerca (momentaneamente! Tudo passa!) passa a falar mais alto que o os valores que trazemos dentro de nós. A realidade da alma.  

Assim, fica fácil alimentar o orgulho. O medo do que os outros irão pensar, para assumirmos publicamente um sentimento; e, diante do outro, do ser amado, um medo ainda mais íntimo – o de amar, o de se entregar – nos acomete. Faz com que fiquemos seguros em nossos relacionamentos que vivem aquela lógica invertida (ver texto 1), a de fora para dentro, que primeiro recebe para depois dar. O que o outro faz por e para mim e a sensação de realização que eu sinto agora, é mais importante – e mais fácil de se obter – do que eu já poderia estar vivendo. O medo do ridículo, a dificuldade em demonstrar emotividade, doçura – por confundir-se com fragilidade! – consideração pelo outro – por confundir-se com falta de autoamor, com ser submisso – e até mesmo a arrogância do outro perante nós, que nos obriga a nos armarmos e nos defendermos. A necessidade de ficar sempre por cima (para esconder nossa consciente ou não real fragilidade), de ser sempre o que tem a última palavra, a incapacidade de pedir perdão por um erro – ou de perdoar quando nos pedem! –, o menosprezo por algo novo ou belo, por medo do que irão falar. Tudo isso o orgulho faz. Preferimos nos proteger e não avançar, com medo da dor, que nos permitirmos arriscar, experimentar outros níveis conscienciais e sentimentais (mesmo com os tombos inerentes do começo e tendo que vencer o medo do desconhecido), a evoluirmos.

Já foi falado no outro texto que há vários tipos de relacionamentos, que cada ser está em um patamar evolutivo e só dá aquilo que tem. Portanto, ainda que um casal se una apenas por paixão, muito mais por atração física que por conteúdos, se internamente for isso mesmo que eles vibrem, e se ambos quiserem isso, não há problema. Isso não é ruim, é bom! Estão aprendendo e, com o tempo, por esta afinidade sexual, passam a apreciar um ao outro e vão desenvolvendo sentimentos melhores. Se isso é o máximo que os dois podem, ótimo! Estão evoluindo! Assim como com as uniões mais voltadas para a amizade, ou para a praticidade misturada com companheirismo, ou quando confundimos afeições e mesmo quando forçamos a barra para satisfazer o relógio biológico ou a pressão social, mas temos boa intenção com a pessoa “normal que poderia ser outra muito parecida” escolhida e assim, vai. Se ambos estão bem e estão crescendo, e se é o máximo que conseguem, é este mesmo o caminho! Mas a partir do momento que um quer ir além e o outro prefere ficar onde está, não há direito em prender ninguém (o que não tem nada a ver com desconsideração, com quebra de real compromisso ou abandono. E esta realidade não dá ao direito dos “fujões” a usarem-na como desculpa para elevar seus erros. Apenas servem como conscientização para os falsos abandonados – por mais que sua dor seja real e eles, dignos de carinho! – que, na verdade, estão é tendo uma chance da vida de rever valores e recomeçar. Cada caso é um caso. Como no mundo os efeitos são muito parecidos, só as pessoas diretamente envolvidas tem condições de conhecer as diversas e verdadeiras causas).

 Claro, as uniões afetivas baseadas em puro interesse material, ou status, poder e mesmo estes da pressão do relógio biológico ou da sociedade, mas que apenas usam o outro para satisfazer seus caprichos (estes têm total consciência do fato e não se importam com o sentimento de terceiros) ou quando só almejam sexo e também vêem o outro como objeto e etc., também não devem entrar nesta regra, porque isso é desvirtuar a natureza de um relacionamento – embora também tragam seus aprendizados. Este tipo de união não podem mais passar pela mente de quem quer aprimorar sua afetividade! Refiro-me a relacionamentos baseados em sentimentos, que respeitam esta natureza, mas que são sentimentos ainda “incompletos”.

 O problema está em o indivíduo já apresentar condições de viver uma situação mais “completa” e não o fazer. O objetivo da vida é elevar virtudes. Ao passo que o casal da atração sexual que só tem isso dentro de si está crescendo, o casal que possui mais e que tem até mesmo um relacionamento já mais afetuoso, porém, acomodado, “morno”, e não busca algo melhor, está estacionado. Já conquistou um patamar acima nos níveis de sentimento, se comparados com a ligação puramente sexual. De forma absoluta, parece que o segundo casal está numa situação melhor, por estar num patamar acima. Entretanto, o “casal sexual” está alavancando virtudes, está agindo. O que está num relacionamento morno, mas que já tem capacidade para viver algo mais profundo e não o faz por comodismo – juntos ou separadamente -, está parado. Relativamente, quem está numa situação melhor é o primeiro.

O amor é libertação. Neste aspecto, concordo com meu amigo que quem ama, liberta. Já falo sobre isso. Sair do grande grupo de relacionamentos efetivos “incompletos” e entrar neste outro, o amoroso, é um passo enorme, é controlar amplamente (de forma relativa, para nosso grau evolutivo, mas mesmo o melhor de nós ainda tem muito a crescer – ver texto 1) seu orgulho. Mesmo que, uma vez dentro desta “escola”, ainda se esteja no primeiro dia de aula de um novo berçário e muito se tenha a caminhar para chegar à faculdade. Mas já é uma escola diferenciada.

Amar é doar sem esperar nada em troca. É acreditar sem ver para crer. É querer a felicidade do outro, acima de tudo. Até mesmo de você, se for o caso – e isso nada tem a ver com anulação ou baixa autoestima, embora seja assim interpretado pelos orgulhosos, o que impede ainda mais esta prática. Quantas vezes pedi a Deus, do fundo do coração, para que a esposa dele o fizesse feliz? Quantos anos passei me contentando com um sorriso, com um pensamento em comum, que me dava um arrepio – na alma! O do corpo vinha depois! – e ficando dias e dias feliz só por olhar em seus olhos (que durava apenas um ou dois segundos e quando era estritamente necessário, quando seria até falta de educação não fazer) e o que visse ali, me iluminasse? Se ainda escrevo sobre isso, se cheguei até aqui, é porque acreditei em algo maior que as circunstâncias atuais da época – o impedimento de viver esta história na prática devido ao respeito por seu casamento, que certamente era permitido por Deus, havia alguma causa justa.

Mas eu também sou humana, eu também sou imperfeita e, não apenas de forma geral, como todos nós, por sermos almas crianças (ver texto 1), mas por ter esta qualidade de forma acentuada em mim  – orgulho -, errei e me desarmonizei.

Nossas almas estão em constante aprendizado. Temos características passadas, positivas e negativas. No presente, ao passo que vamos tomando consciência do que é a alma, do que é a vida e nos esforçamos para caminhar em direção desta realidade, vamos domando nossas más tendências. Seja por intuição, seja por estarmos ligados a tal ou tal religião, não importa a forma. Mas buscamos algo divino, dentro de nós.

O exercício de elevar a alma é muito similar a nos livrarmos de um vício físico. O alcoolismo, por exemplo. Primeiro é necessário admitir-se “alcoólatra”. Feito isso, procura-se ajuda. Interna-se. Com o grupo de apoio e com a desintoxicação, dá-se um grande passo para se livrar do vício. É aqui o problema: entende-se esta ausência de contato material com o álcool, como a cura, e os organizadores destes programas precisam insistir: “ter recaída é normal. Não desanime, faz parte do processo!”. Porque o passo final é este: a prática, o “resistir a tentação”, saber ponderar, saber conviver com isso. Saber controlar a si mesmo.

Como somos racionais demais (ver texto 1), menosprezando nossa outra potência do ser – o emocional – preciso fazer uso de um exemplo ocorrido na área fisiológica, portanto, palpável, ponderável, para, por analogia, entendermos um pouco mais sobre o funcionamento de nossas emoções. Sendo assim, quando detectamos um defeito em nós, buscamos ajuda: seja por conversas com amigos, seja por leituras, seja por religiosidade. Afastamo-nos daquela sintonia negativa e sublimamos um pouco nossas idéias, descobrindo um mundo novo. Enxergamos um novo modo de viver. Como o alcoólatra ou o drogadito numa clínica. Mas isso não é suficiente: somente quando voltarmos para o “mundo real” e situações na vida estimularem o uso desses antigos defeitos, é que conseguiremos verdadeiramente a superação deles. Ficar longe deles não é a vitória. É uma louvável conquista! Mas ela consiste em conviver com nossas falhas e conseguir não mais ser dominado por elas. E errar, repetir o gesto anterior, faz parte. A diferença é que antes se era egoísta, rude, ciumento, autoritário, escandaloso ou o que quer que fosse, por ignorância, e nada se fazia para melhorar de atitude. Hoje, depois deste processo, quando acontece algo que nos tira do controle e repete-se o ato, o incômodo interno já é maior, reconhece-se mais facilmente a causa que o levou a tal atitude e fica mais fácil contorná-la na próxima situação. Por fora parece o mesmo gesto (e é por isso que muitos desistem, porque enxergam apenas o efeito, que é parecido, e não a causa, não o processo que ainda está em andamento), mas algo já se modificou dentro, permitindo que tenhamos atitudes diferentes e, paulatinamente, consolidemos aquilo de bom que aprendemos e que agora, conscientizados, almejamos.

Quando estamos em paz, conseguimos ir alimentando estas virtudes em processo de conquista. Entretanto, se perdermos o controle, se ficarmos pessimistas, mau-humorados, nervosos, o que estava sendo subjugado volta, pois faz também parte de nós. É, ainda, o nosso piloto automático. Precisamos evitar usá-lo, para transformar defeitos em virtudes – não lutar contra eles, mas modificá-los em algo bom! Por isso a importância deste processo, como no vício físico: é bem provável que cometeremos o mesmo ato de que estamos querendo nos livrar. O que não pode é desistirmos por nos assustarmos quando isso acontecer, esperando “cura milagrosa” e achando que ela não aconteceu, porque estamos repetindo o mesmo erro, e, então, desistimos; nem nos acomodarmos: “Ah, é normal mesmo, então, deixa vir…”, e não fazer mais nada para superar…

Descobri ser uma alma no meio do caminho para o amor. Não sou orgulhosa o suficiente para não aceitá-lo e buscá-lo – muito pelo contrário, há um lado muito sutil e amoroso em mim! – mas também não amorosa o suficiente para nunca dar ouvidos ao meu orgulho. Como alma, sou como o alcoólatra que já se desintoxicou e sabe como a vida pode ser melhor. Mas ao voltar para o mundo, ainda se descontrola e repete atos antigos: o orgulho e conseqüente falta de fé, falta da paciência, imediatismo, falta de tolerância com o outro e más tendências psicológicas que estavam sendo controladas, como insegurança, ciúmes, autoestima arranhada e etc. Daí toda a confusão em relação aos conceitos dos efeitos de minhas causas.

Porém, não é justo ser isso o que me define, ou que defina a qualquer um de nós diante de um processo! Por que olhar sempre o lado negativo e desmerecer o lado bom? E o esforço feito, e o princípio de virtude já adquirido? No meu caso, eu não sou mais apenas este orgulho! Apenas a insegurança, apenas o resquício de possessividade, de ciúme, com os quais eu não concordo, que só afloram quando tenho a tal recaída, que eu sinceramente não quero mais dentro de mim e que eu luto para transformar! E o amor que eu já consigo dar? Olhar sempre para a falta alheia não seria o estímulo do mal? Como iremos fazer diferente, se olhamos sempre para o mesmo lugar? Não me refiro a negar quem somos, mas a valorizar nossos méritos! Exatamente para errar menos! Será que aqui também não há uma lógica a ser convertida: diante do erro, por que enumerar os equívocos, contribuindo para uma autoimagem negativa de quem os pratica, gerando desequilíbrio e possibilitando ainda mais a repetição dos mesmos, em vez de dar um voto de confiança para a virtude, mesmo que ainda semente, estimular a autoestima, a realização, e dar mais um pequenino passo em direção ao bem?

Medo de quebrar a cara. Medo da pessoa nos decepcionar. De parecer “bobo”. Orgulho.

Enquanto eu estava em paz comigo, soube vencer este meu (nosso) maior inimigo e amar. Fazer tudo o que eu descrevi antes – doar, confiar, esperar, me contentar com o mínimo e ainda sim ser imensa e verdadeiramente feliz, como nada antes me fez (e como eu acho bem difícil algo um dia me fazer. É, “riam” o quanto quiserem, mas eu não me importo – gosto do Tan! Só eu sei o que vivi!).

Porém, por ser imperfeita, simplesmente humana, quando dei brechas para um estado de alma negativo (saí da clínica, caí no mundo mas não venci a tentação), passei a analisar a situação apenas pela prática, pela razão e meu orgulho falou mais alto. Comecei a duvidar e a achar difícil demais continuar, queria que Deus permitisse que acontecesse logo para eu ter certeza (ansiedade com falta de fé… receita explosiva!) e comecei a pedir contas a Ele: “eu dei isso, eu fiz aquilo… e aí, quando vou receber? Se não acontece, deve ser mentira, devo ser louca, isso é para bobos, vai ver tenho só baixa autoestima mesmo e estou inventando tudo porque sou uma boba sonhadora, quem deu em cima de qualquer um sem se preocupar com sentimento, ou só procurou pessoas de modo mais neutro, mas também sem se importar com sentimento, está aí, casado, procriando, e eu continuo sozinha! Devo ser uma idiota para acreditar nisso”, dentre tantas outras bobagens.

Como se já não bastasse todo o ceticismo do mundo para uma pessoa então insegura e com baixa autoestima vencer, houve (e ainda há, em menor escala!) também uma exaustiva luta interna… Acreditem ou não, meu sentimento é verdadeiro, portanto, ver a vida desta forma prática, palpável, impressionando-me apenas com os fatos e, por isso, concluir que foi tudo ilusão, em vez de me libertar e me fazer “crescer”, “acordar”, como muitos – quase todos! E mesmo os que acreditam, o fazem por momentos, mas logo titubeiam! Por mais que estes raros e admiráveis seres humanos, por amor, não me abandonem nunca e eu deva até minha vida a alguns deles, pela força dada, sinto-me, geralmente, sozinha diante de minha causa! – dizem e pensam, para mim gerou um conflito interno sem tamanho, uma crise existencial que me deprimiu. Porque esses fatos negativos apenas ESTÃO, mas o que sinto, É. E quando nego isso, sofro.

Sempre, sempre que eu buscava este amor, que, nestes estados de alma, estava perdido dentro de mim, eu voltava a ser pacífica, compreensiva, carinhosa, feliz e conseguia até alimentar algumas virtudes bem pequeninas dentro de mim, como a serenidade, a calma, a paciência… Como poderia ser ruim?

Eu não sofria porque o amor me fazia sofrer (e, portanto, não deveria ser amor), muito pelo contrário: por deixar de acreditar em algo que é verdadeiro e por me desconectar disso, de quem eu realmente sou, é que sofria, e sempre, sempre que consegui elevar meus sentimentos e encontrá-lo novamente dentro de mim, a dor sumia!!!! Foi este amor que sempre me aliviou, e a ausência dele que me atormentou! Eu concordo que o amor não machuca! Eu só me machuquei quando me afastei, quando duvidei dele! Quando, ainda influenciável pelo meu orgulho, lamentei por ter doado ser receber nada em troca, por ter acreditado, mesmo com tantos fatos negativos contra a história; mas, já conhecendo o que é o amor e sem conseguir me contentar com os relacionamentos somente do ego que o orgulho insistia em me oferecer – os quais eu neguei, mesmo com dor no coração em alguns casos! Pessoas maravilhosas, que eu cheguei até lamentar por não retribuir, mas que simplesmente não eram para mim -, não mais conseguia negar esta realidade de meu interior. Eu já havia caminhado, não era possível voltar atrás!

Para fazer como o Tan hoje, ao assumir seu sentimento, eu domei meu orgulho. E olha que não é pouco! Não só durante os anos que convivi de longe com ele (o ser amado), quando ele entrou na minha vida, mas durante TODA a minha existência eu vivi este sentimento, principalmente no término das histórias que, à época, eu julgava serem de amor. Eu sempre soube que havia algo a mais, eu sempre sintonizei com esta certeza que hoje eu defendo e, não importa o que aconteça, por mais machucado que meu coração fique, sempre defenderei (minha história particular pode até ter naufragado, mas ainda pode navegar para outros!).

Até que, vinte e tantos anos acreditando e esperando, eu o encontrei! Aos poucos, bem devagar e sem que eu mesma percebesse (ao contrário dos outros sentimentos de carência, paixão, que aconteciam ou eu criava do dia para a noite – porque tinham muito mais a ver com o que o outro satisfazia em mim, às minhas imediatas necessidades do ego, do que aquilo que a pessoa era ou que despertava em minha alma), fui reconhecendo nele este sentimento que eu já tinha, que nunca havia sido despertado por ninguém – por mais que eu quisesse. Devido à dificuldade da situação, venci meu orgulho, como já explicado, mesmo depois de tanto sofrer.

Quem ama liberta? Sim, quando a pessoa precisa ir atrás de um sonho; quando não pode concretizar um sentimento, devido a situações passadas, a compromissos; quando a pessoa sincera e humildemente, simplesmente não quer (e, de preferência, deixe isso bem claro, principalmente se a pessoa perguntar com todas as letras e numa boa, apenas querendo saber a verdade!). Isso é elevar virtudes: quem vai, cresce, busca a felicidade, e quem fica desapega, abre mão, esquece de si em nome da felicidade do outro. E isso é realmente lindo… Por mais que seja contra esta lógica invertida, ainda vigente do mundo – de fora para dentro, “do outro para mim”, e não “de mim para o outro”.

Mas quando há traços de orgulho no meio, quando o que provavelmente impossibilita a descoberta, ainda que seja de uma ínfima semente de sentimento, é o medo de amar, é a influência do comportamento coletivo, é o excesso de razão e praticidade, “pé no chão” demais, eu desconfio. Quem não deve, não teme… Se há arrogância na hora de interagir, como houve comigo, é bem possível que haja sentimento mal resolvido.

Texto um, vivemos num mundo de poucos efeitos e muitas causas… Uma mulher não aceitar a escolha de um homem. Este é o efeito. Bem que poderia ser revolta quanto às resoluções da vida, bem que poderia não saber lidar com uma rejeição, bem que poderia julgar-se dona de alguém. Esta é a causa comum, e que muitas vezes é a realidade. É uma causa já pronta, pré-estabelecida, não dá trabalho. Portanto, é como todo mundo julga. Julga! Como se tivessem autoridade para isso… Mal sabemos de nós, como compreender realmente o que vemos superficial e externamente? Mas, infelizmente, é o que fazemos. Claro, precisamos formar opiniões em nossas vidas. O condenável é tomar conta da vida do outro.

Entretanto, devido ao autoconhecimento, cheguei a outras e distintas causas… Eu nunca me revoltei contra Deus quando um caso afetivo deu errado. E já fiquei bastante envolvida, não é nem querer dizer que não doeu. Será que só estaria revoltada com Deus agora? Ou, mesmo assumindo a arrogância por me achar no direito de me zangar quando desrespeitam algo que eu já respeito (as regras da vida, ver o final do texto 1), me desespero e não aceito quando o amor deixa de acontecer desnecessariamente, por motivos menores? Desvio!

Sabemos que podemos escolher relacionamentos por causas distintas; sabemos que atraímos aquilo que emanamos – e se estivermos em conflito, levaremos em conta nosso “piloto automático” ainda mais orgulhoso e imediato! -, sabemos que temos liberdade de escolhas em nossas vidas. Será que esta realmente é a vontade de Deus? Ou seria o mau uso da liberdade do Homem (de um homem, no caso)?

Será que negar uma pessoa com um sentimento bom é sempre incompatibilidade, pura falta de vontade (e o rejeitado é que precisa aprender a aceitar!), ou o “desejado” é que não sintoniza com sentimentos mais nobres, por isso não enxerga a pessoa? Ou até enxerga, mas não sabe identificar isso dentro de si e confunde os sentimentos? Ou até identifica, gosta, mas é orgulhoso demais para dar o braço a torcer, ou tem medo de se envolver? Isso, tudo, claro, me incomodando se a pessoa já pudesse fazer melhor, não por passar por cima do real estado atual e ser incompreensiva.

Meu orgulho ainda condiciona determinadas virtudes. Ele só permite libertar quem eu amo para situações boas. Escrevi isso também na poesia que eu publicara semanas antes, e que foi feita provavelmente quando meu amado encontrava aconchego (para ser bem otimista) nos braços de outra pessoa. Eu o libertaria numa boa, mesmo com tamanho orgulho – como já fiz! -, se fosse para elevar virtudes, se valesse a pena. Porém, se for para ele ser infeliz e eu também, não consigo ser tão sábia. Ainda me revolto. Não aceito. Não me conformo. E NUNCA irei me conformar!

Serei obrigada ou a viver sozinha, ou a ter relacionamentos que terão um limite de crescimento. Já comecei a buscá-los, inclusive. E se eu magoar alguém??? E, assim, violentarei minha alma (explico melhor este raciocínio no Ensaio “Quem Somos Nós”). Se você foi criado numa família honesta e vai trabalhar num lugar onde querem te colocar num esquema corrupto, você consegue fazer numa boa? Não é melhor procurar outro trabalho? Ou, se realmente precisar, aquilo não vai doer, não vai te matar por dentro, porque é contra sua natureza?

Não tem como eu “procurar outro trabalho”. O mundo é este, as regras já estão feitas. Sendo este tipo de amor um tipo específico, íntimo, subjetivo, não o encontrarei novamente em outra pessoa. Enquanto vivemos relacionamentos baseados em sentimentos menos nobres, mas igualmente bonitos (carinho, companheirismo, paixão, amizade, tudo misturado, mas nem tudo de um vez) acharemos várias almas com características necessárias ao nosso desenvolvimento que a vida nos colocará no caminho. São características mais genéricas, menos ligadas à essência da pessoa, embora possamos amar alguém pelo que a pessoa é, mas é um amor diferente deste específico. Falta algo… Daí, podemos dizer que iremos amar de novo, que encontraremos alguém que merece, e por aí, vai. Vai-se encontrar apenas outra pessoa bem parecida, mas um pouco melhor que aquela que partiu, que deixamos ou que nos machucou.

(Aqui é divagação espiritual…) Mas exatamente por sermos estas almas em princípio de caminhada evolutiva, com tanta coisa a lapidar – e com muito orgulho, se comparado ao que podemos nos tornar – quando chegamos a determinado grau de evolução no sentimento amoroso, quando os relacionamentos perdem o caráter de puro autoconhecimento, para também servirem de troca mútua – um outro tipo de aprendizado amoroso – desenvolvemos um laço afetivo específico com uma alma afim, para que, por ter maior segurança nesta ligação tão íntima, consigamos nos entregar e ir ainda mais fundo do que normalmente iríamos, exercitando ainda mais puramente o amor. E, para ter esta segurança, é preciso ter um referencial confiável. Se ficar mudando, com cada nova alma seria um recomeço, e, devido às nossas limitações evolutivas, voltaríamos um pouco atrás em nossa “entrega”. Para superarmos esta barreira tão inconsciente, é necessário haver um ser afim, uma história em comum, um sentimento específico, pessoal, que já esteja gravado dentro de nós e não apenas nos permita mergulhar, mas também, seja tão forte e bom que não nos deixe outra escolha.

Que fique claro uma coisa: o que rege as uniões afetivas é o sentimento. Dentro desta escala de sentimentos, o maior é o amor. É o destino final das almas. Portanto, é ingenuidade tentar impedir alguém que queira algo mais, que queira seguir. Isso gera infelicidade aos dois, que já não falam mais a mesma língua. Enganam-se, mas esta falta de materialização da realidade, seja por pena (meu Deus! Apesar da reconhecida preocupação e boa vontade, no fundo, é muito orgulho de quem tem dó ao magoar alguém e não falar a verdade. Ninguém merece pena de ninguém! Tenhamos coragem para, com doçura – com sentimento não se brinca! Pode não ser importante a nós, mas é para o outro! – entregar à outra pessoa a realidade, para que ela possa, de fato, buscar a felicidade que merece! A certeza negativa é infinitamente melhor que a eterna dúvida), seja por falta de coragem de dizer, ou medo de passar pela dor do rompimento etc., é sempre prejudicial, gera conflito. Quer-se evitar um mal, uma situação negativa de fato – mas, se é verdadeira, é necessária ao aprendizado dos envolvidos! – para camuflar a realidade. Todavia, é gerado, assim, um mal ainda maior, pois advém da mentira, do que não é, desequilibrando o Ser!

Funciona assim: se optarmos por comprar um produto ilegal, sonegar imposto, fazer um gato ou entrar de graça numa embarcação, estamos arriscando, certo? Podemos até por um momento rir de não ter pago a passagem, sentir-se esperto por não pagar por eletricidade, dar um troco no governo pelo excesso de taxas ou pagar mais barato por um eletrônico. Porém, se a Polícia Federal, o funcionário da concessionária de luz ou fiscal da empresa, baixarem, “a festa acabou”, certo? Com o amor, a mesma coisa: se um casal se une por um sentimento menor, seja de comum acordo, ou seja por puro desencontro, carinho no ego – quando um (ou os dois!) já tem a capacidade de viver além e faz uma escolha mais imediata – tudo bem. Que seja eterno enquanto dure. Ainda mais quando não se tinha consciência de nada disso. Mas o próprio código de leis brasileiras já adverte que ignorar uma lei não exime o infrator de sua pena. Que dirá as Leis da Vida! Se não for verdadeiro, simplesmente vai durar enquanto tiver que durar!

E se já se tem consciência, mas ainda é escolhido fingir para si mesmo (meus amores, não façam isso!), sinto muito, mas “trema na base”: se seu companheiro ou sua companheira – e mesmo você! – encontrar alguém que realmente ame, é fato: a lei maior será executada! Não é melhor pegar fila, pagar passagem, pagar pela luz ou o dobro do preço por um produto, mas ter a nota fiscal, poder reclamar em caso de defeito e no máximo ficar chateado pela perda de tempo no caso de blitz? Com o amor, a mesma coisa: não é melhor ficar um tempo sozinho, se autoanalisando, escolhendo melhor as pessoas, com critérios mais elevados – e ainda assim erraremos, mas erraremos por outros motivos de aprendizado e por caminhos que verdadeiramente nos levarão ao acerto! – e relacionar-se somente com quem valer a pena, mas colher os frutos de uniões mais sinceras, pacíficas, harmoniosas – e que, exatamente por isso, conseguem ser amplamente apaixonadas? Não quer colher a indescritível dor de uma separação no futuro? Plante agora! Namore, noive e case com quem realmente você tem afinidade! Ainda que isso te deixe um, dois ou dez anos para tia. Do contrário, apenas sofra – porque é normal – mas lembre-se de assumir as conseqüências quando o desencontro, outrora latente, aparecer! Já temos condições de racionalizar isso e elevar os níveis de nossos relacionamentos! Mesmo que ainda cometamos erros e também não dê certo como gostaríamos. Mas a probabilidade de sofrer por errar tentando acertar é menor que a absoluta certeza de sofrer por negligenciarmos, por fugirmos de uma realidade!

Quanto mais o tempo passa, mais eu penso em mais uma ligação “igual” no mundo, movida pelos mesmos valores mecânicos, diferente apenas pelo jeito do corpo, o tom de voz e alguns traços de personalidade. Mas igual. Penso no desvio do amor que está acontecendo, e mesmo que varrida para debaixo do tapete, mais raiva eu sinto. Se meu orgulho e meu amor dialogassem, o primeiro diria que valeu a tentativa, mas ele estava certo desde o começo. Que esta ousadia do segundo tinha chegado ao resultado final ao qual ele chegaria, desde sempre. Completamente desmoralizado o amor ficaria, e, cantando vitória, o orgulho reinaria totalmente. Temo, verdadeiramente me apavoro, ao indagar se, com o tempo, ele irá me dominar e eu, sem saída, passe a negar o que um dia tanto quis e pelo que lutei a vida inteira… Resume-se assim: o amor me mostrou o céu. Graças ao orgulho, conhecerei mais de perto e continuamente, o inferno.

Tolos seres humanos. É exatamente assim que matamos tudo de bom que há na vida, que há em nós. Não dá para fazer diferente? 

Se eu digo que o orgulho não é bom, não é por eu ser exemplo perfeito e já dar lição de moral, mas por viver e ter consciência do mal que ele faz. Mas, sinceramente, desejar que os outros também não passem por isso. Eu transito nos dois extremos, sei bem diferenciar um do outro. Quero compartilhar o que aprendi: alertar a todos e, assim, quem sabe, um a um menos orgulhosos, admitindo sentimentos, servindo de exemplo para outros, sendo copiados e, ao longo do tempo, criando um ambiente favorável ao amor, possamos aceitar esta bênção de forma coletiva. Para que aqueles que ainda são totalmente submetidos ao meio também se libertem e nunca tenham vergonha do que sentem, e assim o amor submeta o orgulho. Que se perca o medo de sentir e de admitir aquilo que se traz dentro de si, para iluminar nossos lados sombrios e marchar para dias melhores.

Video: http://www.youtube.com/watch?v=P5DLAQ76HaY&feature=share

Fonte imagem: meninasegarotas.com.br

Orgulho e Amor

Penso que a razão da vida na Terra é fazer a alma crescer, evoluir. Para aqueles que ainda não vêem assim, vamos divagar… Aos outros, um ou dois parágrafos de paciência que já voltaremos a dialogar partindo do mesmo ponto.

 Através de meios científicos e racionais, ao analisarmos a História da Humanidade, a Antropologia, a Psicologia e tantos outros conhecimentos que o Homem adquiriu, podemos concluir que nossas civilizações evoluem. Portanto, se o homem presente do passado mostrou-se superado no futuro, fatalmente nós também estaremos defasados perante os homens presentes do porvir. Além de aceitar a evolução, precisamos compreender, então, que nem tudo o que faz parte de nossa cultura e nossa verdade (coletiva ou individual) hoje é absoluto. Pode mudar, portanto, as mentes devem sempre estar abertas.

Sabendo disso e buscando conhecimentos filosóficos e espirituais já espalhados pelo globo, podemos, portanto, concluir que o destino do Ser é o equilíbrio, é a consciência de si. E isso acontece através da evolução – que, vejam, de forma racional, podemos observar, então, não é uma proposta tão absurda ou alienada assim!

Aceitando estas premissas, conseguimos acreditar no conceito daqueles que já avançaram em estudos da alma, como religiosos ou psicólogos. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) já acrescentou à definição de estado saudável do Homem o bem-estar espiritual, além do físico, mental e social. Há, portanto, posturas benéficas para a emoção do Ser e posturas prejudiciais. Paz, equilíbrio, serenidade, paciência, humildade, fé, alegria etc. são sentimentos reconhecidos como saudáveis ao ser humano. Ódio, rancor, raiva, ciúme, egoísmo, ansiedade, prepotência, ceticismo, tristeza etc, são, portanto, negativos.

Ofereço um pouco do aprendizado em minha vida particular para tentar explicar o que acontece com dois representantes destes grupos distintos: orgulho e amor. Vale para todo tipo, embora meu aprendizado recente tenha sido na área afetiva (homem-mulher).

Lá estava eu, ontem, novamente dirigindo até a casa de minha mãe para o tradicional almoço de domingo. O caminho era diferente, mas a situação, aparentemente, muito parecida: cheguei à porta de sua casa. Tocava a mesma música que, exatos sete dias atrás, fez-me perder a calma e não suprimir meus impulsos.

Assim como naquele dia, a música começava, mas hoje não entrei na casa e dei uma volta no quarteirão, ouvindo a melodia até o final, por haver um carro obstruindo a porta e eu achar melhor sentir uma leve brisa ao dirigir, que encostar o carro e aguardar, parada, no calor – diferentemente do passado, quando ouvir a música me tocou tão fundo que eu não consegui chegar e precisei dar uma volta para espairecer.

Entretanto, quanta coisa mudou…

A amarga decepção em relação ao homem que eu amo devolveu-me o parâmetro do que é problema grave, digno de gerar desespero, e aqueles que podemos resolver – e que, se isso aconteceu, até mesmo este problema pode ser superado. Fez-me voltar a me colocar em primeiro lugar na minha vida, que é onde sempre devemos estar em relação a nós mesmos. Fez com que ele saísse do pedestal onde eu o havia colocado, assim como à importância da vida afetiva, em detrimento de todo o resto. Somos todo um universo de possibilidades, dignos de vida, de experiências saudáveis, de cuidados. Somos administradores de nós mesmos, nunca seres definidos por determinada situação que vivemos – embora, quando em dor, em dúvida e até mesmo euforia, sejamos consumidos por estas distrações e pareça impossível nos desligarmos delas.

Todavia, apesar dos fatos palpáveis, visíveis e, portanto, racionalizáveis, mostrarem que eu estive errada o tempo todo, que encontrar num homem já compromissado (portanto, para meus valores, impossível!) o companheiro de alma que eu sempre soube existir (e que eu já conhecia antes de o conhecer) e acreditar que esta certeza era mais forte que tudo, superar minhas próprias regras rígidas, até então, estáticas, e que isso foi, portanto, acreditar em mim e crescer, acho tão absurdo este desfecho – não apenas pelo fato em si, mas pelo sentimento que tenho a respeito – que sou obrigada a escrever sobre este tema, que também pairava minha mente antes de eu saber dos fatos.

Aprendi que vivemos num mundo de poucos efeitos e muitas, muitas causas. Um emprego numa empresa renomada pode ser a chance da vida de um batalhador, como pode ser desvio de uma vocação para outro. Pode ser um modo da vida ensinar disciplina, humildade, esforço ou um oportunidade de mostrar a alguém que não acredita em si que tem capacidades, como pode ser apenas uma conseqüência natural de um esforço e de características já adquiridas pela pessoa que o obteve. Pode não apenas ser um fim, uma conseqüência, como neste segundo caso, mas também um meio, algo que nos ensine e nos leve para onde realmente devemos ir.

Isso para tudo… Um namoro, uma amizade, uma viagem e todos os tipos de experiências que temos. Quantos namorados já tivemos que não duraram, não ficaram, e hoje facilmente conseguimos enxergar que não era para ser, mas reconhecemos o que a experiência nos ensinou e que é fundamental, inclusive, para relacionamento sério que vivemos hoje? Se fosse para vivermos apenas o “destino final” das coisas, só teríamos um relacionamento afetivo, moraríamos em uma cidade, teríamos apenas um trabalho, um grupo de amigos e por aí, vai. Nada mudaria, nunca (claro, precisamos saber conservar conquistas e amores. Quem nunca pára em nada não é assim tão aberto, mas talvez não consiga se comprometer. Não me refiro a isso). Mas não é vivendo um pouco de cada que aprendemos onde realmente é o nosso lugar, quem nós somos de fato? Não é a experiência em si que vale mais (embora deva ser reconhecida e vivenciada!), mas a impressão, a energia que ela movimenta dentro de nós, fazendo-nos evoluir.

Portanto, situações rotuladas muitas vezes são os fins, o que aparentam: em tese, uma separação é ruim, conseguir um emprego é bom, uma doença atrapalha, um namoro ajuda, e por aí, vai. Mas, muitas vezes, se forem meio, os rótulos nem sempre se aplicam. Uma doença pode chocar uma alma preguiçosa e acordá-la para a realidade; um emprego que atrai uma alma orgulhosa por status pode fazê-lo embarcar num mundo de aparências, ou deixá-lo viciado em trabalho para manter estas aparências e o outro emprego com um menor, porém, bom, salário, que o deixaria mais livre para viver as outras áreas da vida, teria sido o caminho certo; uma separação entre duas pessoas incompatíveis pode ser uma libertação para que ambas vivam de acordo com suas verdadeiras essências; um namoro intenso em época de estudo pode desviar toda uma vida, ou mesmo um namoro baseado em valores menores (dinheiro, status, carência, atração física – apenas! Claro que ela é saudável e necessária quando faz parte do pacote! – etc.), em qualquer época, pode contribuir para o desequilíbrio do ser, dentre tantas outras situações.

Ou seja: o que parece bom pode ser ruim e vive-versa. Como uma pessoa que perde o avião pode, por exemplo, até mesmo ser prejudicado no trabalho, em algum compromisso sério, e isso originalmente ser ruim. Mas minutos depois, quando o avião cai, vê-se que aquela situação negativa foi, na verdade, uma bênção. Foi um meio da Vida salvar aquela pessoa.

Por tudo o que sofri durante tanto tempo, em determinado ponto da trajetória eu havia deixado de acreditar em tudo (em mim, na Vida, e confundi meu conceito de Deus, pois, tamanha crise existencial, não mais O reconhecia) que este sentimento parecia um mal. Mas eu sabia que era um meio da vida me ensinar tantas, mas tantas coisas a meu respeito. No fundo, nunca deixei de acreditar no sentimento e reconhecer a verdade do que vivia (era um estado de alma tão elevado sutil que ficava feliz apenas com um olhar, por tudo o que via ali, e ativava as forças mais lindas que tinha em meu ser, tornando-me amável e feliz), mas tive incontáveis momentos de dúvida, conflito e, assim, de sofrimento. Por isso, aparentemente, eu me maltratei. Mesmo que em silêncio, mesmo sem agir – mas não importa, eu investi energia nisso! – dediquei meu coração a alguém que não retribuiu. O efeito era eu sofrendo por alguém que não correspondia no campo dos fatos. Mas a causa era este sofrimento ser um meio de aprender e crescer, uma situação difícil fora para eu aprender a superar e acreditar, dentro.

Por ser meio, por ser a causa que não corresponde à regra do rótulo – que é aquela análise facilmente feita por todos – afirmo que este fato concreto de impossibilidade não é coerente. Posso estar enganada? Claro! E, neste caso, as conclusões podem até não se aplicarem para este caso, mas nem por isso deixam de ser válidas, por conhecimentos gerais sobre o mecanismo interno do Homem. Mas… e se eu estiver mesmo certa?

E aí eu me pergunto… No rótulo, a análise de uma rejeição é simples: se você rejeita alguém é porque não ama, não quer. Isto é o que de fato, geralmente, acontece. Esta é a interpretação mais lógica, a da maioria e aquela facilmente feita por todos, porque já está pronta, não dá trabalho. Mas só esta análise é possível? Não… Graças ao mecanismo evolutivo da humanidade e dos sentimentos, destacados no início do texto (embasei com mais detalhes este processo em meu Ensaio “Quem Somos Nós?”, publicado aqui), pode-se concluir, por tantos comportamentos desajustados – frutos daqueles sentimentos já reconhecidos como prejudiciais ao ser humano – ainda vistos no planeta, que conhecemos muito pouco nossas emoções.

Portanto, será que nos conhecemos o suficiente para sermos 100% do tempo coerentes: negar o que não queremos e atrair para nós o que queremos? E se estivermos em conflito e atrairmos algo que não é de acordo com os sentimentos equilibrados, saudáveis ao Ser, e rejeitarmos isso, por pura falta de sintonia?

Cada caso é um caso, e se quisermos chegar à conclusões satisfatórias, precisamos conhecer a “lista de rótulos”, para termos parâmetros, e, depois de conhecê-la bem, termos autoridade para interpretar suas exceções à regra ou terceiras regras formadas da combinação de duas já existentes, através do raciocínio e análise de sentimentos e percepções.

Sendo esta humanidade ainda não pacífica, belicosa – não sou eu quem estou dizendo, basta ligar o noticiário – e sabendo que há evolução e condições melhores – usando dos conhecimentos científicos já conquistados, como a História, a Psicologia etc., como já esclarecido – podemos afirmar que o Amor (o real, não as paixões, posses ou comodismos que também designamos assim)é realmente bom para o ser, e o orgulho, ruim, pertencente à classe de sentimentos que, usados em demasia, desequilibram o Homem. Sobre este conceito do que é amor e o que pensamos ser, sugiro novamente o Ensaio “Quem Somos Nós” e “Breve Ensaio sobre o Amor”.

Se formos usar o exemplo de alguns indivíduos que já conquistaram altíssimo grau de luminosidade interior, como Gandhi, Buda, Francisco de Assis (só para citar alguns), é possível comprovar racionalmente, através do exemplo factual que eles deixaram, onde o ser humano pode chegar. Sendo assim, poderemos concluir que somos uma humanidade ainda no começo de caminhada. Ao observarmos o comportamento da massa e compararmos com o deles, nota-se o fosso que existe entre estes extremos e podemos concluir, então, que estamos mais no começo da caminhada evolutiva, que no fim.

Então, a respeito de nossas emoções, muito pouco sabemos. Sabendo pouco, é fácil afirmar que, ao observamos nossa prática e compararmos com a destas pessoas iluminadas, vivemos uma lógica invertida, aceita pelos nossos hábitos primitivos, mas revogada pela Lei da Vida. Esperamos vir de fora para somente então movimentar dentro. A deles é contrária: doam sem receber, acreditam sem ter provas palpáveis, buscam o autoconhecimento e aproveitam o resultado do que as experiências vividas fora fazem dentro, não o oposto. Não se prendem a sensações, alimentam sentimentos.

Seremos assim, um dia.

O orgulho faz parte de nós e desta lógica invertida. Ele nos aprisiona a ela. Prende o ser ao que ele é na matéria, ao que ele aparenta ao mundo (como se também não existisse alma!), aos sentimentos baixos e tormentosos. Gera a acomodação, o medo, a insegurança. O amor liberta, faz o ser encontrar-se consigo, acreditar, arriscar, doar-se e buscar cada vez mais o que É, não o que ESTÁ. Acreditemos ou não, estamos mergulhados neste sentimento bom. Cada um sente isso de determinada forma, em diferentes graus em sua história de vida. Mas sente. Ou vai sentir. Mas vai, porque esta é a realidade da vida.

Sabendo que somos assim, ainda tão conflituosos perto daquilo que se pode ser (sem, nunca, deixar de carinhosamente reconhecer e apreciar o que já conquistamos, apenas estimular a crescer e buscar ainda mais!) será que sabemos apreciar quando algo verdadeiramente bom nos acomete? Mesmo quem já tem um mínimo grau de mansuetude, boa-vontade, gentileza, doçura, bom-humor, alegria, inclinação à bondade e etc., também traz ainda intrínseco em si alguns obstáculos do orgulho, escondidos no inconsciente e exteriorizados em conceitos ou práticas que nem sejam claramente percebidos – mais que ainda negam a essência do Ser.

É como na escola: o destino final do estudo é a faculdade. Um aluno que esteja no quinto ano ainda tem muito pela frente. Mas pode já ser o melhor da sua turma. Entretanto, deve sempre lembrar que, apesar de ser destacado naquele ambiente, ainda tem muito o quê percorrer. Não deve se deixar levar apenas pela sua realidade, que é relativa, mas sair do seu mundo, da sua circunstância (o quinto ano!) e lembrar-se da realidade total, absoluta, da qual faz parte.

Portanto, mesmo um ser humano de admirável destaque dentre nossa média, ainda tem em si muito a lapidar da alma. Não podemos nos esquecer disso.  Não é porque já tenhamos lutado contra nosso orgulho, egoísmo, ciúme, raiva, vaidade etc. em algum momento da vida e que talvez até sejamos bem resolvidos em algumas destas áreas, se comparados a muitos outros – que pouco ou nada fazem para mudar isso em si -, que ainda não tenhamos estas mesmas qualidades em menor escala e mais escondidas dentro de nós. O aprendizado é contínuo!

Todo mundo me diz: “Mas você não o conhece”. Será? Só porque eu não interagi afetivamente com ele, será que não consigo ter uma percepção dele dentro de mim? Será que não pode existir uma ligação de afinidade, como reconhecemos facilmente com pessoas que despertam ligações profundas com poucas ciscunstãncias comuns para gerarem esta impressão, como desconhecidos ou amigos, que reconhecemos como familiares? Por que com o amor homem-mulher precisamos ser tão céticos? (Aqui sugiro “O Conto de Fadas é a realidade”, publicado no antigo blog, com link à direita, que desenvolve exatamente este conceito). Este conhecimento interno que eu poderia ter dele não é real porque pessoas como eu é que vivem de ilusões, ou o que a maioria chama de ilusão é a realidade que o orgulho ainda não nos permite ver com clareza, devido a necessidade de receber, de não poder existir sentimento incondicional ou de não poder enxergar quando não vem de fora? (Ao final deste texto adicionei um texto elucidativo de Max Geringuer, a respeito da opinião coletiva).

O romance (sem o exagero, mas aquela sensação universalmente boa que automaticamente contagia a muitos, seja por vivenciar, seja por ver acontecer ao redor e lembrar que isso também existe em si  – outros ainda são realmente fechados e, por julgarem a sua verdade como a geral, não conseguem ainda reconhecer este sentimento bom e acham que ele não existe) é coisa de quem não tem o que fazer, de quem é sonhador, é iludido, não sabe o que é problema, ou é deixado em último plano em nossas vidas e na aceitação coletiva porque são as pessoas que prendem-se a uma realidade tão “primitiva” e apenas racional, como se fosse tudo, sintonizando apenas com situações mais práticas, duras e, em alguns casos, até mesmo insensíveis?

Chocados com a “dura realidade”, com as atrocidades de nosso cotidiano, impregnados com esta percepção de mundo, de vida, será que negamos algo sutil, calmamente prazeroso e pacífico (feliz!) porque seja impossível, ou nós é que somos orgulhosos demais para acreditar nisso, orgulhosos demais para perdemos o medo de nos entregar, orgulhosos demais para apreciar quando alguém sente isso e ativamos nosso ego (alimentado diretamente pelo orgulho) para julgar quem faz isso por nós – porque nós seríamos incapazes de fazer e, portanto, segundo nossa limitada visão, quem faz se humilha e passa, então, a ser por nós desprezado?

Cada crise ao longo deste caminho que tive, gerando uma grave crise existencial, foi fruto do meu orgulho, que eu precisei vencer pouco a pouco, para conseguir continuar a acreditar.

Talvez, exatamente por termos uma estima coletiva ainda baixa, se comparada com as individuais daqueles avatares de luz que vez ou outra exemplificam em nosso planeta – e onde, repito, cada um de nós pode chegar! -, a Vida tenha colocado como um dos mecanismos de crescimento a existência do tipo de relacionamento afetivo homem mulher como espelho direto do ser para ajudá-lo a reconhecer-se externamente. Assim, consegue atingir este estado de alma elevado dos apaixonados e isso o impulsiona. Já que, neste grau evolutivo, o nosso campo emocional ainda seja tão agitado e confuso que, se não existisse este tipo de amor onde pudéssemos nos ver fora, ficasse ainda mais difícil o autoconhecimento, devido tamanha confusão advinda de nossa infantilidade evolutiva, dentro.

Mas o que nós queremos desta espécie de relacionamento? Somos seres bem-resolvidos (mesmo relativamente, apenas para nosso patamar evolutivo, como se fôssemos o bom aluno do quinto ano que já consegue lidar com todas as disciplinas e “passa de ano”, mas ainda tem o que aprender posteriormente) que, em equilíbrio, atraímos para nós outro ser assim e, juntos, ajudando um ao outro, aprendendo, doando e exercitando o amor (o que, pela lei natural, nos permite receber, mas de uma forma saudável), caminhamos, e o que o outro é e desperta de bom em nós é mais importante do que as lacunas que ele supre? Ou somos seres carentes, ignorantes a respeito de nós mesmos, que, em desequilíbrio, vemos no outro um meio rápido e fácil de preencher nossos vazios existenciais, atraindo pessoas que sejam apenas bonitas ou sensuais; que façam com que nos sintamos importantes (contudo, sem eles, não conseguimos!); ou que simbolizem situações vantajosas, como dinheiro, poder, status, influências, ou que seja apenas alguém do gênero sexual que nos atraia para satisfazer necessidades do relógio biológico ou de cobranças da sociedade, e, então, apenas busquemos alguém “dos males, o menor” para encaixar neste requisito e vivamos nossas sensações momentâneas?

Claro, cada um entende o amor de uma forma e tem necessidade de tal ou tal experiência para poder crescer e, se é necessária, se é o máximo que temos capacidade de atingir, é benéfica. Quantos casais companheiros conhecemos, formados mais por circunstâncias favoráveis que por puro sentimento, que vivem bem, mesmo sem um lado romântico entre si? Se ambos estão felizes, provavelmente estão juntos pelo Bem, para aprender o companheirismo e depois ir ampliando o conceito de amor. Não me refiro a eles. (Também falo melhor das formas de amor no Ensaio “Quem Somos Nós”). Mas e quem já pode “passar de ano” e ainda não o faz, por interpretar erroneamente as coisas, por deixar o orgulho falar mais alto?

Será que é o amor algo tolo, ou é o orgulho que ainda cega a visão da coletividade? E vou além: ainda que já se aceitasse esta realidade, será que precisamos ser felizes, leves e confiantes apenas quando nos apaixonamos, ou podemos conquistar este estado de alma interior o tempo todo, para todas as áreas da vida, mesmo quando ainda não há ninguém? Como já foi dito acima, será que este tipo de sentimento não é um propulsor ativado pela presença de outro em nossa vida para, um dia, atingirmos este estado de alma sozinhos, depois de conseguir acreditar que isso seja possível, atrair para nós e viver estes relacionamentos saudáveis, amorosos, e aprendermos a lição, gerando autoamor e autorrealização que nos conectem a este estado interior permanentemente?

Mas nós, estes seres ainda “crianças”, facilmente equivocados e em começo de jornada evolutiva, devido à lógica invertida, à imaturidade emocional, somos, então, orgulhosos, talvez estejamos tão sedentos de recebermos, que não consigamos, portanto, amar – que é doação e libertação pura. Chamamos de amor estes relacionamentos carência ou interesse, ou mesmo engano, apesar de toda aparente afinidade e, por não estarmos verdadeiramente satisfeitos (porém, não enxergamos nossa visão turva que contribui para isso), atribuamos ao amor uma ilusão, de tão decepcionados. De tão “bom demais para ser verdade” que parece, quando usamos nosso atrasado ponto de vista para fazer nossa avaliação.

E se houver mais?

Lembrando do que vi em uma reportagem a respeito de sermos no trânsito o que somos na vida real – explosivos, impacientes, folgados, ou o contrário – percebi que apesar de toda esta aparência de amar sem ser correspondida na prática e isso ser, portanto, falta de amor próprio e que, se fiquei ressentida ao ser contrariada, é devido à posse em relação a ele; a ser revoltada e não aceitar a vontade de Deus e, portanto, que o que sinto não é amor – o que é a interpretação pronta facilmente feita pela massa para o efeito que exteriorizo -, reparei um defeito meu: sou extremamente – muitas vezes, extrema até demais! – seguidora das regras. Nunca me conformo quando vejo um carro na contramão, ou desrespeitando uma placa. O que não significa que eu seja uma motorista perfeita, que não cometa meus erros. Mas vejo regras básicas serem quebradas por pura falta de esforço e não aceito, em nome no mal feito à coletividade, do egoísmo de quem pratica. “É tão óbvio!”, eu penso. Vale a minha boa vontade pelo respeito às leis. Preciso, entretanto, aprender a tolerar o meu semelhante, que está em luta interna, assim como eu.

Sou assim também diante das leis de Deus… Tento seguir Seus princípios, mesmo sendo também imperfeita e, mesmo sem intenção (na maioria das vezes), desrespeitar, muitas e muitas vezes, essas regras. Mas ainda sou intolerante quando não cumprem o que eu já aprendi… Isso é orgulho! É sentir-me no direito de analisar os outros e ditar regras! Porém, ao menos, tenho um atenuante: é orgulho, mas é orgulho utilizado tentando defender o amor, não para alimentar o próprio orgulho… Como sei que ele pode cegar o Homem, que ainda é muito mais fácil fazermos menos esforço e seguirmos nossos instintos ou comodismos psicológicos do que invertemos aquela lógica e buscarmos uma realidade mais feliz, desespero-me quando o amor (este verdadeiro) não acontece, devido a distorções de regras ou sentimentos mais baixos. Por isso, minha revolta. O que também não deixa de ser falta de fé em Deus… Mas aprendi minhas lições.

Os fatos não mudaram. O estrago foi feito. Entretanto, eu cresci. Este choque fez com que eu voltasse a lembrar de mim. Fazendo isso, amei-me ainda mais e, assim, encontrei novamente a paz. Outra vez em paz, consegui acreditar novamente em mim. Uma vez assim, foi possível enxergar a verdade dentro de mim.  Em vez de negar, automatica, pacífica e naturalmente voltei a aceitar tudo isso dentro de mim e, assim, voltei a confiar em quem sou (não mais, por insegurança, dar excessivo valor à opinião de outrem), na sabedoria Divina, mesmo sabendo a dúvida que muitos ainda sentem – e o quanto me acham louca por eu ainda acreditar em mim nestas ideologias diferenciadas. Terminei a volta no quarteirão não apenas ouvindo, mas cantando aquela música que semana passada foi a prova de meu fracasso, e sorri ao reconhecer com admiração e paz o céu azul e límpido, ainda mais azul e límpido que aquele que, enquanto manobrava o carro, eu via com os olhos, acima de mim…

“JESUS ERA PERIPATÉTICO

(Max Geringher)

Numa das empresas em que trabalhei, eu fazia parte de um grupo
de treinadores voluntários.
Éramos coordenados pelo chefe de treinamento, o professor Lima,
e tínhamos até um lema:

“Para poder ensinar, antes é preciso aprender” (copiado, se bem
me recordo, de uma literatura do Senai). Um dia, nos reunimos para
discutir a melhor forma de ministrar um curso para cerca de 200
funcionários. Estava claro que o método convencional: botar todo mundo numa sala, não iria funcionar, já que o professor insistia na
necessidade da interação, impraticável com um público daquele tamanho.
Como sempre acontece nessas reuniões, a imaginação voou longe do
objetivo, até que, lá pelas tantas, uma colega propôs usarmos um
trecho do Sermão da Montanha como tema do evento.
E o professor, que até ali estava meio quieto, respondeu de
primeira. Aliás, pensou alto:

– Jesus era peripatético…

Seguiu-se uma constrangida troca de olhares, mas, antes que o
hiato pudesse ser quebrado por alguém com coragem para retrucar a
afronta, dona Dirce, a secretária, interrompeu a reunião para dizer
que o gerente de RH precisava falar urgentemente com o professor. E lá
se foi ele, deixando a sala à vontade para conspirar.

– Não sei vocês, mas eu achei esse comentário de extremo mau
gosto, disse a Laura.
– Eu nem diria de mau gosto, Laura. Eu diria ofensivo mesmo,
emendou o Jorge, para acrescentar que estava chocado, no que foi
amparado por um silêncio geral.
– Talvez o professor não queira misturar religião com
treinamento, ponderou o Sales, que era o mais ponderado de todos.
– Mas eu até vejo uma razão para isso…

-Que é isso, Sales? Que razão?

-Bom, para mim, é óbvio que ele é ateu.
-Não diga!
-Digo. Quer dizer, é um direito dele. Mas daí a desrespeitar a
religiosidade alheia…

Cheios de fúria, malhamos o professor durante uns dez minutos e,
quando já estávamos sentenciando à fogueira eterna, ele retornou. Mas
nem percebeu a hostilidade. Já entrou falando:

-Então, como ia dizendo, podíamos montar várias salas separadas
e colocar umas 20 pessoas em cada uma. É verdade que cada treinador
teria de repetir a mesma apresentação várias vezes, mas… Por que
vocês estão me olhando desse jeito?

-Bom, falando em nome do grupo, professor, essa coisa aí de
peripatético, veja bem…

-Certo! Foi daí que me veio a idéia. Jesus se locomovia para
fazer pregações, como os filósofos gregos também faziam, ao orientar
seus discípulos.

Mas Jesus foi o Mestre dos Mestres, portanto a sugestão de usar
o Sermão da Montanha foi muito feliz. Teríamos uma bela mensagem moral
e o deslocamento físico… Mas que cara é essa?

– Peripatético quer dizer “o que ensina caminhando”.

E nós ali, encolhidos de vergonha. Bastaria um de nós ter tido a
humildade de confessar que desconhecia a palavra que o resto
concordaria e tudo se resolveria com uma simples ida ao dicionário.
Isto é, para poder ensinar, antes era preciso aprender. Finalmente,
aprendemos.

Duas coisas.

A primeira é: o fato de todos estarem de acordo não transforma o
falso em verdadeiro.

E a segunda é: que a sabedoria tende a provocar discórdias.

Mas a ignorância é quase sempre unânime.”

Fonte: recebido por e-mail, mas você pode encontrar também em http://www.adonainews.com.br/2007/12/jesus-era-peripatetico-max-gehringer.html ou na revista “Você SA”.

Fonte imagem:srtaka.wordpress.com

Anexos: sobre definição de saúde pela OMS, ver:

–  http://www.diariodepernambuco.com.br/ultimas/SEO/saude/nota.asp?materia=20110327182715

e

– http://www.febnet.org.br/site/noticias.php?CodNoticia=903)

Como esquecer alguém?

Lembrando-se de você.

Desde a semana passada eu tenho este título em mente, mas nunca imaginei que hoje estaria vivendo isso de forma tão intensa e definitiva.

Quando eu era menina, lá pelos meus três ou quatro anos, emprestei meu bambolê para uma amiguinha. Pedi-o de volta, ela não quis devolver e simplesmente me bateu com meu próprio brinquedo! Minha mãe, da janela do apartamento, sem poder fazer nada para evitar, viu a cena e disse para eu reagir. Com muita dificuldade, tentei pegar o brinquedo, mas apanhava. Minha mãe disse para eu bater, e assim eu fiz. Como ela era menor que eu, obviamente, apanhou e parou.

Sempre fui tão pacífica que, de tão pacífica, cheguei a ser também “mosca morta”. Tudo estava sempre bem, eu sempre compreendia tudo. Mas muitas vezes, não estava realmente compreendendo. Por dentro, eu estava em chamas! Portanto, não sou perfeita como já gostaria de ser e sou também um ser humano ativo, vivo, presente! Não posso negar o que sinto! Há, todavia, um limite para isso.

Devido à demonstrações da raiva e da indignação ao saber de algo “bombástico” em minha vida afetiva (enquanto eu, inspirada, produzia a poesia do post anterior, falando de sentir outra vez a felicidade sem tocar, ele provavelmente estava bem aninhadinho com uma mocinha), recebi uma ligação do “digníssimo”. Em dado momento, eu chorava. Já estava exausta da conversa completamente fora de hora – anos atrasada – e uma mulher com doces olhos azuis e semblante pacífico parou a bicicleta ao lado do meu carro, olhou para mim com amor, abriu os braços e disse, sorrindo: “Um abraço”.

Fiquei tocada com isso, mudei o tom e acabei dizendo a ele que precisava desligar e que “ficasse com Deus”, como eu sempre desejei sinceramente no passado. De repente, receber este abraço inesperado e bem-vindo ficou muito mais importante que falar com ele!

Dei o abraço, chorei, disse a ela que só havia amado e tentado fazer o melhor possível, e ela disse que eu ia amar de novo, que eu iria encontrar alguém que merecesse o meu amor e que o mais importante era eu. Aí, a frase chave para me inspirar agora a escrever isso tudo: “Deus ama você”. Eu a abracei outra vez, pedi novamente que Deus a abençoasse e disse-lhe que havia acabado de ter a prova disso.

Aí o celular tocou e, pela música que eu, tola, havia registrado na memória para tocar quando o número dele chamasse – e a mesma que ouvi ontem, me senti otária por ter sentido isso por ele e dei início à demonstração de raiva que resultou neste contato forçado – eu soube ser ele. Olhei para esta nova amiga e à outra moça que me olhava com simpatia. Sofrendo, mas já divertida, disse:
– Eu esperei anos por essa ligação. Agora, eu não quero!

Despedi-me delas e segui, deixando a música tocar, tocar, tocar, até cessar…

Há alguns minutos, tentando fazer uma meditação – sem êxito: ora só me concentrei, ora soquei o travesseiro (!!! – para mim, isso é novidade!), ora chorei sentidamente – eu lembrei que sempre em momentos de extrema dificuldade, aparece um abençoado desconhecido desses e me fala de Deus, de amor e de esperança. Senti-me extremamente amparada.

Então, o que eu tenho a dizer sobre esquecer alguém, é reforçar a primeira frase: precisamos conseguir nos enxergar fora da dor, lembrar que somos alguém também e retomar este hábito do qual, durante os acontecimentos, nos esquecemos de exercitar: a arte de ser alguém.

Como os acontecimentos afetivos são de ordem puramente emocional, quando algo ruim nesta área acontece, nossas fibras mais íntimas são remexidas. A emoção e a dor tomam conta de nós: paralisam atividades, afloram raivas, dominam pensamentos e até controlam atitudes.

Se formos usar a dor para justificativa, reagiremos de forma impulsiva (como eu fiz) e nos afundaremos ainda mais. Precisamos ativar urgentemente a razão.

Sei que cada um tem uma bagagem. Portanto, para alguns, deixar-se dominar pela emoção não acontece, porque o autoamor já é mais elevado. Todos sentem o baque, dói para todo mundo – seja uma separação, uma traição, morte ou uma desilusão, não importa – mas cada um reage de uma forma.

Para quem está no meio do caminho para um autoamor saudável, é preciso ter força para superar esses rompantes e voltar a exercitar o “ser eu”. Quando a mulher amorosa me abordou e eu vi como Deus é bom, pensei que sou feliz por ser quem sou (apesar, claro, de também ter defeitos, os quais eu luto para melhorar), que já gosto do que vejo, do que sou. Que vale a pena ser eu!

E como fazemos para valer a pena sermos nós? (E esta parte é, também, a recomendação direta para a “terceira classe” dos níveis de autoamor, aqueles que não têm nenhum). Cada civilização e cada tempo têm sua cultura. Dentro destas culturas, muitos hábitos são supérfluos, muitos são demonstrações do que o Ser precisa para ser feliz.

O homem criou algumas necessidades supérfluas para si. O famoso “ser e não ter”. Portanto, precisar postar algo no “face”, precisar ter a bolsa tal, morar no bairro “x” e tantas outras coisas, são desnecessários. Mas alimentar o Ser, isso é lei natural, é o que nos faz feliz.

Estudar, trabalhar, ter uma vida social saudável (escolher pessoas com afinidades e com valores que nos complementem para nosso convívio, o que preenche a alma; cultivar amizades, familiares), fazer exercício, ver uma paisagem, comer ou beber algo de que se goste muito (com moderação, degustar), ouvir uma música gostosa, dançar, cantar, executar algum hobby, refletir, fazer terapia etc. e, o que muitos nem contam por parecer contraditório demais (se estou carente, como vou doar?), mas ajudar alguém. O bem faz bem!

E, ao buscar estes artifícios que nos alimentam, conseguimos um estado de alma que nos permite ser mais brandos, mais amorosos, mais serenos, confiantes e pacientes. Aí, agimos melhor. Superamos obstáculos. Vivemos a autorrealização. A autoestima aumenta quando reconhecemos algo bom que fizemos e nos tornamos, então, melhores.

Portanto, quando sofremos uma desilusão amorosa, precisamos buscar este contato com o “eu”, lembrar que há alguém aqui, e que este alguém é muito especial. Fazer o que quer que nos ajude a desligar o pensamento da perda e alimentarmos novamente este ser, que já sofre tanto.

E, no futuro, que é inerente a cada um – quanto maior o tempo de esquecimento do si no passado, mais tempo vai levar para reconectar agora – aí, sim, abrir outra vez o coração para o amor, porque outra pessoa pode sim ser um mecanismo para terminar o processo. Não sou adepta de que para esquecer um deve-se procurar imediatamente outro. Nada contra paquerar, sentir-se desejado, atraente e, se acontecer, envolver-se, recomeçar. Mas este não deve ser o nosso foco. Exatamente porque podemos estar tão perdidos e fragilizados que atrairemos relacionamentos problemáticos para o futuro (salvas algumas exceções, quando, no meio do turbilhão emocional, pessoas realmente afins se encontram. Refiro-me aos relacionamentos superficiais a longo prazo, que a priori são muito parecidos com os bacanas).

Precisamos lembrar de nós, fazermos o balanço dos erros, exatamente para ter uma experiência em um patamar acima, no futuro. E, quando este momento chegar, este novo ser, este novo universo que fará parte de nossas vidas, vai, sim, terminar de apagar as marcas daquele que se foi. E se não acontecer, ao menos podemos contar com um abrandamento de nossa dor através deste novo e também bonito sentimento que pode nos acometer.

Lágrimas e raiva não irão sumir do dia para a noite. O processo é lento. Mas deve ser contínuo. Portanto, perseverança é fundamental. Parece impossível agora, mas este processo de se reerguer, quando realmente exercitado, dá prazer! Seremos incrivelmente mais fortes após tudo isso. Como vale a pena tentar! Só depende de nós. E aí, vamos começar?

Fonte imagem: yasminbraz.blogspot.com