Metamorfoses

dancando na chuva mulher

Sinto um ciclo chegar ao fim e o que eu já sabia e queria evitar, acontecer e tomar conta de mim. Vencida pelo cansaço do movimento e aprendizado, rendida à dança da vida, deixo medos e posturas pela metade de lado, encontrando-me novamente, todavia, pronta e renovada.

Transtornada pelos desencontros e espinhos à princípio tenazes, torno a descobrir o meio detalhado para o final da estrada, o qual, no fundo, já conhecia. Caí na armadilha própria da raiva por desamores ao acreditar também eu na mentira que me diziam, em sua linguagem distinta da minha. Expectativas frustradas por quem não via em mim o que já sou e posso ser, se eu acreditar em quem realmente me conhece.

(Eu).

Até então, angustiada e descrente, negando-me por inteiro, indagava-me da probabilidade do romance e da vontade de Deus e sua justiça, na não exclusividade dos caminhos do amor a dois, incomodada pela aparente experiência exterior a despeito do que cada uma delas pode contribuir, não somente pela concretização de fatos outrora apenas interiorizados, contudo, também pela vivência e negação do que não mais se deseja. O quê, em vez de separar, aproximaria.

Perdida de mim, negava com a boca e com a dor tudo o que eu, profundamente, sentia, desesperando-me no martírio do suplício sem fim que é a vida sem sentido, só palpável, do vazio, sem amor.

Nos detalhes retomados do caminho relembrei, no agora – não “um dia”, da jornada, individual e intransferível que trilhamos, voluntária e inevitavelmente, cuja razão é iluminar, antes de tudo, a essência do ser.

Acontecimentos não são tudo, meros meios de lapidar o que habita em nós e que, somente então, encher-se-á verdadeiramente de vida.

Refletia, então, se era válido o movimento de admirar o sorriso de alguém e deixar-se mergulhar neste momento, sorrindo também, natural e inconscientemente. Ou se isso seria fugir de si.

Todavia, o que é o amor a dois se não um grande espelho individual? Ou, ao menos, deveria ser, não fossem os sutis e devastadores enganos das atrações fugazes, arrogância de egos ou emocionais comprometidos.

Onde a tênue barreira delimitando a busca pela distração no outro para fugir-se de si, e a necessidade natural de abrir-se para seu igual, executando apenas mais um tipo de sentimento indispensável para a evolução única e pessoal?

Encontrar um defeito e desistir é agir com parcimônia ou alimentar o próprio medo de ser quem pisa o primeiro passo e (a princípio) dá sem nada receber?

Se tudo nos faz crescer, existe motivo para não amar? Proteger-se antes de tentar não faça, talvez, sensatos, mas mortos. E não há morte pior que ter morrido e ainda sentir o coração bater.

Estaria a maturidade na não vivência de um sentimento sem garantias, ou na coragem de arriscar?

Quem de fato quer aprender não tem medo de errar. Afinal, não há morte pior que ter morrido e ainda sentir o coração bater. Do deserto de minha desilusão nasce a delicada e solitária flor do recomeço, que clama por um pouco de irrigação. Mas existe. Não mais aceitarei fatigar-me com o peso das costas sobrecarregadas de bolsas com capas de chuva ou sapatos plastificados, com suas prevenções e situações precavidas. Quando a água cair, vou dançar debaixo dela e, assim, deixando o cabelo grudar no rosto enquanto, de braços abertos, rodopio livremente, finalmente irei mergulhar em seu fluxo inadiável e matar minha ávida e postergada sede de VIVER!!!

Fonte imagem: agentepodiasevernoar.blogspot.com

Texto: “Eu”

Espelho

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Olá, pessoal!

Sabemos que não há amor pelo outro sem amor a nós mesmos. Não precisamos brigar para dizer que nos amamos, mas às vezes, há certas coisas que precisamos fazer, por nós. Quando há abuso do outro lado (seja físico, seja emocional: grosseria, indiferença, humilhação, ofensa, boicote etc.), às vezes precisamos nos posicionar e isso pode soar um pouco “agressivo”.

Responder na mesma moeda uma ofensa é tornar-se tão baixo quanto quem ofende. Ambos estão enaltecendo o orgulho, esquecendo da paz, do perdão: do amor. Mas quando há “invasão” à nossa dignidade, responder pode ser não um ato de orgulho, mas sim, de autovalorização. De autoamor.

Emocionalmente, sinto-me como aquelas mulheres que apanhavam do marido e um dia conseguem dizer: “você não encosta mais a mão em mim”. Porque aceitar maus tratos não é ser cristão, ser paciente nem compreensivo. É não se respeitar. Eu dei, de fato, o melhor de mim em ponderações, mas minhas atitudes foram entendidas como “dela eu posso abusar”, ainda que de forma inconsciente.

Por isso, escrevi o texto a seguir (em 12/02/2013),  aceitando-me como sou (certos ou errados, se não fizermos isso, nunca cresceremos!), admirando o que eu fiz. Ainda que não tenha obtido resultados favoráveis, mas não dizem que muitas vezes a viagem vale mais do que o destino?

Abraços,

Camila

”   EU

O descanso de tela mostrava uma foto minha sorrindo, com uma blusa florida que eu adoro, em um lugar onde eu estava fazendo o que amo: Paraty, Literatura. E tudo desabrochou em mim…

Antes, eu havia, chorando, deixado o computador, buscando o apoio das minhas melhores amigas. Fiz isso porque descobri o mistério: quem é a atual namorada do homem que eu verdadeira e puramente amei. Ao longo de toda minha vida, que reconheci ao vê-lo, aos 26 anos. Casado. Quem eu amei em silêncio e bem de longe, rezando para que a esposa fizesse feliz, enquanto parecia possível, enquanto parecia certo. Por quatro anos.

Todos já conhecem esta história, basta ler meu livro ou textos antigos.

Eu não sou a favor ou contra casamentos; a favor ou contra divórcios; a favor ou contra as mulheres (homens) que chegam primeiro ou por último: sou a favor do amor. Onde quer que ele esteja (salvos alguns impedimentos nobres, como filhos ou situação familiar complicados, doenças na família, causas sociais – quando sinceras e não desculpas para o medo de amar etc.)!

Desde menina, o amor sempre foi o que me moveu. Dentre seus tipos, o amor afetivo conjugal. A fé em algo muito melhor do que estamos acostumados a viver. Ao longo do caminho, havia descoberto o quanto havia “errado a mão” e dado mais atenção a este sentimento que a um ainda mais importante – o amor a si. Não, não falo de egoísmo, o que confunde e impede muitos de iniciarem este caminho. Falo de algo parecido superficialmente, mas em essência, tão distante, como o autoamor.

Hoje, com o coração em chamas, mais uma vez, vi-me, então, na tela do computador, sorrindo com flores. Como sou bonita! Sinto saudades do meu sorriso contagiando quem me cerca!

Adoro capuccino! Adoro ler. Adoro cachorrinhos. Acredito em Deus, em Jesus, na evolução da alma. Sou escritora. Falo do amor. Isso é lindo! Eu admiro quem tem sensibilidade. Eu admiro quem acredita no amor. Eu admiro quem tem fé. Eu admiro quem vê além das aparências, pois, muitas vezes – não sempre, mas muitas vezes! – elas enganam. Admiro quem sorri. Quem vê sempre o lado bom das coisas – e das pessoas. Quem se relaciona a dois por amar, não por todas a infinitas razões parecidas que podem nos distrair. Quem não tem vergonha de chorar, de demonstrar sentimentos – aceitá-los, primeiramente, do jeito que são, dentro de si. De assumir que é humano. Quem preza a sinceridade mais do que “a ideia do que irão pensar caso eu a demonstre”. Quem ama sem esperar nada em troca, pelo sentimento em si. Porque isso basta. De fato, basta.

Também admiro a inteligência. Gosto de quem pensa rápido, que guarda informações na mente, quem dirige bem, dança, canta, toca, é eficiente no trabalho ou tem um lugar de destaque (quando isso é o resultado material de uma virtude interior). Quem tem lucidez, clareza de ideias, mente aberta (não no sentido de não ter padrões e viver com a alma desgovernada, mas quem se desprende do óbvio e, curioso, indaga sobre o que ainda está oculto. A mente aberta que nos torna sábios, não promíscuos, sem personalidade. A mente aberta que nos faz seguros, não perdidos).

Mas não é só isso… Quando amo, não o faço a uma técnica bem desenvolvida, em qualquer setor do aprendizado da vida… Levo em conta o caráter, a bondade, a simpatia, a força ou qualquer outro atributo que venha da alma. Compadeço-me de quem ainda ama as formas: o título, a habilidade, a beleza física que, quando acompanhada de um coração vazio, torna-se puramente estética, superficial. Porque um acidente pode limitar o corpo ou uma grosseria estragar toda astúcia, a velhice levar a beleza.

Todavia, quem tem caráter, força, simpatia, conseguirá desempenhar bem qualquer papel, aprender qualquer coisa, porque modifica o que está a sua volta, não depende disso para ser quem é. Porque o que realmente importa, está dentro.

Admiro, então, a mim! Ainda que, devido às dificuldades, eu tenha titubeado; e ainda que tenha, em alguns momentos, por duvidar, querer logo a materialização para só assim, amar (e toda a dúvida tenha, sim, me desesperado), quando volto a acreditar, volto a me aceitar e posso afirmar, então, que eu tenho sim, isso que aprecio. Eu acreditava no amor, mas quando a paixão acontecia diante dos olhos, eu me encolhia e achava-a maior. Não é!

Sou imperfeita, e isso eu também aprendi. Tenho ainda muito mal dentro de mim. Mas eu não deixo mais ele me dominar. No final das contas, busco ser boa. Sou feliz, porque já tenho este tipo de luz a me guiar. Eu venço, quando chega o fim.

Não importa mais com quem ele esteja. Não importa mais que tenha me magoado. Nos separamos, embora, na prática (e apenas na prática desta realidade relativa, de verdades e mentiras materializadas), nunca tenhamos nos “juntado”. Mas ficou o mais importante: meu amor, eu. Meu amor por mim.

Jamais eu teria coragem de rejeitar friamente o sentimento de uma pessoa que teve a coragem de amar sem esperar nada em troca. Por tanto tempo. Refiro-me ao gesto, não ao fato ou não de sentir, pois isso, não escolhemos.

Não é porque eu fiz, mas eu sempre me rebaixei, e hoje mereço ouvir de mim: é algo admirável! Que merece respeito, honestidade. Se toda esta dor aconteceu, o problema não está somente em mim. Não se trata mais de culpar a ele. Mas defender a mim. Não preciso, novamente, me sentir menosprezada por ele ter me rejeitado. Esta dor, esta vida que ele escolheu, “não me pertencem mais”.

Claro, não fui (e não sou) perfeita. Tanto posso recair, como errei. Mas errei querendo acertar. Errei por lutar pelo amor, não por capricho pessoal. Esta dor, todavia, não irá mais me derrubar. Eu acreditei. Eu amei. Isso, nada nem ninguém pode me tirar. Sou feliz! ”

 

Quem Somos Nós?

Boa noite! Há três semanas, muito angustiada, senti vontade de organizar minhas idéias e meus sentimentos num todo, me definir e admitir coisas a meu respeito. Saiu um peso de mim… Mas isso aconteceu de forma filosófica, portanto, é um texto recomendado a todos.

Encarem este texto não como um loooongo post, mas como um Ensaio, que deve ser lido com calma para tirar-se proveito das reflexões.

A previsão de leitura é de duas horas, aproximadamente (eu sempre revisei e escrevi ao ler). Para facilitar, separei o equivalente a aproximadamente uma página A4 em uma parte. Quem quiser prosseguir, lê mais uma e, assim, organiza sua leitura. Quem quiser ler uma parte diariamente, completará o Ensaio em trinta e um dias, leitura aproximada de três minutos.  

Feliz Natal!!! Que a boa convivência, a união, o carinho, o respeito, a benevolência e o amor sejam os personagens principais deste Natal para todos nós!

Abraços,

Camila

(Este conteúdo está protegido legalmente. Qualquer reprodução ou cópia sem prévia autorização da autora é crime)

QUEM SOMOS NÓS?

Costumava ler a coluna do jornal Folha de S. Paulo, escrita pelo físico Marcelo Gleiser, “Micro Macro”, que relaciona a vida do Homem com realidades do Universo. Lembro-me da minha aula de biologia, ao estudar células eucariontes, mais completas, como a humana, e fazer a relação: nossa pequena parte tem uma membrana celular, como temos a pele, a mitocôndria é como o nosso pulmão, o núcleo celular é como o cérebro e por aí vai. Recebi há alguns anos um e-mail mostrando a visão microscópica partindo de uma folha diminuída em um número dez elevado à décima potência, chegando ao mundo das micro partículas, além do átomo (que era a menor partícula na minha época de colégio. Eu sempre disse para minha irmã: assim como o Universo é infinito, o mundo microscópico também. Até que não estava errada, né?);  e a visão da mesma folha elevada à mesma potência, só que com um telescópio, em direção ao Universo, que passava das galáxias. Observando as fotos de ambos, para dentro e para fora, a visão era quase igual… Ou seja: os mecanismos de funcionamento da vida são os mesmos, há uma lógica em tudo, está tudo relacionado.

Usando de alguns macro conhecimentos obtidos na análise de várias “células” de um grupo – a Humanidade – e notando as semelhanças entre eles, chamados de Psicologia, eu consegui entrar no meu micro mundo. Fiz descobertas que, baseado no princípio de que está tudo relacionado, ao tirar minhas conclusões e exteriorizá-las, posso entender um pouco mais como o Ser Humano funciona. Por isso, talvez a revelação que farei de uma área específica da minha alma seja uma amostra de um mecanismo maior e sirva para ajudar outras pessoas a entenderem um pouco mais a si mesmas e ao Homem de forma geral. É desta troca constante que vem nossa evolução!

Há o ditado que “se não aprendermos pelo amor, vai pela dor”. Exporei minhas descobertas trilhando o caminho do amor em minha vida para falar do Ser Humano de forma geral… Embora, exatamente por sermos seres em evolução e não sabermos tudo, mesmo dentro desta escolha maior – o amor -, foi necessário também o advindo da dor para me fazer compreender o mundo. Mas sempre, sempre guiada pelo amor…

Não é minha intenção aprofundar a narrativa de fatos relacionados ao que irei revelar aqui – dizem respeito a minha vida particular, e continuarão assim! -, apenas lidar com suas conclusões e seus ensinamentos.

Analisando a História da Humanidade, conhecendo mecanismos específicos de vários aspectos da vida humana graças à Antropologia, Sociologia, Psicologia etc, além de refletir sobre tudo o que nos acontece, podemos perceber o progresso que houve nas sociedades e no indivíduo, sendo possível afirmar que vivemos num mundo cujo objetivo é nos fazer evoluir. O Homem já foi submetido à natureza, morava em cavernas, comunicava-se por grunhidos e vivia apenas para satisfazer as próprias necessidades fisiológicas; hoje constitui famílias, forma comunidades, grupos de trabalho, de estudos, interagindo com outros países e descobre a nanotecnologia ou vai à Lua, assistindo a reprise disso no sofá de casa, refrescado pelo ar-condicionado.

Apesar dos historiadores terem dado o nome de “Moderna” e “Contemporânea” aos últimos períodos da História da Humanidade, como que encerrando um ciclo (sei que foi necessário ser assim, pois foi nesta época que a Humanidade resolveu organizar seus registros, mas os historiadores do futuro chamarão seu presente do quê, de “Pós-Contemporânea”? E a geração seguinte?), precisamos entender que, por mais que nos pareça que o único tempo é o que vivemos agora, ao comprovarmos a existência de outros tempos passados que nos fizeram chegar até aqui, fatalmente existirão outros depois de nós.

PARTE 2

Então, todo o conhecimento que hoje vimos como muito – se comparado ao do passado – um dia também será pouco para povos futuros; portanto, se somos almas em evolução, com muito a aprender e, assim, conscientes de não ser detentores em plenitude de vários conhecimentos, podemos concluir que ainda não conhecemos em totalidade várias frentes de conhecimento, como nossas emoções; se por registros históricos ou por meios atuais de comunicação nos chega a informação de pessoas ou povos inteiros que vivem/viveram de forma ou com valores melhores que os nossos (seja a organização de uma civilização, seja a grandeza moral de um indivíduo, que foge à regra) o que valida a possibilidade de uma vida mais elevada, sem dependência extrema de coisas materiais ou mesmo com um melhor trato no âmbito social, podemos concluir, então, que a grande massa, hoje, ainda tem um conhecimento geral muito baixo, ainda se deixa guiar por valores muito superficiais – mas que é possível obter mais, crescer. 

Sendo assim, com tanto ainda a aprender, podemos dizer que somos uma civilização ainda mais próxima ao começo da caminhada, que do fim. Estando no princípio, somos como almas crianças, que ainda não conhecem muito as verdadeiras leis da Vida; vivem, ainda, num mundo paralelo, condizente com seu grau evolutivo. Como as crianças que brincam sem ter total conhecimento da vida, mas estão apenas cumprindo seu papel, agindo de acordo com o período em que vivem.

Somos, coletivamente, como uma criança que naturalmente volta-se para si por estar ainda neste estágio. Estamos descobrindo o mundo, a vida e, nesta fase, pensa-se ainda no “si”, não em todos. Precisamos “tocar” para entender, como a criança, num de seus primeiros contatos para conhecer o mundo.  Para isso, temos a tendência a formar nossos conceitos a partir de fatos mais concretos, mais sensíveis aos nossos sentidos corporais. Sendo assim, somos uma humanidade de valores ainda imediatos, que chocam os sentidos. Por sermos “novos”, temos um conhecimento mais raso da realidade da Vida. Mas, assim como a criança, queremos crescer, e o fazemos a todo instante.

Por ter este conhecimento raso, temos conclusões rasas: baseadas em extremos, ausência de complexidade, maniqueísmo. Seja por pura ignorância, seja para não ter trabalho, de preferência formaremos conceitos de modelos prontos, que estão ali para servirem de ponto de partida, não de chegada. Assim, é muito mais fácil termos uma opinião formada baseada em modelos pré-estabelecidos (casar é bom; separar é ruim/ trabalhar na empresa tal é bom; pedir demissão da empresa tal é ruim/ aceitar ofensa é ser humilde, portanto, é bom/ retrucar a ofensa é ser raivoso ou revoltado, portanto, é ruim/ anular sua vida para oferecer ajuda é bom, é altruísta/ pensar em si é ruim etc.) que, sabendo dos conceitos básicos, contextualizar cada indivíduo, o tempo em que vivem, os costumes e, principalmente, o que motiva cada ser para agir ou não em determinada direção. 

Um dia eu estava caminhando no meu bairro e vi um caminhão de lixo bloqueando a passagem. O carro que vinha ficou parado, esperando. Eu saí dali e ele continuou. O fato: “acontecer um obstáculo em seu caminho” pode ser uma lição de resignação, paciência. Mas, neste caso, poderia ser também autoamor, ter iniciativa: o caminhão fedia. Não havia carro algum o prendendo entre o caminhão e a via. Será que ele ficou lá parado, de repente, até atrasado para algum compromisso, porque ele é resignado e paciente, ou porque tinha opções de mudar, de superar o obstáculo – dar ré, o que em um ou dois metros o levaria a uma outra rua, nem seria uma manobra muito arriscada. Portanto, não seria irresponsabilidade, mas sim utilizar-se de oportunidades à mão, mesmo que, em tese, estivessem fora da regra (dar a ré), para sair de uma situação desagradável e desnecessária. Se ele fosse o primeiro de vários carros parados num mega congestionamento, estivesse preso e quisesse ser o único “esperto” a não ser prejudicado, indo até pela contramão para sair dali, não aceitando o contexto, aí sim, talvez ele não fosse paciente ou resignado. Mas se havia outras saídas, para que sofrer? Nós, porém, ainda gostaríamos de ter a cartilha pronta: quando o caminhão bloquear a passagem, esperar? Sim ou não.

Eu sempre digo que não há desculpas para impedirmos a busca pelas nossas verdades: não tem religião? Ótimo! Einstein disse uma frase que resume a ópera: “tudo é relativo”.

PARTE 3

E vale ressaltar algo: não estou menosprezando nossa Humanidade, muito pelo contrário. Funciona no coletivo como no indivíduo: reconhecer quem realmente somos é o primeiro passo para conseguir evoluir. Tornando o problema consciente é possível lidar com ele. Passa a ser possível também enxergar as potencialidades e não apenas isso, mas, deixando de agir com comportamentos equivocados advindos desta ilusão a nosso respeito e do conflito resultando disso, sobra-se energia e tempo para exercitar estas potencialidades.

Num nível muito sutil dentro de nossas almas, nós, humanos, precisamos formar conceitos, racionalizar. Não conseguimos caminhar simplesmente por caminhar, precisamos saber no que isso vai dar e, assim, para saber que estamos no controle, tentamos entender tudo e formar nossas verdades. Verdades estas que são relativas e, com o tempo, são substituídas. Mas a maioria das pessoas leva tudo ao pé da letra e nunca “relativiza” as coisas. Se somos almas ainda em processo evolutivo, não existem verdade absolutas: elas mudam de acordo com o tempo, com as pessoas envolvidas e com o espaço, quando se atinge um novo patamar de entendimento.  Mas temos dificuldades de aceitar o novo e desapegar do que funcionou por um tempo, então, insistimos que nossa verdade é absoluta. Que nos digam os múltiplos “donos da verdade” ainda existentes!

Já temos bons resultados em conhecimentos lógicos e racionais, embora isso não seja ainda nem o começo de tudo o que se há para ser descoberto. A cada dia, não descobrem uma nova espécie animal ou vegetal neste planeta que já consideramos “ocupado”? E a tecnologia, com que velocidade avança? Há lugares onde o homem ainda nem conseguiu chegar – mas um dia irá, assim como antes o mar era um empecilho e hoje fazemos submarinos.

Nosso campo emocional é tão ou mais “escuro” que o fundo do mar… Mas para aqueles que já despertaram a consciência sobre esta importante parte de nós, é necessário formar conceitos para saber “onde estamos pisando”. E esta insegurança para lidar com o desconhecido nos assusta… Agimos emocionalmente com o mesmo maniqueísmo e a mesma “cartilha pronta” de todo o resto: precisamos partir de alguns princípios para saber como agir. Só que aplicar um conceito bom numa situação trocada faz mal, em vez de bem…

Um exemplo: faltar com um compromisso pessoal, que é importante para o equilíbrio do ser (pode ser um namoro, um trabalho, um lazer) para satisfazer uma pessoa que seja “folgada” e esteja acomodada ao pedir um sacrifício de algum “bonzinho”. Na forma pode parecer “bom”, segundo a lista pronta: em tese, na aparência, é um ser ajudando outro! Mas esta ação, no conteúdo, está estimulando o “folgado” a manter um comportamento vicioso, dependente, e a desequilibrar o ser que não consegue negar “ajuda” e que está, então, se anulando. O resultado desta ação aparentemente boa é um mal. Cada caso (sempre!) é um caso. Mas analisar um a um dá muito trabalho…

PARTE 4

Entra século, sai século; nasce civilização, morre civilização, não importa a forma pela qual extravasem seus conhecimentos e formem uma cultura: o convívio coletivo, os dramas pessoais, a importância do amor, sempre fez parte da vida de todo ser humano (quem não o vive, descobre-se, traz algum distúrbio por sua ausência). O amor em todas as suas formas… Precisamos exercitar várias delas para chegarmos a uma forma única e universal. Como na escola tópicos de um mesmo assunto são separados didaticamente para, ao entendermos cada pedacinho, bem devagar e consolidado o conceito, possamos depois juntar um ao outro e entender o conceito geral.  É assim que a vida nos ensina!

Deste modo, viveremos vários tipos de amor (conjugal, filial, paternal, maternal, familiar, fraternal, amigável etc.) para esgotar suas possibilidades, conhecê-los a fundo e transformarmos estes amores em apenas um, amando a tudo e a todos, incondicionalmente, um dia.  Para isso, precisamos não apenas conviver com o outro: mas aprender a conviver conosco mesmos. Entendermos quem somos, estimularmos nossas potências, enquanto reconhecemos e corrigimos nossas imperfeições e, devido à autorrealização resultante dessas potencialidades desenvolvidas e imperfeições corrigidas, vamos sentindo mais amor por nós. Assim, passamos a amar aos outros com mais facilidade, cada vez mais sem condições, simplesmente pelo fato de sentir, aceitando-os como são. Isso leva tempo, mas só acontece se um dia decidirmos iniciar esta jornada.

Cada um de nós está em um ponto dela, ou a uma distância de iniciá-la. Por isso, cada um tem uma história, uma tendência, uma necessidade. E é também por isso que não devemos julgar ninguém, porque além de dar muito trabalho ser um Ser e realmente não dar tempo ou ter-se energia para interessar-se pela vida do outro sem motivo útil – tentar ajudar não está nesta categoria, refiro-me à simples curiosidade, às vezes pura inveja ou maldade, ou ao fato de olhar para o outro como desculpa para não olhar para si –, não temos como avaliar com justiça o que o outro sente.

De todos os amores que conhecemos (filial, maternal, fraterno, etc.), o mais diretamente relacionado ao Ser, à sua identidade, o que mais funciona como nosso “espelho”, é o conjugal. É ainda um relacionamento que tem muito a ser desenvolvido, e deverá ser muito vivido para que possamos ir de fato, de forma coletiva, para amores maiores. Negar a importância dele e estimular outros é enganar-se. Claro, há tempo para tudo e não fazemos um de uma só vez, há momentos em que se vive mais o pai/mãe, outros que se privilegia filhos, o amor fraterno (causas humanitárias) etc. Nunca cada um é exclusivo: em uma vida, vivemos um pouco de cada.

O amor conjugal é um meio de nos enxergarmos no outro. Já que nossa emoção ainda é tão confusa, existe este tipo de relacionamento para entendermos um pouco mais de nós pelo que acontece fora, mas, ao mesmo tempo, de uma forma íntima. Porém, muitas pessoas não entendem este mecanismo e passam a depender emocionalmente do ser amado, fundindo-se nele, perdendo sua identidade – e distorcendo a causa de existir a relação!

PARTE 5

 Não conhecemos a nós mesmos, não alimentamos o amor principal – o pessoal, por nós, individual. Devido a nossos conhecimentos emocionais grosseiros, quando já bem-intencionados, confundimos este amor com egoísmo e o abafamos. Mas precisamos dele. Tornamo-nos, portanto, carentes. Por sermos essas almas ainda crianças, sem muito conhecimento de nossas emoções, com tendências infantis e precisando deste amor que nos falta, esperamos do outro – o parceiro, cônjuge. Doar-se parece, então, impossível. Queremos receber, tornando-nos egoístas. Esta, porém, não é a natureza real desta ligação, e gera-se um conflito.

Aí alguns até entendem isso e querem melhorar, sendo um pouco mais amáveis, importando-se mais com o outro, mas mesmo com a melhor intenção no coração, falta sabedoria e escolhem mal a companhia. Com consciência ou não desta má escolha, por melhor intenção que se tenha, chega um momento que a limitação comum de nosso estágio de almas crianças nos impede de ceder mais, tornando-nos infelizes por não sermos realizados em nossas escolhas. Queremos fazer “caridade” numa área que ainda deve ser via de mão dupla, pura troca, exatamente para podermos nos realizar, viver o amor em abundância e espalhar este sentimento aos outros, em amores que têm esta natureza de doação pura, como a maternidade/paternidade, causas humanitárias etc. Assim, um tipo de amor que poderia ser lindo, de descobrimento, cumplicidade, doação, amizade e admiração, vira dependência, posse, ciúme, desprezo, falta de respeito, indiferença, etc.

Aí muitos acham que é um relacionamento prático, fazem aquelas brincadeiras bobas sobre “quem casa está saindo da vida”, enaltece a vida de solteiro, faz piadinha sobre quem é fiel ser bobo e distorcem tudo. Além de estarem infelizes, ao fazer isso estão impregnando com sua opinião negativa o entusiasmo de outros, contribuindo para um quadro geral de conflitos e infelicidade.

E, os já preocupados com a evolução da alma, mas desenganados por experiências ruins, enaltecem apenas o amor filial, paternal, fraternal e desmerecem este, como se fosse impossível obter êxito. Enfim, porque a maioria usa erroneamente, o enlace passa a ser encarado como prático e pesado, e dizer que ele pode ser lindo é tão oposto que parece ilusão, fora da realidade… Uma ilusão comercial de Hollywood!

Não estou dizendo que só haja poesia, café da manhã na cama todo dia e se viva com o olhar distante, vendo o infinito, vinte e quatro horas por dia… Mas não é porque seja necessário pagar contas, assumir responsabilidades, ir ao mercado para o outro poder tomar banho – exatamente para, “uma vez na vida, outra na morte”, ter o quê tirar do armário e da geladeira para produzir o tal café – que o abraço, o elogio, o carinho ou o beijo devam ser evitados porque a vida é corrida ou por ser hora de sentar à mesa, usar o cérebro e fazer contas.

Por isso precisamos buscar pessoas que tenham hábitos, posturas de vida e ideais maiores parecidos com os nossos, facilitando a harmonia na relação, para que consigamos, com a pouca habilidade que ainda temos, superar as diferenças menores e lidar com as dificuldades naturais da vida a dois.

PARTE 6 

Este modelo de relacionamento está na psique humana e sentimos falta deste amor em sua forma saudável. Por isso a humanidade ainda produz tantas músicas, filmes e livros sobre isso. Não precisamos, portanto, negá-lo ou ridicularizá-lo, mas sim, vivê-lo corretamente e elevá-lo! Muitos se unem por interesses que não tem a ver com a natureza desta ligação – amor –, como carência, paixão, atração sexual, comodidade financeira, status, amizade, precisa de um parceiro para sair da casa dos pais + sexo, entre mil outros motivos. Claro, nada é absoluto: cada um é um e está em determinado momento evolutivo, portanto, algumas pessoas precisam exatamente deste tipo “intermediário” de relação. Conseguem, por um tempo ou mesmo por toda uma vida, ser relativamente feliz em sua união. Sendo assim, não há nada de errado!

Assim como há aqueles também que até precisam viver este tipo de relacionamento, mas tem forte resistência quanto à sua ausência e conseguem, em nome de outros amores, absterem-se sem ficar tão abalados.

Há outros, porém, que precisam viver este relacionamento em sua essência, vão ficar em desequilíbrio sem ele, mas ainda não conhecem este mecanismo a fundo. Erram na hora de julgar o que é o quê, unem-se de forma errada e depois se descobrem numa angústia sem fim quando se percebem num compromisso falido. Ou até mesmo já conhecem o mecanismo, mas estão acomodados ou com medo e nada ou pouco fazem para melhorar. Cabe a cada um refletir, buscar o autoconhecimento, entender quem é.

Mesmo que se descubra ser aquele que precisa viver este tipo de relacionamento e não consegue abrir mão disso (isso leva tempo, cuidado com atitudes efêmeras!), antes de tomar qualquer decisão, escolher um novo parceiro ou desfazer um relacionamento não saudável, outros fatores devem ser também levado em conta: quem são os envolvidos, o quanto se contribuiu para chegarem até ali, se está pronto para enfrentar um fim de relacionamento ou começo de um novo, se está pronto para enfrentar as conseqüências do fim do relacionamento (piorar a situação financeira, mudar de casa, bairro, cidade ou país ao terminar o relacionamento, trocar de trabalho, voltar a ser sozinho etc., etc., etc.) enfim, as conseqüências de seus atos. Sabendo qual é seu caso, pode-se agir de acordo com a possibilidade, a capacidade e a vontade de cada um. É fundamental ter autoconhecimento, não trocar de namorado, noivo, marido só porque o vizinho, o tio, a mãe, e irmã ou a vó fizeram, e “ir na onda”. Há muito casos de relacionamentos saudáveis mal cuidados, não sendo necessariamente relacionamentos ruins.

Analisando minhas tendências, seguindo minha natureza, minha alma, percebo ser aquela que, na área afetiva conjugal, sou quem só se relacionava por amor (ou, ao menos, buscava isso). Eu já sabia, já trazia isso dentro de mim! O que é diferente de eu ver um filme ou ler um livro de condutas morais e forçar a barra para ser quem eu ainda não era, como realmente há quem faça – e que apresenta os mesmos “efeitos” que eu…

Eu já sabia o que queria, não sentia necessidade de ter sensações, de experimentar, para descobrir. As experiências passadas me ensinaram o suficiente para que eu pudesse saber analisar antes de me envolver, sem precisar mais “quebrar a cara”. Mas é muito natural que muitas vezes seja preciso experimentar para entender (eu preciso muito, em outras áreas de crescimento da alma). Quando se entende, não é necessário passar pelo mesmo erro – embora muitos, por negligência, ainda o façam. Mas todos, aprenderemos!

PARTE 7

Por sermos indivíduos únicos e estarmos em estágios distintos nesta jornada evolutiva, cada fato tem um efeito diferente dentro de cada um… Como um adulto que já tem tantos problemas que acha “frescura” o filho sofrer porque quer um brinquedo e às vezes é grosso ou insensível com a criança… Realmente, para o pai, o que é sofrer por não conseguir comprar algo que se deseja, quando se há tantas responsabilidades, tantas preocupações? Nada! A criança não faz ideia do que o pai passa, de quanto as coisas podem ser mais complicadas. Mas ela não tem culpa, simplesmente não conhece, e para ela, aquilo é importante! Individualmente, não sabemos quem de nós, como almas, são as crianças, quem são os adolescentes e os adultos. Velhinhos sábios, vamos deixar para tempos futuros!

Sendo assim, ao me conhecer, analisar tendências, me amar e ter coragem de confiar em mim, consegui reconhecer uma lacuna, um ponto delicado no que, para muitos, é bobagem… Ou porque já “tiram de letra”, como o adulto no exemplo anterior, ou porque ainda são embriões e estão preocupados com a vida uterina (ainda nem ativaram sua sensibilidade em relação a este tipo de amor): o quanto é importante, para mim, viver a vida amorosa conjugal.

Por muitos e muitos anos pensei ter esta necessidade de uma mulher que quer ter um homem ao lado por ainda ser imatura, por ainda acreditar no “príncipe encantado” que vá magicamente resolver meus problemas e não “acordar para a vida”. Afinal, às vezes eu mesma pensava: “Em um mundo tão racional, com tantos problemas, como ter tempo ou espaço na mente para sonhar, ser feliz? Se eu penso assim, deve ser porque ainda não ‘acordei’”… Mas percebi que, quando concordava com este pensamento imposto pelo meio (e pelo meu próprio preconceito!), eu feria o mais fundo em mim…

Como diz minha mãe, “até explicar que focinho de porco não é tomada”… Só que no meu caso, são tantos pormenores que o meu porco é híbrido com uma enguia e, se colocarmos daquelas lampadazinhas de dormir, ela realmente vai acender. Para complicar, ele ainda está pendurado na parede, como aquelas cabeças de bichos de caça empalhados, dos filmes. São dois buraquinhos presos na parede que acendem uma lâmpada, mas, ainda assim, aquilo não é uma tomada…

Brincadeiras à parte, antes de prosseguir, para me fazer entender, necessário será expor dois conceitos. O primeiro é relacionado à estrutura do Ser segundo a visão de Carl Jung. Ele não concordou com a visão de Freud, que resumia a motivação do homem ao instinto sexual. Para Jung, o que move o homem é a libido, que pode manifestar-se de várias formas: energia sexual, religiosidade, idéias etc. É uma energia criadora em movimento. Esta visão amplia o campo de atuação do homem. Ele divide a psique humana em dois membros: Ego e Self. O Ego seria a parte consciente, guiada pelos instintos. O Self seria a parte do inconsciente, o ser essencial. Quando o indivíduo atinge este estágio, a personalidade se completa.

Em palavras mais populares e num conceito um pouco “didático”, o Ego seria a parte de nós que age por impulso, para obter sensações imediatas, que conta apenas com o agora, com o que é tangível aos seus sentidos, que sente medo, não quer mudança etc. É o nosso lado mais imediato, menos paciente, portanto, podemos dizer, mais infantil. Já o Self seria nosso lado Divino, nossa capacidade de ver a vida a longo prazo, de ter gestos altruístas, de esperar, acreditar, perdoar etc. Precisamos dos dois mecanismos. De maneira geral, o Ego ainda é nosso “padrão” e ele não gosta de mudanças, portanto, para encontrar o Self é preciso muito esforço. Somos uma constante “batalha” destes dois lados. A cada momento, um predomina. Mesmo quem já vive um deles em abundância, em alguns momentos, ainda tem contato com o outro lado…

Outro conceito que preciso esclarecer é que dentre os relacionamentos conjugais, há várias formas de um amor nascer. Ele tanto pode acontecer bem devagar, devido às circunstâncias, à convivência, aos acontecimentos atuais e, ao longo do tempo, percebemos brotar um lindo sentimento – e nesta “categoria”, há várias opções, como uma pessoa que a princípio nem víamos desta forma, ou pode vir de uma convivência que seja mesmo fruto de uma atração etc.; ou pode também ter uma causa oculta, maior, ser despertado graças à existência da pessoa e ser um sentimento que mostre existir ao longo do tempo. Está vinculado mais ao ser amado em si que ao modo como tudo começou. Embora o tipo amor que eu vá explorar seja apenas um, não o faço porque desprezo o outro, mas sim porque este é o meu (limitado) espaço e a minha história, então, por motivos óbvios, falarei apenas dele. 

PARTE 8

Num determinado ponto do processo, quando eu já colocava meus sentimentos e ideais para fora, para poder dizer que o meu amor também existia, talvez eu tenha sido um pouco “enfática”. Talvez tenha parecido um pouco agressiva, às vezes, dando a entender que o outro não era bom, mas não é isso. Aquilo era eu em conflito: sem experiência para não se abalar quando não acreditam em você – o que aconteceria se eu fosse mais segura -, mas sem deixar de acreditar para simplesmente “deixar para lá”, eu precisava agarrar com todas as forças e antes que pudessem me “convencer” a mudar de ideia, precisava mostrar que estava certa e defendia meu ponto de vista, colocando tudo para fora de uma vez e desesperadamente.

Para poder explorar melhor as idéias no decorrer do texto, chamarei o primeiro modo de acontecimento amoroso de “amor factual” e o segundo, de “amor sutil”. Vale lembrar que tanto um amor factual pode resultar numa união real e bela por toda uma existência, como um amor sutil não “vingar”. Cada caso é um caso!

Já escrevi em meu antigo blog antigo um “Breve Ensaio Sobre o Amor” e “O Conto de Fadas é a Realidade”, onde aprofundo mais os conceitos, mas eu fico me perguntando… Sei que muitos ainda acham que o amor conjugal é “coisa de gente romântica”, que “a teoria na prática é outra” e “acreditar no romantismo é coisa de cinema, é algo que ‘enfeitam’ para vender”, e por aí vai… Sim, concordo que tudo é muito mágico e perfeito nos filmes famosos do cinema, principalmente os românticos… Mas vocês hão de convir que num espaço de duas horas para contar uma história às vezes de anos é preciso utilizar-se de símbolos que acontecem de uma forma mais resumida e num tempo mais “enxuto” que o da vida real. Mas admito que se nós não tivermos uma visão crítica, iremos nos iludir ao acreditar cem por cento nos romances, levando em conta a forma e não ficando apenas com seu conteúdo, com sua mensagem… Claro, há sim as produções apenas comerciais, mas há outras com uma mensagem muito bonita que são ridicularizadas simplesmente por estarem nesse formato, como se só outros menos produzidos, mais escuros, confusos e conflituosos é que fossem decentes.

Será que a intenção de quem os produz é somente assim tão vil e capitalista? Este não é o ponto, o ponto é a segunda questão: será que este tipo de sentimento vende apenas porque a massa é “acéfala e facilmente manipulada” (e leva em conta esta forma “forçada”, comercial, portanto, irreal), ou também porque o que eles exploram está no inconsciente coletivo em latência, para ser desenvolvido (sua mensagem real, seu conteúdo – uma visão de mundo melhor, bonito, próspero, feliz, onde o bem sempre vence!), e se ainda não o é, é simples resultado do momento evolutivo em que nos encontramos agora – almas ainda crianças no que diz respeito ao conhecimento das próprias emoções, em moralidade, que ainda são ciumentas, egoístas, mesmo que em diferentes níveis – e não sintonizam com um amor assim?

PARTE 9

Será que este amor incondicional, que vence barreiras, que modifica vidas, é só ilusão da indústria capitalista, ou é reflexo de almas que nasceram neste momento da civilização (mas certamente existia, só que em menor escala, desde sempre, também na Era Antiga, Medieval, ou Moderna) e utilizam-se dos meios que possuem para disseminá-las? Hoje é a era da globalização, da comunicação entre países, do avanço tecnológico – portanto, da mídia de larga escala. Se para ouvir música ao vivo era necessário dirigir-se às óperas em carruagens ou ouvir o trovador na vila, hoje eu posso adquirir uma mídia e ouvir a música que me apraz a qualquer momento, não dependo totalmente do artista para ouvi-la. E, quando sentir necessidade de uma proximidade maior, vou ao concerto. É assim tão ruim, tão vil, ou são apenas outros tempos? Falar sobre o capitalismo em si daria um outro ensaio, e não é este o objetivo. Retirei as observações que julgo importantes para a minha argumentação, que é outra. Voltemos a ela…

Um amor assim, que foge da lógica, mas é fiel ao coração, parece impossível porque realmente seja, ou porque a maioria ainda não está pronta para ele e, por ter a alma ainda egóica, é contra mudanças, novidades e prefere continuar vendo apenas o conflito, a dificuldade, a traição, o desequilíbrio de emoções e tomá-los como padrão?

Não que a poligamia não exista ou os seres humanos mais decentes não sejam passíveis de erros, ou que alguém, só porque ama outro ser, não sinta atração física por outra pessoa… Não, não sou assim tão ingênua e esteja levando o conto de fadas ou a comédia romântica de Hollywood ao pé da letra… Estou apenas perguntando se pelo fato de o bem sempre vencer no final, ter-se uma visão mais positiva do homem, justifica simplesmente ridicularizá-lo – talvez, concordo, em partes, pelo medo da alienação -, ou fazer isso é conveniente para quem ainda não é muito bom em lidar com este assunto, e seja melhor manter o filme escuro, parado, conflitante, sem resposta, angustiante, como única forma de expressão “correta” de arte, bem aceita pelos chamados cultos…

Ou, traduzindo para a vida real, continuar acreditando nos clichês prontos – que “mulher é um bicho carente” e “homem é cachorro” -, aceitar vários tipos de comportamentos tóxicos seja normal e, assim, continuar fazendo escolhas pobres para nossas vidas, só para não ter que ter o trabalho de repensar e aprender outro modo de agir… Como massa, como Humanidade, como consciente coletivo… Este tipo de conceito também deveria ser amplamente discutido num espaço maior, não cabe num único post de um blog…

Por Deus, eu acho que todo tipo de arte é válido! Somos indivíduos heterogêneos, em vários níveis evolutivos, haverá arte de todo tipo, arte que agradará mais a uns que a outros. E todo artista merece colocar para fora o que sente! Com a dificuldade que eu tenho hoje para colocar a minha arte para fora, eu seria insana se não reconhecesse isso! E egoísta, ao achar que só a minha ou a que eu gosto é importante.  E eu reconheço a sabedoria que há em passar uma mensagem através de um formato – o tipo de película, um filtro de luz para ressaltar um tipo de cor para representar um sentimento, uma figura de linguagem num texto, etc. – ou de usar a tela do cinema, da pintura ou um texto para apenas retratar sentimentos aleatórios, sem ordem ou objetivo. É algo realmente mais profundo e deve ser admirado e reconhecido. Mas isso dá o direito de quem é desta “tribo” menosprezar as outras?

PARTE 10

Não estou atacando outro tipo de expressão, estou apenas tentando elevar aquela na qual eu acredito. Em meu caso específico, 1 – já tenho muito na mente, o tempo todo; 2 – sou super sensível, me comovo fácil, a tristeza no mundo me deixa triste. Se eu me sentar para ver um filme, não buscarei mais problemas ou uma realidade que me faça sofrer, que olha o presente com pessimismo (obrigada, para isso, eu ligo o noticiário!); portanto, 3 – se eu precisar de cultura ou doses de realidade, vejo um documentário. Quando eu busco o cinema, livros de ficção e mesmo um quadro, o faço para sonhar, ficar duas ou mais horas fora do mundo e da minha mente já tão ativa e preocupada. Preciso ver coisas belas, olhar para frente, para o futuro; preciso ver coisas boas, para entender que nem tudo está perdido! Portanto, não pode ser um tipo de arte ruim só porque é comercializado! Aquele formato “começo, meio, clímax, fim”, com a câmera lenta, o close, a iluminação, a música, a paisagem, o vento esvoaçando o cabelo, o mocinho correndo atrás da mocinha no aeroporto e dizendo que a ama, é tudo de que preciso!

Eu já fui esta mocinha sonhadora, já tive amores impossíveis e já vivi esperando um formato mais próximo dos filmes que da realidade; sou insegura, embora bem menos que antes (como é complicado dizer, hoje, que concluímos um estado evolutivo, já que o progresso é constante!) e posso afirmar apenas que tenha tido lá meus problemas de autoestima – embora seja muito, muito menos do que antes. Mas eu cresci, eu mudei, e mesmo depois de começar a detectar estas discrepâncias em relação à realidade, a entender o amor de uma forma menos “fantástica” e notar essas falhas minhas que hoje verbalizo tranquilamente (autoestima arranhada, insegurança), percebi que apenas havia amadurecido meu conceito, mas a crença naquele tipo de amor continuava… Depois, vi numa situação muito parecida com as vividas anteriormente… mas o conteúdo era muito, muito diferente!

Sempre, sempre guiei minha vida afetiva para o lado do amor, embora, claro, tenha tido também algumas experiências contrárias que só serviram para me fazer descobrir a diferença, me gerar repulsa e me colocar de volta no caminho. Foi sempre o que eu busquei. E encontrei… Mas num homem casado! 

Não é o objetivo narrar fatos, por isso, terão apenas que confiar em mim quando eu digo que eu fiquei mais próxima de Deus ao viver este sentimento em plenitude, que ele me enobreceu, fez-me mais serena, mais iluminada, mais feliz. Eu era capaz de ser feliz com um simples olhar, por semanas… E ficar tão, mas tão tocada, que minha vida era fazer o Bem, a todo tempo… Olhava as pessoas na rua e desejava-lhes o bem, queria que todas fossem felizes… Não reclamava mais nem das barbeiragens no trânsito… (rs… ) Eu encontrei a paz! Não dependia da presença dele (ser amado) para ser feliz… eu apenas era! E, só para não dizer que isso é coisa de conto de fadas, posso dizer que ao vê-lo ou ainda hoje, só de pensar nele, volto a lembrar da enguia – e somente dela! – citada no começo… Então, não estamos falando apenas de paixão ou de uma ilusão. Foi um sentimento completo, que realmente me modificou, mas também mexe com meus sentidos!

PARTE 11

Eu sempre, sempre acreditei num amor assim, como o que eu sinto. Um amor onde possa haver cumplicidade, companheirismo, paixão, fidelidade, carinho, respeito, identidade. Embora eu não tenha tido a chance de experimentar um convívio com ele para saber se tudo isso aconteceria na prática, ele despertou em mim o reconhecimento, que é o primeiro passo de vivência deste sentimento total, a certeza que me invade e me faz conhecer o céu: “é ele!”. E não era só isso, só o que poderia vir a ser… Na prática, no agora, sempre que eu tinha a oportunidade de ouvir sua opinião sobre algo, ficava ainda mais encantada com sua sensatez, sua clareza de idéias, sua mente aberta, sentindo ainda mais admiração. E identificação…

Além de, no meu caso específico, saber mais ou menos como ele seria, ao longo de toda a vida, este sentimento sempre foi uma tríplice: eu acreditava que um amor assim existia, que era possível E que eu o viveria! Qual não foi minha surpresa quando vi acontecer dentro de mim aquilo que era só um sonho no meu coração, quando reconheci em gestos, pensamentos, num ser vivo, o que gerava movimento interno no sentimento que sempre esteve comigo? O que vivo agora não é criação minha, como já houve; é diferente, aconteceu! E involuntariamente!

Já que um amor assim ainda é muito desacreditado e “meu passado me condena”, olhando de fora, vendo a forma, eu seria, então, facilmente encaixada no padrão: não se ama e se esconde em amores impossíveis. Isso foi uma incógnita que quase me enlouqueceu: segundo a forma, tanto eu poderia estar simplesmente repetindo o padrão anterior, o que seria possível , devido ao passado de amores impossíveis ou relacionamentos infelizes – e eu ser, então, apesar de todas as mudanças, a mesma mocinha sonhadora -; quanto poderia ter discernimento para saber que a aparência de histórias poderia até ser a mesma, mas no conteúdo a situação era diferente e esta experiência anterior me permitia, inclusive, diferenciar os estados de alma, os sentimentos, notando as características opostas entre esta e as outras. Eu seria, portanto, alguém bem madura, que vê além. Opção difícil de admitir, porém, quando se é insegura e tem baixa autoestima…

Funciona assim: quando você até alimenta um pouco a autoestima e consegue acreditar ser capaz de algo bom, ser capaz de estar certa, vem uma situação de dúvida e a insegurança faz com que se duvide. Aí é demais para a pouca autoestima recém-adquirida, nova, fraca, e volta-se praticamente à estaca zero, começando todo o processo de novo…

PARTE 12

Anos atrás, quando eu fazia faculdade, precisava usar ônibus ou metrô – quase toda semana – e não conseguia sentar porque havia entrado no meio do trajeto, obviamente eu não gostava, mas entendia, achava natural. Sei que nosso transporte público ainda deixa muito a desejar, portanto, há superlotação; e se a cidade está cheia e eu cheguei no meio do trajeto, fatalmente haveria a chance de não sentar. Aceitava o fato. Mas quando eu pegava uma linha no ponto inicial ou a mesma num dia de menos pessoas e conseguia um assento, olhava para quem chegava depois, que estava na mesma situação que eu naqueles outros dias, e me incomodava por estar ali. Eu sabia o que eles sentiam – era ruim viajar em pé! – e passava o trajeto todo atormentada, pensando se deveria ou não ceder o lugar. Não estou falando de pessoas portadoras de necessidades especiais, grávidas, com bebê de colo, idosos… Por essas pessoas, mesmo fora do assento especial, ceder o lugar seria um gesto altruísta. Mas pelos iguais a mim ou até “piores” – até para homens eu queria ceder, sendo que é questão de cavalheirismo e bom-senso, o contrário! – não era caridade. Era autoanulação! Era como se eles merecessem sentar, mas eu, não… Hoje vejo que da mesma forma que um dia eu “me dei mal”, mas soube aceitar, aquele era o meu dia de “me dar bem” e permitir que outros seres humanos exercitem a aceitação!

Só que isso foi muito difícil de detectar, porque eu não tinha apenas a autoestima baixa para justificar este sentimento e me sentir menos: apesar de reconhecer minhas limitações e defeitos, vejo que sempre tive vontade de fazer coisas boas, sempre pensei nos outros também com sincera consideração, não apenas por me diminuir. Então, chamar até a minha autoanulação de caridade foi muito, muito fácil.

Graças à baixa autoestima, para reconhecer um defeito sou rápida no gatilho, mas para admitir uma qualidade, é um longo processo… E por não conhecer direito as emoções, sempre temi ser arrogante ou orgulhosa ao admitir uma característica positiva, sabotando a mim mesma e sufocando virtudes que eu já tinha ou poderia desenvolver se as exercitasse. E aí é que complica… Apesar de bom coração, também sou orgulhosa e sei que realmente eu poderia me tornar arrogante num piscar de olhos… Então, me reprimi. Quanto malabarismo! Vamos voltar ao caminho para chegar a essas conclusões.

No começo relutei em aceitar o sentimento. Mas sua beleza e pureza fizeram com que eu vencesse meus próprios preconceitos e baixos conceitos a respeito de mim. Mas não foi de uma vez…

Tive tanto, mas tanto medo de supostamente fazer mal aos outros, que, de fato, fiz mal a mim… Durante um ano inteiro eu não usava nem o diário para desabafar e, quando o fazia, era com meias palavras e sem citar nome algum! “E se um dia um ladrão roubasse meu PC e ou fuçasse, ou vendesse para alguém que fosse ter curiosidade, a pessoa ler, contar para alguém, este alguém reconhecer a situação pelos nomes, conhecer a irmã da prima do tio-avô da vizinha da amiga da esposa dele e contasse para ela, causando mal-estar a ela por ter alguém que ama seu marido, e ele fosse ficar sofrendo por ter problemas no casamento”? Portanto, sem nomes!, disse a “general” dentro de mim. Claro que isso mudou muito (nota-se!), mas foi assim que começou…

PARTE 13

Devido às nossas limitações em conhecimento e moralidade, temos ainda muitas tendências negativas, hábitos adquiridos no passado e ainda muita dificuldade em manter algo. Temos, entretanto, facilidade em conseguir, que é bem mais emocionante, estimulante aos sentidos e traz bem-estar imediato. Quão bom é adquirir um carro? Mas e a má vontade na hora de pagar a própria parcela ou a manutenção de veículo? E a casa? Uma delícia tê-la. Mas limpá-la… Que chato! Namorado novo? Que bacana! E conquistar o antigo? “Para quê, já tenho mesmo!”. Parecem comportamentos óbvios, mas ainda refletem imaturidade geral, que quase todos sentimos…

Após alguns anos, por medo, ciúmes, ansiedade e falta de fé, por deixar o Ego falar mais alto, eu me desconectei da nobreza do meu sentimento, do amor. Já estava “acostumada” a ele. Claro, não deixei de sentir, mas passei a ter dificuldades para conectar-me com ele. Por um simples mecanismo natural dentro de nós – ter más tendências que ainda nos prendem em estágios mais atrasados da evolução, mas ter também capacidades, que nos permitem romper essas correntes, basta querer e ser persistente! – iniciou-se um embate dentro de mim: o Ego que queria materializar isso, contra o Self que queria apenas ficar em paz com o sentimento e esperar, amar…

Além deste mecanismo comum a todos, no meu caso, devido à minha insegurança e à minha baixa autoestima, eu tive muitas dúvidas e fiquei com medo. Passei a ficar desesperada para que se concretizasse e eu pudesse, assim, ter certeza da minha certeza, podendo, então, confiar em mim outra vez. Portanto, o Ego teve muito mais voz dentro de mim. Eu estava insegura, sem fé, com medo, duvidando que todo aquele bem fosse possível, por me depreciar e não me sentir capaz de algo bom. Era o que ele (Ego) precisava… Foi nesta época de puro conflito que contei a amigos. Eles viram apenas meu sofrimento…

Não agüentando mais ter que fugir da realidade, pegar o carro e sumir para pensar, sempre que um homem bacana, possível, presente, aparecia e me forçava um posicionamento – trocar o certo pelo duvidoso – num belo dia, já no meu limite, querendo entender se eu era intuitiva ou louca, contei a ele (ser amado) o que sentia. Sem detalhes aqui, na narrativa, mas o resultado final no plano dos fatos foi um “não”. Uau! Com o tempo, quase pirei. Explico.

Seja por estar muito nervosa ao contar a ele e realmente ter agido mais “na brincadeira”, parecendo o que eu mais temia – uma menina -, seja por não confiar no que os lábios dele diziam que, eu poderia jurar, era oposto que o olhar (mesmo que fosse só uma sementinha, com potencialidade a ser o sentimento que eu já vivo, cada um tem um tempo), para poder expressar-me corretamente e entender quem eu era (a intuitiva por perceber o paradoxo entre boca e olhos, ou a mimada e carente que não sabe levar “não” e não aceita a verdade? Eu vi algo que realmente estava lá, ou criei uma realidade falsa, de acordo com minha conveniência?), precisei repetir minha declaração. Sempre “não”.

Nesta luta entre a minha realidade da alma, intuição versus o que eu podia ver, pegar e mensurar com a mente, o fato palpável é que tempo passou, passou e o amor não se concretizou… O que me fez paulatinamente duvidar mesmo de mim, pois a certeza em relação ao sentimento era tripla (o sentimento era uno, portanto, negar sua terceira parte resultava em invalidá-lo como um todo) e, ao não ser realizada a terceira parte – eu viveria este amor-, duvidei de tudo. Assim, duvidei de mim, que sempre acredita em algo além daquilo que enxergamos com os olhos, ouvimos com os ouvidos e tocamos com as mão… A sensação de que ver a vida assim é um erro, ter que repensar quem eu era, mudar radicalmente, sentir como se meus 30 anos fossem inúteis, tempo jogado fora, e eu fosse uma “aberração”, alguém completamente fora da realidade, começou a contaminar minha alma…

PARTE 14

Já com o ego aflorado, com uma negativa palpável, logo em seguida ainda vivi uma situação de ciúmes e me senti rejeitada, então, foi muito, muito difícil. Neste período eu me senti realmente “pouco”, a última das mulheres… Vivi a seguinte frase que eu formulei: “nunca nenhum homem foi tão competente para me fazer sentir tão incompetente”.  Eu dei o melhor de mim – e não é pouco! – e mesmo assim, não foi suficiente…

A esta altura, se formos levar em conta os meus padrões – para a média, ainda há mais a conseguir! – eu já havia caminhado bem no quesito “autoestima”, tanto é que me senti no direito de dizer o que sentia a ele. Apesar de no quesito “homem/mulher” ela ser zero, devido à rejeição, no quesito “eu como um todo”, já conseguia ver o meu valor no meio disso tudo e não me deixaria mais abater por um abalo numa área específica de minha autoestima. Entretanto, estava em conflito com relação a quem eu era, então, esta dor afetiva, apimentada pelo ciúme, que nos “enlouquece”, tomou conta de mim, e sucumbi.

Ao duvidar de mim e de um comportamento que eu julgava ser o “ver além”, que tem tudo a ver com Deus, perdi o parâmetro do que era real ou ilusório, do que era certo ou errado e eu acabei realmente duvidando de Deus. Repito: confiem em minhas conclusões. Explicar isso seria extenso (o que não é problema para mim, mas o espaço é curto!) e íntimo, portanto, será deixado de lado.

Fico me perguntando se eu realmente não o conheço e projetei minhas expectativas nele, por, no fundo, esperar um príncipe encantado, ou se não fui eu quem senti suas capacidades em estado de latência, como um botânico olha e sabe diferenciar as sementes, sabendo a árvore que cada uma será – mangueira, palmeira, figueira etc., mesmo que pelo fato de reconhecê-las não tenha necessariamente a capacidade, o poder de saber como cada uma delas irá brotar e nem qual delas irá vingar.

Será que fui eu quem o “endeusou”, ou ele que, exatamente por fazer parte desta humanidade ainda “culposa” e negativista, esteja acostumado a valorizar os próprios defeitos e, calejado pela vida, pelo peso das obrigações, contaminado pela lógica, pelo que é prático, não consiga mais ver o que ele mesmo já tem dentro de si em capacidades? Como eu fiz comigo, e com este amor, ao, no fundo, duvidar e quase me desviar…

Sei que o acho doce, gentil e verdadeiramente bom, mas tive apenas pequeninas e genéricas amostras disso para poder validar minhas impressões, na prática, no mundo dos fatos. Todavia, será que vê-las maiores é ilusão minha para criar o tal modelo da mocinha carente inspirada em Hollywood, ou realmente e, por estar fora, mas ao mesmo tempo me sentir tão perto, graças ao sentimento, e talvez percebê-lo, senti-lo, não esteja vendo algo que ele talvez não veja direito, dentro?

E me pergunto se o fato de ele pensar que eu pense que ele “seja perfeito” e não conheça seus defeitos, como num sentimento infantilizado, não mostra, nas entrelinhas – talvez até de forma inconsciente, para ele – o quanto ele me acha imatura… Que eu só sinto o que digo sentir porque é coisa de filme, não porque isso exista, eu seja uma mulher – e ele me enxergue realmente como tal… 

Mas, à época, nem eu estava muito decidida, nem eu me via totalmente madura, acredito… Como exigir isso dele? A não ser que ele também visse as minhas potencialidades latentes…

PARTE 15

Apesar de tudo, sempre tive forçar para seguir e, mesmo que já não conseguisse mais viver apenas o amor, estivesse também sofrendo, ainda assim parecia valer a pena, e eu não desisti.

Sempre fui mais “espírito” que “corpo” e, num determinado ponto desta minha história, quando aconteceram outros fatos que me fizeram acreditar que eu estava enganada, que este amor era utopia e eu precisava “experimentar”, aceitar um “amor factual”, eu vivi meu lado “Terra”. Doeu, doeu muito, mas fiquei tão confusa que interpretei a lição disso tudo como “desapego”, algo que passei apenas para me conhecer, me trazer a esta nova realidade e que agora eu precisava deixar ir, e aceitei. Cantei “My Heart Will Go On” e tudo… Mas durou apenas um dia, pouco mais de 24 horas. Logo me vieram novamente um sentimento e a ideia de “ainda não acabou”. Por um lado fiquei aliviada, mas por outro, fiquei “maluquinha”. Emocionalmente eu tenho me sentido numa máquina de lavar roupa – com o turbo ligado.

Na minha concepção, nós, seres humanos, por tudo aquilo já explanado anteriormente sobre não entendermos sutilmente nossas emoções e enxergarmos tudo de forma bruta, vamos lapidando este conhecimento indo, algumas vezes, como bolinha de pingue-pongue, num vai e volta constante entre um extremo e outro. Nas escolas literárias brasileiras, por exemplo: uma hora era a razão que predominava, na próxima, a emoção . O Barroco era este antagonismo (contrastes, dualidade entre a materialidade e a vida espiritual). Mas depois vinham as “extremistas”: Arcadismo (influência do Iluminismo, ideias, razão); Romantismo (criação, amor, sentimento, emoção); Realismo (crítica do mundo, realidade, razão), concomitantemente seguido do Naturalismo (determinismo, fatalismo, razão); Simbolismo, (que combate a ciência do Realismo) e o Parnasianismo (“arte pela arte”, poesia, criação, emoção, ainda que de uma forma diferente dos Românticos).

Uma vinha acrescentar o que a outra, por seu excesso, havia deixado passar. Nos aprendizados da vida, a mesma coisa: se temos uma característica muito bruta, para podermos lapidá-la, a vida nos faz experimentar o outro extremo, depois nos joga ao extremo anterior de volta, até que, cada vez indo menos longe entre um extremo e outro, cheguemos próximos da linha do equilíbrio, desvendando sempre novos conhecimentos, tornando nosso “saber” mais amplo e cada vez com mais “subitens”, parágrafos e adendos, não mais com uma simples frase de título.

Eu percebi que voltei do extremo “Terra”, “experimentar”, para o meu modo “espiritual” de ser, “acreditar/esperar”, um pouco mais consciente da importância da vida aqui, das sensações, das necessidades. Fiquei mais consciente do meu outro lado, das minhas limitações… Não sou só busca por luz e obrigações morais: sou também trevas e satisfação de necessidades, ainda inerentes ao grau evolutivo no qual transito. E isso não é errado! Alimentá-los – e com isso, excedê-los -, sim, mas admiti-los e lidar com eles, não!

PARTE 16

Mesmo com a dor da negativa da vida, ao fazer minha autoanálise, compreendi que boa parte da mágoa que eu tinha não vinha do lado do autoamor ferido que não queria mais uma situação depreciativa – que acontece quando pisam no nosso calo e nossa autoestima grita, nos obrigando a reagir. Vinha do meu orgulho ferido, e combati o ressentimento.

Apesar de tudo, de na prática a situação estar se mostrando inviável, sempre vinha esperança.  Na maioria das vezes, ultimamente, não mais alimentada por mim, pois eu já estava exausta, muito, muito além do meu limite… Mas a danada sempre aparecia!

Assim, aceitar acreditar que tudo tinha sido ilusão estava me fazendo ser revirada por dentro, como se minha alma estivesse sendo desmontada. Logicamente falando, observei que apesar dos fatos palpáveis parecerem mais sensatos (eu realmente tinha baixa autoestima, insegurança, e realmente já tinha tido amores impossíveis antes; vivi a minha história e ela se mostrou completamente um erro de percepção, fora o fato de eu agir ao contrário do que a maioria faz. Não havia mais desculpas, eu estava errada, era melhor desistir, eu havia me iludido!), o estado de alma que eu ficava quando acreditava nesta forma da situação era o do desespero, da loucura; e, quando voltava a acreditar no conteúdo, na essência do que vivi, reconhecia que poderia ser um aprendizado de paciência, de fé, de confiar em mim, e lembrava da paz… Já que nada me fazia bem, resolvi voltar para a certeza que eu poderia ter. Voltei a reconstruir tudo. Quando acreditava nisso outra vez, automaticamente ficava em paz e forte. Como poderia ser errado?

Percebi que quando aceitava a explicação lógica, descrita no parágrafo anterior, invalidando meu sentimento, eu o fazia não por lucidez, mas por desprezar a mim mesma, por me achar ridícula ou merecedora de pouco. “É bom demais para ser verdade”. Por isso é errado, para mim: porque o que me leva a concordar com o “óbvio” não é o óbvio, mas a falta de autoestima!

Entretanto, eu queria tudo do dia para a noite… Só pelo fato de ter decidido voltar a acreditar, queria voltar ao patamar amoroso imediatamente, e não é assim que funciona… Eu desfiz um caminho dentro de mim, precisava refazê-lo. Transitei entre os dois extremos – Ego/Self, dúvida/certeza – e caí e voltei tantas vezes que não seria possível recontar, o que me consumiu muita, muita energia – e me fazia duvidar ainda mais a cada queda, minando ainda mais minhas forças. Mas cair não importava, não significava que a luta estivesse perdida. Apenas fazia parte do processo. O que importava é que eu sempre seguia, e um dia estaria livre dessas quedas, quando tivesse voltado ao “local” de onde havia partido – e ali me mantivesse.

Mesmo já mais animada e sentindo aos poucos certas perdas serem recuperadas, ainda assim, num nível muito, muito profundo, eu ainda tinha espaço para dúvidas e insegurança dentro de mim. Sofria como quem já lutava por acreditar em si, mas ainda agia como quem duvidava… Não só neste final, mas em outros momentos, durante a trajetória, precisei sofrer além da conta para somente então agir, perder o medo de errar e conseguir verbalizar meu sentimento a ele (ser amado) ou explicar o que sentia aos mais próximos. A experiência que eu tenho em analisar casos de amor como possíveis ou não, sem precisar me machucar, eu não tenho para entender quem eu sou: precisei ver os efeitos em mim, sofrer, para poder entender a causa daquilo e, somente então, conseguir agir.

PARTE 17

Este antagonismo entre “necessidade de concretização para eu poder acreditar em mim” que não veio, somada a “eu saber estar certa e não conseguir desistir”, me deixou em tal estado de desequilíbrio que eu engordei sete quilos, passei muito tempo deprimida, sem forças, e tive até alguns fatores físicos isolados. Nas últimas semanas, precisei ter, novamente, as unhas sem crescer e com pequenos buracos, o intestino preso, insônia e até mesmo uma leve sobrecarga na circulação, para perceber o mal que esta ausência de posicionamento, esta falta de fé em mim, estava me causando, e poder me ouvir.

Há poucas semanas, em um sábado pela manhã, ao tomar coragem para levantar da cama, só de pensar que tudo isso deveria ser mentira e eu chegar, outra vez, perto da loucura, meu coração perdeu o ritmo e primeiro bateu muito forte. Senti uma grande dor por todo corpo, no lado direito. Depois ele ficou bem fraco, tive queda de pressão. Ao levantar, vi pequeninas veias estouradas na mão e no seio direitos. Como pode uma “ilusão” provocar estragos reais, mas não é só isso: que param de acontecer quando você volta a acreditar em tudo outra vez?

Não estou falando de algo que te faça mal, mas você insiste, não quer enxergar, sofre, e isso atinge até o físico; estou falando de passar mal até no físico porque duvido que o quê eu sinto possa ser verdadeiro, por não confiar em mim! Mas eu me neguei a ir ao hospital. Não seria a primeira vez. Pagar outro eletro só para o médico perguntar: “No exame deu tudo certo, sua saúde é ótima. Você está passando por algum stress?”. Desta vez não daria explicações genéricas: “Sim, doutor, por gentileza, leia agá, tê, tê, pê, dois pontos, barra, barra, Camila Pigato, ponto, wordpress, ponto, com”.

Há quase dois meses, algo que contribuiu muito para esta situação do coração – o músculo: novamente, após meses de sofrimento profundo, consegui me sentir disposta a tentar outra vez, acreditar de novo, conectar-me com meu sentimento. Deixei para trás todas as travas, o cansaço, os medos, as rejeições. Entreguei-me novamente e me senti muito, muito em paz. Dois dias depois a realidade não só continuou “nula” – o que já era uma negativa -, como mostrou-se oposta ao que eu sentia. Sucumbi. Larguei tudo, decidi viver só o hoje, só para satisfazer sensações, sem pensar em mais nada. Se eu tivesse um pico hormonal, arrumaria um macho e faria sexo, senão, não, e “sai pra lá” (tô com dor de cabeça… rs…); se tivesse fome, comeria; trabalharia no que desse mais dinheiro, mesmo que me corrompesse a alma, afinal, neste mundo, “o que ainda manda é o dinheiro” (não é assim?), e eu não queria saber de mais nada além disso. Pelo menos esta realidade eu poderia ver com meus olhos e pegar com as mãos.

Mas no fundo eu não a aceito, e por ter ido tão longe de quem eu sou, até em suicídio cheguei a pensar. Sempre que minha sanidade mental passou a entrar em jogo, este pensamento começou a me rondar… Mas eu nunca cedo. Já o venci pelo menos três vezes, em pouco mais de um ano. É como a frase “a teoria, na prática, é outra”. No momento do desespero, da ausência de sentimentos bons e razão em ordem para poder concatenar idéias, este ato bárbaro esta até parece uma saída, até passa a ser considerado. Mas chegar ao fim, materializar o pensamento é bem diferente… Olho para meu corpo, imagino-o sem vida e a ideia simplesmente perde o sentido totalmente. Sabe o gelo que não é fogo, mas de tão gelado, queima? Por ter ido tão longe, vejo o absurdo, isso me assombra, dou risada e volto à minha realidade. Não se aplica a mim. Mas até “queimar” e eu ver o paradoxo, é difícil sair…

E aqui vai um parênteses: sei que talvez afirmar “eu pensei em suicídio”pode ser chocante e fazer com que vejam uma fraqueza. Eu vejo a força por, mesmo vivendo o choque de pensar nisso (sim, chocou até a mim!), ter conseguido negar e refazer o caminho de volta. O campeão se mostra na derrota, certo? Mais vale o modo como você sai da adversidade e continuar apesar dela, do que o simples fato de ter passado por ela… 

Ouvi há alguns dias: “Suicídio é para fracos”. Concordo. Eu não sou! Mas aí é que vem a “novidade”: não há privilegiados, todos somos almas com as mesmas potencialidades. Esta força que eu tive, que esta pessoa teve ao dizer isso (e nem sonha que o mesmo tenha acontecido comigo), todos nós temos. Uns já as tem em abundância e pensamentos assim nem lhes passa pela cabeça; outros, como eu, ainda precisam testar essa força e superar uma experiência ruim, tentadora, para torná-la mais robusta;  outros ainda sucumbem, mas apenas porque não conseguem encontrá-la dentro de si. Somos todos fortes, portanto, o suicídio não é para ninguém!

PARTE 18

Só que nesta vez do “vencer o orgulho e, a esta altura, pela milésima vez, ceder e a realidade mostrar-se o oposto do que acreditei”, perdi tanto a cabeça, a noção das coisas, que cheguei a levantar do sofá para dar o primeiro passo possível para agir… No segundo pé que coloquei ao chão já estava chorando e dizendo que não faria isso. Mas a vontade de fugir desta realidade era tamanha que eu aceitei dirigir até o mercado para comprar bebida alcoólica. Sei que beber é comum hoje em dia e esta declaração, a priori, não surpreende ninguém. Então, vou fazer uma comparação para me fazer entender: eu dirigir até o mercado para comprar uma garrafa de keep cooller é o mesmo que quem bebe socialmente entrar em parafuso, não medir conseqüências e ir a uma boca de fumo comprar crack!

E eu fui… Ao chegar ao mercado, passei reto na cerveja. Muito amarga! Fiquei olhando as opções… Não sei o teor alcoólico de keep cooller, então, não sabia se dava para ficar bêbada. Olhei os rótulos, mas quanto mais eu pesquisava, mais eu me lembrava do quanto não gosto de álccool, do quanto meu estômago ia doer por fazer isso e do quanto eu estava me sentindo mal por estar ali. Não por moralismo – apesar de levar a conduta moral, de forma equilibrada, o que é diferente, muito a sério -, mas por mim, por aquilo não ser “eu” e por, de tão deslocada, ver com os meus olhos a dor que minha alma estava sentindo, para me levar até ali…

Mesmo assim, escolhi o licor de capuccino… Já que eu ia me flagelar, mas pelo menos, poderia ter algo gostoso no meio… Na fila do caixa eu era a próxima, quando minha irmã me ligou. Ela estava preocupada comigo, pois havíamos conversado durante o dia e eu estava visivelmente alterada. Ela me perguntou se estava tudo bem. Eu respondi que sim, olhando para o rótulo da garrafa e imaginando como eu me encontraria dali alguns minutos. O plano era beber em casa, até cair, sumir daqui por algum tempo…

O fato desta ligação me ter feito verbalizar uma mentira tão grande, fez com que eu deixasse a pessoa atrás de mim tomar meu lugar e eu fosse devolver a garrafa. Devolvi, mas continuei ali, reconsiderando… Eu não sentia o amor, mas no fundo ele estava mesmo ali, pois me lembrei dele… Lembrei de como doeria meu estômago, de como é ruim ficar bêbado, de como isso não tem nada a ver comigo e, por isso, pensei, beber seria um ato de pura baixa autoestima… Se ainda fosse uma overdose de chocolate, ainda vai, ainda é válvula de escape considerada normal para mim (embora também não seja!).

No dia seguinte peguei o carro com o objetivo de ir a um lugar de grande significado, que, no começo de tudo, me estimulou a seguir. Eu precisava ir lá “de mãos vazias” para encerrar a história, dentro de mim. Na viagem vinha uma vontade grande de voltar, eu não me via fazendo o que fazia, mas realmente larguei tudo e quanto mais eu sentia que era para voltar, mais eu bloqueava meu sentimento, agia com a cabeça e acelerava. O carro começou a travar, não acelerava muito, parecia “preso”. Fiquei com medo de sair da estrada monitorada e parei no meio do caminho. O medo de ter problemas mecânicos me fez ceder. Achei melhor ficar onde poderia ser amparada e decidi voltar. No dia seguinte… Precisava de uma noite longe de tudo! Na manhã seguinte eu quase não voltei. Em vez de aproveitar o hotel, assistir TV a cabo, me encolhi na posição fetal e chorei… Deu muito medo de enfrentar tudo outra vez, mas acabei cedendo. Curioso, para voltar o carro veio bonitinho, sem nenhum contratempo… E neste mesmo dia reparei-me com a minha realidade. 

Aos poucos, ao lidar com ela, fui voltando a confiar em mim, no amor, outra vez.  Mas nunca mais foi “limpo”, sempre havia obstáculos que me impediam de ficar naquele estado de alma especial, mais elevado e amoroso. Havia um conflito…

PARTE 19

Antes, em meus sofrimentos, o que eu sentia quando sofria era como uma pessoa que caminhava pela calçada e levava um tombo. Tudo ficava preto por um tempo, mas a visão ia voltando, a vida continuava no lugar e a pessoa precisava apenas se levantar e seguir. Parecia que este sofrimento era o que vinha de Deus: uma dor temporária, passageira, mas logo tudo voltava ao normal e ficava apenas o aprendizado. Havia uma bondade escondida nisso…

Este sofrimento ao aceitar minha vida sem este amor rasga a minha alma, é como uma pessoa que caminhava na calçada e vê um avião sobrevoando a cidade… Ouve um estrondo, procura abrigo e vê bombas caindo e destruindo quarteirões, um por um. Até que tudo fica preto. Ela fica desacordada, mas a visão vai voltando e ela se percebe toda ensangüentada. Ela tenta levantar, mas está ferida e sempre cai. Se arrasta e quando olha em volta, tudo o que conhecia como certo foi destruído, está sendo consumido pelas chamas, e ela se vê sozinha nos escombros.  Este sofrimento não parece o vindo de Deus para ensinar… Parece o do que é apenas uma ação que vai destruindo tudo, arrancando qualquer vestígio de esperança, de beleza, de recomeço, de bondade…  

São sofrimentos diferentes, mas por muito tempo eu mesma lidei como se fossem iguais… Para reconhecer virtudes verdadeiras a baixa autoestima significava impedimento, e ao mesmo tempo, também graças a ela, havia uma “carrasca” dentro de mim, exigindo perfeição. Eu menosprezei o que sentia, sendo dura demais comigo mesma, me cobrando uma virtude que eu ainda não tinha – só sublimar isso e abrir mão, como se não doesse. Tentando ser boa de uma forma artificial, fui imediatista, querendo dar algo que ainda não tinha, forcei a barra e fui má comigo mesma…

Já que vivo esta dor, para fugir dela, vocês pensam que eu não queria me importar menos com essas questões afetivas e simplesmente buscar outra pessoa e me entregar a ela? Sim! Às vezes eu quase cedo, mas isso me machuca tanto, tanto, que é melhor sofrer o que sofro, e recuar. Queria ser alguém que conseguisse se distrair com um jato de hormônios jogados na corrente sanguínea e simplesmente esquecer. Sabe, “enquanto o homem certo não aparece, divirta-se com o errado?”. Mas eu não consigo… E o dano emocional que terei depois não compensa o alívio momentâneo, diferente do que acontece com algumas pessoas que eu conheço. Não estou apontando erros na realidade de ninguém, estou apenas explicando a minha – e querendo o mesmo respeito com ela.

Queria conseguir “partir para outra” e deixar de querer o amor, me contentar com algo menos complexo, um “amor menor”.  Estou no meio do caminho: não sou nem tão evoluída para não me importar mais com essas necessidades individuais e poder me dedicar somente a causas mais altruístas, mas também não sou tão envolvida com minhas sensações corporais para deixar que elas falem mais alto que minha realidade emocional/espiritual.

Há três semanas, consegui admitir a raiva que eu sinto por tudo ter dado errado, por me sentir rejeitada, por ter sido machucada, por compreender a teoria de Jung e notar que eu não sou Freud, mas também terei que ter uma visão unilateral sobre o que move o ser humano – ter que publicar cem livros por ano como única forma de movimentar a minha energia criadora. Raiva por fazer tudo o que senti ser o certo e ele ser casado… Não admiti isso tendo comportamentos raivosos ou machucando ninguém, apenas escrevendo no papel, que é a minha forma saudável de extravasar.

É exatamente isso que eu estou entendendo, quanto a pensar que eu sou muito menos “etérea” que eu pensava ser, quanto pedir a Deus o que eu sinto ser um direito: não quero ser mais a “mulher maravilha”, superar tudo, sublimar tudo, entender tudo, abrir mão de tudo. Sem exagerar e tornar-me egoísta ou imediatista e não saber ceder, ou ser arrastada pelo meio, quero tirar o “maravilha” e ser simplesmente mulher, como todas as outras. Nem mais, nem menos. Ser igual a elas, não menos. Com as mesmas responsabilidades, mas com os mesmos direitos.

PARTE 20

Em vários momentos eu achei que esta negativa da vida era um exercício de pura resignação e eu precisasse simplesmente colocar uma pedra em tudo e buscar outros tipos de amor. Assim, numa boa, sem chorar nem pestanejar. Mas eu sinto necessidade de viver esta experiência! Não sei lidar direito com esta ausência, esta área da minha alma é muito importante para meu desenvolvimento. Não quero sublimar isso, não quero trocar este tipo de amor (conjugal) por outro mais altruísta (fraterno, social)! Queria muito conseguir isso, admiro verdadeiramente quem faz, tenho inclinação a isso! Mas ainda não é o momento. Seja por amor a mim, por aprender a me ouvir, seja por saber viver e reconhecer minhas limitações: a verdade é que eu não estou pronta para abrir mão disso! Fazê-lo, agora, seria hipocrisia minha, vaidade, não abnegação! 

Entretanto, exatamente por ser madura e ter feito tudo o que pude, em último caso, devido às circunstâncias, a tudo o que não depende de mim, aceito lutar para aceitar tudo isso e, para sofrer menos, viver o amor que faltará, em outras formas. Mas não é porque não pude concretizar meu sentimento que tenha sido ilusão. Mesmo que apenas dentro de mim, eu vivi tudo isso e sofro por não poder prosseguir!

Eu preciso colocar para fora tudo isso porque assim não teria nem como voltar atrás… Eu preciso de uma definição, e consegui: em vez de precisar ouvir da boca dele que ele também sente algo por mim (ainda que não pudéssemos concretizar a história, só para saber que eu seria a “intuitiva”, não a “mimada carente de Hollywood”) para poder dizer “ah, então, é amor!”, busquei as respostas dentro de mim, encontrei-as e procuro, então, encarar os fatos. Em vez de ir levando a história bem devagarzinho, com esperança de um dia ser melhor, eu decidi que não posso mais “esperar e nunca ter”… Que dói demais usar a esperança, que é algo bom, para alimentar a minha dor, e não para consertar a ferida depois de cicatrizada, ao assumir que ele não vem

Viram, como realmente não precisamos dos outros para resolver os nossos problemas, e que culpar a outrem é desculpa para não mudar por dentro? Precisamos nos aceitar como somos! Se mudarmos dentro, tudo muda: ainda que não mude externamente, já não nos atinge mais, ou nos abala bem menos.

Ao assumir um defeito – raiva – e ouvir sem críticas o que eu sentia, eu “desci do pedestal” onde havia me colocado, como se só porque “não sentir raiva” ser algo bom, eu não pudesse mais senti-la, de uma hora para outra. Senti-me mais humana e apta a conquistar um estado de alma mais elevado, pois estava lidando com a verdade. Isso me fez ainda mais mulher… Agora tenho compreensão com a eu que sofre. Ele não é boba, ela não é fresca, ela não é “mundana”, perto da outra que consegue amar incondicionalmente (mesmo que por breves períodos, ultimamente): ela é simplesmente humana. Ela também sou eu e é exatamente por querer que a “sublime” comande por mais tempo, que preciso ficar em paz com a que “quer e chora”, deixá-la chorar tudo o que precisa e ser livre para ir, para viver as outras áreas da minha vida e até mesmo este meu amor (mesmo que unilateralmente) em paz…

PARTE 21

E exatamente por não exigir mais perfeição de mim, encarando minhas queixas, deixando as dores do ego aflorarem (mas, repito, sem ir ao extremo e deixar com que ele fique no comando!), eu reconheci o quanto não aceito o fato de não viver isso. E, ironicamente, o fato de me ver como sou fez com que eu ficasse em paz e consegui ficar “voando” outra vez…

Nos últimos dias, angustiada para colocar tudo isso para fora de vez, nunca conseguir, (seja por outras obrigações que pareciam reproduzir-se como coelhos, seja por ouvir uma voz depreciativa que a autora do livro “Palavra por Palavra”, Anne Lamott, descreve como a “estação de rádio QMRD” – que merda – sempre desestimulando o escritor a continuar, como se tudo o que ele fizesse fosse ruim, me fazendo derrubar um Golias por dia, para conseguir ao menos ligar o computador – outro três vezes maior, para conseguir mexer com o texto) e estar sofrendo mesmo devido à história, em alguns momentos, tive algumas recaídas, alguns momentos de muita dor – em um até chilique eu dei.  Este fato exigiria muitos conceitos e, novamente, exposição de intimidades, portanto, manterei oculto.

 No outro, mais sutil, dias antes, comecei a chorar perto de alguns amigos, com crise de “Não sei mais quem eu sou”. Analisando os fatos, percebi que esta nova rápida recaída aconteceu porque eu me questionei. Ao duvidar de mim (de novo!), ouvi outra vez meu lado mau, que desdenha de mim, que faz com que eu me sinta ridícula, e tudo isso pareceu “conto de fadas furado” outra vez.

Entretanto, ao fazer uma oração e ouvir uma música linda, que fala sobre acreditar nos sonhos, que tem uma visão linda sobre o ser humano e nos chama de “anjos de luz”, eu percebi o quanto esta sensação que parecia lógica era advinda da baixa autoestima e resultava em desespero. Não era a realidade vindo à tona, como uma crise também poderia ser… Precisei, novamente, acreditar em mim. Ao fazer isso e ter coragem para escrever, tudo ficou em paz outra vez.

Mais um parênteses: esta visão da música “I Believe in You”, ao estimular o vencimento de obstáculos, nos chamar de anjos e que há quem acredite em nós, tem a ver com tudo o que eu penso sobre nos vermos por um prisma negativo não por sermos essa porcaria – que muitos “realistas” enaltecem -, mas, sim, por alimentarmos esta tendência negativa, já que somos uma Humanidade ainda muito restrita emocionalmente e deixamos de ver nossas potencialidades. Basta mudar o foco!

Continuando… Um abraço dele por um simples “oi”, como aconteceu recentemente, me faz querer abraçar o mundo… Mas ao mesmo tempo, sinto sua ausência. Não houve um dia sequer desde que eu o conheci que eu não tenha sentido sua falta, que eu não tenha ao menos desejado que ele estivesse bem, já que não poderia estar comigo… Às vezes senti mesmo uma dorzinha, uma frustração por não tê-lo por perto, mas em outras a ausência dele servia para que eu “caprichasse” no esforço para sentir o amor dentro e eu era tão bem-sucedida, que o espalhava ao meu redor…

E como é bonito ver o estado de alma que eu naturalmente atinjo depois de encontrá-lo. Sem raciocinar antes e fabricar o momento… Quando muito, o sentimento é tão nítido que torna-se perceptível até para a mente, depois… O bem que faz somente por estar por perto, vê-lo. Se ele sorrir para mim, então, é o paraíso…  Como isso pode ser pouco, pode ser “migalha”, se me faz voar muito mais que muitos contatos reais e bem mais próximos com outras pessoas?

PARTE 22

Já que muitos poderiam se assustar e achar que afirmar isso é me entregar de bandeja a ele, eu digo que continuo afirmando… Não fazê-lo seria proteger a autoestima, ou é um argumento que impede muitos de nós a nos entregarmos, não por dignidade, mas por medo da rejeição? Até porque ele já sabe que eu sinto tudo isso por ele – e eu já fui rejeitada (risos). Não tenho nada a perder! Não se preocupem por mim: se, algum dia, hipoteticamente, ele entendeu errado e se sentiu dando migalhas e tendo uma boba aceitando, direcionando este gesto para seu Ego, a perda é dele… Eu é que não vou deixar de viver isso, alimentando meu Self, só porque outros não enxergam como eu! Ainda que este “outros” seja alguém tão importante quanto ele. Portanto, digo aos sete ventos o que sinto! 😀

Com tudo isso, acho que deu para perceber que julgar realmente não é recomendável! E fazer isso pelas aparências, ainda por cima, é 95% de chance de erro, correto?  E não é porque aparentemente encaixemos num rótulo que ajamos como os modelos deste rótulo. 

No rótulo eu seria “a outra”, mesmo que só pelo fato de “cobiçar a mulher do próximo”. Mas na essência eu sou muito mais mãe de família do que muita mulher casada por aí, portanto, cuidado com as idéias pré-concebidas, vindas da cartilha imaginária da vida… Não sou um “rabo de saia” que iria só usar, jogar fora e “destruir o lar”; ou alguém que faria um ser humano regredir e voltar a ter ligações mais simples, fáceis (como um namoro superficial), o que poderia ser uma tentação para fugir das responsabilidades do lar, desestimulando uma alma a progredir; ou mesmo um tipo de ligação idêntica a que já existe, só que “novinha em folha”, o que também poderia estimular o desvio de uma construção para viver uma situação mais fácil e cômoda. Sou uma mulher decente, que não escolheu amar um homem casado e nunca agiu de má fé, mas cujo próprio sentimento a incentivou a crescer, a fez viver dentro de si um amor que só existia como possibilidade e acreditar que era merecedora de felicidade. Não sou uma figurante numa história de outros, sou protagonista da minha história, uma mulher, que existe, merece ser levada em conta, com necessidades, com um sentimento sério e real e que realmente sofre por não poder realizar isso!

O que eu sinto é bom, tem, inclusive, potencialidade para chegar ao mesmo compromisso do lar, às mesmas responsabilidades, não é desvio para ninguém. Claro, isso tudo sou eu quem vejo e posso estar enganada. Não é porque eu vejo a potencialidade do que sinto que ache que já está tudo magicamente garantido. Eu também teria que passar pelo processo do experimentar, do ver se dá certo, de conhecer, de tocar etc. Devido às circunstâncias externas, não terei esta oportunidade, mas pelas circunstâncias internas, o que eu sinto é bem forte para me colocar no mesmo patamar de quem sofre uma perda real. Por isso, preciso respeitar não só minha conduta, mas também meu sentimento!

PARTE 23

Fulano conheceu seu amor numa balada, Beltrano no curso de inglês, Joaozinho numa viagem a Paris, Mariazinha conheceu na faculdade. Saíram, riram, conversaram, abraçaram-se, beijaram-se, relacionaram-se intimamente e viram que queriam aquela pessoa e depois, ao experimentar, puderam ver se, na prática, se funcionava.  Eu já sabia que era ele que eu queria, só confirmei quando o encontrei. Mas, no meu caso, eu não terei como “experimentar”. Não é porque eu sinta um amor assim que eu não esteja sujeita às mesmas leis: todos nós estamos no mesmo barco, não sou privilegiada e todos precisamos conviver para saber se é isso mesmo o que se quer. Às vezes duas pessoas individualmente são boas, mas juntas, não dão certo (por isso não podemos seguir a cartilha pronta, senão, basta a pessoa estar no grupo dos “bons” para servir, sem ter o trabalho de ver se há afinidades reais entre os dois indivíduos).

Não é porque o “como” eu cheguei a ele seja diferente do convencional, que já esteja tudo pronto ou que eu seja melhor. Assim como só pelo fato de sentir algo mais forte, não há mágica para garantir uma hipotética afinidade prática de casal, só por sentir o que sinto não significa que eu não passe pelos mesmos medos, questionamentos, e tenha as mesmas expectativas, as mesmas vontades que uma mulher de 30 anos tem. Não é porque sinto tudo isso que eu não me pergunte: “Será que temos química?”; “Será que daria certo?”; “E se ele me magoasse?”; “Vale a pena prosseguir?”. “Será que eu dou conta de tentar um relacionamento com um homem com esta bagagem?” – tanto pela diferença de experiências, o que poderia me “rebaixar”, parecer menos atraente, quanto pela minha capacidade de ter um relacionamento mais maduro. Dá um frio na barriga…

Talvez, por eu estar tão assustada pelo formato da situação, eu tenha feito um esforço tão grande – seja a ele, seja aos amigos preocupados – para mostrar o lado etéreo do sentimento, que tenha realmente passado a imagem de sentimento criado por uma “pessoa mimada carente influenciada por Hollywood”. E não apenas por isso, mas também por eu estar enxergando este lado mais “prático”, imperfeito e palpável com mais clareza e ele ter se tornado mais importante para mim ultimamente. 

Eu sei o que é ter que fazer o que não se deseja naquele instante, em prol de alimentar a relação; sei o quanto há diferenças entre as pessoas, como cada um pensa de uma forma e tem hábitos diferentes, tornando essencial o “ceder”; sei que amor por si só não garante boa convivência, isso requer esforço diário; sei que a vida é cheia de desafios a todo momento, e que a área afetiva é apenas mais uma frente de aprendizado – mas que, se bem exercitada, pode ajudar muito nas outras! A vida não é só um romance que, ainda por cima, acontece pronto. Não que eu pense que ele (ou o suposto príncipe que eu visse nele) fosse me acordar todos os dias com uma bandeja de café da manhã, que fosse sempre sorrir e satisfazer minhas vontades, que fosse ser como o “Leopold” do filme “Kate & Leopold” (que, confesso, eu adoro. Mas para desanuviar a mente!). Eu não quero Lord, eu quero um companheiro, um homem comum – mas especial, sim, para mim

PARTE 24

Eu não quero um relacionamento porque preciso de alguém para carregar uma sacola, abrir a porta do carro enquanto eu as equilibro, limpar quintal, cortar mato, lavar carro, trocar lâmpadas ou livrar minha casa de bichos (eu mesma expulso as pererecas no verão, mato barata – e choro se as vejo em agonia, principalmente na TPM! – e até com o ratinho que um dia decidiu me fazer companhia, eu tive que me entender ) ou montar máquinas meio “abruptas” e o homem ter a pele mais grossa para se machucar menos, devido à sua força ou, de maneira geral, preciso ter um homem para dizer o quanto sou bonita, importante, engraçada etc. Eu tenho espelho, gosto cada vez mais de mim e rio sozinha das minhas piadas. Não deixo de viver ou de me admirar por ser sozinha. Meu Excel me ajuda com as tabelas domésticas – adoro planejá-las, e eu tenho saúde para executá-las! Não quero me “pendurar” em ninguém! Mas, sim, eu adoraria poder dividir a vida com alguém que valesse a pena, que um companheiro que,  me ajudasse em tarefas mais másculas para se sentir útil e eu, protegida (e eu aprendesse a aceitar ajuda, tanto por ser feminino, quanto pela questão da autoestima, de me sentir merecedora); fora a beleza da construção do amor, da vida emocional, encontrar outro universo a ser descoberto e deixar que desvendassem o meu!

Eu não estou em busca de um modelo para uma fantasia minha, encontrei alguém que encaixa em cinco quesitos bobos e estou bitoladinha nele… “Se não fosse ele, poderia ser alguém muito parecido”… O que eu sinto é por ele, é a presença dele que ilumina meu dia, minha semana, meu mês, minha vida; é o olhar dele que me faz sentir que nada é impossível, até mesmo passar a vida sem ele, se necessário for, de tanto que vê-lo já significa para mim -por mais contraditório que pareça…

Digo para meus amigos que a felicidade interna, pessoal, é a refeição, o feijão com arroz, e a afetiva conjugal é a sobremesa: se você vai direto para a sobremesa, você fica se sentindo mal. Mas se você come só a comida é o que basta, até dá para viver apenas com isso, só que falta um complemento…

Eu li há pouco tempo num desses e-mails que recebemos com apresentações de Power Point uma frase de Dr. Drauzio Varela, dizendo que as relações amorosas tem como finalidade facilitar nossas vidas. Ele discorre falando que precisamos conseguir ficar confortáveis com o ser amado no silêncio, conseguirmos ser quem realmente somos etc. Eu já quis um amor para suprir minhas carências e mesmo este, em alguns momentos “Ego”, eu quis por isso. Mas o sentimento é tão maior que me fez encontrar um grande amor por mim no caminho, tornando a presença do ser amado praticamente “desnecessária”, de tão feliz que fico apenas ao sentir isso.

Este sentimento não foi criação minha. Apesar de ser íntimo, era algo além de mim. Portanto, como eu nunca soube “falar não” nem menosprezar o sofrimento ou o talento dos outros, de fora, foi muito difícil negá-lo ou ridicularizá-lo, mesmo ele estando dentro de mim. Ele sempre foi maior que eu. Então, eu o aceitei. Só que, por ser meu e estar diretamente relacionado a mim, fez com que, ao valorizá-lo, eu valorizasse a mim mesma e pudesse não apenas amar meu amado, mas transferir este amor até mesmo para mim, mesmo com todas as dúvidas. Ele é forte demais e me fez vencer todas elas…

PARTE 25

Não importa o que aconteça, o quanto eu me perca e me desvie: sempre que me coloco de volta no caminho, encontro este amor intacto dentro de mim. Se é falso, por que sempre está lá? A esta altura, se todas essas negativas fossem apenas reflexos de que estou enganada, já não era para ter sido desiludida? Por que em vez de o tempo desgastar a minha suposta ilusão, me mostrar, através de fatos, que estou enganada, eu sinto um impulso para não me deixar abater por eles, apenas superá-los, e encontro o sentimento igual ou maior que antes? Se este sofrimento todo fosse fruto de eu não me amar e me contentar com pouco sendo, portanto, um “amor” tóxico (amor é amor, nunca é tóxico, nós é que erroneamente usamos da mesma palavra para referência a sentimentos diferentes), porque hoje minha autoestima é ainda melhor que no começo, mas o sentimento é ainda maior e inclusive, estão interligados no processo de amadurecimento? Se eu vivesse algo tóxico e continuasse nisso, minha autoestima estaria menor ou igual; ou maior, mas para isso eu deveria estar liberta do sentimento ruim, que não é compatível com boa autoestima. Os dois juntos não seria possível!

Outro fato digno de análise é que desde três semanas atrás, quando eu decidi escrever tudo isso e comecei o texto, as unhas voltaram a crescer, o intestino a funcionar e eu nunca mais chorei de berrar e babar (o que é isso, meu Deus? Babar? Nunca chorei assim, mas este choro desesperado virou hábito nos últimos meses). O “irreal” pareceu lógico, correto, outra vez, e assim me mantive, em linhas gerais.

A diferença entre este sentimento e os outros, é que aqueles sempre me faziam questionar quem eu era, o que é que eu estava fazendo, para onde estava indo, e este me fez encontrar a resposta, encaminhando-me para ela…

Há mil hipóteses que poderiam explicar o que é tudo isso. Resolvi acreditar na mais óbvia para mim: a minha! Além de ser um exercício de confiança em mim mesma – algo que faz sentido neste momento da minha vida -, é o mais sensato, já que não temos condições de julgar as causas oculta das coisas, mas a vida nos dá um meio para isso, que nem todos usam: a intuição. É graças ao seu bom uso que aprendemos o que viemos aprender aqui e evitamos desvios. Mas como uma pessoa que tinha baixa autoestima e era (ainda é, não deu tempo de consolidar o aprendizado, é uma luta constante!) insegura, poderia acreditar que coisas boas pudessem sair de si ou acontecer a si e, assim, confiar em si mesma? Graças a este sentimento, que era bom e poderoso demais para ser desprezado, aprendi que eu poderia “cometer a loucura” de acreditar em mim. Ele me salvou em momentos quando tudo parecia estar perdido, quando eu já não sabia mais quem era… Foi por lembrar do quanto ele era verdadeiro, por mais que não conseguisse mais senti-lo, que voltei a ser lúcida outra vez…

Sei das mil hipóteses possíveis e, acreditem, para mim seria muito mais fácil me depreciar, abrir mão e dizer que foi tudo um engano. Esta segurança não é compatível com a minha insegurança!

PARTE 26

Por anos guardei este segredo comigo e muito sofri, porque não sou do tipo “taciturno”; sou expansiva, extrovertida. Claro, o que eu sinto é da alçada de minha vida particular, mas no geral, sou muito mais a que “conta aos confidentes” que a que “leva para o túmulo” (calma, confidentes, falo de mim, da minha necessidade de exteriorizar como mecanismo para me conhecer, mas posso guardar segredos alheios, não fiquem com medo! :P). Guardar este segredo foi e ainda é muito difícil para mim. Já precisei revelar a um grupo de pessoas, e apesar do incômodo ao levar a público algo íntimo, por outro lado, entendi o mecanismo da vida ao me forçar a fazer algo que eu, voluntariamente, não faria. E notei o certo alívio que senti…

Este alívio veio do fato de eu concretizar algo que só existia na minha cabeça. Colocar no mundo o que só fazia parte do meu mundo. E, assim, eu poder dar mais um passo adiante. Este sentimento não é algo que deve ser escondido, deixado no mundo da fantasia, como uma adolescente faz e confidencia às amigas; mas um fato que, por mais difícil que seja, pode ser enfrentado já que, quem o sente não é aquela mocinha, mas uma mulher.

 E muitos, mesmo com a melhor das intenções, deram conselhos que sempre favoreciam o Ego (“olho por olho, dente por dente”: se você não recebe amor, não dê; portanto, esqueça e seja feliz etc.), pois me viam em sofrimento e queriam o melhor para mim. Conversei com a minha irmã sobre isso esta semana e finalmente ela me entendeu e eu a entendi. É comum quando alguém nos procura, ficarmos alarmados pelo estado de dor da pessoa e, por querer que isso acabe e por querermos ajudar, precisamos fazer alguma coisa. A pessoa de repente tem intuições, pressentimentos, mas nós, não, e fazemos o que está ao nosso alcance naquele momento – falar o que pensamos.  Além disso, com a melhor das intenções, temos a tendência a opinar baseado em conhecimentos genéricos, sem, muitas vezes, conhecer a peculiaridade de cada situação. Eu fiz isso com a minha irmã… Os papéis foram invertidos, e finalmente nos entendemos. É muito difícil para a outra parte ficar quieta, pois ela sofre junto. Mas isso pode ser uma visão parcial e até subjetiva, portanto, precisamos nos esforçar para alcançar a empatia, para realmente nos colocarmos no lugar da pessoa e realmente ajudar.

Eu não conseguia concordar com eles porque sentia o que sinto, mas eu não era forte o suficiente para “segurar a bronca” e defender o sentimento com unhas e dentes, sentindo-me completamente confusa, sozinha e frustrada. Ainda por cima, sentia o amor deles, a preocupação, e parecia errado até com eles seguir, pois isso fez alguns deles sofrerem junto. Algumas vezes eu ficava, então, ainda mais perturbada quando desabafava. Comecei a guardar, ou falar só pela metade, o que foi um desafio enorme para mim. Foi outro sofrimento ser desacreditada até por amigos e não conseguir nem desabafar sobre tudo isso…

PARTE 27

Agora eu não vou mais precisar esconder um segredo como se eu fosse uma criminosa; agora eu vou sentar numa mesa de Café com as amigas e elas vão reclamar dos namorados, noivos, maridos, falar dos filhos e, se eu achar conveniente e quiser falar sobre, também terei assunto nesta área: como eu faço para superar a dor que eu realmente sinto, e não mais ser a “trintona que vai ficar para tia, é tão boazinha, tem medo de se relacionar e vive sozinha, mas um dia ‘vai encontrar alguém’”! Vejam, não estou aqui enaltecendo a depressão ou “viver do passado”; exatamente por admitir que isso não é bobagem, que é um problema, eu passo a estar tão satisfeita comigo mesma, tão feliz por não ter me abandonado, por ter ficado comigo mesmo quando ninguém mais ficou, que me sinto mais forte e tenho mais esperanças de que um dia tudo isso vai passar e eu vou ser feliz, inclusive nesta área. Ao me enxergar como mulher com “m” maiúsculo, eu me sinto tão capaz de enfrentar qualquer coisa, que, talvez, no futuro, possa até mesmo ceder alguns pontos nas minhas convicções – se isso for me trazer um benefício. Por tudo o que eu fiz, eu mereço viver um relacionamento saudável. Então, mesmo que não possa ter do modo como deveria ser originalmente, consigo me sentir capaz de abrir meu coração, um dia, para outro tipo de amor afetivo, se isso for me fazer bem.

Entretanto, não respondo por mim no futuro, respondo somente por quem sou hoje. E, no momento, “me permitir”, “partir para a outra” não são medidas muito boas para mim… Resolveria a negativa amorosa, mas feriria profundamente minha natureza. Só que, para não ferir minha natureza, vivo a impossibilidade na vida amorosa, o que é muito, muito dolorido. Não encaixa… Mas preciso seguir!

Para muitos – ou para os que se precipitam ao analisar, ou para quem não acredita num amor assim -, é muito mais fácil dizer que eu estou confundindo, me colocar num padrão pré-estabelecido e deixar tudo como está… E por anos eu, com minha insegurança, permiti que fizessem isso comigo. Eu duvidei, eu quase me desviei, quase aceitei sentimentos bons que me foram oferecidos… E eu, o que poderia dar? Não aceitar este outro tipo de relacionamento foi uma escolha minha. Pelo que eu tinha com ele (ser amado) de concreto – nada! – eu tinha total direito de ir. Não o fiz por fidelidade a ele, por estar “aos pés”. Eu simplesmente coloquei numa balança o benefício que um relacionamento contrário ao que eu acreditava traria e o mal que negar a minha natureza me faria. Eu cuidei de mim! Estranho seria se, só para não (supostamente) inflar o ego de um homem, eu, só por não ser interessante para o Ego dele, negasse quem eu sou! Pode ser uma lógica invertida para muitos, mas o resultado é o mesmo de ao lidarem com o “a fila anda”, quando nos magoam e paramos de aceitar a situação: fiz por amor a mim!

E não importa o quanto eu tenha aprendido a entender a importância do meu Ego, de ouvir o que ele diz: não é por isso que vou mudar de extremo e deixar que ele (Ego) passe a tomar conta. Continuo sendo movida pelo Self! E manter raiva, rancor ou mágoa é o oposto do amor, o oposto do que eu busco, gerando outra luta interna. Se não o “ofendo” perante os outros ou mesmo dentro de mim, só para sinalizar que eu me respeito, ou se continuo querendo seu bem, não é por me anular ou mesmo um grande gesto altruísta: é, também, por amor a mim, para ficar em paz com o que sinto e com quem eu sou – alguém que prefere ceder e parecer em desvantagem, que manter rancores ou mágoas, quando nos sentimos rejeitados. Às vezes leva um tempo para atingir o objetivo (não tenho sangue de barata!), mas descobri que não posso deixar de tentar, pois sempre consigo!

E não é só isso… Se eu levo tão a sério o mecanismo “ego/self”, preciso entender que ele também oscila nos dois lados, como qualquer um de nós. Se eu quero alimentar meu Self, automaticamente tenho a tendência a perdoar o Ego dele e acreditar na capacidade de seu Self. Não apenas por sentir profundamente ser possível, por admirá-lo e acreditar nele, mas por já ter visto com meus olhos isso acontecer muitas e muitas vezes, e ter motivos concretos para continuar acreditando. 

PARTE 28

Se hoje, portanto, eu não quero que meus amigos, ao ouvirem isso, hipoteticamente o diminuam (ser amado) para que eu suba – que é o que a maioria ainda faz quando há uma rejeição – não é porque eu seja uma bobinha. Eu continuo respeitando o ser humano decente que ele é. Admiro-o, sou-lhe grata pelo modo como lidou com tudo. Além disso, quero realmente que ele fique bem e seja feliz. Quero vê-lo sempre com o semblante sereno e com o olhar cristalino que me encanta, onde vejo tanta coisa boa, como muitas vezes eu já vi, e que automaticamente me eleva… Isso me faz feliz!

Fiquei me perguntando se escrever tudo isso aqui não era um gesto de autodepreciação, expor sua vida à toa e colocar-se em situações difíceis… (rádio QRMD). Mas eu lembro do quanto fui grata à Elizabeth Gilbert quando lia “Comer, Rezar, Amar”. Já existem muitas noções de boa conduta moral pelo mundo, já sabemos o quê fazer, mas ainda é uma incógnita para nós o como. Olhar os pormenores da vida de alguém e, por mais que tenhamos outras histórias, compreender seus mecanismos e poder transportá-los para a nossa é uma excelente ajuda! À época, lembro de ter admirado a coragem dela por expor sua vida, e, graças a isso, ter ajudado tantas pessoas a encontrar algumas respostas, pela força do exemplo. E, como eu tenho ainda meus problemas de autoestima, percebi o padrão: ela fazer “é admirável”, mas eu fazer “deve ser errado, não é possível”! Esta tendência em ver os defeitos em mim… Preferi, então, analisar tudo isso e seguir minha vontade, percebendo o quanto me sentia bem ao pensar em escrever e no próprio ato de.

Percebi que é assim que minha alma processa os sentimentos: depois de viver a experiência que desperte o aprendizado futuro, de analisar as consequências internas, escreve para organizar os sentimentos e somente então, age. Eu preciso deste movimento. Outros, não, lidam com seus sentimentos de outra forma: através de outra manifestação artística, ou só refletindo, ou simplesmente agindo.

Talvez quem já se conheça mais ou já seja mais seguro precise de menos “movimento”, de um gesto menor, para atingir o objetivo, a sua verdade, a linha do equilíbrio. Eu estava mais longe dela e precisei fazer movimentos maiores para alcançá-la. E minha forma de me entender é a escrita, então, aqui estamos… 

E só uma ressalva: no livro, Elizabeth Gilbert conta que o atual marido, “Felipe”, quando a viu de costas, soube: “Vou casar com esta mulher”. Eu já contei como o conheci? De costas, conversava com um amigo. Eu o vi (sem saber se ele era ou não bonito, sem ter tido algum tipo de atração física por ele, ter enviado informações para meu cérebro e depois ter desenvolvido uma impressão) e senti um “choque na alma”, arrepiei todinha: “Quem é ele?”. E é aqui que perco alguns leitores: eu não senti arrepio em todos os pêlos expostos na epiderme do meu corpo. Não… Primeiramente, eu senti um impacto no que alguns chamam de aura, o campo energético que nos circunda a cada um, emanado de nossa alma. Depois, arrepiou tudo… Sensações similares tive posteriormente, quando descobria algo em comum, ou quando poderia jurar que ele se referia a mim ao dizer algo, mesmo que fosse genérico e eu não tivesse motivo palpável nenhum para concluir isso racionalmente…

PARTE 29

Defendo, assim, meu “amor sutil”, a possibilidade dele existir no mundo, como sei por outros exemplos que existe. Não nego, porém, meu lado humano que sofre. Não sou falsa, ou bipolar, quando aceito o aprendizado que tive no meu estado “Ego” e volto a ser “Self”, mas logo tudo muda outra vez… Estou apenas expurgando minhas imperfeições e, pela determinação ao sempre buscar o amor, o melhor em mim, consigo ficar cada vez mais forte para vencer e ao mesmo tempo um pouco mais leve e limpa dessas características, que me prendem neste estado mais egóico. O que é diferente de fazer uma coisa e sentir outra, ou viver entre dois extremos por ter um distúrbio psicológico, como também poderia ser. Repito: focinho de porco híbrido com enguia na parede, mas não é tomada! Cada sentimento em essência e quantidade tal significa uma coisa, mas misturado com outros, resulta num terceiro resultado, formando cada situação, cada indivíduo… 

Assim, chegando ao um equilíbrio relativo entre os extremos, fico mais em paz, por não mais exigir o que ainda não consigo dar ou me ver de forma maquiada, o que era uma atitude infantil. Haverá momentos, dias ou longos períodos de tempo em que conseguirei deixar este sentimento aflorar. Mas haverá também os momentos de dor, de tristeza, pelo menos por enquanto. Preciso respeitar isso!  

Portanto, se eu acredito num amor “maior” não é por ilusão ou imaturidade, mas por ter uma visão diferente (certamente compartilhada por muitos!) do que seja a realidade!

Eu já fiz tudo o que poderia, da minha parte, para fazer este amor dar certo. Eu sempre acreditei nele; eu sempre busquei. Eu encontrei. Estava, inclusive, à época, livre para poder me dedicar inteiramente a isso (e, por opção consciente, assim me mantive), pois seria uma história que demandaria sacrifícios. Eu os fiz. Eu venci meus medos e até agi, o que antes era algo que me arregalava os olhos e me faria ir pintar as unhas de rosinha a abaixar a cabeça, mudar de assunto. Não que eu não vá mais pintar as unhas de rosinha (cintilante, ainda por cima… rs…), porque eu adoro. Mas o farei por estar em paz comigo, não por me sentir uma menininha. Não dá para eu colocar uma arma emocional na cabeça dele, apontar, dizer “Ama eu aí” e arrancá-lo da vida dele. Não é isso que este tipo sentimento pede, nem que minha autoestima permite! Portanto, na minha parte, eu estou em paz, fiz tudo o que podia para acontecer… 

Não terei mais a consolação de, quando um amor não dava certo, ter este sentimento que hoje tem um nome, um jeito e um rosto, a me deixar feliz na tristeza, a me estimular a sonhar, porque já o conheço, entretanto, ele não foi possível; mas posso, sim, quando a ferida cicatrizar, lembrar do que vivi – que foi real – e permitir que esta certeza de que o amor existe volte a invadir meu coração. Não mais pelo sonho do que poderia vir a ser, mas pela lembrança do que realmente aconteceu. Que o que eu perderei em possibilidade futura eu ganhe em saber que isso existe e volte a agradecer por ter conhecido este sentimento que, apesar de tudo, sempre vale a pena ser vivido. Certa vez, falando sobre este assunto, uma pessoa muito querida disse que segundo sua filosofia, se fosse mesmo uma história de amor, jamais acabaria. É exatamente assim que eu penso!  🙂

Sendo assim, esta é a minha dor, a minha história, a minha realidade. Preciso definir esta situação para que eu possa ter pontos de partida novamente: esta sou eu, eu assumo, e estou passando pelo momento de lidar com a ausência de concretização nesta área da minha vida, sendo tão importante e fazendo tanta falta. Preciso lidar com isso. Já que é esta a minha forma de me expressar, preciso fazê-lo para que eu entenda que o que eu sinto é tão forte e real que me trouxe até aqui; que eu nunca mais permita que me façam pensar que eu sou infantil ou “louca”. Não sou melhor do que ninguém, mas também não sou pior, e o tempo que isso poderia me confundir, acabou.

PARTE 30

Mundo, muito prazer, esta sou eu! Se eu tenho muitos momentos de alegria não é porque minha vida seja um mar de rosas e eu seja privilegiada: apenas minhas lutas são de natureza mais particular, nem sempre vistas a olho nu (se cada alma é um universo, cada uma estará explorando uma área de si. Uns sofrerão ou serão felizes de uma forma, outros, de outra. Assim, graças à afinidade, à empatia, o sofrimento ou a vitória de um poderá ou não sensibilizar o sentido de outros. Mas nem por isso os não reconhecidos deixarem de existir! Portanto, menosprezar qualquer pessoa, qualquer dor ou qualquer conquista é uma atitude de ignorância! Se não conhecemos a fundo, por que não simplesmente respeitar?). Quando um sofrimento obrigatoriamente não me acomete e eu posso escolher meu estado de alma, ou mesmo nos sofrimentos para os quais eu tenha maior tolerância, procuro escolher o riso, a esperança, a fé e a felicidade, mesmo que nas pequenas coisas. Não o faço por ser de “outra tribo” e isso ser fácil: faço por escolha, por esforço. Como cada um pode fazer… E adeus maniqueísmo: se eu tenho defeitos, isso não faz de mim uma má pessoa, assim como não seria perfeita só por estar sempre com tudo “certinho”. Não somos personagens superficiais no romance da vida…

Hoje eu consigo “colocar ordem na bagunça” e deixo o sofrimento restrito a esta parte de minha alma – a área afetiva conjugal – e não mais me desespero e perco o sentido de tudo, só porque não sei mais quem sou ou uma de minhas maiores ferida foi aberta e me tirou o chão. Depois de chorar, comer uma barra de chocolate ou ficar meio quietinha no canto, eu levanto, olho no espelho, faço alguns elogios e saio para dar uma volta, se for final de semana, ou faço um cafezinho e me animo. Escolhi ser feliz, não importa o que aconteça. Mas não posso me iludir, deixar de reconhecer que hoje estou infeliz e deixar de entender a dor que eu realmente sinto, só porque gostaria de não mais sentir. O que não significa que eu alimente rancores ou me torne amarga…

 Portanto, críticos de plantão, alto lá: estou expondo, voluntariamente, algumas particularidades minhas porque vejo um fim útil nelas para mim e para aqueles que querem refletir. Cuidado com seus pensamentos e atitudes… Não queiram vocês me analisar por um ato simbólico e taxar as pessoas como mocinhos e vilões, porque isso é pensamento de quem vive a vida como se tivesse apenas duas horas!!!

O que revelei, o fiz voluntariamente. Mas não autorizo ninguém a se sentir no direito de discutir minha vida particular como se fosse pública. Quem vier com perguntas ou atitudes indiscretas, movidas pela simples curiosidade ou por motivos levianos, estará dando um atestado de baixa autoestima, demonstrando ter aquele tempo e energia para ocupar-se com a vida de terceiros – e descuidar da própria! Poderá até dar certa dor de cabeça, mas vai passar, e no fim só despertará compaixão e pena!

Então, graças a ver o quanto pode haver de oculto num coração, aprendamos todos a lição: vida íntima é como o nome diz – íntima. Vamos perder o hábito de perguntar para pessoas que não sejam tão próximas (como confidentes, amigos), “como vai o coração”, qual a situação conjugal: “você está namorando?” ou “você não casou”, “terminaram, separaram, por quê?”, e por aí vai. Que inconveniência! A não ser que seja um/a pretendente, que tenha um motivo útil… O mesmo vale para vida financeira, trabalho… Até porque, num mundo como o de hoje, dá para pensar que seremos vítimas de golpes ou seqüestros. Gente, etiqueta de bom-senso: se ainda assim nos atrevemos a perguntar sobre coisas mais pessoais a pessoas distantes e a pessoa não estica a conversa, mudem de assunto e parem de vasculhar!

PARTE 31

Queridos amigos e seres amados que me cercam: desculpem o trabalho e a preocupação que tenho dado! Mesmo para aqueles que não sabiam a razão… E muito, muito obrigada por tudo! Vocês não sabem a importância que exercem em minha vida! Apesar de nem sempre ser compreendida, seu carinho me ajudou a chegar até aqui, e me dá forças para continuar!

Porém, por mais que isso aquiete seu coração sinceramente preocupado comigo – o que eu reconheço e aprecio – não queiram resolver meus problemas por mim. Não me enxerguem mais como a menina frágil, indefesa, que precisa de apoio para tomar decisões. As decisões eu tomo por mim, já tenho autonomia para isso! Mas aceito a ajuda para “segurar a barra” quando eu estou sofrendo para escolhê-las ou para conseguir mantê-las! Eu só quero poder desabafar, só quero um par de ouvidos solidários, um abraço… Isso já me ajudará imensamente, não precisa ficar angustiado/a para dizer algo, como se pela ausência disso vocês fossem impotentes. Não são! Aceito e agradeço o apoio, pois isso qualquer Ser, em qualquer idade ou situação, precisa.

Confiem em mim, na minha capacidade de fazer escolhas. Confiem na Vida, e deixem que eu saiba quando estarei pronta e com quem isso acontecerá, se acontecer. De vocês, preciso apenas do amor de amigo(a), irmã, mãe, pai, tio, tia, primos(as), avó. Sendo apenas vocês mesmos, estarão me ajudando mais que tentando virar “casamenteiros” (rs…), tanto porque só eu sei exatamente o que se passa em meu coração, quanto por eu precisar de umas “férias” deste assunto. Combinado?  Já que é para “encerrar”, voltar minha alma para essas outras áreas de minha vida, com qualidade, é tudo o que eu preciso agora!

Eu acreditei no amor e tenho orgulho de ser assim, de ter feito isso. Ainda acredito, e não é porque não aconteceu comigo, que não seja possível! Apesar de viver externamente o que eu mais temia acontecer, ainda assim recomeço e sigo inebriada pelas possibilidades que o simples fato de estar viva me reserva… Em paz com minha transcendentalidade, consigo apreciar o momento presente e sinto-me viva para experimentar o que quer que esta vida de agora possa me oferecer: o cheiro calmante do café ao chegar da caminhada ou num dia chuvoso, o que me traz felicidade; os acessórios que uso a cada dia, mostrando como eu me sinto, como me enxergo, e me fazem gostar do que vejo quando me olho no espelho; a viagem para uma paisagem nova, me forçando a desfazer o hábito de usufruir ainda mais de onde já conheço; cada novo livro – novo mundo – que eu possa ler; as pessoas que irei conhecer e as que já estão à minha volta, que eu quero cultivar ainda mais;  a esperança de um futuro, de toda uma vida que, eu sei, será linda. Sou a mulher que floresce intensamente dentro de mim, a qual descobrirei um pouco mais a cada dia e que vai continuar crescendo, guiada, inclusive, por este sentimento que me invade a alma, me faz melhor e mais feliz!

Quem somos nós, senão cidadãos do Universo, seres em processo de formação, em busca de descobrimento e que tem para si todo um indivíduo a desenvolver, que é um universo a ser desvendado (e como é bom fazer essas descobertas!); seres que, conscientemente ou não, buscam a perfeição; seres dotados de inteligência, capazes sempre de tirar aprendizado de tudo, de mudar o rumo de sua história, de fazer escolhas melhores e renascer a cada instante; donos de suas próprias vidas, vidas essas cheias de possibilidades, de oportunidades, onde temos total liberdade para fazer nossas escolhas?  Através delas, traçamos caminhos, destinos, e, na junção de todas essas escolhas, definimos quem somos. Somos almas complexas, verdadeiros laboratórios de características e sentimentos; seres que tem como objetivo tornarem-se autossuficientes e, para isso, contam com a gama de experiências que os acometem como simples mecanismo de aprendizado. Sabendo tirar proveito desta verdade, não mais seremos paralisados pelos obstáculos externos ou por nossas próprias angústias, mas sempre, sempre, teremos a chance de reagir e criar uma realidade melhor que a que vivíamos, tornando-nos cada vez mais fortes e independentes quando antes egoístas, mas ao mesmo tempo interdependentes, quando entenderemos a Vida, reconhecendo a contribuição de cada um para formarmos o “eu”, e nada mais nos abalará as estruturas. Quanto a descobrir, quanta vida a se viver em plenitude e, a cada segundo, sempre, um recomeço! Somos administradores de nós mesmos, cujo aprendizado é lidar com as várias áreas da evolução inerentes a cada alma, formando o melhor conjunto possível, chegando mais próximo do equilíbrio, da paz… Lindos seres, conscientes de seus defeitos e limitações, virtudes e potencialidades, procurando sempre delimitar a tênue barreira que separa uns dos outros, para encontrarem a essência Divina que já trazem desde sempre, dentro de si…

Fonte imagem: muraldecristal.blogspot.com

Calmaria

Boa tarde a todos!

A vida é uma constante de aprendizado. Nada como o passar do tempo para colocar as coisas no lugar. Falei de formas e critiquei o uso concentrado do ego, mas eu também me prendi às formas e fui assumidamente guiada por meu ego nesse turbilhão de emoções ao qual me expus, devido a conceitos mal resolvidos dentro de mim.

A única reflexão de hoje é esta: só nos atinge o que ainda não é completo, resolvido, dentro de nós. Fácil é culpar a situação ou até mesmo pessoas. Mas só seremos infelizes, ainda que nos façam, se permitirmos.

É difícil desapegar de uma raiva quando nos sentimos injustiçados. Isso parece fraqueza, falta de autoestima. Quando na verdade é bravura, amor incondicional a si mesmo: “ainda que eu tenha motivos, não permitirei que NADA me tire dos eixos”.

Só é feliz quem está em paz. Ainda que haja algo mal resolvido dentro de si, a escolha entre embarcar nesta “injustiça” ou desapegar-se dos motivos que você teria para aceitar esta nova “embarcação” é sua. É uma escolha, não algo automático, como ainda nos parece.

Encontrem sua paz!  Estou em busca da minha! 🙂

Abraços,

Camila

Breve Ensaio sobre o Amor

Olá, pessoal!

O texto de hoje teve uma inspiração diferente… não em forma de conto, mas um ensaio.

Está registrado. Vale lembrar que é proibida a cópia sem autorização da autora.

Outra observação: é “breve” porque, se comparado a um ensaio que vira livro, são apenas apontamentos. Mas, para um post, é bem longo. Leiam com calma. Eu garanto que vale a pena!

Boa leitura! Reflitam!

Abraço,

Camila

“Breve Ensaio Sobre o Amor

            Quando no planejamento do lançamento online de meu romance, “A Menina que Encontrou o Amor”, pensava em fazer uma introdução sobre a contextualização do amor. O lançamento precisou ser adiado ou até mesmo cancelado. Porém ainda julgo válido filosofar um pouco sobre o tema.

            Quando ouvimos a palavra “amor” é fácil vir em nossa mente as referências pessoais às quais esta palavra nos remete. Todavia, é importante lembrar que o amor está presente em tudo na natureza, na criação, nos arquétipos que trazemos em nosso ser mais íntimo… É ele – o amor – que orienta nossas vidas. A violência, a revolta, a raiva, entre outros, nada mais são que buscas mais complicadas para o mesmo objetivo: amar e ser amado em sua plenitude, pelo que se é.

            Olhando para nós – seres humanos – com um olhar externo, reflito sobre a veracidade da idéia apreendida em alguns anos de estudo sobre o Ser Integral. Ao olhar o passado de nossa civilização, é notável o progresso intelectual e também moral de nossa sociedade. Ainda que o último seja mais vagaroso se comparado ao primeiro. Porém, sempre contínuo e fadado ao sucesso como este.

            Há progresso, isso é fato. Mas os anos passam e, notando o modo como o ser humano divulga o orgulho por seus feitos, que pouco tempo depois são ultrapassados por novos patamares de conquistas, igualmente reconhecidos de forma altaneira, é nítida uma idéia ainda contida na massa humana de que o lugar onde estamos é sempre o máximo que poderíamos alcançar. Rimos de aparelhos ou práticas ultrapassadas hoje como se amanhã não fôssemos rir da atual.

            Não que não devamos sentir orgulho quando produzimos algo, seja no campo tecnológico, médico ou social. Creio, porém, haver uma dificuldade em enxergar que não atingimos o ponto máximo, mas sim, caminhamos numa constante evolução. É não só um direito, mas um dever, nos sentirmos realizados com nossas obras. Mas que este sentimento seja o que ele veio a ser e não se infle, permitindo que esqueçamos ainda haver muito mais.

            Portanto, apesar do nítido avanço de nossa civilização que urrava e morava em cavernas, hoje conversando através não somente de sons, mas de imagens, em tempo real, com alguém que se localize do outro lado do globo – talvez num prédio de quase meio quilômetro de altura – estamos mais próximos do princípio da longa jornada que nos fará um dia compreender o Universo, que do fim. 

            Tendo a real consciência do que somos – seres que progridem, mas não progrediram tudo o que é possível – podemos olhar com olhos externos para nosso modo de amar, sem justificar com a nossa situação pessoal o porquê de se fazer ou não algo, o que encurtaria nossa visão, travaria nosso poder de análise e assim, nosso crescimento.

            Para exercer uma profissão na Terra, é preciso de teoria e prática. É preciso conhecer para ser capaz de vivenciar algo. Eu, por exemplo, não entendo muito de Física, foi uma matéria na qual tinha um bom desempenho, mas não entendia completamente. Impossível seria, pois, para mim, afirmar que sou física, pois eu não tenho nem o conhecimento nem a experiência da prática da profissão. Penso que para encontramos o Amor em sua pura essência, o “amor profissional”, aquele que rege nossas vidas e o Universo, precisamos de muitas experiências. Assim como numa faculdade, necessitamos de fragmentações – matérias – para podermos, ao final de um tempo, entender o assunto como um todo.

            Em nosso atual estado evolutivo vivemos diferentes “matérias”: amor paternal ou maternal; amor filial; amor conjugal; amor fraterno, etc… Por sermos seres que estão no começo da caminhada, estamos ainda formando nosso “Eu”, portanto, vivendo a fase do ego, que é o lado mais primitivo do Ser.

            Aqui há uma necessidade de conceituação. Resumirei com minhas palavras, mas há citações com fontes no final do ensaio: o Ego é uma estrutura psíquica vinculada à consciência, à personalidade que temos no Planeta, ao que vemos, tocamos, etc. O Self seria superior a ele, engloba todo o nosso Ser Espiritual, consciente e inconsciente. Está, portanto, conectado às Leis do Universo e às nossas verdades interiores, à plenitude do Ser, etc…

             Os amores que falam diretamente ao coração individual de cada um ainda exerce maior influência ao Ser que o amor fraterno, coletivo, por exemplo.

            Ainda buscamos músicas que falem de amores pessoais, como nas românticas, que de paz mundial. Não é crítica, é apenas a constatação de um fato. E, se quisermos ampliar a abrangência de nosso amor, precisamos ter uma base sólida para isso. Portanto, saber viver o amor mais próximo do “eu” para conseguir expandir seu grau de ação, enaltecendo, assim, o ser espiritual que há dentro de cada um de nós.

            Parênteses: estou analisando a coletividade, não os indivíduos. Há espaço para tudo em nossas vidas: sermos pais ou mães, filhos, netos, amigos, maridos, esposas e também para estendermos a mão ao próximo, seja com uma conversa amiga, um trabalho voluntário ou a forma que melhor couber na vida de cada um. Não precisamos ser perfeitos nos outros amores para somente então iniciar a prática deste. Mas como conjunto, todos já vivem o amor de filhos, pais, esposas, amigos e maridos. Poucos, porém, entendem o amor ao vizinho ou a alguém que nem seja do seu país.

            Dentre esses tipos pessoais de amor, um, em especial, sempre me chamou à atenção: o conjugal. O maternal/paternal tem a “facilidade” de vir naturalmente (salvo àquelas almas que, ainda embrutecidas, nem este o sentem), é o mais “incondicional” que eu conheço. O inverso, filial, também é facilitado pela gratidão, pelo amor incondicional que já receberam. A não ser para almas muito ingratas ou para pais que realmente falharam com seus filhos – quando, então, a circunstância interfere na natureza do sentimento – sentir amor pelos pais também é natural.

            Dos amores pessoais, penso que o mais difícil de ser puro é o conjugal. É um dos mais íntimos e ao mesmo tempo um dos últimos pessoais que conseguimos atingir…

           Como neste tipo de relacionamento o poder de escolha é nosso e é um sentimento muito particular, se somos ainda imaturos emocionalmente (estamos mais perto do início da jornada evolutiva, lembram?) é comum vermos relacionamentos iniciados por motivos equivocados.

            Se estamos ainda na fase do ego somos, então, ainda muito vinculados ao imediato, ao prazer puro, sem esforço; ao que vem de fora, a reações com relação ao que nos fazem, e não às ações – inteligência emocional; a esperar de fora, não trabalhar dentro. Por isso, muitas vezes quem nos desperta atenção é quem tem uma FORMA atraente: seja ela física, financeira, intelectual, de popularidade, etc… Isso depende de nossas tendências.

            Somos seres coletivos, não nascemos para ficarmos isolados. Mas por não sabermos bem sobre nossas emoções, muitas vezes confundimos os conceitos. Precisar viver em coletividade não significa seguir exatamente o que todos fazem, estar na média. Somos sim, seres sociais, mas também indivíduos. Há momentos em que não podemos romper com o todo, exatamente para não cairmos em desequilíbrio. Mas não podemos abafar nossos reais desejos, sentimentos, vontades, para seguir um padrão pré-estabelecido. O equilíbrio entre dois extremos deve prevalecer, sempre.

            Namorar, noivar e casar porque se tem certa idade e “parece a hora”, ou porque o colega fez e “só falta você”, ou porque “eu quero casar, vou sair por aí procurando alguém” pode até resolver um conflito num momento, mas será o início de outro ainda maior. Estes seriam fatores externos a serem evitados. Mas há mais: os internos!

            Se o ego é quem ainda nos rege, quando tivermos medo, solidão ou carência seremos estimulados por nós mesmos a aceitarmos ou procurarmos pessoas que podem até se enquadrar num padrão e parecerem ideais para nós. Se sentimos medo, escolheremos alguém que nos dê a maior estabilidade possível, alguém que não nos negaria, alguém previsível – embora nenhum ser humano seja, em essência. Se estivermos carentes, o primeiro que fizer elogios ou nos der um mínimo de atenção ganhará espaço especial dentro de nós. Graças a essas atitudes do outro, nos sentiremos amparados ou amados. E parecerá estar resolvida a questão!

            O problema é que com o tempo o que não é verdadeiro se desfaz… É possível que duas pessoas que tenham se conhecido por estas “necessidades pessoais” possam desenvolver um sentimento real durante a convivência. Mas é somente possível, não regra… Por sermos imaturos emocionalmente, se comparados a tudo o que poderemos um dia ser, é difícil ceder, doar-se em detrimento de receber, usar o Self em plenitude. Mesmo quando há um sentimento mais sólido. Quase impossível é fazer isso quando um relacionamento é construído com bases fracas, por valores efêmeros…

            Por isso, como prova de amor a nós mesmos, o ideal é vencermos o imediatismo, a carência, as impressões fortes que uma sensação nos dá em detrimento da construção de um sentimento. Num relacionamento tão íntimo, onde a natureza é nos fortalecer, é essencial encontrar uma pessoa que “facilite” o uso de nosso Self diante das dificuldades normais da caminhada. Assim, habituados a usá-lo, possamos estendê-lo a quem não nos é assim tão fácil. Não devemos justificar nossa fase do ego e nos tornarmos egoístas, mas não podemos antecipar uma condição emocional que ainda não possuímos, escolher propositalmente o mais difícil e querermos, crianças espirituais que somos, vencer nosso ego sem estímulo nenhum. Ao fazermos a escolha errada, num dado momento não suportaremos e seremos obrigados ou a romper a relação, ou a viver infelizes. Se não sabíamos disso, excelente, a vida é mesmo uma professora. Mas saber disso e ainda assim escolher errado é negligenciar a nós mesmos e também ser irresponsável com o outro, uma vez que não seremos capazes de corresponder aos seus sentimentos e necessidades.

            Se um rapaz com uma posição profissional toca seus sentidos, bacana. Mas há mais além? Uma mulher bonita mexe com sua cabeça e seus hormônios. Mas mexe com os sentimentos? Parece óbvio quando se fala de autoestima não ficar com alguém cheio de problemas, como um viciado que não queira se cuidar e desgaste o/a companheiro/a, alguém que seja violento ou negligente – física ou emocionalmente -, egoísta, promíscuo/a, ou simplesmente quem não tenha nada em comum por diversos motivos… Aí, todos os outros servem… Mas será que não é uma sabedoria superficial? Será que é suficiente formar um grupo: bons e maus, excluir o segundo e qualquer um dentro do primeiro serve? Qualquer boa pessoa serve para qualquer boa pessoa, ou dentre os bons há quem sirva mais ou menos para você, e a busca, para que no futuro traga real chance de felicidade no assunto, não seja tão simples assim?

               Alguém pode ser espontâneo, sincero, bem-humorado, ter idéias maravilhosas e ser um prazer estar com esta pessoa. Mas a pessoa mexe com você, ou suas características suprem lacunas internas suas?

            Claro que num primeiro momento o que vai nos fazer notar outro alguém são características que admiramos. Mas no momento seguinte há algo mais, ou fica por aí? Você primeiro pensa: “Vou me encontrar com tal pessoa, ela me faz sentir ‘x’, ‘y’, ‘z’”, e depois fica feliz, ou primeiro fica feliz e depois percebe que é porque pensou “vou encontrar tal pessoa”? São sentimentos sutis, porém determinantes. Um é formado pelo que vem de fora, outro, pelo que vem de dentro.

            Como eu disse, nem todos os que se formam assim são infundados. Por outros fatores não discutidos hoje, precisavam desta forma para aproximar os “agentes” e depois se consolidarem. Mas para quem já viveu bastante este tipo de sentimento e não o viu transformar-se em algo duradouro, não deveria, talvez, parar com o padrão errado e abrir a mente (e o coração) para um novo?

                Há uma mulher que é tudo o que você admira: bonita fisicamente, bem-sucedida na profissão, inteligente, simpática, etc… E há outra que pode até ser tudo isso um dia, ou talvez não, mas além disso, o faz sorrir e sentir-se bem; um homem que a leve nos melhores lugares, diga palavras românticas, seja prático, inteligente, eficiente… e outro que é até um pouco atrapalhado, mas que a abraça quando você chora até mesmo pelo mais irracional motivo… Será que não chegou o seu momento de viver uma outra vida, um outro tipo de amor, subir mais um degrau em direção ao “amor profissional” ao qual estamos todos fadados? Deixar um pouco mais para trás a forma das situações para concentrar-se na essência, no conteúdo? 

            O difícil é saber quando estamos numa situação e noutra, qual é o limite entre elas… Como somos ainda maniqueístas – separamos em “bom” e “mau” -, entendemos as pessoas e as emoções de forma grosseira…

                Mesmo dentro de um relacionamento mais sólido, ou mesmo exercitando nossas capacidades dentro de um que venha a terminar, é difícil delimitar a tênue barreira que separa um conceito de outro. Que fique bem claro que todos relacionamentos, absolutamente todos, são importantes para o nosso crescimento; não há crítica, apenas apontamento de fatos para quem já tem capacidade de ir além.

            E aqui entraremos no assunto que me trouxe a estas reflexões… qual é a diferença, tanto em âmbito geral, quanto num relacionamento amoroso (do tipo homem/mulher), entre o altruísmo e a falta de amor próprio?

            Não podemos falar de amor aos outros sem lembrar do principal: o amor a nós mesmos. Digo aos amigos que o amor a dois é como uma deliciosa sobremesa após o almoço. O autoamor é o básico arroz com feijão e pode até não parecer tão atrativo como uma torta de chocolate com nozes. Mas se comermos apenas o doce não poderemos apreciar seu sabor corretamente, além de logo teremos problemas de saúde. Precisamos da refeição para poder degustar corretamente a sobremesa… Claro que o mais fácil é fugir do fogão, comprar logo o doce e se “lambuzar”… Posteriormente, contudo, vem a conseqüência. Não é fácil ter disciplina e segurar os instintos, ir pelo caminho mais difícil, mas afirmo com veemência que não é apenas necessário, mas extremamente recomendado!

           Retornando aos conceitos, exatamente por temos a “mente maniqueísta”, não encontramos a tênue barreira entre um e outro (altruísmo x falta de amor próprio) e insistimos em confundir este autoamor com egoísmo, mas não são a mesma coisa… Sendo assim, como saber qual a diferença entre doar-se altruisticamente, fazendo uso do Self, e maltratar seu eu, demonstrando, assim, falta de autoestima?

            Já aconteceu comigo muito em todos os tipos de relacionamentos, o fato de tomar uma atitude mais nobre, de doação sincera, e a(s) pessoa(s) entender(em) como falta de amor próprio de minha parte. De duas opções, uma: 1 – ou por me julgarem por outras situações, já que eu também tenho muito a evoluir e consigo, sendo a mesma pessoa, ser altruísta em algumas situações em “pecar” pelo oposto em outras – a dificuldade em dizer “não”, por exemplo, característica que já ficou evidente para os que me cercam, mas a qual eu estou trabalhando e obtendo meus progressos, que denota falhas na autoestima; 2 – ou por não terem correspondência em seu ser, e não entenderem. Eu agi de Self para Self, mas o que aconteceu, na prática, foi um Self enviando uma mensagem e um ego receptando-a…

            Certa vez um amigo ficou de fora de uma viagem e ficou “sentido” por isso. Quando retornamos, percebi que os demais falavam propositalmente de fatos que só quem havia ido poderia saber, criando um “ser coletivo”. Ele ficava deslocado. Eu tentava colocar este amigo ausente a par do ocorrido, uma vez que, se fosse eu a ausente, não gostaria de me sentir excluída. Mas como eu era a amiga “boazinha”, sempre solícita, e ele, talvez, se tivesse viajado faria com outro o que estavam fazendo com ele, entendeu minha atitude como falta de amor próprio. Passou a me “desprezar” e a ficar ao redor deles, mesmo ficando deslocado. Preferiu ser “maltratado” que acolhido.  

            Ele e talvez outros que vissem o fato, o externo, talvez pensassem o quanto sou “bobinha”, e tivessem, ainda que inconscientemente, um certo desprezo, pois tenham tido o ego inflado. Mas vivemos num mundo, como também costumo dizer, de “poucos efeitos e muitas causas”. Uma pessoa que chora pode estar feliz por ter reencontrado uma pessoa querida, ter batido a ponta do dedo na quina da mesa, estar com medo de perder o emprego, ter sido assaltada, etc., etc., etc… Sabemos o que é chorar e que, geralmente, assim o fazemos para demonstrar tristeza, às vezes, alegria. Mas cada caso é um caso. Portanto, casar, separar, assumir um grupo de estudos, cancelar um compromisso, vender uma casa, sair do emprego, buscar um novo emprego, mudar de cidade, demitir um funcionário e tantos outros efeitos podem ter padrões bons ou ruins em média. Porém, significar coisas distintas para cada pessoa num diferente contexto e espaço de tempo. O que importa, mais do que o padrão, a forma, é sempre a causa…

                  Para aquele momento específico com o amigo e a viagem, eu sei o quê me guiou, a causa que me levou a fazer o que fiz, o bem que ME fez tentar desfazer um mau, ainda que mínimo. Ele pode até não ter entendido e eu ter sido, a princípio, prejudicada por esta atitude – já que eu é que fiquei meio deslocada. Mas se eu olhar o meu Self, nenhuma regalia do ego pode suprir o Bem que eu fiz também a mim mesma, e não somente a ele.

            Apesar de sermos uma coletividade e estarmos dentro de uma grande faixa evolutiva, há infinitos graus de evolução dos seres dentro desta faixa. Portanto, é possível que isso aconteça, que haja desentendimentos. Por esta razão é tão importante, como todos sabem, o diálogo nos relacionamentos. Um casal, para “funcionar”, precisa ter afinidades e falar mais ou menos a mesma linguagem. Mas se somos indivíduos, cada um tem sua caminhada particular, portanto, um terá qualidades numa área que o outro não, e assim sucessivamente. Eu posso, no caso do exemplo, ter usado meu Self. Mas numa outra situação, ser o ego para algum outro Self. Não somos seres perfeitos, temos muito o quê aprender…

            Além deste conceito, é importante ressaltar outro: já despertamos a consciência para verdades do Ser, crescimento interior…  Ninguém mais vive para caçar e se proteger do mau tempo. Claro que sempre há exceções, mas estou falando da coletividade, da caminhada que a civilização já fez em milênios. Está em todo lugar a idéia de que há algo além da matéria, há alma.

            Portanto, interessados nesta Verdade Maior, conduzimos nossas existências tentando fazer o melhor. Precisamos de bases para nos guiar e formamos os conceitos. Com isso, julgamentos. Mas, por sermos ainda imaturos emocionalmente em comparação ao que podemos ser no Universo, conhecemos apenas “tópicos” de um texto. Precisamos de muito mais tempo para poder experimentar e aprender o “texto de introdução”, os “sub-itens”, etc… Temos a tendência, então, em, mesmo querendo acertar, julgar todas as situações pela forma, julgar as pessoas por alguns minutos ou por algumas atitudes, já que não temos capacidade para, sem nos esforçarmos, conhecermos cada nuance. Não é crítica… na verdade, compreendendo a dificuldade, o quanto não sabemos quase nada, chego a admirar a coragem de todos nós por estarmos aqui, tentando fazer o correto, crescendo com os erros…

            Voltando ao exemplo do limite entre falta de amor-próprio e altruísmo, podemos errar tanto por não termos o mesmo grau evolutivo de outro – o ser “ego” que recebeu a mensagem do “Self” – quanto por nos precipitarmos no julgamento, graças à nossa limitação de conhecimento emocional – no meu caso, porque um dia eu não soube falar “não”, a pessoa me julgar por essa atitude e achar que quando fiz algo nobre, fora do convencional, o fiz por falta de amor a mim – e isso cegar a capacidade do Self que a outra pessoa tenha. Ou, num terceiro caso, a pessoa tanto seja “ego” quanto julgue errado, e erre duas vezes.

            Olhando uma revista e vendo a variedade de assuntos que apenas ela continha, lembrei de todas as outras revistas existentes numa banca, dos livros numa livraria, das teses numa universidade e pensei no quanto há para ser feito no mundo, em quantos assuntos maravilhosos existem para nos interessarem… O quanto é possível sermos uma pessoa rica e feliz apenas alimentando o nosso ser. Quantas possibilidades há na Vida!

            Sou uma pessoa guiada pelo meu emocional, e isso me trouxe muito sofrimento. Mas eu percebi que é este tipo de atitude que eu admiro, embora busque também equilibrar a balança e fazer o meu intelectual falar mais alto. Somos seres inteligentes e emocionais, precisamos educar e equilibrar estas duas capacidades.

            Reconheço minha tendência em ver a vida com os olhos do coração e minha alma clama por um pouco mais de razão. Mas, exatamente por ser emocional e estar inserida num mundo ainda orientado pela lógica, percebo a defasagem que há fora no sentido contrário: o quanto racionaliza-se tudo, até aquilo que deveria ser sentido. Então, o ego entra e continua a nos guiar para escolhas que nos farão sofrer no futuro. O problema não é sofrer. Se for necessário, se ainda não estiver em nosso grau de conhecimento, só a experiência nos fará entender. Mas e se já a tivermos em quantidade suficiente e estarmos na fase de transição, porém, permanecermos parados?

            Não seria isso, também, de uma forma bem mais profunda, falta de amor próprio? Vivemos no mundo das formas, das aparências. Será que demonstrar amor num relacionamento é mesmo doar-se demais e não se preservar, ou é amar-se tanto a ponto de ter a coragem de vencer a racionalidade do mundo, a fase do ego e permitir-se ir além? Desde que, claro, esta atitude seja recebida por outro Self. Do contrário, continuar seria, sim, anular-se e deixar de se amar…

            Por isso, penso que o amor conjugal é o mais difícil de ser puro… Mesmo quando conseguimos escolher bem, havendo amor verdadeiro, ainda é difícil que egos e selfs se encontrem, já que cada um tem uma estrada diferente… Mas se somos destinados ao amor e já buscamos isso de forma consciente, é preciso, sempre, refletir, superar os medos, as barreiras, os preconceitos e formas não apenas do mundo, mas as que trazemos cristalizadas de forma muito sutil dentro de nós mesmos. Ter a coragem de arriscar e ir além, dentro de atitudes responsáveis e racionais, é o exercício do amor em sua pura essência, “começando pelo começo”: por si mesmo.” 

Anexos:

EGO

O ego, segundo o site “Dicionário Crítico de Análise Junguiana”, é definido por Carl G. Jung como “o centro da CONSCIÊNCIA… Embora o ego tenha a ver com assuntos tais como identidade pessoal, manutenção da personalidade, continuidade além do tempo, mediação entre campos conscientes e INCONSCIENTES, conhecimento e testes da realidade, também deve ser considerado como uma instância que responde às necessidades de uma outra que lhe é superior. Esta é o SELF, o princípio ordenador da personalidade inteira”. (http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/..%5C..%5Cdicjung%5Cverbetes%5Cego.htm)

SELF

O Self, segundo o livro “Triunfo Pessoal” (FRANCO, Divaldo P. Triunfo Pessoal. Pelo Espírito Joanna de Angelis. Salvador, BA: Leal, 2002 – págs 20 e 90, respectivamente), seria, então, “o espírito imortal, herdeiro de si mesmo” e “Herdeiro do psiquismo ínsito no inconsciente coletivo, é portador de seu próprio inconsciente pessoal, face ao largo trânsito do seu psiquismo no processo evolutivo ao largo dos milênios… sendo o próprio ser espiritual precedente ao berço e sobrevivente ao túmulo”. 

Ou, ainda, segundo o site “http://mafiadodiva.tripod.com/CJUNG.html”

  O self é o arquétipo central, arquétipo da ordem e totalidade da personalidade. Segundo Jung, consciente e inconsciente não estão necessariamente em oposição um ao outro, mas completam-se mutuamente para formar uma totalidade: o self. O self é com freqüência figurado em sonhos ou imagens de forma impessoal. É um fator interno de orientação, muito diferente e até mesmo estranho ao ego e à consciência. O self não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que abarca tanto o consciente quanto o inconsciente; é o centro desta totalidade, assim como o ego é o centro da consciência.

 Fonte da imagem: saintgermanchamavioleta.blogspot.com