Muitas perguntas sobre nada

Janela-mar

Começo um texto sobre perguntas com talvez a única afirmação lúcida: não sei nem por onde começar.

Há alguns dias, em um final de semana com minha irmã, víamos um vídeo no youtube de uma ex-atriz que hoje é Psicóloga (e que, portanto, está registrada em nossa mente como uma “menininha”) dizer que quando ela era pequena e via as crianças maiores usando fichário  porque haviam passado para o ginásio, ela pensava: “nossa, como elas são grandes”, mas que quando ela se viu na papelaria comprando um fichário, ela percebia que era a mesma pessoa, não tão próxima daquela idealização que tinha de crianças mais velhas. E que ocorreu o mesmo na vida adulta.

Eu tive meu episódio quando criança também (tinha 7 anos e a Marina e Francisco, que usavam o mesmo transporte escolar, tinham 10, porém, quando eu cheguei aos 10 não me achava tão amadurecida assim..rs…), e só acenava com a cabeça ao concordar com a situação: não é porque eu tenha quase 37 anos que me sinta TÃO adulta quanto eu achei que eu seria quando tinha 15 anos, por exemplo.

Não digo isso sob o prisma da imaturidade, mas de uma alteração na noção da realidade que, justamente, somente a maturidade e a verdadeira noção do que é a realidade nos ensinam.

E, ainda assim, assusta ver como às vezes temos os mesmos questionamentos de anos atrás e venha a amarga sensação de falência, como se não tivéssemos evoluído nem um pouco.

Será que eu passei por tudo o que vivi em vão, e ainda assim, caio nos mesmos erros, nas mesmas armadilhas? Ou será que o erro recorrente seja justamente não acreditar em si e no próprio discernimento?

Há pouco mais de um mês eu tive a oportunidade divina de participar de uma vivência realizada pela Igreja Católica chamada “Aldeias de Vida”. Estou com um computador realmente limitado agora (o meu está no conserto) e não sei se conseguirei abrir a página para copiar o link, mas nada que uma rápida busca no Google não resolva.

Neste final de semana que eu passei sem celular e muito mais, mas obviamente não vou estragar a surpresa aqui, foi não apenas o que faltava, mas o catalisador do meu retorno a Deus. Desde o primeiro dia de afastamento e revolta eu o buscava de volta, mas foram longos anos de um relacionamento conturbado: com Deus, com o mundo, com os outros (os mais próximos) e comigo – bem o oposto do lema da Aldeia.

Durante todo caminho há quedas e, talvez, até desvios, mas o segredo para estar em um, ou estar no que se quer, naquele que se considera bom, é ter a coragem de dizer: eu vou – e vou conseguir. Nem todos os que disseram isso, de fato, chegaram ao ponto desejado (por fraqueza, falta de afinidade descoberta ao longo do trajeto etc.), mas todos os que chegaram só o fizeram porque se propuseram desde o primeiro passo, quando tudo ainda era incerto. Há os que não chegaram porque nem começaram. Portanto, sem ouvir os “diabinhos”, como nos desenhos animados, posso afirmar que agora não há mais volta: estou de volta ao caminho ao qual cheguei há muito tempo, e do qual não consegui me desviar tanto assim, na prática, mas do qual fiquei afastada por muito tempo.

Há uma frase Espírita, de Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, que diz algo assim: “Não há infortúnio maior que estar sem Deus e prosseguir vivendo”. Foi bem isso que vivi fortemente por uns quatro anos, mas de forma geral, por pouco mais de seis. Indescritível desespero. Acabou, ufa! Mal ou bem, eu venci.

Com um ou outro efeito colateral, ok, mas o exercício aqui é justamente tentar sair dos grilhões da culpa, que já muito me atormentou, no passado (e às vezes – ou muitas – culpa por coisa que eu nem fiz, mas porque deveria ter pensado em ter evitado, ou por medo de que pensem que fiz…rs…), contudo, hoje, segue “controlada”. Rs…

Eu sobrevivi a um completo furacão nível 5. Nos últimos anos fui limpando os escombros de 2012 (mas os ventos já sopravam agitados desde o ano anterior, eu deveria ter colocado madeira nas janelas…), entretanto, era um trabalho ingrato: após todo esforço, o resultado ainda era o retrato da destruição. Só que sem esta limpeza inicial, não tinha como entrar na fase de limpeza e, depois, reconstrução.

Parece que agora o pedreiro já está contratado e o material está no portão, mas o que eu queria mesmo era descer, ir correndo para a praia, que já está azul de novo (imagino o Caribe, claro! Ou Bora Bora…rs…), deitar na rede larga e tomar uma água de coco. Poxa, ontem eu coloquei o último escombro na caçamba, precisava apenas de umas mini-férias…rs…

Mas a vida é dinâmica (e eu adoro pedras), então, nada de sombra e água fresca: somente o sono reparador e mãos a obra de novo na sequência.

Será que a vida é assim tão, tão rápida, ou sou eu que sou parada demais? Ai, mas de pensamento negativo a meu respeito eu também já estou farta, não me permito mais este tipo de tortura.

Será? Ou será que não é justamente o que tenho feito, nas entrelinhas, na calada da noite, sussurrando bem baixinho?

Será que eu cresci, que eu mudei, ou eu ainda faço as mesmas coisas ou em menor escala, ou na surdina?

Por que eu ainda me acho infantil?

E eu não me refiro a comprar tiaras de unicórnios com a sobrinha ou mergulhar em piscina de bolinhas, porque isso é só manter a criança interior viva – para os mais tímidos, é só estar sempre acompanhado da criança, jogar a culpa nela (“Ai, o que não fazemos por esses pequenos?”, como se isso fosse um fardo :D) e ser feliz. Quem não o faz, só lamento.

Estou me referindo a ter quase 37 anos e não ser a adulta que eu pensei que seria nesta idade – da mesma forma que quando eu tiver 68 talvez não seja a senhorinha que hoje eu penso que serei. E estou falando de não ter crescido tanto assim. Ou por pensar isso porque eu ainda sou muito dura comigo.

O fato é que mesmo na fase “escombros” eu via a luz bater no azul do mar de novo e queria ir lá fora. Eu quero ser feliz. Eu busco isso. Talvez com a velocidade que uma água do mar e vento corroem uma pedra, mas eu não aceito mais a infelicidade.

Justamente porque eu aceitei tudo o que aconteceu, por mais que tenha parecido sem sentido. Isso que foi bacana, e que a Aldeia somente finalizou de forma nobre e eficaz: eu não apenas aceitei o que foi, como desapeguei do que poderia ter sido. E não apenas isso: eu não quero mais nada do que poderia ter sido, ou do que eu penso que poderia ter sido (e às vezes nem era mesmo O plano, eu é que não entendia, ou eu é que precisava pensar que sim para aprender algo que me seria últil mais adiante).

Eu quero o hoje, o agora e tudo de bom e de melhor que podem advir daqui, desta eu que sou, deste momento que vivo, destas oportunidades que se abrem, agora, e que não posso mais perder. Sou a rainha do “um dia”, não por procrastinar ou por não saber dizer não para não magoar, mas por ter medo de falhar, medo de errar, medo de me confundir e medo até de ser feliz, se bobear. Medo de mudar, mesmo que seja para melhor. Acho que é bem por aí.

Entretanto, como dito acima, eu voltei a caminhar, não dá mais para fugir.

Este foi o texto mais chato que eu escrevi, tanto que nem vou divulgar, vai ficar meio escondido, aqui. Eu tenho falhado muito comigo no quesito cuidar do que mais amo, que é minha própria obra, minha Literatura. Quem sabe o objetivo literário deste texto seja apenas um leve contato com o ato de escrever e publicar, que o texto em si?

Hoje estou mais para desabafo sem sentido, ainda por cima, que texto com começo, meio e fim. Hoje eu não vim pelo leitor, vim por mim. Sempre venho, mas sempre penso em deixar algo de mim para quem lê. Hoje não, hoje eu estou mais para receber.

Queria ter escrito de forma bem mais interessante para ter pelo menos uma identificação, algo que gerasse uma pequena reflexão ou coisa assim, mas não tomei este cuidado: como quem tem algo há muito tempo guardado, simplesmente despejo tudo sem ritmo, sem medo e quase, quase, sem censura.

Porque precisa sair. Tem muita coisa acumulada. Seja a energia que era boa e ficou parada pela dor, e precisa fluir; sejam as angústias que giram ainda como uma tempestade tropical mas não fazem tanto estrago; seja tudo de bom que tenho em potencial e que ou está parado, ou não foi vivido, e que precisa começar a sair. Senão eu surto, eu explodo.

Tem um aluno meu que tem onze anos e gosta de conversar com todos, é muito inteligente e carinhoso, vários adultos o admiram. Desde a semana passada ele está inconformado que eu não sou casada e não tenho filhos, nem mesmo um animal doméstico, e afirma que sou solitária.

Há anos eu falaria cem por cento do que sou obrigada a responder nestas situações com cem por cento de verdade. No primeiro dia eu até falei com uma sinceridade superficial. Hoje eu penso no quanto administrei mal meu dinheiro este mês de tanto que não suportei ficar em casa e precisei sair. E logo eu vi o quanto ele está me ajudando a enxergar o óbvio, o que sempre foi uma queixa da minha alma, muito mais que da minha pessoa.

Eu sempre tive tanto orgulho de mim por ser tão independente: já fui para Fortaleza sozinha (e lá até flutuei no céu com o jeep que nos prende à terra), fazia maratona de cinema, como sozinha o tempo todo em público, porque gosto muito de ler e escrever, e isso é melhor fazer sozinho – ou fazer isso com pessoas em volta que trancada no quarto; faço bate-volta até São Paulo ou à praia sem medo algum, fui até ao Programa do Jô E cantei com o Sexteto antes do programa começar (acho que essa parte só tive coragem justamente por não ter medo de pagar mico para algum conhecido caso eu me desse mal – contudo, o fato é que eu neguei conhecer o diretor artístico do programa para falar da minha voz porque “não, obrigada, meu negócio é escrever”…rs… se eu fosse fazer um post de oportunidades perdidas na vida, eu precisaria de outra Aldeia…rs…). Até em balada, sozinha, eu já fui!

(Ok, foi aqui, no interior, eu achei que fosse ter algum conhecido, mas o ruim de envelhecer  é isso: seus amigos ou já estão casados, ou mudaram de cidade e você só fica com os bêbados ou sem noção porque mulher sozinha vira presa fácil e em menos de uma hora e meia você leva sua produção e sua expectativa e ingenuidade de volta para casa a tempo de ver alguma sessão corujão ou algo assim. Rs… Aí você envelhece mais um pouco e depois de até tentar ir com a prima (porque a gente tinha 15 anos e ela 5 e só ouvia falar do “Gordo”, e você deve isso a ela, que cresceu e se tornou tão irmã que é até maldade pensar que se foi lá com todo mundo, menos com ela..rs…) e depois com a amiga (a reclamação da época era não aguentar mais saber a programação do Altas Horas, mas ao chegar a certo ponto de sono, muvuca e tantas outras coisas mais tão nada a ver com seu ser, o desejo mais sincero era estar naquele exato momento debaixo das cobertas, assistindo “Altas Horas”…rs…), mas vê que vai ter que deixar este planeta sem saber ao certo como é estar numa balada, onde “tudo acontece”, onde o clima é de paquera, querer alguém E esta pessoa querer você também – e não a menina da sua turma mais atirada e mais magra…rs… Ou o que me faz até hoje lamentar o fim dos bailinhos que acabavam quando as baladas ainda estão no “esquenta”: as danças de pares. (Nossa, parei na adolescência! :O Enfim, ok: ficar com o “crush” na balada vai ser minha mini saia aos 50 anos! Hahahahahahahaha! OBS: Antes do mimimi, há algum tempo esta expressão era sinônimo de quem não tinha coragem de viver algo na hora certa, mas não consegue trabalhar o conceito e depois vive algo de forma deslocada, querendo dizer que não devemos perder oportunidades etc. Era o significado implícito. Eu não sou contra pessoas que queiram se vestir de jeito X ou Y, cada um se expressa como quer e etc. Eu compro tiara de unicórnio, quem seria eu para falar de alguém :D, então, por favor, sigamos em paz…rs…) ) – vou usar parênteses dentro de parênteses porque acho melhor que travessão, embora não seja a regra.

Hoje, tem dia que nem escrever eu consigo. Tenho usado muito meu celular antigo como terapeuta, e fico quase uma hora falando, falando… Tem vez que a coisa é tanta que escrever não basta; mas tem hora que a coisa só se resolve escrevendo. Hoje foi assim.

Sobre este negócio de solidão. Primeiro, não me assusta, tanto porque já era esperado, depois de certo tempo e somado a isso o sofrimento, o vazio emocional que vivi; segundo, sei ter condições de passar ilesa por isso, pois, ao passo que dói, às vezes, quando vem (não sinto isso o tempo todo), já sobrevivi sozinha por todos estes anos e sei que sou do tipo independente, então, pior do que foi, acho que não pode ficar. Ou, ao menos, eu espero…rs…

Ainda sobre a solidão, o fato é que este sentimento me leva a uma coisa boa, um retorno à minha origem: fazendo o link com a solidão a dois, volto ao relacionamento a dois, e percebo que minha crença inicial continua intacta. E isso é uma parte boa da minha essência. Apesar do número de pessoas envolvidas com o individualismo; das crenças desfavoráveis à monogamia e até mesmo estabelecendo rótulos pejorativos, como “mulher hoje é tudo p…” ou “homem trai”, ou até mesmo resumindo isso à área sexual e só, eu sigo tendo certeza de que é possível, sim, um ser humano encontrar alguém para dividir a vida. Que, claro, após o mínimo de compatibilidade (afinal, dividir a vida é muito complexo, tem que ser com alguém que tenha um mínimo de afinidade), um sentimento que, claro, tem atração, paixão (senão são só dois amigos), mas que é baseado no respeito, na consideração, no carinho, na amizade e, claro, só pode resultar em amor, além do compromisso diário e individual de cada um em cultivar este sentimento, é possível, sim, uma relação durar. E durar para a vida toda, sim. Não por comodismo, mas por conquista. Muito encontram alguém compatível; têm um pelo outro um sentimento forte mas… descuidam, e encerram o relacionamento como se a culpa fosse falta de amor.

Lá estou eu escrevendo sobre o amor de novo…rs… Que bom! 🙂

Há alguns meses, quando me diziam que eu precisava ter um namorado, foi a primeira vez na vida que fiz o que tanto li: apesar de querer ter alguém, eu entendia que não era o momento, que eu não estava bem e precisava primeiro me encontrar para depois ter espaço, em mim, para alguém – apesar de já voltar a desejar muito que eu finalmente tivesse alguém bacana.

Hoje que minha fé está de volta e eu consigo enxergar tudo isso com mais clareza, só me pergunto quanto tempo vou levar para reorganizar minha alma…rs… (nossa, só falta levar mais 36 anos…rs…)

O trabalho vem na frente, claro. Mas parece que eu, justo eu, tão “Excel”, responsável e “certinha”, me esqueci como se termina o que um dia demos início. Da pilha de livros inacabados até a dieta que meu corpo já pede com ênfase há mais de um ano e que eu quase cedo; do hábito da meditação à constância do contato com as pessoas mais próximas; da administração decente das redes sociais, e-mails etc. (hoje para entrar aqui precisei resgatar a senha, rezando para que a mesma não tivesse sido encaminhada para o e-mail antigo, para o qual eu também iria precisar solicitar nova senha; antes era falta de tempo, agora de computador rápido, enfim, o fato é que eu descuidei de TUDO) à faxina nos pensamentos, que tão rápido passam, o que deixa tão susceptível às oscilações da vida meu campo energético, que é bem mais sensível do que eu tenho capacidade, hoje, de controlar…rs…  Até o controle do sono (e olha a hora da postagem, mas hoje o sono está há tempos, ainda bem, sinal que quero dormir e mais cedo, mas cedi em nome da causa nobre)… Parece que eu preciso só rasgar uma membrana de seda, muito fininha, para que eu acesse o que preciso para reorganizar tudo…

Não me culpo, todo este aparente caos hoje foi fruto de um desalinhar quase que definitivo de mim. Por isso a sede por vida, proporcional ao que quase não mais existiu. Mas uma pessoa amiga que se foi, ao ir, mostrou o quanto eu mesma tenho capacidade de seguir; e outra, esta que, com tanto alívio e carinho, eu deixei ir, cujo erro talvez tenha sido apenas não saber lidar com o fato de não ser para mim, não foi capaz de, nem com seu erro, deixar morrer em mim o que é tão eu, que sempre foi. Eu não precisei, afinal, me anular para existir.

Não me sinto negativa, só confusa. Não com relação a ideias, a energia emanada, talvez os outros não percebam, ou percebam tanto. É só com relação a por qual cômodo começar a reforma. Às vezes, ao olhar para todas aquelas portas, móveis, pilhas, bolas de poeira e crostas de azulejos por tanto tempo malcuidados e esquecidos, encosto só um pouquinho no batente, penso no trabalho todo que me aguarda, as costas ainda doídas da caçamba, olho por entre as cortinas esvoaçantes aquela praia, aquele mar, para onde irei em breve, vejo o sol já brilhando lá fora e levo só mais um instante sonhando, antes de abrir a torneira que vai liberar a água para toda esta sujeira sair.

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PS- Só foi possível fazer uma revisão deste texto devido limitações técnicas.

(fonte imagem: google – sem condições técnicas de colocar link)

“Amado” *

Mulher sentada olhando o mar quadroA janela da sala de jantar, fechada às pressas, protegia o ambiente das gotas que caíam sem cessar.

Era final de tarde, entretanto, ela já usava pijamas. Estava de folga, mas havia trabalho em casa na pilha ao lado. Intacta.

A mente palpitava e o coração não parava de pensar. Tudo em desalinho. Havia alguma coisa errada.

Nem pensar em meditar. Porque era tarde de folga e porque era chuva, fez um chocolate quente, prendeu os cabelos em um coque desgrenhado e deixou a louça sem lavar. Às vezes há coisas mais urgentes, dentro.

A busca pelo CD de relaxamento levou ao álbum da única música daquela época que, esquecida, ainda não havia sido esgotada ou mesmo substituída. Só porque ela havia encarado seus medos e saído vitoriosa, lembrou-se com surpresa da única foto não rasgada, escondida no fundo de uma carteira já guardada.

O som deslizava aos ouvidos à medida que os olhos percorriam aquela imagem, a única, tão visitada, admirada. Ausência de reconhecimento. E lágrimas.

Lágrimas? Sim, poucas e contidas, porém, ainda o impacto da hecatombe à qual sobrevivera. A dor – que de tão fraca e cicatrizada seria quase gostosa – não mais pela pessoa que partira, e sim pelo elo que se formaria. E não se fez.

Para onde vão os “nós” que se desfazem ou que poderiam ter sido? Se “remisturam-se” ao nosso todo, formando quem somos agora, vez ou outra afloram, lembrando o que eram. Se desprendem-se de nós e são guardados em uma “caixa do sentimento”, como ela pensava quando menina, vez ou outra nos fazem uma visita.

Quando é cedo, voltam e nos atormentam. Quando já superados, apenas nos testam e colocam sua natureza para fora. Um amor não vivido traz as lágrimas por tudo de bom que poderia ter sido. Somente quando puro e realmente marca. E este tinha sido.

Contraditório, todavia, olhar aquela imagem manchada – certamente das abundantes lágrimas de outrora – e lembrar apenas com a memória o impacto que ela fazia. Ter outras fotos para olhar e perceber que eram elas que, de fato, a atraíam. Que, além das músicas novas e das antigas que antes da história de amor, eram dela (cujos cabelos desgrenhados caíam) e haviam sido apenas transferidas, até esta música, tão específica, também se fora. Para o todo que ela, a de pijamas, era, ou para a caixinha de sentimentos terminados, que em algum lugar do espaço jazia.

Qual a diferença entre esperar o tempo certo das coisas, deixar tudo ocorrer naturalmente, ou não ter atitude e perder (outra vez!) as oportunidades? Se a vida havia guiado a moça para aquela história do passado, como ela simplesmente poderia não ter acontecido (e, assim, como confiar novamente)? Como pode ser tão bonita a ponto de aceitar ficar guardada para deixar brotar outra, se for para ser útil e mesmo igualmente bela?

E o mais curioso é reconhecer que podemos estar com outra pessoa de corpo e alma, contudo, ainda assim, somos todos esta mistura.

Nem em uma vida inteira, ela dizia, conseguiria entender. E por mais emocional e ansiosa que estivesse, por já ter sofrido e aprendido, resolveu discordar de sua teimosia e fazer tudo diferente.

Com o chocolate quente em punho, o pijama confortável e o coque desgrenhado novamente montado, deixou as histórias no passado e no futuro, em seu tempo cada uma, e, já de noite, lá de cima, olhou os carros passarem não tão rápido, perdeu-se nas expectativas ou esperanças que sempre ocorrem quando observamos as luzes de uma cidade grande, decidindo buscar uma nova dieta, escovar os dentes, ouvir música agradável  e adiantar o trabalho. O melhor que podia fazer por ela (sua única companhia constante), agora.

* – O título deste texto é inspirado na música de Vanessa da Mata, “Amado”.

Fonte imagem: euindoevindo.blogspot.com

Renascendo das Cinzas

fenix mulher

Existem três tipos de pessoas:
1 – as românticas puras que enxergam apenas o sentimento, a beleza e o resultado final de todo um trabalho em um relacionamento, que se chocam com os momentos de tédio, brigas ou detalhes práticos e sentem-se desiludidos diante dos fatos;
2 – aquelas que acham que o amor é algo quase matemático, simples resultado de convivência ou combinações de lacunas (trocas de favores) e que escolhem ou são atraídos (a) seus pares mais por situações circunstanciais, enxergando apenas o lado prático de um relacionamento, como se fosse algo comum e qualquer, fazendo com que pessoas sejam secundárias, substituíveis por outras parecidas que cumprissem a mesma função em determinado momento;
3 – e aqueles que entendem que há várias formas de o amor entrar em nossas vidas: amor à primeira vista, amizade que vira amor, paqueras bem sucedidas e todas as variáveis. Maduros, têm consciência de que o final feliz e as cenas editadas dos filmes e livros são apenas mensagens gerais, passadas por um formato específico (filme – apenas 2 horas de duração e livro, mais ou menos 400 páginas, portanto, há uma necessidade de resumo) por necessidade, e que as “cenas cortadas” também fazem parte do roteiro da vida. Contudo, não usam esta sabedoria como desculpa para serem realistas demais, não românticos ou céticos, porque entendem a grandeza que pode, sim, haver em um relacionamento a dois, quando não predominantemente guiado pelo ego e pelas necessidades individuais, quando se espera receber muito mais do que dar (número 2); mas sim, guiado pelo lado mais íntimo e sublime de nós, tocado pela presença e existência da outra pessoa em nossas vidas, estimulando o gesto de doar muito antes de receber. Embora todos os fatos e seus “efeitos colaterais” de circunstância e realidade também aconteçam – porém, como consequência, não causa.

Lamento a humanidade “doente” que, em sua grande maioria, ainda está no grupo dois e chama muitos “3” de “1”, contaminando a prática dos relacionamentos conjugais humanos. Que têm o poder de, por serem tão íntimos, despertar o melhor em nós e elevar também todos os outros setores de nossa alma: cidadania, profissão, autoestima, relacionamentos diversos (família, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, humanidade) etc.

Lamento quando, repetidas vezes, valores secundários – como uma cor de cabelo bonita, um óculos de sol atraente e o fato de alguém preencher uma carência sua e ter um status social favorável (ou seja: “Os outros vão me achar o máximo por estar com esta pessoa… quem é a pessoa mesmo? Ah, não importa, o que importa é que meu ego vai no teto” e, assim, eu terei a falsa noção de autovalor) – geram um pseudo sentimento e falam mais alto do que poderia ser bom de verdade, não importa como, não importa o tempo.

Embora minha sensibilidade ainda ache um método muito cruel de aprendizado e preferisse um mais brando e longo, às vezes acho que Deus desaparece de nossas vidas, fora, para que possamos enfatizar a nossa própria capacidade de superação, sem depender de terceiros, sendo obrigados a buscar mais fundo dentro de nós por nosso lado divino e, de tanto apanhar, escolher usa-lo de uma vez, parar com essa bobagem de insegurança, medo de perder e/ou assustar os outros com sua potencialidade e finalmente virar o jogo.

Quando a verdade, um dia (pode levar anos, décadas, eu sei, porque o tempo de Deus, infelizmente – cansada de sofrer, não consigo mesmo mais barrar minha ansiedade nem ter um segundo mais de paciência, embora seja o obrigada a ter), aparecer (e até lá, eu sei que muitos terão pena de mim ou me chamarão de louca – por não entenderem o que eu sinto e o que de fato vivi não caber em sua noção de realidade, não por eu realmente ser – embora quase tenha ficado), o meu NÃO valerá anos de espera e será do tamanho de um Outdoor!

Não há amor maior que manter-se fiel à sua essência, apesar de tudo que o convida para fazer o contrário (e que machuca mortalmente quando você, cansada, quase cede). Não, não jogarei no lixo a grandeza de ser número 3 (apesar de toda dor e decepção) por uma pessoa que fala outra língua e ainda vive presa em 2, desperdiçando a chance ÚNICA que teve. Atraímos para nós aquilo que vibramos. E este, muitas vezes, já é o nosso próprio inferno!

Fonte imagem: priscila.antunes.blog.uol.com.br

Metamorfoses

dancando na chuva mulher

Sinto um ciclo chegar ao fim e o que eu já sabia e queria evitar, acontecer e tomar conta de mim. Vencida pelo cansaço do movimento e aprendizado, rendida à dança da vida, deixo medos e posturas pela metade de lado, encontrando-me novamente, todavia, pronta e renovada.

Transtornada pelos desencontros e espinhos à princípio tenazes, torno a descobrir o meio detalhado para o final da estrada, o qual, no fundo, já conhecia. Caí na armadilha própria da raiva por desamores ao acreditar também eu na mentira que me diziam, em sua linguagem distinta da minha. Expectativas frustradas por quem não via em mim o que já sou e posso ser, se eu acreditar em quem realmente me conhece.

(Eu).

Até então, angustiada e descrente, negando-me por inteiro, indagava-me da probabilidade do romance e da vontade de Deus e sua justiça, na não exclusividade dos caminhos do amor a dois, incomodada pela aparente experiência exterior a despeito do que cada uma delas pode contribuir, não somente pela concretização de fatos outrora apenas interiorizados, contudo, também pela vivência e negação do que não mais se deseja. O quê, em vez de separar, aproximaria.

Perdida de mim, negava com a boca e com a dor tudo o que eu, profundamente, sentia, desesperando-me no martírio do suplício sem fim que é a vida sem sentido, só palpável, do vazio, sem amor.

Nos detalhes retomados do caminho relembrei, no agora – não “um dia”, da jornada, individual e intransferível que trilhamos, voluntária e inevitavelmente, cuja razão é iluminar, antes de tudo, a essência do ser.

Acontecimentos não são tudo, meros meios de lapidar o que habita em nós e que, somente então, encher-se-á verdadeiramente de vida.

Refletia, então, se era válido o movimento de admirar o sorriso de alguém e deixar-se mergulhar neste momento, sorrindo também, natural e inconscientemente. Ou se isso seria fugir de si.

Todavia, o que é o amor a dois se não um grande espelho individual? Ou, ao menos, deveria ser, não fossem os sutis e devastadores enganos das atrações fugazes, arrogância de egos ou emocionais comprometidos.

Onde a tênue barreira delimitando a busca pela distração no outro para fugir-se de si, e a necessidade natural de abrir-se para seu igual, executando apenas mais um tipo de sentimento indispensável para a evolução única e pessoal?

Encontrar um defeito e desistir é agir com parcimônia ou alimentar o próprio medo de ser quem pisa o primeiro passo e (a princípio) dá sem nada receber?

Se tudo nos faz crescer, existe motivo para não amar? Proteger-se antes de tentar não faça, talvez, sensatos, mas mortos. E não há morte pior que ter morrido e ainda sentir o coração bater.

Estaria a maturidade na não vivência de um sentimento sem garantias, ou na coragem de arriscar?

Quem de fato quer aprender não tem medo de errar. Afinal, não há morte pior que ter morrido e ainda sentir o coração bater. Do deserto de minha desilusão nasce a delicada e solitária flor do recomeço, que clama por um pouco de irrigação. Mas existe. Não mais aceitarei fatigar-me com o peso das costas sobrecarregadas de bolsas com capas de chuva ou sapatos plastificados, com suas prevenções e situações precavidas. Quando a água cair, vou dançar debaixo dela e, assim, deixando o cabelo grudar no rosto enquanto, de braços abertos, rodopio livremente, finalmente irei mergulhar em seu fluxo inadiável e matar minha ávida e postergada sede de VIVER!!!

Fonte imagem: agentepodiasevernoar.blogspot.com

Por que vivemos um relacionamento?

Boa tarde a todos! Mais um Ensaio… de todos, achei este o mais ponderado.

Mas os anteriores trazem fundamentações que neste eu cito superficialmente, embora de forma suficiente para compreender a mensagem. 

Sugiro “Quem somos nós?” para compreender melhor a respeito da evolução emocional, dentre outros, e “Breve Ensaio sobre o Amor” e “O Conto de Fadas é a Realidade” (no meu antigo blog, acesso ao lado) para aprofundar o modo equivocado como vemos o amor no mundo.

Boa leitura!

Por que vivemos um relacionamento?

Vou iniciar com uma frase que concluí, baseada em ensinamentos espiritualistas diversos: vivemos num mundo de poucos efeitos e muitas causas.

 Na última quinta-feira, 08/03, eu estava no banho, momento propício para inspirações, e fiz uma analogia que aplicarei para este assunto específico. Estudos comprovam que ao dirigir um automóvel, até atingirmos a marca de 60km/h, temos total controle do veículo. De nossa parte, basta atenção e reflexo para evitarmos um acidente. Acima desta velocidade, há leis físicas “maiores” que nós, que interferem no contexto. Não importa o nosso desempenho exemplar, há outros fatores que influenciam em nosso controle sobre o veículo. Ficamos limitados e sujeitos a essas leis. Embora, claro, frear ou desviar de um obstáculo continue sendo essencial.

 Não é qualquer um que está habilitado a dirigir um carro (ou qualquer outro veículo). Para isso, é preciso ter conhecimentos específicos e conseguir a permissão.

 Neste vasto e desconhecido universo que é a emoção humana, fico me perguntando até que ponto sabemos diferenciar o que é ser egoísta e relapso, e o que é não saber reconhecer que a partir de determinado ponto não podemos mais seguir sem sofrer influências de leis maiores e esbarramos em nossas limitações de ação; até que ponto somos negligentes, como se tudo dependesse única e exclusivamente de nós, e onde está a tênue barreira desta negligência e de nossa impotência.

 Hoje as luzes da Psicologia e da importância de um contato com o Espírito nos obrigam a olhar para dentro de nós e admitirmos que sofrimento não é apenas o que acontece fora, de forma puramente material: tsunamis, guerras, perda de dinheiro, doenças, ações violentas etc. Sem querer de forma alguma desmerecer essas dores, o intuito aqui não é eleger o melhor grupo, “vender meu peixe”, mas apenas ampliar a lista deste mesmo grupo. Equilibrar a balança, divagar a respeito de outros sofrimentos de igual quilate, mas ainda não tão reconhecidos pela massa: os emocionais.

 Vale lembrar que sofrimento não é punição. É mecanismo de aprendizado da alma. Quanto antes mudarmos a visão, melhor. Mas isso leva tempo e, ainda que mudemos, não significa que, quando o sofrimento nos acometa, não doa. Não confundamos os conceitos.

 Nesta nova fase da evolução da Humanidade, na qual o ser humano é levado em conta, na qual descobre-se a importância do autoamor para podermos ser equilibrados e amarmos o outro de fato, é notável a importância que há do relacionamento do Ser para consigo. Dizem que um homem iluminado ilumina o mundo.

Quem eu sou? Do que gosto? O que me realiza? O que gosto em mim? Qual meu talento? O que gosto de fazer para me sentir útil na sociedade? O que gosto de fazer para me divertir, para relaxar? A felicidade não está no que muda com o tempo ou com as culturas, embora muitas vezes, se usados na medida certa, sirva como apoio para permitir a materialização na Terra do que seja o Espírito. A felicidade está no que é natural a nós. Toda alma é feliz amando. Toda alma é feliz estudando. Trabalhando. Descobrindo (dentro, fora). Observando a natureza. Ou buscando a cultura nos centros urbanos. Buscando o bem-estar físico. Estando rodeada de pessoas afins, com quem possa experimentar a empatia. Há os que “dormem” e aparentam não gostar disso. Gostam, sim, apenas não sabem. São fúteis ou até mesmo cometem atrocidades porque lhes falta amor. Ponto. Daí, nascem todas as particularidades de um tempo, uma cultura: ter o mínimo de riquezas para poder nutrir-se, vestir-se, poder deslocar-se com o maior conforto possível para exercer suas atividades etc. A felicidade não está no dinheiro em si, nos hábitos coletivos vigentes, numa casa, num local. Nem nas pessoas. Porque tudo isso passa. Mas a total ausência desses meios para a alma experimentar e viver ainda causa transtornos. Devemos evitar os excessos, as escravizações de costumes, modismos, dinheiro, sexo, posses, entretenimento. Mas negá-los é negar a própria alma, que precisa do mínimo do mundo para viver, que precisa do meio material para sutilizar sentimentos, que precisa de lazer, que precisa de convívio social, que pode muito bem gostar de um item em voga e querer fazer parte deste contexto etc. O problema está nos excessos e em negar a si mesmo para acompanhar a massa, não em toda e qualquer coisa material ou em qualquer costume coletivo. Deve-se usar esta estrutura carnal para saber o que serve a cada um, e o que não serve. Nunca negar ou destruir. Apenas escolher, selecionar. À medida que cada um se conheça e se melhore, o costume coletivo também melhora. Foi assim desde o princípio dos tempos e continuará sendo.

Quer aceitemos ou não, o que vem da alma leva tempo para ser consolidado, construído. Mas fica. E o que não é natural, real, se desfaz. Quanto mais cedo acordarmos para esta realidade, melhor.

Saindo desta viagem sobre o “eu” e seguindo ainda este raciocínio da relação micro/macro (eu/mundo), se a família é a célula da sociedade, logo, o casal que forma esta família é o núcleo chave para o êxito da mesma. Os filhos são uma dádiva indescritível e realmente elevam ainda mais a vida do casal, mas não são o fator principal. São a conseqüência desta união. Nunca, jamais, a causa de ela existir. Salvos casos em que aconteceu um imprevisto e os envolvidos, de comum acordo, aceitam o desafio e aprofundam a união, ou quando, por exemplo, não se sabia desta realidade quando se contraiu o compromisso, os filhos já estão aqui e agora não é possível, por “n” fatores, desfazer o enlace – já chegaremos nesta parte. Embora haja os casos em que seja. Não há regras absolutas, apenas conhecimentos absolutos que, misturados, formam a regra relativa a cada caso. O que importa é a saúde emocional final dos envolvidos, o conteúdo, não as formas da situação. Adultos conflituosos, infelizes, que habitem um teto comum para “proteger” os filhos e sejam, aos nossos olhos, uma família, talvez gerem muito mais insegurança e desequilíbrio neles, do que se materializassem a verdade, soubessem viver bem nessa nova realidade, superassem a inevitável dor da mudança e passassem segurança e novas esperanças aos filhos, mesmo num formato não originalmente recomendado. Mas saber isso cabe somente a eles, de fora não é possível analisar.

Além disso – digressão feita e retornando ao raciocínio micro/macro – se ser um Ser integral, harmônico, é fundamental para o todo, ter um relacionamento tão íntimo e considerado espelho do Ser, dentre todos os outros tipos de relações que temos (pais e filhos, irmãos, amigos, vizinhos, chefes e subordinados etc.), como o conjugal, precisa ser melhor avaliado para evitar o colapso do indivíduo e da sociedade. É preciso sim conviver com a diversidade, e ela é comum em nosso planeta. Mas que ela seja relegada a relações involuntárias. Já é desafio suficiente. Amigos e cônjuges nós escolhemos. Suportemos o que não podemos mudar. Assim como antes o homem vivia em cavernas e hoje ele, pela evolução, pelo conhecimento, consegue construir arranha-céus e ter conforto, melhorando consideravelmente sua condição, se antes não se conhecia nada a respeito da alma, hoje este quadro está mudando e nós podemos – devemos! – fazer uso desses conhecimentos para melhorar nossa qualidade de vida, também na esfera sutil interior. Como fazer isso?

Antes da autoanálise, vale lembrar de um fator: assim como nem todos estão habilitados a conduzir um automóvel, nem todo ser humano está, neste exato momento, habilitado a ter um relacionamento. Há, ainda, muito embrutecidos no modo de tratar o outro ou nas emoções, além dos infiéis convictos. Eles precisam sofrer um pouco mais a solidão para conseguir dar valor a um outro ser humano. Entretanto, todos, absolutamente todos, tem esta capacidade para ser desenvolvida. Cada um tem seu tempo. O que é diferente daqueles que ainda têm hábitos nocivos à alma como os citados mas estavam intimamente prontos à mudança e ao terem contato com o amor em sua vida, conseguem modificar-se. Precisavam apenas de uma chance.

O problema é que, diferentemente da obtenção da permissão para dirigir, não há autoescola para ensinar como se relacionar ou delegados e provas para selecionar e avaliar quem pode ou não namorar. O juiz, neste caso, é nossa percepção prévia e/ou análise de experiências vividas para evitar contrair o mesmo tipo de compromisso danoso; é a própria consciência. Cabe a nós sabermos escolher ou entendermos que, por vezes, não será egoísmo sair de uma união, mas simples regulamentação de uma lei natural: a saúde emocional do indivíduo. Quem já sabe amar ou busca saber não pode ser “sugado” ou “estacionado” pelo atraso voluntário do outro; quem não sabe, sofre a perda e a solidão para aprender a valorizar e um dia também atingir o estado saudável. Mas cuidado para não usar o outro como desculpa, chamá-lo precipitadamente de “inapto”, para enaltecer o seu egoísmo. Entretanto, não deixe de se amar e tenha dó ou permita que o/a mantenham preso/a, fazendo chantagens emocionais, ou lhe maltratem por meio de violência – e eu não me refiro apenas a golpes físicos, mas, principalmente, por não ser ainda levada em conta como deveria, à violência emocional. Igualmente deformadora do ser.

 Como construir uma família sem amor? Por relacionamentos que se iniciam por carências, falta de autoconhecimento, status, dinheiro, comodidade, possesividade e até mesmo algo bom, mas aplicado na hora errada, e assim, deturpado, como uma simples amizade, um carinho de irmão?

Claro, muitas vezes, o amor nasce no amigo, ou é um detalhe que nos chama atenção no ser amado, como um desempenho na aula da faculdade, um rosto bonito, um gesto sincero ou um cargo admirável. Mas, depois de passado este estágio inicial de aproximação, atração, algo mais. Eu me refiro a quem se atrai apenas por valores superficiais, que está mais interessado no que a pessoa tem ou no que pode oferecer ao seu próprio ego, que no que ela é.

Será que buscamos ter um namorado/a ao lado por termos algo a oferecer de bom a alguém e, após termos encontrado uma pessoa que tenha despertado esta vontade em nós e a história tenha acontecido, de variadas formas possíveis, iniciamos um relacionamento? Ou porque falta algo em nós e vamos rápida e facilmente tentar encontrar no outro?

 Se for para fazer parte de uma empresa tomamos o cuidado de avaliar, selecionar e não aceitar todo e qualquer candidato trazendo currículo, usando roupa social e sorriso no rosto, que se oferece para a vaga disponível, rejeitando, muitas vezes, não apenas incapazes, mas também excelentes profissionais, pelo simples fato de não se adequarem ao perfil da empresa. Por que aceitamos nos relacionar com qualquer um que nos ofereça intenções de relacionamento, ou, mesmo fazendo uma seleção, na ânsia de nos sentirmos amados e acompanhados, nos contentamos com qualquer pessoa boa, sem aprofundar a análise e ter a precaução de avaliar se ela é boa para nós?

Quem somos nós? Quem sou eu? Eu sou ou estou carente? Então, tenho que me precaver aos elogios que recebo, ou às demonstrações de carinho, pois posso muitas vezes criar um sentimento artificial por estar frágil e criar projeções. O que é diferente de estar carente e ter encontrado uma pessoa que realmente mexa comigo, apesar do estado fragilizado no qual me encontro hoje, e o que é diferente de eu estar bem e simplesmente gostar de receber elogios ou ser tratada de forma saudável por ter uma boa autoestima.

Quem eu sou? Eu sou possessivo/a? Eu já investi na relação por isso tenho direito sobre o outro e ele é meu? É por isso que não termino o relacionamento tóxico, regado a cobranças, desequilíbrio e ciúme, no qual me encontro agora? Mas, alto lá: um ciumento muitas vezes pode ter reais afinidades com o parceiro, estar apenas num estado de alma debilitado e conseguir, através desta união saudável, banhada em amor e paciência do cônjuge, ter a segurança necessária para melhorar seu estado íntimo! Cada caso é um caso!

Quem eu sou? Sou Apegado/a? Já formulei a referência de parceiro/a dentro de mim e não mudo, não adianta! Mesmo que eu não esteja mais feliz, mas, pelo menos, já sei quem é a pessoa e penso saber quem eu sou ao ter esta referência e estar sempre com ele/a. O que não tem nada a ver com eu estar lutando pela monogamia, pela fidelidade, resistindo à tentações, à relacionamentos efêmeros por escolher algo mais profundo e saudável.

 Quem eu sou? Acomodado/a? Tenho medo do novo? Medo de arriscar? Estou com ele hoje porque já estava ontem. “Não está bom, mas poderia ser pior. Melhor deixar como está”. Mas…e se fosse melhor? O que não tem nada a ver com eu saber valorizar o que eu tenho e até encontrar alguém bem bacana, mas dar preferência ao relacionamento igualmente bacana que eu já vivo.

Quem eu sou? Maria chuteira, gasolina, namorada do profissional tal, José Peitão, Luiz Pandeiro, João Corpão, marido da poderosa workaholic ou qualquer outro motivo de troféu? E quando, sozinhos, não há quem veja a chatice dela ou a indiferença dele, como fica meu ego? Não nos relacionamos para os outros, mas para nós mesmos. O troféu pode ficar bem pesado de carregar e desbotar o dourado falso rapidinho… O que não tem nada a ver com eu sentir orgulho da pessoa que está ao meu lado. Isso é saudável!

Os opostos se atraem? Até onde eu sei, atraem-se para fóruns, hospitais, necrotérios e delegacias. Dentro de uma casa, quanto mais harmonia, melhor.

Eu preciso de alguém? Quero, como um desejo enlouquecedor, que precisa ser satisfeito agora? Excelente momento para ficar sozinho/a! Opção a – tratar gente como produto de mercado. Faz uma lista do que me atrai, ir à caça, dar “ok” nos itens encontrados e conseguir o que pretendo. Mas produtos têm prazo de validade, principalmente os perecíveis… Querer por já ter desenvolvido princípios de virtudes dentro de si, ter encontrado uma paz e uma calma tamanha que passa-se a precisar, não mais, porém, para puxar para si, mas por parecer egoísmo não compartilhar, e alguém gera esta vontade de doar? Opção b – tratar gente como ação e reação, sentimento, lei da Vida. Querer viver. Fazer o melhor que puder dentro de si e seguir em frente, até que naturalmente aconteça. Claro, para alcançar isso, é preciso observar, também experimentar e agir. Mas sem a obsessão da opção anterior.

Nada contra, por características gerais de personalidade de cada um, ser mais ansioso e acelerar o processo como um produto de mercado e encontrar alguém com uma afinidade sincera, ou ser mais pacato e esperar oportunidades e acabar se relacionando com quem não se quer realmente. Não há regras absolutas, estou falando de condutas voltadas à área afetiva, intenções equivocadas neste campo. Não me canso de dizer: cada caso é um caso.

Mudemos a sintonia, mudemos a energia pela qual atraímos as coisas em nossas vidas. Em vez de um relacionamento-recebimento, que fatalmente cansa, por que não agir diferente e experimentar um relacionamento-doação, que está de acordo com a lei da Vida e tem muito mais chance de dar certo?

Ops, já tenho alguém! E agora? Depende! Outra vez, autoconhecimento! Por que a relação começou? Pelos motivos errados? Calma, ainda não está perdido! Mesmo assim, pense: não há nenhuma chance de êxito, não foi descoberto ao longo do tempo que surpreendentemente havia algo a mais ali e é possível investir? Sim! Que ótimo! Não? “Não” por quê? Realmente não há oportunidade de fazer brotar um sentimento bom, ou porque é mais fácil pensar em “tudo novo de novo” e fazer menos esforço?

Construir um relacionamento sempre vai ser mais difícil que não construir nada e ficar apenas com a diversão e o efêmero. Reformar um relacionamento abalado, então, o dobro de dificuldade. Parece mais fácil começar outro – tem os atrativos do começo. Ainda que se descubra coisas novas sobre as causas reais de uma relação, decide-se encerrar o ciclo por pura conscientização, ou por preguiça?

Antes de prosseguir, vale ressaltar também que tudo evolui e precisa ser trabalhado e construído, inclusive o amor. Há vários relacionamentos “posse”, “troféu”, “acomodação” que funcionam. Seja porque os dois envolvidos ainda pensam e sentem assim, e é o máximo que podem dar a uma relação, mas vivem o lado bom de ter uma companhia e até crescem. Não se incomodam com formas mais “elaboradas” de amar. Não deixa de ser um amor em crescimento, pois há um elo sincero, só a forma que ainda é deficitária.

E há até mesmo os relacionamentos “amizade” que são muito bonitos, onde os dois pensam e sentem da mesma forma e também conseguem crescer juntos. Há, ainda, os casos em que as pessoas envolvidas, mesmo que pensem ou sintam de modo diferente dos parceiros, são almas que tem como prioridade na existência outros tipos de lutas, então, se forem bem sucedidos num relacionamento pai/mãe e filho, ou coletivo etc., ou na carreira, têm equilíbrio suficiente para viver um relacionamento ameno ou mesmo deficiente na área afetiva conjugal. Cada caso é um caso! Mas são situações diversas. O modelo psicológico geral e final é ser saudável também nesta área. Há, portanto, aqueles que já se incomodam, mas ficam presos nessas formas intermediárias de amar. Não houve insistência de uma das partes para forçar a união ou o iludir o outro, o que gera um compromisso emocional, fazendo com quem tenha tido a iniciativa contraia uma responsabilidade maior no relacionamento e precise desfazer o elo antes de querer desistir. Refiro-me a quando o relacionamento foi iniciado de comum acordo, duas pessoas experimentando, mas não deu certo; o enlace naturalmente acabou, porém, um dos dois ou ambos não enxergam isso. A eles há a esperança para afirmar que existe algo além desta penosa realidade, e o chamativo para que, se sofrem, cabe a eles mudarem seu estado atual.

Portanto, se nos encontramos neste último caso e foi feito todo o esforço possível para salvar a relação, mas a conclusão ainda é o fim, vamos nos livrar da culpa.

Indivíduos em momentos de crise e que, unilateralmente ou num mesmo tempo, conturbem um relacionamento, não podem ser termômetros do que realmente é um casal. Desta forma, muito mais fácil é considerar um terceiro Ser mais equilibrado, divertido ou interessante, ou um relacionamento de outros casais mais saudável. Mas quando os dois indivíduos do casal estão em seu estado normal e ainda assim há desavenças, pensar em terminar não é egoísmo, não é fugir da luta: é incompatibilidade!!! E não há relacionamento real sem afinidade. Afinidade deve ser a causa de uma união. Quantos casais vemos juntos? Muitos! Aos nossos olhos, todos parecem iguais. O mesmo efeito. Porém, tantas, mas tantas causas… É essas causas equivocadas que devemos, ao longo do tempo de cada um (pois cada um tem o seu e está num momento evolutivo), extinguir.

E quando eu digo que “ainda assim há desavenças”, não afirmo que o casal afim não tenha desentendimentos, que viva como num romance e sejam sempre sorridentes, gentis e perfumados um com o outro. É exatamente aí o ponto: assim como o carro, há coisas que dependem de nós num relacionamento, mas passada determinada etapa, somos ainda condicionados a outras leis, maiores que nós, e que interferem em nosso desempenho. Somos limitados!

Ao ler uma coluna de relacionamentos, uma mulher que traiu deu o depoimento a respeito do noivo com quem já não tinha mais diálogo:Eu não gostava mais dele e já não tinha mais nem paciência para as coisas que ele me dizia. Ao mesmo tempo, não conseguia terminar. Ainda gostava dele como pessoa e não queria ser aquela que o machucou e que o deixou triste.” (fonte: http://br.mulher.yahoo.com/mulheres-contam-tudo-sobre-suas-trai%C3%A7%C3%B5es.html).

Ela tem consciência de que não gostava mais dele. Ou seja: que a causa real para uma união não existe! Eu não deveria dizer mais nada, mas ainda assim farei as reflexões. A razão de um relacionamento afetivo já foi puramente sexual em tempos mais primitivos, já foi por interesses políticos ou financeiros e, nos últimos tempos, pelo menos para os ocidentais, há a liberdade e chega-se cada vez mais perto da causa natural, real, aquela que faz feliz a alma: o amor.

Mas ainda não sabemos direito como identificar o amor, na prática, ou não nos conhecemos direito e confundimos os valores dentro de nós. Por isso é importante o autoconhecimento para suprirmos nossas próprias lacunas e deixarmos para o relacionamento a dois a parte saudável, de afeto sincero, afinidade, e ter maiores chances de êxito num relacionamento. Alimentar nossa alma com escolhas felizes para sermos capazes de suportar o que ainda não conseguimos mudar… Se for postergar o término, mas não ter condições de suportar e trair, é bem mais honesto terminar…

Compadeço-me do “…não conseguia terminar. Ainda gostava dele como pessoa”. Eu também já me confundi com isso, e se hoje falo de forma incisiva não é pela crítica a terceiros, mas por querer compartilhar o que aprendi. Isso é um princípio de altruísmo, pensar no sofrimento do outro mesmo quando não se quer mais prosseguir. E não querer machucar o outro é também louvável, é sinal de alma mais sensível. Mas, ainda assim, é um erro. Ainda não temos capacidade de abrir mão de nós 100% para o outro sofrer 0%… O que também é uma ilusão, pois se não temos esta capacidade de amor incondicional absoluta, não haverá amor a ser dado, o outro vai esperar e não vai receber; o que ele ofertar não mais servirá e nenhum dos dois será feliz. Num relacionamento cuja natureza seja a doação mútua, e não pura, como na maternidade, na caridade, só ceder não é saudável. Talvez mais amoroso para ambos seja libertar o outro, para que ao menos haja chance de um recomeço, e mais honesto consigo mesmo, reflexo de autoamor, seja admitir que não se consegue ir além; evitar querer abraçar o mundo e terminar sufocado.

O último século é conhecido pelo avanço tecnológico. Somente agora o Homem tem um mergulho mais profundo em direção à sua razão, à sua intelectualidade. É um caminho sem volta. Mas o ser não é composto somente da razão. É, além disso, emoção. Já estamos iniciando também o avanço no sentido emocional. Entretanto, por sermos novatos nesta área, quantas e quantas coisas relacionadas a este aspecto de nós ainda desconhecemos?

Tentando acertar, tentando aprender com erros passados, seja de nossa própria existência, seja pelos exemplos daqueles que vieram antes de nós, aqueles que já se importam um pouco mais com a alma, que não vivem cem por cento em torno de valores puramente materiais, fazendo o melhor que pode para aplacar seu orgulho, seu egoísmo – ainda tão evidente em nossa sociedade e em cada um de nós – exageram a dose e acabam se reprimindo. Negando-se. Mesmo que de forma inconsciente, envergonhados da má conduta antiga, tentamos um caminho novo, mais altruísta, mais bondoso – mas que tem seu tempo natural a ser percorrido. Para fugir dessa realidade obscura, de erros, tentamos acelerar o processo e negamos para nós mesmos quem ainda somos, querendo sufocar nossos atrasos, tentando substituí-los à força pela (falsa, porque não foi construída) virtude análoga, em vez de dialogar com eles, aceitá-los e trabalhá-los.

Se eu digo que “ainda há desavenças” entre um casal é porque se comparados a seres perfeitos que podemos ser, que são apenas amor, bondade, justiça, mesmo entre os melhores seres humanos vivos, ainda há orgulho, egoísmo, vaidade, em infinitos graus. Mas há. Então, conviver, ceder, aceitar é difícil para todos, mesmo que quase nada para uns e até mesmo impossível para outros. Por isso, a dificuldade já está na estrutura do relacionamento em si. Se buscarmos voluntariamente este desafio em alguém que não é compatível conosco, estaremos nos martirizando.

Se já pudéssemos fazer isso, talvez dizer para não executar este sacrifício fosse estimular o egoísmo. Mas em nosso grau evolutivo, isso não é pensar no outro, é anular a si mesmo, usando como máscara uma virtude: o altruísmo puro, que nós ainda não temos, principalmente numa relação tão íntima como a conjugal. Ceder a vez no mercado vai custar vinte minutos a mais num sábado em que estamos de folga. Até mesmo na correria de um dia de semana, se quisermos nos esforçar ainda mais. Já podemos fazer. Engolir um sapo do cunhado num almoço de domingo é difícil, mas para autossuperação e por respeito aos outros familiares, buscando elevar o ambiente e evitar brigas, é possível fazer. Suportar a novela chata daquela mulher incrível que às vezes gosta de bobagem, mas com quem você conversa até no olhar, incomoda, mas é possível. Ter que largar o final do filme para buscar seu filho na festinha do amiguinho e ver que ele aprendeu um truque de mágica atrapalha, mas vale a pena. Cuidar da mãe com gripe em vez de matar a saudades do marido na esperada tarde de domingo gera dúvida, até, mas dá para conciliar.

Contudo, ceder deliberadamente a felicidade afetiva é, na maioria das vezes, violentar a alma. Não é normal! Existe algo além! Micro/macro outra vez: se é sabido que não damos aquilo que não temos e precisamos, portanto, aprender a amar a nós mesmos para podermos então, ofertar amor ao outro, como podemos pensar em amor a toda humanidade se não conseguirmos amar plenamente nem um único ser humano? Ah, amamos os filhos, pode-se dizer. Mas se precisamos exercitar todas as formas de amor para conhecermos o Amor puro, como queremos pular etapas, suprimir o conjugal e pensar apenas no fraterno, no paternal, no coletivo? Será um Amor Pleno incompleto! E isso não é amor pleno! Claro, tudo a seu tempo, nem todos os amores serão exercitados de uma vez.

Mas e se já chegar a hora e nós negarmos o amor por parecer bom demais para ser verdade? Será que um amor sincero é mesmo coisa de hollywood, ou, retirado seus simbolismos e exageros, não acontece porque não sintonizamos algo tão bom por esta baixa autoestima ainda inerente ao nosso grau evolutivo coletivo, se comparada com o que podemos ainda desenvolver e descobrir dentro de nós, e, mesmo que inconscientemente, ainda escolhamos relacionamentos ruins?

Claro que todas essas reflexões giram em tornos e dois adultos livres e desimpedidos, comprometidos apenas um com o outro. Quando há outros fatores, como filhos, dinheiro, doença, incapacidade interna/psicológica da pessoa e lidar com um rompimento; estado frágil no momento; o quanto quem quer romper forçou a relação ou iludiu o parceiro, tendo, portanto, responsabilidades e quer sair de repente, sem desfazer naturalmente o elo etc., ou outras variáveis, não é só o lado pessoal que deve ser levado em conta. Deve-se fazer todas essas reflexões e “reservar”, como fazemos em receitas culinárias. Depois faz-se a outra parte da receita, no caso, outras reflexões profundas a respeito de outros pormenores envolvidos na situação, pesa-se na balança e executa-se o lado que ganha.

É possível que o lado pessoal deva ser sacrificado por razões ainda mais nobres. E fazer isso pode parecer horrível, insuportável, mas é o correto. Vai valer a pena. Vai valer a paz na consciência. E não há liberdade ou novo relacionamento que se justifiquem sem paz. Sendo assim, que se tire o melhor proveito da situação. Que se busque outras fontes de realização. Que haja fé, resignação, pois tudo é passageiro e dias melhores virão.

Como sabemos que é muito mais fácil buscarmos o que dá menos trabalho, a orientação sempre deve ser em direção à elevação de virtudes do ser humano, em estimulá-lo ao esforço. Por isso, a tentativa de recomeço e reconstrução dentro do que já existe. Mas isso não pode mais ser sinônimo de crueldade e intolerância para com nosso estado evolutivo, visão pessimista da vida e de nós mesmos, anulação da felicidade e estímulo da castração. Exatamente por sermos esses seres ainda habituados ao menos trabalhoso, é preciso também tomar cuidado para não usar esta orientação válida de maneira geral para esconder uma necessidade de esforço para alguns casos específicos, e acabar escolhendo continuar onde se está pela repressão de sentimentos, negação da realidade e mesmo acomodação ou por não sentirmos o direito de ser felizes e ficarmos apenas com o dever. Muitas vezes, a lição é arriscar e recomeçar com uma possibilidade positiva do que aceitar uma certeza negativa.

Tendo real autoconhecimento, bom-senso e responsabilidade, a orientação sempre deve ser a busca da felicidade, que é o estado natural do Homem. Somos imaturos e precisamos domar más tendências? Sim! Mas também somos limitados e necessitados de várias condições para estimular as virtudes. Negar isso é enganar-se, ao achar que pelo simples fato de ter pisado no freio é possível evitar o acidente. Todavia, nosso veículo, na maioria dos casos em diferentes aspectos da vida, ainda está a 100km/h. Não temos total controle. Há limites para cedermos, há uma tênue barreira que separa a sublimação da autoanulação. Assim, se agimos já bem intencionados, mas interpretando erroneamente o velocímetro, como se estivéssemos a 50km/h, pelo visto, quando o carro bater, parece que o “choque” será duplo…”

Fonte da imagem: conversademenina.wordpress.com

Quem Somos Nós?

Boa noite! Há três semanas, muito angustiada, senti vontade de organizar minhas idéias e meus sentimentos num todo, me definir e admitir coisas a meu respeito. Saiu um peso de mim… Mas isso aconteceu de forma filosófica, portanto, é um texto recomendado a todos.

Encarem este texto não como um loooongo post, mas como um Ensaio, que deve ser lido com calma para tirar-se proveito das reflexões.

A previsão de leitura é de duas horas, aproximadamente (eu sempre revisei e escrevi ao ler). Para facilitar, separei o equivalente a aproximadamente uma página A4 em uma parte. Quem quiser prosseguir, lê mais uma e, assim, organiza sua leitura. Quem quiser ler uma parte diariamente, completará o Ensaio em trinta e um dias, leitura aproximada de três minutos.  

Feliz Natal!!! Que a boa convivência, a união, o carinho, o respeito, a benevolência e o amor sejam os personagens principais deste Natal para todos nós!

Abraços,

Camila

(Este conteúdo está protegido legalmente. Qualquer reprodução ou cópia sem prévia autorização da autora é crime)

QUEM SOMOS NÓS?

Costumava ler a coluna do jornal Folha de S. Paulo, escrita pelo físico Marcelo Gleiser, “Micro Macro”, que relaciona a vida do Homem com realidades do Universo. Lembro-me da minha aula de biologia, ao estudar células eucariontes, mais completas, como a humana, e fazer a relação: nossa pequena parte tem uma membrana celular, como temos a pele, a mitocôndria é como o nosso pulmão, o núcleo celular é como o cérebro e por aí vai. Recebi há alguns anos um e-mail mostrando a visão microscópica partindo de uma folha diminuída em um número dez elevado à décima potência, chegando ao mundo das micro partículas, além do átomo (que era a menor partícula na minha época de colégio. Eu sempre disse para minha irmã: assim como o Universo é infinito, o mundo microscópico também. Até que não estava errada, né?);  e a visão da mesma folha elevada à mesma potência, só que com um telescópio, em direção ao Universo, que passava das galáxias. Observando as fotos de ambos, para dentro e para fora, a visão era quase igual… Ou seja: os mecanismos de funcionamento da vida são os mesmos, há uma lógica em tudo, está tudo relacionado.

Usando de alguns macro conhecimentos obtidos na análise de várias “células” de um grupo – a Humanidade – e notando as semelhanças entre eles, chamados de Psicologia, eu consegui entrar no meu micro mundo. Fiz descobertas que, baseado no princípio de que está tudo relacionado, ao tirar minhas conclusões e exteriorizá-las, posso entender um pouco mais como o Ser Humano funciona. Por isso, talvez a revelação que farei de uma área específica da minha alma seja uma amostra de um mecanismo maior e sirva para ajudar outras pessoas a entenderem um pouco mais a si mesmas e ao Homem de forma geral. É desta troca constante que vem nossa evolução!

Há o ditado que “se não aprendermos pelo amor, vai pela dor”. Exporei minhas descobertas trilhando o caminho do amor em minha vida para falar do Ser Humano de forma geral… Embora, exatamente por sermos seres em evolução e não sabermos tudo, mesmo dentro desta escolha maior – o amor -, foi necessário também o advindo da dor para me fazer compreender o mundo. Mas sempre, sempre guiada pelo amor…

Não é minha intenção aprofundar a narrativa de fatos relacionados ao que irei revelar aqui – dizem respeito a minha vida particular, e continuarão assim! -, apenas lidar com suas conclusões e seus ensinamentos.

Analisando a História da Humanidade, conhecendo mecanismos específicos de vários aspectos da vida humana graças à Antropologia, Sociologia, Psicologia etc, além de refletir sobre tudo o que nos acontece, podemos perceber o progresso que houve nas sociedades e no indivíduo, sendo possível afirmar que vivemos num mundo cujo objetivo é nos fazer evoluir. O Homem já foi submetido à natureza, morava em cavernas, comunicava-se por grunhidos e vivia apenas para satisfazer as próprias necessidades fisiológicas; hoje constitui famílias, forma comunidades, grupos de trabalho, de estudos, interagindo com outros países e descobre a nanotecnologia ou vai à Lua, assistindo a reprise disso no sofá de casa, refrescado pelo ar-condicionado.

Apesar dos historiadores terem dado o nome de “Moderna” e “Contemporânea” aos últimos períodos da História da Humanidade, como que encerrando um ciclo (sei que foi necessário ser assim, pois foi nesta época que a Humanidade resolveu organizar seus registros, mas os historiadores do futuro chamarão seu presente do quê, de “Pós-Contemporânea”? E a geração seguinte?), precisamos entender que, por mais que nos pareça que o único tempo é o que vivemos agora, ao comprovarmos a existência de outros tempos passados que nos fizeram chegar até aqui, fatalmente existirão outros depois de nós.

PARTE 2

Então, todo o conhecimento que hoje vimos como muito – se comparado ao do passado – um dia também será pouco para povos futuros; portanto, se somos almas em evolução, com muito a aprender e, assim, conscientes de não ser detentores em plenitude de vários conhecimentos, podemos concluir que ainda não conhecemos em totalidade várias frentes de conhecimento, como nossas emoções; se por registros históricos ou por meios atuais de comunicação nos chega a informação de pessoas ou povos inteiros que vivem/viveram de forma ou com valores melhores que os nossos (seja a organização de uma civilização, seja a grandeza moral de um indivíduo, que foge à regra) o que valida a possibilidade de uma vida mais elevada, sem dependência extrema de coisas materiais ou mesmo com um melhor trato no âmbito social, podemos concluir, então, que a grande massa, hoje, ainda tem um conhecimento geral muito baixo, ainda se deixa guiar por valores muito superficiais – mas que é possível obter mais, crescer. 

Sendo assim, com tanto ainda a aprender, podemos dizer que somos uma civilização ainda mais próxima ao começo da caminhada, que do fim. Estando no princípio, somos como almas crianças, que ainda não conhecem muito as verdadeiras leis da Vida; vivem, ainda, num mundo paralelo, condizente com seu grau evolutivo. Como as crianças que brincam sem ter total conhecimento da vida, mas estão apenas cumprindo seu papel, agindo de acordo com o período em que vivem.

Somos, coletivamente, como uma criança que naturalmente volta-se para si por estar ainda neste estágio. Estamos descobrindo o mundo, a vida e, nesta fase, pensa-se ainda no “si”, não em todos. Precisamos “tocar” para entender, como a criança, num de seus primeiros contatos para conhecer o mundo.  Para isso, temos a tendência a formar nossos conceitos a partir de fatos mais concretos, mais sensíveis aos nossos sentidos corporais. Sendo assim, somos uma humanidade de valores ainda imediatos, que chocam os sentidos. Por sermos “novos”, temos um conhecimento mais raso da realidade da Vida. Mas, assim como a criança, queremos crescer, e o fazemos a todo instante.

Por ter este conhecimento raso, temos conclusões rasas: baseadas em extremos, ausência de complexidade, maniqueísmo. Seja por pura ignorância, seja para não ter trabalho, de preferência formaremos conceitos de modelos prontos, que estão ali para servirem de ponto de partida, não de chegada. Assim, é muito mais fácil termos uma opinião formada baseada em modelos pré-estabelecidos (casar é bom; separar é ruim/ trabalhar na empresa tal é bom; pedir demissão da empresa tal é ruim/ aceitar ofensa é ser humilde, portanto, é bom/ retrucar a ofensa é ser raivoso ou revoltado, portanto, é ruim/ anular sua vida para oferecer ajuda é bom, é altruísta/ pensar em si é ruim etc.) que, sabendo dos conceitos básicos, contextualizar cada indivíduo, o tempo em que vivem, os costumes e, principalmente, o que motiva cada ser para agir ou não em determinada direção. 

Um dia eu estava caminhando no meu bairro e vi um caminhão de lixo bloqueando a passagem. O carro que vinha ficou parado, esperando. Eu saí dali e ele continuou. O fato: “acontecer um obstáculo em seu caminho” pode ser uma lição de resignação, paciência. Mas, neste caso, poderia ser também autoamor, ter iniciativa: o caminhão fedia. Não havia carro algum o prendendo entre o caminhão e a via. Será que ele ficou lá parado, de repente, até atrasado para algum compromisso, porque ele é resignado e paciente, ou porque tinha opções de mudar, de superar o obstáculo – dar ré, o que em um ou dois metros o levaria a uma outra rua, nem seria uma manobra muito arriscada. Portanto, não seria irresponsabilidade, mas sim utilizar-se de oportunidades à mão, mesmo que, em tese, estivessem fora da regra (dar a ré), para sair de uma situação desagradável e desnecessária. Se ele fosse o primeiro de vários carros parados num mega congestionamento, estivesse preso e quisesse ser o único “esperto” a não ser prejudicado, indo até pela contramão para sair dali, não aceitando o contexto, aí sim, talvez ele não fosse paciente ou resignado. Mas se havia outras saídas, para que sofrer? Nós, porém, ainda gostaríamos de ter a cartilha pronta: quando o caminhão bloquear a passagem, esperar? Sim ou não.

Eu sempre digo que não há desculpas para impedirmos a busca pelas nossas verdades: não tem religião? Ótimo! Einstein disse uma frase que resume a ópera: “tudo é relativo”.

PARTE 3

E vale ressaltar algo: não estou menosprezando nossa Humanidade, muito pelo contrário. Funciona no coletivo como no indivíduo: reconhecer quem realmente somos é o primeiro passo para conseguir evoluir. Tornando o problema consciente é possível lidar com ele. Passa a ser possível também enxergar as potencialidades e não apenas isso, mas, deixando de agir com comportamentos equivocados advindos desta ilusão a nosso respeito e do conflito resultando disso, sobra-se energia e tempo para exercitar estas potencialidades.

Num nível muito sutil dentro de nossas almas, nós, humanos, precisamos formar conceitos, racionalizar. Não conseguimos caminhar simplesmente por caminhar, precisamos saber no que isso vai dar e, assim, para saber que estamos no controle, tentamos entender tudo e formar nossas verdades. Verdades estas que são relativas e, com o tempo, são substituídas. Mas a maioria das pessoas leva tudo ao pé da letra e nunca “relativiza” as coisas. Se somos almas ainda em processo evolutivo, não existem verdade absolutas: elas mudam de acordo com o tempo, com as pessoas envolvidas e com o espaço, quando se atinge um novo patamar de entendimento.  Mas temos dificuldades de aceitar o novo e desapegar do que funcionou por um tempo, então, insistimos que nossa verdade é absoluta. Que nos digam os múltiplos “donos da verdade” ainda existentes!

Já temos bons resultados em conhecimentos lógicos e racionais, embora isso não seja ainda nem o começo de tudo o que se há para ser descoberto. A cada dia, não descobrem uma nova espécie animal ou vegetal neste planeta que já consideramos “ocupado”? E a tecnologia, com que velocidade avança? Há lugares onde o homem ainda nem conseguiu chegar – mas um dia irá, assim como antes o mar era um empecilho e hoje fazemos submarinos.

Nosso campo emocional é tão ou mais “escuro” que o fundo do mar… Mas para aqueles que já despertaram a consciência sobre esta importante parte de nós, é necessário formar conceitos para saber “onde estamos pisando”. E esta insegurança para lidar com o desconhecido nos assusta… Agimos emocionalmente com o mesmo maniqueísmo e a mesma “cartilha pronta” de todo o resto: precisamos partir de alguns princípios para saber como agir. Só que aplicar um conceito bom numa situação trocada faz mal, em vez de bem…

Um exemplo: faltar com um compromisso pessoal, que é importante para o equilíbrio do ser (pode ser um namoro, um trabalho, um lazer) para satisfazer uma pessoa que seja “folgada” e esteja acomodada ao pedir um sacrifício de algum “bonzinho”. Na forma pode parecer “bom”, segundo a lista pronta: em tese, na aparência, é um ser ajudando outro! Mas esta ação, no conteúdo, está estimulando o “folgado” a manter um comportamento vicioso, dependente, e a desequilibrar o ser que não consegue negar “ajuda” e que está, então, se anulando. O resultado desta ação aparentemente boa é um mal. Cada caso (sempre!) é um caso. Mas analisar um a um dá muito trabalho…

PARTE 4

Entra século, sai século; nasce civilização, morre civilização, não importa a forma pela qual extravasem seus conhecimentos e formem uma cultura: o convívio coletivo, os dramas pessoais, a importância do amor, sempre fez parte da vida de todo ser humano (quem não o vive, descobre-se, traz algum distúrbio por sua ausência). O amor em todas as suas formas… Precisamos exercitar várias delas para chegarmos a uma forma única e universal. Como na escola tópicos de um mesmo assunto são separados didaticamente para, ao entendermos cada pedacinho, bem devagar e consolidado o conceito, possamos depois juntar um ao outro e entender o conceito geral.  É assim que a vida nos ensina!

Deste modo, viveremos vários tipos de amor (conjugal, filial, paternal, maternal, familiar, fraternal, amigável etc.) para esgotar suas possibilidades, conhecê-los a fundo e transformarmos estes amores em apenas um, amando a tudo e a todos, incondicionalmente, um dia.  Para isso, precisamos não apenas conviver com o outro: mas aprender a conviver conosco mesmos. Entendermos quem somos, estimularmos nossas potências, enquanto reconhecemos e corrigimos nossas imperfeições e, devido à autorrealização resultante dessas potencialidades desenvolvidas e imperfeições corrigidas, vamos sentindo mais amor por nós. Assim, passamos a amar aos outros com mais facilidade, cada vez mais sem condições, simplesmente pelo fato de sentir, aceitando-os como são. Isso leva tempo, mas só acontece se um dia decidirmos iniciar esta jornada.

Cada um de nós está em um ponto dela, ou a uma distância de iniciá-la. Por isso, cada um tem uma história, uma tendência, uma necessidade. E é também por isso que não devemos julgar ninguém, porque além de dar muito trabalho ser um Ser e realmente não dar tempo ou ter-se energia para interessar-se pela vida do outro sem motivo útil – tentar ajudar não está nesta categoria, refiro-me à simples curiosidade, às vezes pura inveja ou maldade, ou ao fato de olhar para o outro como desculpa para não olhar para si –, não temos como avaliar com justiça o que o outro sente.

De todos os amores que conhecemos (filial, maternal, fraterno, etc.), o mais diretamente relacionado ao Ser, à sua identidade, o que mais funciona como nosso “espelho”, é o conjugal. É ainda um relacionamento que tem muito a ser desenvolvido, e deverá ser muito vivido para que possamos ir de fato, de forma coletiva, para amores maiores. Negar a importância dele e estimular outros é enganar-se. Claro, há tempo para tudo e não fazemos um de uma só vez, há momentos em que se vive mais o pai/mãe, outros que se privilegia filhos, o amor fraterno (causas humanitárias) etc. Nunca cada um é exclusivo: em uma vida, vivemos um pouco de cada.

O amor conjugal é um meio de nos enxergarmos no outro. Já que nossa emoção ainda é tão confusa, existe este tipo de relacionamento para entendermos um pouco mais de nós pelo que acontece fora, mas, ao mesmo tempo, de uma forma íntima. Porém, muitas pessoas não entendem este mecanismo e passam a depender emocionalmente do ser amado, fundindo-se nele, perdendo sua identidade – e distorcendo a causa de existir a relação!

PARTE 5

 Não conhecemos a nós mesmos, não alimentamos o amor principal – o pessoal, por nós, individual. Devido a nossos conhecimentos emocionais grosseiros, quando já bem-intencionados, confundimos este amor com egoísmo e o abafamos. Mas precisamos dele. Tornamo-nos, portanto, carentes. Por sermos essas almas ainda crianças, sem muito conhecimento de nossas emoções, com tendências infantis e precisando deste amor que nos falta, esperamos do outro – o parceiro, cônjuge. Doar-se parece, então, impossível. Queremos receber, tornando-nos egoístas. Esta, porém, não é a natureza real desta ligação, e gera-se um conflito.

Aí alguns até entendem isso e querem melhorar, sendo um pouco mais amáveis, importando-se mais com o outro, mas mesmo com a melhor intenção no coração, falta sabedoria e escolhem mal a companhia. Com consciência ou não desta má escolha, por melhor intenção que se tenha, chega um momento que a limitação comum de nosso estágio de almas crianças nos impede de ceder mais, tornando-nos infelizes por não sermos realizados em nossas escolhas. Queremos fazer “caridade” numa área que ainda deve ser via de mão dupla, pura troca, exatamente para podermos nos realizar, viver o amor em abundância e espalhar este sentimento aos outros, em amores que têm esta natureza de doação pura, como a maternidade/paternidade, causas humanitárias etc. Assim, um tipo de amor que poderia ser lindo, de descobrimento, cumplicidade, doação, amizade e admiração, vira dependência, posse, ciúme, desprezo, falta de respeito, indiferença, etc.

Aí muitos acham que é um relacionamento prático, fazem aquelas brincadeiras bobas sobre “quem casa está saindo da vida”, enaltece a vida de solteiro, faz piadinha sobre quem é fiel ser bobo e distorcem tudo. Além de estarem infelizes, ao fazer isso estão impregnando com sua opinião negativa o entusiasmo de outros, contribuindo para um quadro geral de conflitos e infelicidade.

E, os já preocupados com a evolução da alma, mas desenganados por experiências ruins, enaltecem apenas o amor filial, paternal, fraternal e desmerecem este, como se fosse impossível obter êxito. Enfim, porque a maioria usa erroneamente, o enlace passa a ser encarado como prático e pesado, e dizer que ele pode ser lindo é tão oposto que parece ilusão, fora da realidade… Uma ilusão comercial de Hollywood!

Não estou dizendo que só haja poesia, café da manhã na cama todo dia e se viva com o olhar distante, vendo o infinito, vinte e quatro horas por dia… Mas não é porque seja necessário pagar contas, assumir responsabilidades, ir ao mercado para o outro poder tomar banho – exatamente para, “uma vez na vida, outra na morte”, ter o quê tirar do armário e da geladeira para produzir o tal café – que o abraço, o elogio, o carinho ou o beijo devam ser evitados porque a vida é corrida ou por ser hora de sentar à mesa, usar o cérebro e fazer contas.

Por isso precisamos buscar pessoas que tenham hábitos, posturas de vida e ideais maiores parecidos com os nossos, facilitando a harmonia na relação, para que consigamos, com a pouca habilidade que ainda temos, superar as diferenças menores e lidar com as dificuldades naturais da vida a dois.

PARTE 6 

Este modelo de relacionamento está na psique humana e sentimos falta deste amor em sua forma saudável. Por isso a humanidade ainda produz tantas músicas, filmes e livros sobre isso. Não precisamos, portanto, negá-lo ou ridicularizá-lo, mas sim, vivê-lo corretamente e elevá-lo! Muitos se unem por interesses que não tem a ver com a natureza desta ligação – amor –, como carência, paixão, atração sexual, comodidade financeira, status, amizade, precisa de um parceiro para sair da casa dos pais + sexo, entre mil outros motivos. Claro, nada é absoluto: cada um é um e está em determinado momento evolutivo, portanto, algumas pessoas precisam exatamente deste tipo “intermediário” de relação. Conseguem, por um tempo ou mesmo por toda uma vida, ser relativamente feliz em sua união. Sendo assim, não há nada de errado!

Assim como há aqueles também que até precisam viver este tipo de relacionamento, mas tem forte resistência quanto à sua ausência e conseguem, em nome de outros amores, absterem-se sem ficar tão abalados.

Há outros, porém, que precisam viver este relacionamento em sua essência, vão ficar em desequilíbrio sem ele, mas ainda não conhecem este mecanismo a fundo. Erram na hora de julgar o que é o quê, unem-se de forma errada e depois se descobrem numa angústia sem fim quando se percebem num compromisso falido. Ou até mesmo já conhecem o mecanismo, mas estão acomodados ou com medo e nada ou pouco fazem para melhorar. Cabe a cada um refletir, buscar o autoconhecimento, entender quem é.

Mesmo que se descubra ser aquele que precisa viver este tipo de relacionamento e não consegue abrir mão disso (isso leva tempo, cuidado com atitudes efêmeras!), antes de tomar qualquer decisão, escolher um novo parceiro ou desfazer um relacionamento não saudável, outros fatores devem ser também levado em conta: quem são os envolvidos, o quanto se contribuiu para chegarem até ali, se está pronto para enfrentar um fim de relacionamento ou começo de um novo, se está pronto para enfrentar as conseqüências do fim do relacionamento (piorar a situação financeira, mudar de casa, bairro, cidade ou país ao terminar o relacionamento, trocar de trabalho, voltar a ser sozinho etc., etc., etc.) enfim, as conseqüências de seus atos. Sabendo qual é seu caso, pode-se agir de acordo com a possibilidade, a capacidade e a vontade de cada um. É fundamental ter autoconhecimento, não trocar de namorado, noivo, marido só porque o vizinho, o tio, a mãe, e irmã ou a vó fizeram, e “ir na onda”. Há muito casos de relacionamentos saudáveis mal cuidados, não sendo necessariamente relacionamentos ruins.

Analisando minhas tendências, seguindo minha natureza, minha alma, percebo ser aquela que, na área afetiva conjugal, sou quem só se relacionava por amor (ou, ao menos, buscava isso). Eu já sabia, já trazia isso dentro de mim! O que é diferente de eu ver um filme ou ler um livro de condutas morais e forçar a barra para ser quem eu ainda não era, como realmente há quem faça – e que apresenta os mesmos “efeitos” que eu…

Eu já sabia o que queria, não sentia necessidade de ter sensações, de experimentar, para descobrir. As experiências passadas me ensinaram o suficiente para que eu pudesse saber analisar antes de me envolver, sem precisar mais “quebrar a cara”. Mas é muito natural que muitas vezes seja preciso experimentar para entender (eu preciso muito, em outras áreas de crescimento da alma). Quando se entende, não é necessário passar pelo mesmo erro – embora muitos, por negligência, ainda o façam. Mas todos, aprenderemos!

PARTE 7

Por sermos indivíduos únicos e estarmos em estágios distintos nesta jornada evolutiva, cada fato tem um efeito diferente dentro de cada um… Como um adulto que já tem tantos problemas que acha “frescura” o filho sofrer porque quer um brinquedo e às vezes é grosso ou insensível com a criança… Realmente, para o pai, o que é sofrer por não conseguir comprar algo que se deseja, quando se há tantas responsabilidades, tantas preocupações? Nada! A criança não faz ideia do que o pai passa, de quanto as coisas podem ser mais complicadas. Mas ela não tem culpa, simplesmente não conhece, e para ela, aquilo é importante! Individualmente, não sabemos quem de nós, como almas, são as crianças, quem são os adolescentes e os adultos. Velhinhos sábios, vamos deixar para tempos futuros!

Sendo assim, ao me conhecer, analisar tendências, me amar e ter coragem de confiar em mim, consegui reconhecer uma lacuna, um ponto delicado no que, para muitos, é bobagem… Ou porque já “tiram de letra”, como o adulto no exemplo anterior, ou porque ainda são embriões e estão preocupados com a vida uterina (ainda nem ativaram sua sensibilidade em relação a este tipo de amor): o quanto é importante, para mim, viver a vida amorosa conjugal.

Por muitos e muitos anos pensei ter esta necessidade de uma mulher que quer ter um homem ao lado por ainda ser imatura, por ainda acreditar no “príncipe encantado” que vá magicamente resolver meus problemas e não “acordar para a vida”. Afinal, às vezes eu mesma pensava: “Em um mundo tão racional, com tantos problemas, como ter tempo ou espaço na mente para sonhar, ser feliz? Se eu penso assim, deve ser porque ainda não ‘acordei’”… Mas percebi que, quando concordava com este pensamento imposto pelo meio (e pelo meu próprio preconceito!), eu feria o mais fundo em mim…

Como diz minha mãe, “até explicar que focinho de porco não é tomada”… Só que no meu caso, são tantos pormenores que o meu porco é híbrido com uma enguia e, se colocarmos daquelas lampadazinhas de dormir, ela realmente vai acender. Para complicar, ele ainda está pendurado na parede, como aquelas cabeças de bichos de caça empalhados, dos filmes. São dois buraquinhos presos na parede que acendem uma lâmpada, mas, ainda assim, aquilo não é uma tomada…

Brincadeiras à parte, antes de prosseguir, para me fazer entender, necessário será expor dois conceitos. O primeiro é relacionado à estrutura do Ser segundo a visão de Carl Jung. Ele não concordou com a visão de Freud, que resumia a motivação do homem ao instinto sexual. Para Jung, o que move o homem é a libido, que pode manifestar-se de várias formas: energia sexual, religiosidade, idéias etc. É uma energia criadora em movimento. Esta visão amplia o campo de atuação do homem. Ele divide a psique humana em dois membros: Ego e Self. O Ego seria a parte consciente, guiada pelos instintos. O Self seria a parte do inconsciente, o ser essencial. Quando o indivíduo atinge este estágio, a personalidade se completa.

Em palavras mais populares e num conceito um pouco “didático”, o Ego seria a parte de nós que age por impulso, para obter sensações imediatas, que conta apenas com o agora, com o que é tangível aos seus sentidos, que sente medo, não quer mudança etc. É o nosso lado mais imediato, menos paciente, portanto, podemos dizer, mais infantil. Já o Self seria nosso lado Divino, nossa capacidade de ver a vida a longo prazo, de ter gestos altruístas, de esperar, acreditar, perdoar etc. Precisamos dos dois mecanismos. De maneira geral, o Ego ainda é nosso “padrão” e ele não gosta de mudanças, portanto, para encontrar o Self é preciso muito esforço. Somos uma constante “batalha” destes dois lados. A cada momento, um predomina. Mesmo quem já vive um deles em abundância, em alguns momentos, ainda tem contato com o outro lado…

Outro conceito que preciso esclarecer é que dentre os relacionamentos conjugais, há várias formas de um amor nascer. Ele tanto pode acontecer bem devagar, devido às circunstâncias, à convivência, aos acontecimentos atuais e, ao longo do tempo, percebemos brotar um lindo sentimento – e nesta “categoria”, há várias opções, como uma pessoa que a princípio nem víamos desta forma, ou pode vir de uma convivência que seja mesmo fruto de uma atração etc.; ou pode também ter uma causa oculta, maior, ser despertado graças à existência da pessoa e ser um sentimento que mostre existir ao longo do tempo. Está vinculado mais ao ser amado em si que ao modo como tudo começou. Embora o tipo amor que eu vá explorar seja apenas um, não o faço porque desprezo o outro, mas sim porque este é o meu (limitado) espaço e a minha história, então, por motivos óbvios, falarei apenas dele. 

PARTE 8

Num determinado ponto do processo, quando eu já colocava meus sentimentos e ideais para fora, para poder dizer que o meu amor também existia, talvez eu tenha sido um pouco “enfática”. Talvez tenha parecido um pouco agressiva, às vezes, dando a entender que o outro não era bom, mas não é isso. Aquilo era eu em conflito: sem experiência para não se abalar quando não acreditam em você – o que aconteceria se eu fosse mais segura -, mas sem deixar de acreditar para simplesmente “deixar para lá”, eu precisava agarrar com todas as forças e antes que pudessem me “convencer” a mudar de ideia, precisava mostrar que estava certa e defendia meu ponto de vista, colocando tudo para fora de uma vez e desesperadamente.

Para poder explorar melhor as idéias no decorrer do texto, chamarei o primeiro modo de acontecimento amoroso de “amor factual” e o segundo, de “amor sutil”. Vale lembrar que tanto um amor factual pode resultar numa união real e bela por toda uma existência, como um amor sutil não “vingar”. Cada caso é um caso!

Já escrevi em meu antigo blog antigo um “Breve Ensaio Sobre o Amor” e “O Conto de Fadas é a Realidade”, onde aprofundo mais os conceitos, mas eu fico me perguntando… Sei que muitos ainda acham que o amor conjugal é “coisa de gente romântica”, que “a teoria na prática é outra” e “acreditar no romantismo é coisa de cinema, é algo que ‘enfeitam’ para vender”, e por aí vai… Sim, concordo que tudo é muito mágico e perfeito nos filmes famosos do cinema, principalmente os românticos… Mas vocês hão de convir que num espaço de duas horas para contar uma história às vezes de anos é preciso utilizar-se de símbolos que acontecem de uma forma mais resumida e num tempo mais “enxuto” que o da vida real. Mas admito que se nós não tivermos uma visão crítica, iremos nos iludir ao acreditar cem por cento nos romances, levando em conta a forma e não ficando apenas com seu conteúdo, com sua mensagem… Claro, há sim as produções apenas comerciais, mas há outras com uma mensagem muito bonita que são ridicularizadas simplesmente por estarem nesse formato, como se só outros menos produzidos, mais escuros, confusos e conflituosos é que fossem decentes.

Será que a intenção de quem os produz é somente assim tão vil e capitalista? Este não é o ponto, o ponto é a segunda questão: será que este tipo de sentimento vende apenas porque a massa é “acéfala e facilmente manipulada” (e leva em conta esta forma “forçada”, comercial, portanto, irreal), ou também porque o que eles exploram está no inconsciente coletivo em latência, para ser desenvolvido (sua mensagem real, seu conteúdo – uma visão de mundo melhor, bonito, próspero, feliz, onde o bem sempre vence!), e se ainda não o é, é simples resultado do momento evolutivo em que nos encontramos agora – almas ainda crianças no que diz respeito ao conhecimento das próprias emoções, em moralidade, que ainda são ciumentas, egoístas, mesmo que em diferentes níveis – e não sintonizam com um amor assim?

PARTE 9

Será que este amor incondicional, que vence barreiras, que modifica vidas, é só ilusão da indústria capitalista, ou é reflexo de almas que nasceram neste momento da civilização (mas certamente existia, só que em menor escala, desde sempre, também na Era Antiga, Medieval, ou Moderna) e utilizam-se dos meios que possuem para disseminá-las? Hoje é a era da globalização, da comunicação entre países, do avanço tecnológico – portanto, da mídia de larga escala. Se para ouvir música ao vivo era necessário dirigir-se às óperas em carruagens ou ouvir o trovador na vila, hoje eu posso adquirir uma mídia e ouvir a música que me apraz a qualquer momento, não dependo totalmente do artista para ouvi-la. E, quando sentir necessidade de uma proximidade maior, vou ao concerto. É assim tão ruim, tão vil, ou são apenas outros tempos? Falar sobre o capitalismo em si daria um outro ensaio, e não é este o objetivo. Retirei as observações que julgo importantes para a minha argumentação, que é outra. Voltemos a ela…

Um amor assim, que foge da lógica, mas é fiel ao coração, parece impossível porque realmente seja, ou porque a maioria ainda não está pronta para ele e, por ter a alma ainda egóica, é contra mudanças, novidades e prefere continuar vendo apenas o conflito, a dificuldade, a traição, o desequilíbrio de emoções e tomá-los como padrão?

Não que a poligamia não exista ou os seres humanos mais decentes não sejam passíveis de erros, ou que alguém, só porque ama outro ser, não sinta atração física por outra pessoa… Não, não sou assim tão ingênua e esteja levando o conto de fadas ou a comédia romântica de Hollywood ao pé da letra… Estou apenas perguntando se pelo fato de o bem sempre vencer no final, ter-se uma visão mais positiva do homem, justifica simplesmente ridicularizá-lo – talvez, concordo, em partes, pelo medo da alienação -, ou fazer isso é conveniente para quem ainda não é muito bom em lidar com este assunto, e seja melhor manter o filme escuro, parado, conflitante, sem resposta, angustiante, como única forma de expressão “correta” de arte, bem aceita pelos chamados cultos…

Ou, traduzindo para a vida real, continuar acreditando nos clichês prontos – que “mulher é um bicho carente” e “homem é cachorro” -, aceitar vários tipos de comportamentos tóxicos seja normal e, assim, continuar fazendo escolhas pobres para nossas vidas, só para não ter que ter o trabalho de repensar e aprender outro modo de agir… Como massa, como Humanidade, como consciente coletivo… Este tipo de conceito também deveria ser amplamente discutido num espaço maior, não cabe num único post de um blog…

Por Deus, eu acho que todo tipo de arte é válido! Somos indivíduos heterogêneos, em vários níveis evolutivos, haverá arte de todo tipo, arte que agradará mais a uns que a outros. E todo artista merece colocar para fora o que sente! Com a dificuldade que eu tenho hoje para colocar a minha arte para fora, eu seria insana se não reconhecesse isso! E egoísta, ao achar que só a minha ou a que eu gosto é importante.  E eu reconheço a sabedoria que há em passar uma mensagem através de um formato – o tipo de película, um filtro de luz para ressaltar um tipo de cor para representar um sentimento, uma figura de linguagem num texto, etc. – ou de usar a tela do cinema, da pintura ou um texto para apenas retratar sentimentos aleatórios, sem ordem ou objetivo. É algo realmente mais profundo e deve ser admirado e reconhecido. Mas isso dá o direito de quem é desta “tribo” menosprezar as outras?

PARTE 10

Não estou atacando outro tipo de expressão, estou apenas tentando elevar aquela na qual eu acredito. Em meu caso específico, 1 – já tenho muito na mente, o tempo todo; 2 – sou super sensível, me comovo fácil, a tristeza no mundo me deixa triste. Se eu me sentar para ver um filme, não buscarei mais problemas ou uma realidade que me faça sofrer, que olha o presente com pessimismo (obrigada, para isso, eu ligo o noticiário!); portanto, 3 – se eu precisar de cultura ou doses de realidade, vejo um documentário. Quando eu busco o cinema, livros de ficção e mesmo um quadro, o faço para sonhar, ficar duas ou mais horas fora do mundo e da minha mente já tão ativa e preocupada. Preciso ver coisas belas, olhar para frente, para o futuro; preciso ver coisas boas, para entender que nem tudo está perdido! Portanto, não pode ser um tipo de arte ruim só porque é comercializado! Aquele formato “começo, meio, clímax, fim”, com a câmera lenta, o close, a iluminação, a música, a paisagem, o vento esvoaçando o cabelo, o mocinho correndo atrás da mocinha no aeroporto e dizendo que a ama, é tudo de que preciso!

Eu já fui esta mocinha sonhadora, já tive amores impossíveis e já vivi esperando um formato mais próximo dos filmes que da realidade; sou insegura, embora bem menos que antes (como é complicado dizer, hoje, que concluímos um estado evolutivo, já que o progresso é constante!) e posso afirmar apenas que tenha tido lá meus problemas de autoestima – embora seja muito, muito menos do que antes. Mas eu cresci, eu mudei, e mesmo depois de começar a detectar estas discrepâncias em relação à realidade, a entender o amor de uma forma menos “fantástica” e notar essas falhas minhas que hoje verbalizo tranquilamente (autoestima arranhada, insegurança), percebi que apenas havia amadurecido meu conceito, mas a crença naquele tipo de amor continuava… Depois, vi numa situação muito parecida com as vividas anteriormente… mas o conteúdo era muito, muito diferente!

Sempre, sempre guiei minha vida afetiva para o lado do amor, embora, claro, tenha tido também algumas experiências contrárias que só serviram para me fazer descobrir a diferença, me gerar repulsa e me colocar de volta no caminho. Foi sempre o que eu busquei. E encontrei… Mas num homem casado! 

Não é o objetivo narrar fatos, por isso, terão apenas que confiar em mim quando eu digo que eu fiquei mais próxima de Deus ao viver este sentimento em plenitude, que ele me enobreceu, fez-me mais serena, mais iluminada, mais feliz. Eu era capaz de ser feliz com um simples olhar, por semanas… E ficar tão, mas tão tocada, que minha vida era fazer o Bem, a todo tempo… Olhava as pessoas na rua e desejava-lhes o bem, queria que todas fossem felizes… Não reclamava mais nem das barbeiragens no trânsito… (rs… ) Eu encontrei a paz! Não dependia da presença dele (ser amado) para ser feliz… eu apenas era! E, só para não dizer que isso é coisa de conto de fadas, posso dizer que ao vê-lo ou ainda hoje, só de pensar nele, volto a lembrar da enguia – e somente dela! – citada no começo… Então, não estamos falando apenas de paixão ou de uma ilusão. Foi um sentimento completo, que realmente me modificou, mas também mexe com meus sentidos!

PARTE 11

Eu sempre, sempre acreditei num amor assim, como o que eu sinto. Um amor onde possa haver cumplicidade, companheirismo, paixão, fidelidade, carinho, respeito, identidade. Embora eu não tenha tido a chance de experimentar um convívio com ele para saber se tudo isso aconteceria na prática, ele despertou em mim o reconhecimento, que é o primeiro passo de vivência deste sentimento total, a certeza que me invade e me faz conhecer o céu: “é ele!”. E não era só isso, só o que poderia vir a ser… Na prática, no agora, sempre que eu tinha a oportunidade de ouvir sua opinião sobre algo, ficava ainda mais encantada com sua sensatez, sua clareza de idéias, sua mente aberta, sentindo ainda mais admiração. E identificação…

Além de, no meu caso específico, saber mais ou menos como ele seria, ao longo de toda a vida, este sentimento sempre foi uma tríplice: eu acreditava que um amor assim existia, que era possível E que eu o viveria! Qual não foi minha surpresa quando vi acontecer dentro de mim aquilo que era só um sonho no meu coração, quando reconheci em gestos, pensamentos, num ser vivo, o que gerava movimento interno no sentimento que sempre esteve comigo? O que vivo agora não é criação minha, como já houve; é diferente, aconteceu! E involuntariamente!

Já que um amor assim ainda é muito desacreditado e “meu passado me condena”, olhando de fora, vendo a forma, eu seria, então, facilmente encaixada no padrão: não se ama e se esconde em amores impossíveis. Isso foi uma incógnita que quase me enlouqueceu: segundo a forma, tanto eu poderia estar simplesmente repetindo o padrão anterior, o que seria possível , devido ao passado de amores impossíveis ou relacionamentos infelizes – e eu ser, então, apesar de todas as mudanças, a mesma mocinha sonhadora -; quanto poderia ter discernimento para saber que a aparência de histórias poderia até ser a mesma, mas no conteúdo a situação era diferente e esta experiência anterior me permitia, inclusive, diferenciar os estados de alma, os sentimentos, notando as características opostas entre esta e as outras. Eu seria, portanto, alguém bem madura, que vê além. Opção difícil de admitir, porém, quando se é insegura e tem baixa autoestima…

Funciona assim: quando você até alimenta um pouco a autoestima e consegue acreditar ser capaz de algo bom, ser capaz de estar certa, vem uma situação de dúvida e a insegurança faz com que se duvide. Aí é demais para a pouca autoestima recém-adquirida, nova, fraca, e volta-se praticamente à estaca zero, começando todo o processo de novo…

PARTE 12

Anos atrás, quando eu fazia faculdade, precisava usar ônibus ou metrô – quase toda semana – e não conseguia sentar porque havia entrado no meio do trajeto, obviamente eu não gostava, mas entendia, achava natural. Sei que nosso transporte público ainda deixa muito a desejar, portanto, há superlotação; e se a cidade está cheia e eu cheguei no meio do trajeto, fatalmente haveria a chance de não sentar. Aceitava o fato. Mas quando eu pegava uma linha no ponto inicial ou a mesma num dia de menos pessoas e conseguia um assento, olhava para quem chegava depois, que estava na mesma situação que eu naqueles outros dias, e me incomodava por estar ali. Eu sabia o que eles sentiam – era ruim viajar em pé! – e passava o trajeto todo atormentada, pensando se deveria ou não ceder o lugar. Não estou falando de pessoas portadoras de necessidades especiais, grávidas, com bebê de colo, idosos… Por essas pessoas, mesmo fora do assento especial, ceder o lugar seria um gesto altruísta. Mas pelos iguais a mim ou até “piores” – até para homens eu queria ceder, sendo que é questão de cavalheirismo e bom-senso, o contrário! – não era caridade. Era autoanulação! Era como se eles merecessem sentar, mas eu, não… Hoje vejo que da mesma forma que um dia eu “me dei mal”, mas soube aceitar, aquele era o meu dia de “me dar bem” e permitir que outros seres humanos exercitem a aceitação!

Só que isso foi muito difícil de detectar, porque eu não tinha apenas a autoestima baixa para justificar este sentimento e me sentir menos: apesar de reconhecer minhas limitações e defeitos, vejo que sempre tive vontade de fazer coisas boas, sempre pensei nos outros também com sincera consideração, não apenas por me diminuir. Então, chamar até a minha autoanulação de caridade foi muito, muito fácil.

Graças à baixa autoestima, para reconhecer um defeito sou rápida no gatilho, mas para admitir uma qualidade, é um longo processo… E por não conhecer direito as emoções, sempre temi ser arrogante ou orgulhosa ao admitir uma característica positiva, sabotando a mim mesma e sufocando virtudes que eu já tinha ou poderia desenvolver se as exercitasse. E aí é que complica… Apesar de bom coração, também sou orgulhosa e sei que realmente eu poderia me tornar arrogante num piscar de olhos… Então, me reprimi. Quanto malabarismo! Vamos voltar ao caminho para chegar a essas conclusões.

No começo relutei em aceitar o sentimento. Mas sua beleza e pureza fizeram com que eu vencesse meus próprios preconceitos e baixos conceitos a respeito de mim. Mas não foi de uma vez…

Tive tanto, mas tanto medo de supostamente fazer mal aos outros, que, de fato, fiz mal a mim… Durante um ano inteiro eu não usava nem o diário para desabafar e, quando o fazia, era com meias palavras e sem citar nome algum! “E se um dia um ladrão roubasse meu PC e ou fuçasse, ou vendesse para alguém que fosse ter curiosidade, a pessoa ler, contar para alguém, este alguém reconhecer a situação pelos nomes, conhecer a irmã da prima do tio-avô da vizinha da amiga da esposa dele e contasse para ela, causando mal-estar a ela por ter alguém que ama seu marido, e ele fosse ficar sofrendo por ter problemas no casamento”? Portanto, sem nomes!, disse a “general” dentro de mim. Claro que isso mudou muito (nota-se!), mas foi assim que começou…

PARTE 13

Devido às nossas limitações em conhecimento e moralidade, temos ainda muitas tendências negativas, hábitos adquiridos no passado e ainda muita dificuldade em manter algo. Temos, entretanto, facilidade em conseguir, que é bem mais emocionante, estimulante aos sentidos e traz bem-estar imediato. Quão bom é adquirir um carro? Mas e a má vontade na hora de pagar a própria parcela ou a manutenção de veículo? E a casa? Uma delícia tê-la. Mas limpá-la… Que chato! Namorado novo? Que bacana! E conquistar o antigo? “Para quê, já tenho mesmo!”. Parecem comportamentos óbvios, mas ainda refletem imaturidade geral, que quase todos sentimos…

Após alguns anos, por medo, ciúmes, ansiedade e falta de fé, por deixar o Ego falar mais alto, eu me desconectei da nobreza do meu sentimento, do amor. Já estava “acostumada” a ele. Claro, não deixei de sentir, mas passei a ter dificuldades para conectar-me com ele. Por um simples mecanismo natural dentro de nós – ter más tendências que ainda nos prendem em estágios mais atrasados da evolução, mas ter também capacidades, que nos permitem romper essas correntes, basta querer e ser persistente! – iniciou-se um embate dentro de mim: o Ego que queria materializar isso, contra o Self que queria apenas ficar em paz com o sentimento e esperar, amar…

Além deste mecanismo comum a todos, no meu caso, devido à minha insegurança e à minha baixa autoestima, eu tive muitas dúvidas e fiquei com medo. Passei a ficar desesperada para que se concretizasse e eu pudesse, assim, ter certeza da minha certeza, podendo, então, confiar em mim outra vez. Portanto, o Ego teve muito mais voz dentro de mim. Eu estava insegura, sem fé, com medo, duvidando que todo aquele bem fosse possível, por me depreciar e não me sentir capaz de algo bom. Era o que ele (Ego) precisava… Foi nesta época de puro conflito que contei a amigos. Eles viram apenas meu sofrimento…

Não agüentando mais ter que fugir da realidade, pegar o carro e sumir para pensar, sempre que um homem bacana, possível, presente, aparecia e me forçava um posicionamento – trocar o certo pelo duvidoso – num belo dia, já no meu limite, querendo entender se eu era intuitiva ou louca, contei a ele (ser amado) o que sentia. Sem detalhes aqui, na narrativa, mas o resultado final no plano dos fatos foi um “não”. Uau! Com o tempo, quase pirei. Explico.

Seja por estar muito nervosa ao contar a ele e realmente ter agido mais “na brincadeira”, parecendo o que eu mais temia – uma menina -, seja por não confiar no que os lábios dele diziam que, eu poderia jurar, era oposto que o olhar (mesmo que fosse só uma sementinha, com potencialidade a ser o sentimento que eu já vivo, cada um tem um tempo), para poder expressar-me corretamente e entender quem eu era (a intuitiva por perceber o paradoxo entre boca e olhos, ou a mimada e carente que não sabe levar “não” e não aceita a verdade? Eu vi algo que realmente estava lá, ou criei uma realidade falsa, de acordo com minha conveniência?), precisei repetir minha declaração. Sempre “não”.

Nesta luta entre a minha realidade da alma, intuição versus o que eu podia ver, pegar e mensurar com a mente, o fato palpável é que tempo passou, passou e o amor não se concretizou… O que me fez paulatinamente duvidar mesmo de mim, pois a certeza em relação ao sentimento era tripla (o sentimento era uno, portanto, negar sua terceira parte resultava em invalidá-lo como um todo) e, ao não ser realizada a terceira parte – eu viveria este amor-, duvidei de tudo. Assim, duvidei de mim, que sempre acredita em algo além daquilo que enxergamos com os olhos, ouvimos com os ouvidos e tocamos com as mão… A sensação de que ver a vida assim é um erro, ter que repensar quem eu era, mudar radicalmente, sentir como se meus 30 anos fossem inúteis, tempo jogado fora, e eu fosse uma “aberração”, alguém completamente fora da realidade, começou a contaminar minha alma…

PARTE 14

Já com o ego aflorado, com uma negativa palpável, logo em seguida ainda vivi uma situação de ciúmes e me senti rejeitada, então, foi muito, muito difícil. Neste período eu me senti realmente “pouco”, a última das mulheres… Vivi a seguinte frase que eu formulei: “nunca nenhum homem foi tão competente para me fazer sentir tão incompetente”.  Eu dei o melhor de mim – e não é pouco! – e mesmo assim, não foi suficiente…

A esta altura, se formos levar em conta os meus padrões – para a média, ainda há mais a conseguir! – eu já havia caminhado bem no quesito “autoestima”, tanto é que me senti no direito de dizer o que sentia a ele. Apesar de no quesito “homem/mulher” ela ser zero, devido à rejeição, no quesito “eu como um todo”, já conseguia ver o meu valor no meio disso tudo e não me deixaria mais abater por um abalo numa área específica de minha autoestima. Entretanto, estava em conflito com relação a quem eu era, então, esta dor afetiva, apimentada pelo ciúme, que nos “enlouquece”, tomou conta de mim, e sucumbi.

Ao duvidar de mim e de um comportamento que eu julgava ser o “ver além”, que tem tudo a ver com Deus, perdi o parâmetro do que era real ou ilusório, do que era certo ou errado e eu acabei realmente duvidando de Deus. Repito: confiem em minhas conclusões. Explicar isso seria extenso (o que não é problema para mim, mas o espaço é curto!) e íntimo, portanto, será deixado de lado.

Fico me perguntando se eu realmente não o conheço e projetei minhas expectativas nele, por, no fundo, esperar um príncipe encantado, ou se não fui eu quem senti suas capacidades em estado de latência, como um botânico olha e sabe diferenciar as sementes, sabendo a árvore que cada uma será – mangueira, palmeira, figueira etc., mesmo que pelo fato de reconhecê-las não tenha necessariamente a capacidade, o poder de saber como cada uma delas irá brotar e nem qual delas irá vingar.

Será que fui eu quem o “endeusou”, ou ele que, exatamente por fazer parte desta humanidade ainda “culposa” e negativista, esteja acostumado a valorizar os próprios defeitos e, calejado pela vida, pelo peso das obrigações, contaminado pela lógica, pelo que é prático, não consiga mais ver o que ele mesmo já tem dentro de si em capacidades? Como eu fiz comigo, e com este amor, ao, no fundo, duvidar e quase me desviar…

Sei que o acho doce, gentil e verdadeiramente bom, mas tive apenas pequeninas e genéricas amostras disso para poder validar minhas impressões, na prática, no mundo dos fatos. Todavia, será que vê-las maiores é ilusão minha para criar o tal modelo da mocinha carente inspirada em Hollywood, ou realmente e, por estar fora, mas ao mesmo tempo me sentir tão perto, graças ao sentimento, e talvez percebê-lo, senti-lo, não esteja vendo algo que ele talvez não veja direito, dentro?

E me pergunto se o fato de ele pensar que eu pense que ele “seja perfeito” e não conheça seus defeitos, como num sentimento infantilizado, não mostra, nas entrelinhas – talvez até de forma inconsciente, para ele – o quanto ele me acha imatura… Que eu só sinto o que digo sentir porque é coisa de filme, não porque isso exista, eu seja uma mulher – e ele me enxergue realmente como tal… 

Mas, à época, nem eu estava muito decidida, nem eu me via totalmente madura, acredito… Como exigir isso dele? A não ser que ele também visse as minhas potencialidades latentes…

PARTE 15

Apesar de tudo, sempre tive forçar para seguir e, mesmo que já não conseguisse mais viver apenas o amor, estivesse também sofrendo, ainda assim parecia valer a pena, e eu não desisti.

Sempre fui mais “espírito” que “corpo” e, num determinado ponto desta minha história, quando aconteceram outros fatos que me fizeram acreditar que eu estava enganada, que este amor era utopia e eu precisava “experimentar”, aceitar um “amor factual”, eu vivi meu lado “Terra”. Doeu, doeu muito, mas fiquei tão confusa que interpretei a lição disso tudo como “desapego”, algo que passei apenas para me conhecer, me trazer a esta nova realidade e que agora eu precisava deixar ir, e aceitei. Cantei “My Heart Will Go On” e tudo… Mas durou apenas um dia, pouco mais de 24 horas. Logo me vieram novamente um sentimento e a ideia de “ainda não acabou”. Por um lado fiquei aliviada, mas por outro, fiquei “maluquinha”. Emocionalmente eu tenho me sentido numa máquina de lavar roupa – com o turbo ligado.

Na minha concepção, nós, seres humanos, por tudo aquilo já explanado anteriormente sobre não entendermos sutilmente nossas emoções e enxergarmos tudo de forma bruta, vamos lapidando este conhecimento indo, algumas vezes, como bolinha de pingue-pongue, num vai e volta constante entre um extremo e outro. Nas escolas literárias brasileiras, por exemplo: uma hora era a razão que predominava, na próxima, a emoção . O Barroco era este antagonismo (contrastes, dualidade entre a materialidade e a vida espiritual). Mas depois vinham as “extremistas”: Arcadismo (influência do Iluminismo, ideias, razão); Romantismo (criação, amor, sentimento, emoção); Realismo (crítica do mundo, realidade, razão), concomitantemente seguido do Naturalismo (determinismo, fatalismo, razão); Simbolismo, (que combate a ciência do Realismo) e o Parnasianismo (“arte pela arte”, poesia, criação, emoção, ainda que de uma forma diferente dos Românticos).

Uma vinha acrescentar o que a outra, por seu excesso, havia deixado passar. Nos aprendizados da vida, a mesma coisa: se temos uma característica muito bruta, para podermos lapidá-la, a vida nos faz experimentar o outro extremo, depois nos joga ao extremo anterior de volta, até que, cada vez indo menos longe entre um extremo e outro, cheguemos próximos da linha do equilíbrio, desvendando sempre novos conhecimentos, tornando nosso “saber” mais amplo e cada vez com mais “subitens”, parágrafos e adendos, não mais com uma simples frase de título.

Eu percebi que voltei do extremo “Terra”, “experimentar”, para o meu modo “espiritual” de ser, “acreditar/esperar”, um pouco mais consciente da importância da vida aqui, das sensações, das necessidades. Fiquei mais consciente do meu outro lado, das minhas limitações… Não sou só busca por luz e obrigações morais: sou também trevas e satisfação de necessidades, ainda inerentes ao grau evolutivo no qual transito. E isso não é errado! Alimentá-los – e com isso, excedê-los -, sim, mas admiti-los e lidar com eles, não!

PARTE 16

Mesmo com a dor da negativa da vida, ao fazer minha autoanálise, compreendi que boa parte da mágoa que eu tinha não vinha do lado do autoamor ferido que não queria mais uma situação depreciativa – que acontece quando pisam no nosso calo e nossa autoestima grita, nos obrigando a reagir. Vinha do meu orgulho ferido, e combati o ressentimento.

Apesar de tudo, de na prática a situação estar se mostrando inviável, sempre vinha esperança.  Na maioria das vezes, ultimamente, não mais alimentada por mim, pois eu já estava exausta, muito, muito além do meu limite… Mas a danada sempre aparecia!

Assim, aceitar acreditar que tudo tinha sido ilusão estava me fazendo ser revirada por dentro, como se minha alma estivesse sendo desmontada. Logicamente falando, observei que apesar dos fatos palpáveis parecerem mais sensatos (eu realmente tinha baixa autoestima, insegurança, e realmente já tinha tido amores impossíveis antes; vivi a minha história e ela se mostrou completamente um erro de percepção, fora o fato de eu agir ao contrário do que a maioria faz. Não havia mais desculpas, eu estava errada, era melhor desistir, eu havia me iludido!), o estado de alma que eu ficava quando acreditava nesta forma da situação era o do desespero, da loucura; e, quando voltava a acreditar no conteúdo, na essência do que vivi, reconhecia que poderia ser um aprendizado de paciência, de fé, de confiar em mim, e lembrava da paz… Já que nada me fazia bem, resolvi voltar para a certeza que eu poderia ter. Voltei a reconstruir tudo. Quando acreditava nisso outra vez, automaticamente ficava em paz e forte. Como poderia ser errado?

Percebi que quando aceitava a explicação lógica, descrita no parágrafo anterior, invalidando meu sentimento, eu o fazia não por lucidez, mas por desprezar a mim mesma, por me achar ridícula ou merecedora de pouco. “É bom demais para ser verdade”. Por isso é errado, para mim: porque o que me leva a concordar com o “óbvio” não é o óbvio, mas a falta de autoestima!

Entretanto, eu queria tudo do dia para a noite… Só pelo fato de ter decidido voltar a acreditar, queria voltar ao patamar amoroso imediatamente, e não é assim que funciona… Eu desfiz um caminho dentro de mim, precisava refazê-lo. Transitei entre os dois extremos – Ego/Self, dúvida/certeza – e caí e voltei tantas vezes que não seria possível recontar, o que me consumiu muita, muita energia – e me fazia duvidar ainda mais a cada queda, minando ainda mais minhas forças. Mas cair não importava, não significava que a luta estivesse perdida. Apenas fazia parte do processo. O que importava é que eu sempre seguia, e um dia estaria livre dessas quedas, quando tivesse voltado ao “local” de onde havia partido – e ali me mantivesse.

Mesmo já mais animada e sentindo aos poucos certas perdas serem recuperadas, ainda assim, num nível muito, muito profundo, eu ainda tinha espaço para dúvidas e insegurança dentro de mim. Sofria como quem já lutava por acreditar em si, mas ainda agia como quem duvidava… Não só neste final, mas em outros momentos, durante a trajetória, precisei sofrer além da conta para somente então agir, perder o medo de errar e conseguir verbalizar meu sentimento a ele (ser amado) ou explicar o que sentia aos mais próximos. A experiência que eu tenho em analisar casos de amor como possíveis ou não, sem precisar me machucar, eu não tenho para entender quem eu sou: precisei ver os efeitos em mim, sofrer, para poder entender a causa daquilo e, somente então, conseguir agir.

PARTE 17

Este antagonismo entre “necessidade de concretização para eu poder acreditar em mim” que não veio, somada a “eu saber estar certa e não conseguir desistir”, me deixou em tal estado de desequilíbrio que eu engordei sete quilos, passei muito tempo deprimida, sem forças, e tive até alguns fatores físicos isolados. Nas últimas semanas, precisei ter, novamente, as unhas sem crescer e com pequenos buracos, o intestino preso, insônia e até mesmo uma leve sobrecarga na circulação, para perceber o mal que esta ausência de posicionamento, esta falta de fé em mim, estava me causando, e poder me ouvir.

Há poucas semanas, em um sábado pela manhã, ao tomar coragem para levantar da cama, só de pensar que tudo isso deveria ser mentira e eu chegar, outra vez, perto da loucura, meu coração perdeu o ritmo e primeiro bateu muito forte. Senti uma grande dor por todo corpo, no lado direito. Depois ele ficou bem fraco, tive queda de pressão. Ao levantar, vi pequeninas veias estouradas na mão e no seio direitos. Como pode uma “ilusão” provocar estragos reais, mas não é só isso: que param de acontecer quando você volta a acreditar em tudo outra vez?

Não estou falando de algo que te faça mal, mas você insiste, não quer enxergar, sofre, e isso atinge até o físico; estou falando de passar mal até no físico porque duvido que o quê eu sinto possa ser verdadeiro, por não confiar em mim! Mas eu me neguei a ir ao hospital. Não seria a primeira vez. Pagar outro eletro só para o médico perguntar: “No exame deu tudo certo, sua saúde é ótima. Você está passando por algum stress?”. Desta vez não daria explicações genéricas: “Sim, doutor, por gentileza, leia agá, tê, tê, pê, dois pontos, barra, barra, Camila Pigato, ponto, wordpress, ponto, com”.

Há quase dois meses, algo que contribuiu muito para esta situação do coração – o músculo: novamente, após meses de sofrimento profundo, consegui me sentir disposta a tentar outra vez, acreditar de novo, conectar-me com meu sentimento. Deixei para trás todas as travas, o cansaço, os medos, as rejeições. Entreguei-me novamente e me senti muito, muito em paz. Dois dias depois a realidade não só continuou “nula” – o que já era uma negativa -, como mostrou-se oposta ao que eu sentia. Sucumbi. Larguei tudo, decidi viver só o hoje, só para satisfazer sensações, sem pensar em mais nada. Se eu tivesse um pico hormonal, arrumaria um macho e faria sexo, senão, não, e “sai pra lá” (tô com dor de cabeça… rs…); se tivesse fome, comeria; trabalharia no que desse mais dinheiro, mesmo que me corrompesse a alma, afinal, neste mundo, “o que ainda manda é o dinheiro” (não é assim?), e eu não queria saber de mais nada além disso. Pelo menos esta realidade eu poderia ver com meus olhos e pegar com as mãos.

Mas no fundo eu não a aceito, e por ter ido tão longe de quem eu sou, até em suicídio cheguei a pensar. Sempre que minha sanidade mental passou a entrar em jogo, este pensamento começou a me rondar… Mas eu nunca cedo. Já o venci pelo menos três vezes, em pouco mais de um ano. É como a frase “a teoria, na prática, é outra”. No momento do desespero, da ausência de sentimentos bons e razão em ordem para poder concatenar idéias, este ato bárbaro esta até parece uma saída, até passa a ser considerado. Mas chegar ao fim, materializar o pensamento é bem diferente… Olho para meu corpo, imagino-o sem vida e a ideia simplesmente perde o sentido totalmente. Sabe o gelo que não é fogo, mas de tão gelado, queima? Por ter ido tão longe, vejo o absurdo, isso me assombra, dou risada e volto à minha realidade. Não se aplica a mim. Mas até “queimar” e eu ver o paradoxo, é difícil sair…

E aqui vai um parênteses: sei que talvez afirmar “eu pensei em suicídio”pode ser chocante e fazer com que vejam uma fraqueza. Eu vejo a força por, mesmo vivendo o choque de pensar nisso (sim, chocou até a mim!), ter conseguido negar e refazer o caminho de volta. O campeão se mostra na derrota, certo? Mais vale o modo como você sai da adversidade e continuar apesar dela, do que o simples fato de ter passado por ela… 

Ouvi há alguns dias: “Suicídio é para fracos”. Concordo. Eu não sou! Mas aí é que vem a “novidade”: não há privilegiados, todos somos almas com as mesmas potencialidades. Esta força que eu tive, que esta pessoa teve ao dizer isso (e nem sonha que o mesmo tenha acontecido comigo), todos nós temos. Uns já as tem em abundância e pensamentos assim nem lhes passa pela cabeça; outros, como eu, ainda precisam testar essa força e superar uma experiência ruim, tentadora, para torná-la mais robusta;  outros ainda sucumbem, mas apenas porque não conseguem encontrá-la dentro de si. Somos todos fortes, portanto, o suicídio não é para ninguém!

PARTE 18

Só que nesta vez do “vencer o orgulho e, a esta altura, pela milésima vez, ceder e a realidade mostrar-se o oposto do que acreditei”, perdi tanto a cabeça, a noção das coisas, que cheguei a levantar do sofá para dar o primeiro passo possível para agir… No segundo pé que coloquei ao chão já estava chorando e dizendo que não faria isso. Mas a vontade de fugir desta realidade era tamanha que eu aceitei dirigir até o mercado para comprar bebida alcoólica. Sei que beber é comum hoje em dia e esta declaração, a priori, não surpreende ninguém. Então, vou fazer uma comparação para me fazer entender: eu dirigir até o mercado para comprar uma garrafa de keep cooller é o mesmo que quem bebe socialmente entrar em parafuso, não medir conseqüências e ir a uma boca de fumo comprar crack!

E eu fui… Ao chegar ao mercado, passei reto na cerveja. Muito amarga! Fiquei olhando as opções… Não sei o teor alcoólico de keep cooller, então, não sabia se dava para ficar bêbada. Olhei os rótulos, mas quanto mais eu pesquisava, mais eu me lembrava do quanto não gosto de álccool, do quanto meu estômago ia doer por fazer isso e do quanto eu estava me sentindo mal por estar ali. Não por moralismo – apesar de levar a conduta moral, de forma equilibrada, o que é diferente, muito a sério -, mas por mim, por aquilo não ser “eu” e por, de tão deslocada, ver com os meus olhos a dor que minha alma estava sentindo, para me levar até ali…

Mesmo assim, escolhi o licor de capuccino… Já que eu ia me flagelar, mas pelo menos, poderia ter algo gostoso no meio… Na fila do caixa eu era a próxima, quando minha irmã me ligou. Ela estava preocupada comigo, pois havíamos conversado durante o dia e eu estava visivelmente alterada. Ela me perguntou se estava tudo bem. Eu respondi que sim, olhando para o rótulo da garrafa e imaginando como eu me encontraria dali alguns minutos. O plano era beber em casa, até cair, sumir daqui por algum tempo…

O fato desta ligação me ter feito verbalizar uma mentira tão grande, fez com que eu deixasse a pessoa atrás de mim tomar meu lugar e eu fosse devolver a garrafa. Devolvi, mas continuei ali, reconsiderando… Eu não sentia o amor, mas no fundo ele estava mesmo ali, pois me lembrei dele… Lembrei de como doeria meu estômago, de como é ruim ficar bêbado, de como isso não tem nada a ver comigo e, por isso, pensei, beber seria um ato de pura baixa autoestima… Se ainda fosse uma overdose de chocolate, ainda vai, ainda é válvula de escape considerada normal para mim (embora também não seja!).

No dia seguinte peguei o carro com o objetivo de ir a um lugar de grande significado, que, no começo de tudo, me estimulou a seguir. Eu precisava ir lá “de mãos vazias” para encerrar a história, dentro de mim. Na viagem vinha uma vontade grande de voltar, eu não me via fazendo o que fazia, mas realmente larguei tudo e quanto mais eu sentia que era para voltar, mais eu bloqueava meu sentimento, agia com a cabeça e acelerava. O carro começou a travar, não acelerava muito, parecia “preso”. Fiquei com medo de sair da estrada monitorada e parei no meio do caminho. O medo de ter problemas mecânicos me fez ceder. Achei melhor ficar onde poderia ser amparada e decidi voltar. No dia seguinte… Precisava de uma noite longe de tudo! Na manhã seguinte eu quase não voltei. Em vez de aproveitar o hotel, assistir TV a cabo, me encolhi na posição fetal e chorei… Deu muito medo de enfrentar tudo outra vez, mas acabei cedendo. Curioso, para voltar o carro veio bonitinho, sem nenhum contratempo… E neste mesmo dia reparei-me com a minha realidade. 

Aos poucos, ao lidar com ela, fui voltando a confiar em mim, no amor, outra vez.  Mas nunca mais foi “limpo”, sempre havia obstáculos que me impediam de ficar naquele estado de alma especial, mais elevado e amoroso. Havia um conflito…

PARTE 19

Antes, em meus sofrimentos, o que eu sentia quando sofria era como uma pessoa que caminhava pela calçada e levava um tombo. Tudo ficava preto por um tempo, mas a visão ia voltando, a vida continuava no lugar e a pessoa precisava apenas se levantar e seguir. Parecia que este sofrimento era o que vinha de Deus: uma dor temporária, passageira, mas logo tudo voltava ao normal e ficava apenas o aprendizado. Havia uma bondade escondida nisso…

Este sofrimento ao aceitar minha vida sem este amor rasga a minha alma, é como uma pessoa que caminhava na calçada e vê um avião sobrevoando a cidade… Ouve um estrondo, procura abrigo e vê bombas caindo e destruindo quarteirões, um por um. Até que tudo fica preto. Ela fica desacordada, mas a visão vai voltando e ela se percebe toda ensangüentada. Ela tenta levantar, mas está ferida e sempre cai. Se arrasta e quando olha em volta, tudo o que conhecia como certo foi destruído, está sendo consumido pelas chamas, e ela se vê sozinha nos escombros.  Este sofrimento não parece o vindo de Deus para ensinar… Parece o do que é apenas uma ação que vai destruindo tudo, arrancando qualquer vestígio de esperança, de beleza, de recomeço, de bondade…  

São sofrimentos diferentes, mas por muito tempo eu mesma lidei como se fossem iguais… Para reconhecer virtudes verdadeiras a baixa autoestima significava impedimento, e ao mesmo tempo, também graças a ela, havia uma “carrasca” dentro de mim, exigindo perfeição. Eu menosprezei o que sentia, sendo dura demais comigo mesma, me cobrando uma virtude que eu ainda não tinha – só sublimar isso e abrir mão, como se não doesse. Tentando ser boa de uma forma artificial, fui imediatista, querendo dar algo que ainda não tinha, forcei a barra e fui má comigo mesma…

Já que vivo esta dor, para fugir dela, vocês pensam que eu não queria me importar menos com essas questões afetivas e simplesmente buscar outra pessoa e me entregar a ela? Sim! Às vezes eu quase cedo, mas isso me machuca tanto, tanto, que é melhor sofrer o que sofro, e recuar. Queria ser alguém que conseguisse se distrair com um jato de hormônios jogados na corrente sanguínea e simplesmente esquecer. Sabe, “enquanto o homem certo não aparece, divirta-se com o errado?”. Mas eu não consigo… E o dano emocional que terei depois não compensa o alívio momentâneo, diferente do que acontece com algumas pessoas que eu conheço. Não estou apontando erros na realidade de ninguém, estou apenas explicando a minha – e querendo o mesmo respeito com ela.

Queria conseguir “partir para outra” e deixar de querer o amor, me contentar com algo menos complexo, um “amor menor”.  Estou no meio do caminho: não sou nem tão evoluída para não me importar mais com essas necessidades individuais e poder me dedicar somente a causas mais altruístas, mas também não sou tão envolvida com minhas sensações corporais para deixar que elas falem mais alto que minha realidade emocional/espiritual.

Há três semanas, consegui admitir a raiva que eu sinto por tudo ter dado errado, por me sentir rejeitada, por ter sido machucada, por compreender a teoria de Jung e notar que eu não sou Freud, mas também terei que ter uma visão unilateral sobre o que move o ser humano – ter que publicar cem livros por ano como única forma de movimentar a minha energia criadora. Raiva por fazer tudo o que senti ser o certo e ele ser casado… Não admiti isso tendo comportamentos raivosos ou machucando ninguém, apenas escrevendo no papel, que é a minha forma saudável de extravasar.

É exatamente isso que eu estou entendendo, quanto a pensar que eu sou muito menos “etérea” que eu pensava ser, quanto pedir a Deus o que eu sinto ser um direito: não quero ser mais a “mulher maravilha”, superar tudo, sublimar tudo, entender tudo, abrir mão de tudo. Sem exagerar e tornar-me egoísta ou imediatista e não saber ceder, ou ser arrastada pelo meio, quero tirar o “maravilha” e ser simplesmente mulher, como todas as outras. Nem mais, nem menos. Ser igual a elas, não menos. Com as mesmas responsabilidades, mas com os mesmos direitos.

PARTE 20

Em vários momentos eu achei que esta negativa da vida era um exercício de pura resignação e eu precisasse simplesmente colocar uma pedra em tudo e buscar outros tipos de amor. Assim, numa boa, sem chorar nem pestanejar. Mas eu sinto necessidade de viver esta experiência! Não sei lidar direito com esta ausência, esta área da minha alma é muito importante para meu desenvolvimento. Não quero sublimar isso, não quero trocar este tipo de amor (conjugal) por outro mais altruísta (fraterno, social)! Queria muito conseguir isso, admiro verdadeiramente quem faz, tenho inclinação a isso! Mas ainda não é o momento. Seja por amor a mim, por aprender a me ouvir, seja por saber viver e reconhecer minhas limitações: a verdade é que eu não estou pronta para abrir mão disso! Fazê-lo, agora, seria hipocrisia minha, vaidade, não abnegação! 

Entretanto, exatamente por ser madura e ter feito tudo o que pude, em último caso, devido às circunstâncias, a tudo o que não depende de mim, aceito lutar para aceitar tudo isso e, para sofrer menos, viver o amor que faltará, em outras formas. Mas não é porque não pude concretizar meu sentimento que tenha sido ilusão. Mesmo que apenas dentro de mim, eu vivi tudo isso e sofro por não poder prosseguir!

Eu preciso colocar para fora tudo isso porque assim não teria nem como voltar atrás… Eu preciso de uma definição, e consegui: em vez de precisar ouvir da boca dele que ele também sente algo por mim (ainda que não pudéssemos concretizar a história, só para saber que eu seria a “intuitiva”, não a “mimada carente de Hollywood”) para poder dizer “ah, então, é amor!”, busquei as respostas dentro de mim, encontrei-as e procuro, então, encarar os fatos. Em vez de ir levando a história bem devagarzinho, com esperança de um dia ser melhor, eu decidi que não posso mais “esperar e nunca ter”… Que dói demais usar a esperança, que é algo bom, para alimentar a minha dor, e não para consertar a ferida depois de cicatrizada, ao assumir que ele não vem

Viram, como realmente não precisamos dos outros para resolver os nossos problemas, e que culpar a outrem é desculpa para não mudar por dentro? Precisamos nos aceitar como somos! Se mudarmos dentro, tudo muda: ainda que não mude externamente, já não nos atinge mais, ou nos abala bem menos.

Ao assumir um defeito – raiva – e ouvir sem críticas o que eu sentia, eu “desci do pedestal” onde havia me colocado, como se só porque “não sentir raiva” ser algo bom, eu não pudesse mais senti-la, de uma hora para outra. Senti-me mais humana e apta a conquistar um estado de alma mais elevado, pois estava lidando com a verdade. Isso me fez ainda mais mulher… Agora tenho compreensão com a eu que sofre. Ele não é boba, ela não é fresca, ela não é “mundana”, perto da outra que consegue amar incondicionalmente (mesmo que por breves períodos, ultimamente): ela é simplesmente humana. Ela também sou eu e é exatamente por querer que a “sublime” comande por mais tempo, que preciso ficar em paz com a que “quer e chora”, deixá-la chorar tudo o que precisa e ser livre para ir, para viver as outras áreas da minha vida e até mesmo este meu amor (mesmo que unilateralmente) em paz…

PARTE 21

E exatamente por não exigir mais perfeição de mim, encarando minhas queixas, deixando as dores do ego aflorarem (mas, repito, sem ir ao extremo e deixar com que ele fique no comando!), eu reconheci o quanto não aceito o fato de não viver isso. E, ironicamente, o fato de me ver como sou fez com que eu ficasse em paz e consegui ficar “voando” outra vez…

Nos últimos dias, angustiada para colocar tudo isso para fora de vez, nunca conseguir, (seja por outras obrigações que pareciam reproduzir-se como coelhos, seja por ouvir uma voz depreciativa que a autora do livro “Palavra por Palavra”, Anne Lamott, descreve como a “estação de rádio QMRD” – que merda – sempre desestimulando o escritor a continuar, como se tudo o que ele fizesse fosse ruim, me fazendo derrubar um Golias por dia, para conseguir ao menos ligar o computador – outro três vezes maior, para conseguir mexer com o texto) e estar sofrendo mesmo devido à história, em alguns momentos, tive algumas recaídas, alguns momentos de muita dor – em um até chilique eu dei.  Este fato exigiria muitos conceitos e, novamente, exposição de intimidades, portanto, manterei oculto.

 No outro, mais sutil, dias antes, comecei a chorar perto de alguns amigos, com crise de “Não sei mais quem eu sou”. Analisando os fatos, percebi que esta nova rápida recaída aconteceu porque eu me questionei. Ao duvidar de mim (de novo!), ouvi outra vez meu lado mau, que desdenha de mim, que faz com que eu me sinta ridícula, e tudo isso pareceu “conto de fadas furado” outra vez.

Entretanto, ao fazer uma oração e ouvir uma música linda, que fala sobre acreditar nos sonhos, que tem uma visão linda sobre o ser humano e nos chama de “anjos de luz”, eu percebi o quanto esta sensação que parecia lógica era advinda da baixa autoestima e resultava em desespero. Não era a realidade vindo à tona, como uma crise também poderia ser… Precisei, novamente, acreditar em mim. Ao fazer isso e ter coragem para escrever, tudo ficou em paz outra vez.

Mais um parênteses: esta visão da música “I Believe in You”, ao estimular o vencimento de obstáculos, nos chamar de anjos e que há quem acredite em nós, tem a ver com tudo o que eu penso sobre nos vermos por um prisma negativo não por sermos essa porcaria – que muitos “realistas” enaltecem -, mas, sim, por alimentarmos esta tendência negativa, já que somos uma Humanidade ainda muito restrita emocionalmente e deixamos de ver nossas potencialidades. Basta mudar o foco!

Continuando… Um abraço dele por um simples “oi”, como aconteceu recentemente, me faz querer abraçar o mundo… Mas ao mesmo tempo, sinto sua ausência. Não houve um dia sequer desde que eu o conheci que eu não tenha sentido sua falta, que eu não tenha ao menos desejado que ele estivesse bem, já que não poderia estar comigo… Às vezes senti mesmo uma dorzinha, uma frustração por não tê-lo por perto, mas em outras a ausência dele servia para que eu “caprichasse” no esforço para sentir o amor dentro e eu era tão bem-sucedida, que o espalhava ao meu redor…

E como é bonito ver o estado de alma que eu naturalmente atinjo depois de encontrá-lo. Sem raciocinar antes e fabricar o momento… Quando muito, o sentimento é tão nítido que torna-se perceptível até para a mente, depois… O bem que faz somente por estar por perto, vê-lo. Se ele sorrir para mim, então, é o paraíso…  Como isso pode ser pouco, pode ser “migalha”, se me faz voar muito mais que muitos contatos reais e bem mais próximos com outras pessoas?

PARTE 22

Já que muitos poderiam se assustar e achar que afirmar isso é me entregar de bandeja a ele, eu digo que continuo afirmando… Não fazê-lo seria proteger a autoestima, ou é um argumento que impede muitos de nós a nos entregarmos, não por dignidade, mas por medo da rejeição? Até porque ele já sabe que eu sinto tudo isso por ele – e eu já fui rejeitada (risos). Não tenho nada a perder! Não se preocupem por mim: se, algum dia, hipoteticamente, ele entendeu errado e se sentiu dando migalhas e tendo uma boba aceitando, direcionando este gesto para seu Ego, a perda é dele… Eu é que não vou deixar de viver isso, alimentando meu Self, só porque outros não enxergam como eu! Ainda que este “outros” seja alguém tão importante quanto ele. Portanto, digo aos sete ventos o que sinto! 😀

Com tudo isso, acho que deu para perceber que julgar realmente não é recomendável! E fazer isso pelas aparências, ainda por cima, é 95% de chance de erro, correto?  E não é porque aparentemente encaixemos num rótulo que ajamos como os modelos deste rótulo. 

No rótulo eu seria “a outra”, mesmo que só pelo fato de “cobiçar a mulher do próximo”. Mas na essência eu sou muito mais mãe de família do que muita mulher casada por aí, portanto, cuidado com as idéias pré-concebidas, vindas da cartilha imaginária da vida… Não sou um “rabo de saia” que iria só usar, jogar fora e “destruir o lar”; ou alguém que faria um ser humano regredir e voltar a ter ligações mais simples, fáceis (como um namoro superficial), o que poderia ser uma tentação para fugir das responsabilidades do lar, desestimulando uma alma a progredir; ou mesmo um tipo de ligação idêntica a que já existe, só que “novinha em folha”, o que também poderia estimular o desvio de uma construção para viver uma situação mais fácil e cômoda. Sou uma mulher decente, que não escolheu amar um homem casado e nunca agiu de má fé, mas cujo próprio sentimento a incentivou a crescer, a fez viver dentro de si um amor que só existia como possibilidade e acreditar que era merecedora de felicidade. Não sou uma figurante numa história de outros, sou protagonista da minha história, uma mulher, que existe, merece ser levada em conta, com necessidades, com um sentimento sério e real e que realmente sofre por não poder realizar isso!

O que eu sinto é bom, tem, inclusive, potencialidade para chegar ao mesmo compromisso do lar, às mesmas responsabilidades, não é desvio para ninguém. Claro, isso tudo sou eu quem vejo e posso estar enganada. Não é porque eu vejo a potencialidade do que sinto que ache que já está tudo magicamente garantido. Eu também teria que passar pelo processo do experimentar, do ver se dá certo, de conhecer, de tocar etc. Devido às circunstâncias externas, não terei esta oportunidade, mas pelas circunstâncias internas, o que eu sinto é bem forte para me colocar no mesmo patamar de quem sofre uma perda real. Por isso, preciso respeitar não só minha conduta, mas também meu sentimento!

PARTE 23

Fulano conheceu seu amor numa balada, Beltrano no curso de inglês, Joaozinho numa viagem a Paris, Mariazinha conheceu na faculdade. Saíram, riram, conversaram, abraçaram-se, beijaram-se, relacionaram-se intimamente e viram que queriam aquela pessoa e depois, ao experimentar, puderam ver se, na prática, se funcionava.  Eu já sabia que era ele que eu queria, só confirmei quando o encontrei. Mas, no meu caso, eu não terei como “experimentar”. Não é porque eu sinta um amor assim que eu não esteja sujeita às mesmas leis: todos nós estamos no mesmo barco, não sou privilegiada e todos precisamos conviver para saber se é isso mesmo o que se quer. Às vezes duas pessoas individualmente são boas, mas juntas, não dão certo (por isso não podemos seguir a cartilha pronta, senão, basta a pessoa estar no grupo dos “bons” para servir, sem ter o trabalho de ver se há afinidades reais entre os dois indivíduos).

Não é porque o “como” eu cheguei a ele seja diferente do convencional, que já esteja tudo pronto ou que eu seja melhor. Assim como só pelo fato de sentir algo mais forte, não há mágica para garantir uma hipotética afinidade prática de casal, só por sentir o que sinto não significa que eu não passe pelos mesmos medos, questionamentos, e tenha as mesmas expectativas, as mesmas vontades que uma mulher de 30 anos tem. Não é porque sinto tudo isso que eu não me pergunte: “Será que temos química?”; “Será que daria certo?”; “E se ele me magoasse?”; “Vale a pena prosseguir?”. “Será que eu dou conta de tentar um relacionamento com um homem com esta bagagem?” – tanto pela diferença de experiências, o que poderia me “rebaixar”, parecer menos atraente, quanto pela minha capacidade de ter um relacionamento mais maduro. Dá um frio na barriga…

Talvez, por eu estar tão assustada pelo formato da situação, eu tenha feito um esforço tão grande – seja a ele, seja aos amigos preocupados – para mostrar o lado etéreo do sentimento, que tenha realmente passado a imagem de sentimento criado por uma “pessoa mimada carente influenciada por Hollywood”. E não apenas por isso, mas também por eu estar enxergando este lado mais “prático”, imperfeito e palpável com mais clareza e ele ter se tornado mais importante para mim ultimamente. 

Eu sei o que é ter que fazer o que não se deseja naquele instante, em prol de alimentar a relação; sei o quanto há diferenças entre as pessoas, como cada um pensa de uma forma e tem hábitos diferentes, tornando essencial o “ceder”; sei que amor por si só não garante boa convivência, isso requer esforço diário; sei que a vida é cheia de desafios a todo momento, e que a área afetiva é apenas mais uma frente de aprendizado – mas que, se bem exercitada, pode ajudar muito nas outras! A vida não é só um romance que, ainda por cima, acontece pronto. Não que eu pense que ele (ou o suposto príncipe que eu visse nele) fosse me acordar todos os dias com uma bandeja de café da manhã, que fosse sempre sorrir e satisfazer minhas vontades, que fosse ser como o “Leopold” do filme “Kate & Leopold” (que, confesso, eu adoro. Mas para desanuviar a mente!). Eu não quero Lord, eu quero um companheiro, um homem comum – mas especial, sim, para mim

PARTE 24

Eu não quero um relacionamento porque preciso de alguém para carregar uma sacola, abrir a porta do carro enquanto eu as equilibro, limpar quintal, cortar mato, lavar carro, trocar lâmpadas ou livrar minha casa de bichos (eu mesma expulso as pererecas no verão, mato barata – e choro se as vejo em agonia, principalmente na TPM! – e até com o ratinho que um dia decidiu me fazer companhia, eu tive que me entender ) ou montar máquinas meio “abruptas” e o homem ter a pele mais grossa para se machucar menos, devido à sua força ou, de maneira geral, preciso ter um homem para dizer o quanto sou bonita, importante, engraçada etc. Eu tenho espelho, gosto cada vez mais de mim e rio sozinha das minhas piadas. Não deixo de viver ou de me admirar por ser sozinha. Meu Excel me ajuda com as tabelas domésticas – adoro planejá-las, e eu tenho saúde para executá-las! Não quero me “pendurar” em ninguém! Mas, sim, eu adoraria poder dividir a vida com alguém que valesse a pena, que um companheiro que,  me ajudasse em tarefas mais másculas para se sentir útil e eu, protegida (e eu aprendesse a aceitar ajuda, tanto por ser feminino, quanto pela questão da autoestima, de me sentir merecedora); fora a beleza da construção do amor, da vida emocional, encontrar outro universo a ser descoberto e deixar que desvendassem o meu!

Eu não estou em busca de um modelo para uma fantasia minha, encontrei alguém que encaixa em cinco quesitos bobos e estou bitoladinha nele… “Se não fosse ele, poderia ser alguém muito parecido”… O que eu sinto é por ele, é a presença dele que ilumina meu dia, minha semana, meu mês, minha vida; é o olhar dele que me faz sentir que nada é impossível, até mesmo passar a vida sem ele, se necessário for, de tanto que vê-lo já significa para mim -por mais contraditório que pareça…

Digo para meus amigos que a felicidade interna, pessoal, é a refeição, o feijão com arroz, e a afetiva conjugal é a sobremesa: se você vai direto para a sobremesa, você fica se sentindo mal. Mas se você come só a comida é o que basta, até dá para viver apenas com isso, só que falta um complemento…

Eu li há pouco tempo num desses e-mails que recebemos com apresentações de Power Point uma frase de Dr. Drauzio Varela, dizendo que as relações amorosas tem como finalidade facilitar nossas vidas. Ele discorre falando que precisamos conseguir ficar confortáveis com o ser amado no silêncio, conseguirmos ser quem realmente somos etc. Eu já quis um amor para suprir minhas carências e mesmo este, em alguns momentos “Ego”, eu quis por isso. Mas o sentimento é tão maior que me fez encontrar um grande amor por mim no caminho, tornando a presença do ser amado praticamente “desnecessária”, de tão feliz que fico apenas ao sentir isso.

Este sentimento não foi criação minha. Apesar de ser íntimo, era algo além de mim. Portanto, como eu nunca soube “falar não” nem menosprezar o sofrimento ou o talento dos outros, de fora, foi muito difícil negá-lo ou ridicularizá-lo, mesmo ele estando dentro de mim. Ele sempre foi maior que eu. Então, eu o aceitei. Só que, por ser meu e estar diretamente relacionado a mim, fez com que, ao valorizá-lo, eu valorizasse a mim mesma e pudesse não apenas amar meu amado, mas transferir este amor até mesmo para mim, mesmo com todas as dúvidas. Ele é forte demais e me fez vencer todas elas…

PARTE 25

Não importa o que aconteça, o quanto eu me perca e me desvie: sempre que me coloco de volta no caminho, encontro este amor intacto dentro de mim. Se é falso, por que sempre está lá? A esta altura, se todas essas negativas fossem apenas reflexos de que estou enganada, já não era para ter sido desiludida? Por que em vez de o tempo desgastar a minha suposta ilusão, me mostrar, através de fatos, que estou enganada, eu sinto um impulso para não me deixar abater por eles, apenas superá-los, e encontro o sentimento igual ou maior que antes? Se este sofrimento todo fosse fruto de eu não me amar e me contentar com pouco sendo, portanto, um “amor” tóxico (amor é amor, nunca é tóxico, nós é que erroneamente usamos da mesma palavra para referência a sentimentos diferentes), porque hoje minha autoestima é ainda melhor que no começo, mas o sentimento é ainda maior e inclusive, estão interligados no processo de amadurecimento? Se eu vivesse algo tóxico e continuasse nisso, minha autoestima estaria menor ou igual; ou maior, mas para isso eu deveria estar liberta do sentimento ruim, que não é compatível com boa autoestima. Os dois juntos não seria possível!

Outro fato digno de análise é que desde três semanas atrás, quando eu decidi escrever tudo isso e comecei o texto, as unhas voltaram a crescer, o intestino a funcionar e eu nunca mais chorei de berrar e babar (o que é isso, meu Deus? Babar? Nunca chorei assim, mas este choro desesperado virou hábito nos últimos meses). O “irreal” pareceu lógico, correto, outra vez, e assim me mantive, em linhas gerais.

A diferença entre este sentimento e os outros, é que aqueles sempre me faziam questionar quem eu era, o que é que eu estava fazendo, para onde estava indo, e este me fez encontrar a resposta, encaminhando-me para ela…

Há mil hipóteses que poderiam explicar o que é tudo isso. Resolvi acreditar na mais óbvia para mim: a minha! Além de ser um exercício de confiança em mim mesma – algo que faz sentido neste momento da minha vida -, é o mais sensato, já que não temos condições de julgar as causas oculta das coisas, mas a vida nos dá um meio para isso, que nem todos usam: a intuição. É graças ao seu bom uso que aprendemos o que viemos aprender aqui e evitamos desvios. Mas como uma pessoa que tinha baixa autoestima e era (ainda é, não deu tempo de consolidar o aprendizado, é uma luta constante!) insegura, poderia acreditar que coisas boas pudessem sair de si ou acontecer a si e, assim, confiar em si mesma? Graças a este sentimento, que era bom e poderoso demais para ser desprezado, aprendi que eu poderia “cometer a loucura” de acreditar em mim. Ele me salvou em momentos quando tudo parecia estar perdido, quando eu já não sabia mais quem era… Foi por lembrar do quanto ele era verdadeiro, por mais que não conseguisse mais senti-lo, que voltei a ser lúcida outra vez…

Sei das mil hipóteses possíveis e, acreditem, para mim seria muito mais fácil me depreciar, abrir mão e dizer que foi tudo um engano. Esta segurança não é compatível com a minha insegurança!

PARTE 26

Por anos guardei este segredo comigo e muito sofri, porque não sou do tipo “taciturno”; sou expansiva, extrovertida. Claro, o que eu sinto é da alçada de minha vida particular, mas no geral, sou muito mais a que “conta aos confidentes” que a que “leva para o túmulo” (calma, confidentes, falo de mim, da minha necessidade de exteriorizar como mecanismo para me conhecer, mas posso guardar segredos alheios, não fiquem com medo! :P). Guardar este segredo foi e ainda é muito difícil para mim. Já precisei revelar a um grupo de pessoas, e apesar do incômodo ao levar a público algo íntimo, por outro lado, entendi o mecanismo da vida ao me forçar a fazer algo que eu, voluntariamente, não faria. E notei o certo alívio que senti…

Este alívio veio do fato de eu concretizar algo que só existia na minha cabeça. Colocar no mundo o que só fazia parte do meu mundo. E, assim, eu poder dar mais um passo adiante. Este sentimento não é algo que deve ser escondido, deixado no mundo da fantasia, como uma adolescente faz e confidencia às amigas; mas um fato que, por mais difícil que seja, pode ser enfrentado já que, quem o sente não é aquela mocinha, mas uma mulher.

 E muitos, mesmo com a melhor das intenções, deram conselhos que sempre favoreciam o Ego (“olho por olho, dente por dente”: se você não recebe amor, não dê; portanto, esqueça e seja feliz etc.), pois me viam em sofrimento e queriam o melhor para mim. Conversei com a minha irmã sobre isso esta semana e finalmente ela me entendeu e eu a entendi. É comum quando alguém nos procura, ficarmos alarmados pelo estado de dor da pessoa e, por querer que isso acabe e por querermos ajudar, precisamos fazer alguma coisa. A pessoa de repente tem intuições, pressentimentos, mas nós, não, e fazemos o que está ao nosso alcance naquele momento – falar o que pensamos.  Além disso, com a melhor das intenções, temos a tendência a opinar baseado em conhecimentos genéricos, sem, muitas vezes, conhecer a peculiaridade de cada situação. Eu fiz isso com a minha irmã… Os papéis foram invertidos, e finalmente nos entendemos. É muito difícil para a outra parte ficar quieta, pois ela sofre junto. Mas isso pode ser uma visão parcial e até subjetiva, portanto, precisamos nos esforçar para alcançar a empatia, para realmente nos colocarmos no lugar da pessoa e realmente ajudar.

Eu não conseguia concordar com eles porque sentia o que sinto, mas eu não era forte o suficiente para “segurar a bronca” e defender o sentimento com unhas e dentes, sentindo-me completamente confusa, sozinha e frustrada. Ainda por cima, sentia o amor deles, a preocupação, e parecia errado até com eles seguir, pois isso fez alguns deles sofrerem junto. Algumas vezes eu ficava, então, ainda mais perturbada quando desabafava. Comecei a guardar, ou falar só pela metade, o que foi um desafio enorme para mim. Foi outro sofrimento ser desacreditada até por amigos e não conseguir nem desabafar sobre tudo isso…

PARTE 27

Agora eu não vou mais precisar esconder um segredo como se eu fosse uma criminosa; agora eu vou sentar numa mesa de Café com as amigas e elas vão reclamar dos namorados, noivos, maridos, falar dos filhos e, se eu achar conveniente e quiser falar sobre, também terei assunto nesta área: como eu faço para superar a dor que eu realmente sinto, e não mais ser a “trintona que vai ficar para tia, é tão boazinha, tem medo de se relacionar e vive sozinha, mas um dia ‘vai encontrar alguém’”! Vejam, não estou aqui enaltecendo a depressão ou “viver do passado”; exatamente por admitir que isso não é bobagem, que é um problema, eu passo a estar tão satisfeita comigo mesma, tão feliz por não ter me abandonado, por ter ficado comigo mesmo quando ninguém mais ficou, que me sinto mais forte e tenho mais esperanças de que um dia tudo isso vai passar e eu vou ser feliz, inclusive nesta área. Ao me enxergar como mulher com “m” maiúsculo, eu me sinto tão capaz de enfrentar qualquer coisa, que, talvez, no futuro, possa até mesmo ceder alguns pontos nas minhas convicções – se isso for me trazer um benefício. Por tudo o que eu fiz, eu mereço viver um relacionamento saudável. Então, mesmo que não possa ter do modo como deveria ser originalmente, consigo me sentir capaz de abrir meu coração, um dia, para outro tipo de amor afetivo, se isso for me fazer bem.

Entretanto, não respondo por mim no futuro, respondo somente por quem sou hoje. E, no momento, “me permitir”, “partir para a outra” não são medidas muito boas para mim… Resolveria a negativa amorosa, mas feriria profundamente minha natureza. Só que, para não ferir minha natureza, vivo a impossibilidade na vida amorosa, o que é muito, muito dolorido. Não encaixa… Mas preciso seguir!

Para muitos – ou para os que se precipitam ao analisar, ou para quem não acredita num amor assim -, é muito mais fácil dizer que eu estou confundindo, me colocar num padrão pré-estabelecido e deixar tudo como está… E por anos eu, com minha insegurança, permiti que fizessem isso comigo. Eu duvidei, eu quase me desviei, quase aceitei sentimentos bons que me foram oferecidos… E eu, o que poderia dar? Não aceitar este outro tipo de relacionamento foi uma escolha minha. Pelo que eu tinha com ele (ser amado) de concreto – nada! – eu tinha total direito de ir. Não o fiz por fidelidade a ele, por estar “aos pés”. Eu simplesmente coloquei numa balança o benefício que um relacionamento contrário ao que eu acreditava traria e o mal que negar a minha natureza me faria. Eu cuidei de mim! Estranho seria se, só para não (supostamente) inflar o ego de um homem, eu, só por não ser interessante para o Ego dele, negasse quem eu sou! Pode ser uma lógica invertida para muitos, mas o resultado é o mesmo de ao lidarem com o “a fila anda”, quando nos magoam e paramos de aceitar a situação: fiz por amor a mim!

E não importa o quanto eu tenha aprendido a entender a importância do meu Ego, de ouvir o que ele diz: não é por isso que vou mudar de extremo e deixar que ele (Ego) passe a tomar conta. Continuo sendo movida pelo Self! E manter raiva, rancor ou mágoa é o oposto do amor, o oposto do que eu busco, gerando outra luta interna. Se não o “ofendo” perante os outros ou mesmo dentro de mim, só para sinalizar que eu me respeito, ou se continuo querendo seu bem, não é por me anular ou mesmo um grande gesto altruísta: é, também, por amor a mim, para ficar em paz com o que sinto e com quem eu sou – alguém que prefere ceder e parecer em desvantagem, que manter rancores ou mágoas, quando nos sentimos rejeitados. Às vezes leva um tempo para atingir o objetivo (não tenho sangue de barata!), mas descobri que não posso deixar de tentar, pois sempre consigo!

E não é só isso… Se eu levo tão a sério o mecanismo “ego/self”, preciso entender que ele também oscila nos dois lados, como qualquer um de nós. Se eu quero alimentar meu Self, automaticamente tenho a tendência a perdoar o Ego dele e acreditar na capacidade de seu Self. Não apenas por sentir profundamente ser possível, por admirá-lo e acreditar nele, mas por já ter visto com meus olhos isso acontecer muitas e muitas vezes, e ter motivos concretos para continuar acreditando. 

PARTE 28

Se hoje, portanto, eu não quero que meus amigos, ao ouvirem isso, hipoteticamente o diminuam (ser amado) para que eu suba – que é o que a maioria ainda faz quando há uma rejeição – não é porque eu seja uma bobinha. Eu continuo respeitando o ser humano decente que ele é. Admiro-o, sou-lhe grata pelo modo como lidou com tudo. Além disso, quero realmente que ele fique bem e seja feliz. Quero vê-lo sempre com o semblante sereno e com o olhar cristalino que me encanta, onde vejo tanta coisa boa, como muitas vezes eu já vi, e que automaticamente me eleva… Isso me faz feliz!

Fiquei me perguntando se escrever tudo isso aqui não era um gesto de autodepreciação, expor sua vida à toa e colocar-se em situações difíceis… (rádio QRMD). Mas eu lembro do quanto fui grata à Elizabeth Gilbert quando lia “Comer, Rezar, Amar”. Já existem muitas noções de boa conduta moral pelo mundo, já sabemos o quê fazer, mas ainda é uma incógnita para nós o como. Olhar os pormenores da vida de alguém e, por mais que tenhamos outras histórias, compreender seus mecanismos e poder transportá-los para a nossa é uma excelente ajuda! À época, lembro de ter admirado a coragem dela por expor sua vida, e, graças a isso, ter ajudado tantas pessoas a encontrar algumas respostas, pela força do exemplo. E, como eu tenho ainda meus problemas de autoestima, percebi o padrão: ela fazer “é admirável”, mas eu fazer “deve ser errado, não é possível”! Esta tendência em ver os defeitos em mim… Preferi, então, analisar tudo isso e seguir minha vontade, percebendo o quanto me sentia bem ao pensar em escrever e no próprio ato de.

Percebi que é assim que minha alma processa os sentimentos: depois de viver a experiência que desperte o aprendizado futuro, de analisar as consequências internas, escreve para organizar os sentimentos e somente então, age. Eu preciso deste movimento. Outros, não, lidam com seus sentimentos de outra forma: através de outra manifestação artística, ou só refletindo, ou simplesmente agindo.

Talvez quem já se conheça mais ou já seja mais seguro precise de menos “movimento”, de um gesto menor, para atingir o objetivo, a sua verdade, a linha do equilíbrio. Eu estava mais longe dela e precisei fazer movimentos maiores para alcançá-la. E minha forma de me entender é a escrita, então, aqui estamos… 

E só uma ressalva: no livro, Elizabeth Gilbert conta que o atual marido, “Felipe”, quando a viu de costas, soube: “Vou casar com esta mulher”. Eu já contei como o conheci? De costas, conversava com um amigo. Eu o vi (sem saber se ele era ou não bonito, sem ter tido algum tipo de atração física por ele, ter enviado informações para meu cérebro e depois ter desenvolvido uma impressão) e senti um “choque na alma”, arrepiei todinha: “Quem é ele?”. E é aqui que perco alguns leitores: eu não senti arrepio em todos os pêlos expostos na epiderme do meu corpo. Não… Primeiramente, eu senti um impacto no que alguns chamam de aura, o campo energético que nos circunda a cada um, emanado de nossa alma. Depois, arrepiou tudo… Sensações similares tive posteriormente, quando descobria algo em comum, ou quando poderia jurar que ele se referia a mim ao dizer algo, mesmo que fosse genérico e eu não tivesse motivo palpável nenhum para concluir isso racionalmente…

PARTE 29

Defendo, assim, meu “amor sutil”, a possibilidade dele existir no mundo, como sei por outros exemplos que existe. Não nego, porém, meu lado humano que sofre. Não sou falsa, ou bipolar, quando aceito o aprendizado que tive no meu estado “Ego” e volto a ser “Self”, mas logo tudo muda outra vez… Estou apenas expurgando minhas imperfeições e, pela determinação ao sempre buscar o amor, o melhor em mim, consigo ficar cada vez mais forte para vencer e ao mesmo tempo um pouco mais leve e limpa dessas características, que me prendem neste estado mais egóico. O que é diferente de fazer uma coisa e sentir outra, ou viver entre dois extremos por ter um distúrbio psicológico, como também poderia ser. Repito: focinho de porco híbrido com enguia na parede, mas não é tomada! Cada sentimento em essência e quantidade tal significa uma coisa, mas misturado com outros, resulta num terceiro resultado, formando cada situação, cada indivíduo… 

Assim, chegando ao um equilíbrio relativo entre os extremos, fico mais em paz, por não mais exigir o que ainda não consigo dar ou me ver de forma maquiada, o que era uma atitude infantil. Haverá momentos, dias ou longos períodos de tempo em que conseguirei deixar este sentimento aflorar. Mas haverá também os momentos de dor, de tristeza, pelo menos por enquanto. Preciso respeitar isso!  

Portanto, se eu acredito num amor “maior” não é por ilusão ou imaturidade, mas por ter uma visão diferente (certamente compartilhada por muitos!) do que seja a realidade!

Eu já fiz tudo o que poderia, da minha parte, para fazer este amor dar certo. Eu sempre acreditei nele; eu sempre busquei. Eu encontrei. Estava, inclusive, à época, livre para poder me dedicar inteiramente a isso (e, por opção consciente, assim me mantive), pois seria uma história que demandaria sacrifícios. Eu os fiz. Eu venci meus medos e até agi, o que antes era algo que me arregalava os olhos e me faria ir pintar as unhas de rosinha a abaixar a cabeça, mudar de assunto. Não que eu não vá mais pintar as unhas de rosinha (cintilante, ainda por cima… rs…), porque eu adoro. Mas o farei por estar em paz comigo, não por me sentir uma menininha. Não dá para eu colocar uma arma emocional na cabeça dele, apontar, dizer “Ama eu aí” e arrancá-lo da vida dele. Não é isso que este tipo sentimento pede, nem que minha autoestima permite! Portanto, na minha parte, eu estou em paz, fiz tudo o que podia para acontecer… 

Não terei mais a consolação de, quando um amor não dava certo, ter este sentimento que hoje tem um nome, um jeito e um rosto, a me deixar feliz na tristeza, a me estimular a sonhar, porque já o conheço, entretanto, ele não foi possível; mas posso, sim, quando a ferida cicatrizar, lembrar do que vivi – que foi real – e permitir que esta certeza de que o amor existe volte a invadir meu coração. Não mais pelo sonho do que poderia vir a ser, mas pela lembrança do que realmente aconteceu. Que o que eu perderei em possibilidade futura eu ganhe em saber que isso existe e volte a agradecer por ter conhecido este sentimento que, apesar de tudo, sempre vale a pena ser vivido. Certa vez, falando sobre este assunto, uma pessoa muito querida disse que segundo sua filosofia, se fosse mesmo uma história de amor, jamais acabaria. É exatamente assim que eu penso!  🙂

Sendo assim, esta é a minha dor, a minha história, a minha realidade. Preciso definir esta situação para que eu possa ter pontos de partida novamente: esta sou eu, eu assumo, e estou passando pelo momento de lidar com a ausência de concretização nesta área da minha vida, sendo tão importante e fazendo tanta falta. Preciso lidar com isso. Já que é esta a minha forma de me expressar, preciso fazê-lo para que eu entenda que o que eu sinto é tão forte e real que me trouxe até aqui; que eu nunca mais permita que me façam pensar que eu sou infantil ou “louca”. Não sou melhor do que ninguém, mas também não sou pior, e o tempo que isso poderia me confundir, acabou.

PARTE 30

Mundo, muito prazer, esta sou eu! Se eu tenho muitos momentos de alegria não é porque minha vida seja um mar de rosas e eu seja privilegiada: apenas minhas lutas são de natureza mais particular, nem sempre vistas a olho nu (se cada alma é um universo, cada uma estará explorando uma área de si. Uns sofrerão ou serão felizes de uma forma, outros, de outra. Assim, graças à afinidade, à empatia, o sofrimento ou a vitória de um poderá ou não sensibilizar o sentido de outros. Mas nem por isso os não reconhecidos deixarem de existir! Portanto, menosprezar qualquer pessoa, qualquer dor ou qualquer conquista é uma atitude de ignorância! Se não conhecemos a fundo, por que não simplesmente respeitar?). Quando um sofrimento obrigatoriamente não me acomete e eu posso escolher meu estado de alma, ou mesmo nos sofrimentos para os quais eu tenha maior tolerância, procuro escolher o riso, a esperança, a fé e a felicidade, mesmo que nas pequenas coisas. Não o faço por ser de “outra tribo” e isso ser fácil: faço por escolha, por esforço. Como cada um pode fazer… E adeus maniqueísmo: se eu tenho defeitos, isso não faz de mim uma má pessoa, assim como não seria perfeita só por estar sempre com tudo “certinho”. Não somos personagens superficiais no romance da vida…

Hoje eu consigo “colocar ordem na bagunça” e deixo o sofrimento restrito a esta parte de minha alma – a área afetiva conjugal – e não mais me desespero e perco o sentido de tudo, só porque não sei mais quem sou ou uma de minhas maiores ferida foi aberta e me tirou o chão. Depois de chorar, comer uma barra de chocolate ou ficar meio quietinha no canto, eu levanto, olho no espelho, faço alguns elogios e saio para dar uma volta, se for final de semana, ou faço um cafezinho e me animo. Escolhi ser feliz, não importa o que aconteça. Mas não posso me iludir, deixar de reconhecer que hoje estou infeliz e deixar de entender a dor que eu realmente sinto, só porque gostaria de não mais sentir. O que não significa que eu alimente rancores ou me torne amarga…

 Portanto, críticos de plantão, alto lá: estou expondo, voluntariamente, algumas particularidades minhas porque vejo um fim útil nelas para mim e para aqueles que querem refletir. Cuidado com seus pensamentos e atitudes… Não queiram vocês me analisar por um ato simbólico e taxar as pessoas como mocinhos e vilões, porque isso é pensamento de quem vive a vida como se tivesse apenas duas horas!!!

O que revelei, o fiz voluntariamente. Mas não autorizo ninguém a se sentir no direito de discutir minha vida particular como se fosse pública. Quem vier com perguntas ou atitudes indiscretas, movidas pela simples curiosidade ou por motivos levianos, estará dando um atestado de baixa autoestima, demonstrando ter aquele tempo e energia para ocupar-se com a vida de terceiros – e descuidar da própria! Poderá até dar certa dor de cabeça, mas vai passar, e no fim só despertará compaixão e pena!

Então, graças a ver o quanto pode haver de oculto num coração, aprendamos todos a lição: vida íntima é como o nome diz – íntima. Vamos perder o hábito de perguntar para pessoas que não sejam tão próximas (como confidentes, amigos), “como vai o coração”, qual a situação conjugal: “você está namorando?” ou “você não casou”, “terminaram, separaram, por quê?”, e por aí vai. Que inconveniência! A não ser que seja um/a pretendente, que tenha um motivo útil… O mesmo vale para vida financeira, trabalho… Até porque, num mundo como o de hoje, dá para pensar que seremos vítimas de golpes ou seqüestros. Gente, etiqueta de bom-senso: se ainda assim nos atrevemos a perguntar sobre coisas mais pessoais a pessoas distantes e a pessoa não estica a conversa, mudem de assunto e parem de vasculhar!

PARTE 31

Queridos amigos e seres amados que me cercam: desculpem o trabalho e a preocupação que tenho dado! Mesmo para aqueles que não sabiam a razão… E muito, muito obrigada por tudo! Vocês não sabem a importância que exercem em minha vida! Apesar de nem sempre ser compreendida, seu carinho me ajudou a chegar até aqui, e me dá forças para continuar!

Porém, por mais que isso aquiete seu coração sinceramente preocupado comigo – o que eu reconheço e aprecio – não queiram resolver meus problemas por mim. Não me enxerguem mais como a menina frágil, indefesa, que precisa de apoio para tomar decisões. As decisões eu tomo por mim, já tenho autonomia para isso! Mas aceito a ajuda para “segurar a barra” quando eu estou sofrendo para escolhê-las ou para conseguir mantê-las! Eu só quero poder desabafar, só quero um par de ouvidos solidários, um abraço… Isso já me ajudará imensamente, não precisa ficar angustiado/a para dizer algo, como se pela ausência disso vocês fossem impotentes. Não são! Aceito e agradeço o apoio, pois isso qualquer Ser, em qualquer idade ou situação, precisa.

Confiem em mim, na minha capacidade de fazer escolhas. Confiem na Vida, e deixem que eu saiba quando estarei pronta e com quem isso acontecerá, se acontecer. De vocês, preciso apenas do amor de amigo(a), irmã, mãe, pai, tio, tia, primos(as), avó. Sendo apenas vocês mesmos, estarão me ajudando mais que tentando virar “casamenteiros” (rs…), tanto porque só eu sei exatamente o que se passa em meu coração, quanto por eu precisar de umas “férias” deste assunto. Combinado?  Já que é para “encerrar”, voltar minha alma para essas outras áreas de minha vida, com qualidade, é tudo o que eu preciso agora!

Eu acreditei no amor e tenho orgulho de ser assim, de ter feito isso. Ainda acredito, e não é porque não aconteceu comigo, que não seja possível! Apesar de viver externamente o que eu mais temia acontecer, ainda assim recomeço e sigo inebriada pelas possibilidades que o simples fato de estar viva me reserva… Em paz com minha transcendentalidade, consigo apreciar o momento presente e sinto-me viva para experimentar o que quer que esta vida de agora possa me oferecer: o cheiro calmante do café ao chegar da caminhada ou num dia chuvoso, o que me traz felicidade; os acessórios que uso a cada dia, mostrando como eu me sinto, como me enxergo, e me fazem gostar do que vejo quando me olho no espelho; a viagem para uma paisagem nova, me forçando a desfazer o hábito de usufruir ainda mais de onde já conheço; cada novo livro – novo mundo – que eu possa ler; as pessoas que irei conhecer e as que já estão à minha volta, que eu quero cultivar ainda mais;  a esperança de um futuro, de toda uma vida que, eu sei, será linda. Sou a mulher que floresce intensamente dentro de mim, a qual descobrirei um pouco mais a cada dia e que vai continuar crescendo, guiada, inclusive, por este sentimento que me invade a alma, me faz melhor e mais feliz!

Quem somos nós, senão cidadãos do Universo, seres em processo de formação, em busca de descobrimento e que tem para si todo um indivíduo a desenvolver, que é um universo a ser desvendado (e como é bom fazer essas descobertas!); seres que, conscientemente ou não, buscam a perfeição; seres dotados de inteligência, capazes sempre de tirar aprendizado de tudo, de mudar o rumo de sua história, de fazer escolhas melhores e renascer a cada instante; donos de suas próprias vidas, vidas essas cheias de possibilidades, de oportunidades, onde temos total liberdade para fazer nossas escolhas?  Através delas, traçamos caminhos, destinos, e, na junção de todas essas escolhas, definimos quem somos. Somos almas complexas, verdadeiros laboratórios de características e sentimentos; seres que tem como objetivo tornarem-se autossuficientes e, para isso, contam com a gama de experiências que os acometem como simples mecanismo de aprendizado. Sabendo tirar proveito desta verdade, não mais seremos paralisados pelos obstáculos externos ou por nossas próprias angústias, mas sempre, sempre, teremos a chance de reagir e criar uma realidade melhor que a que vivíamos, tornando-nos cada vez mais fortes e independentes quando antes egoístas, mas ao mesmo tempo interdependentes, quando entenderemos a Vida, reconhecendo a contribuição de cada um para formarmos o “eu”, e nada mais nos abalará as estruturas. Quanto a descobrir, quanta vida a se viver em plenitude e, a cada segundo, sempre, um recomeço! Somos administradores de nós mesmos, cujo aprendizado é lidar com as várias áreas da evolução inerentes a cada alma, formando o melhor conjunto possível, chegando mais próximo do equilíbrio, da paz… Lindos seres, conscientes de seus defeitos e limitações, virtudes e potencialidades, procurando sempre delimitar a tênue barreira que separa uns dos outros, para encontrarem a essência Divina que já trazem desde sempre, dentro de si…

Fonte imagem: muraldecristal.blogspot.com