Quando chega a hora

Em paz consigo Blog Camilapigato

Um dia seguimos a rotina e é observado que já faz algum tempo e você mal percebeu, mas algo mudou.

Não necessariamente novo. Modificado. Não é mais uma falta de horizonte, tampouco aquela alegria do passado que, por mais pureza e sinceridade intrínsecas, contaminava-se ainda com um pouco de ingenuidade.

O que foi errado e dor transformou-se em sabedoria. O que doeu – e a playlist testada à exaustão, sendo uma das atrações de final de semana, pode dar seu testemunho –  hoje nada mais passa de paz, gratidão, entendimento e sorrisos.

Esta é a vida: enorme sensação de pertencer ao todo e ao agora. Profundo alinhamento com tudo de maior e sublime que nos acerca e nos rege. O resto, percebe-se na pele, nada mais é, de fato, que ilusão.

Momentos, estados. Que passam. Transtornam, depois transformam. E, enfim, impreterivelmente… passam! No final, fica apenas o que é real, o que importa.

Aquilo que um dia era um sonho distante, uma potencialidade, repentinamente é reconhecido no espelho.

Enquanto o futuro ganha asas novamente, o passado fica guardado num lugar seguro, de um jeito que dá para visitar só se for necessário, quando alimenta, e o hoje volta a ser aquele instante eterno, onde tudo é força e possibilidade.

A felicidade está no casamento na praia com olhos que lhe marquem a existência, ou na xícara de café e leite com um toque de chocolate nossa de cada dia.

Missão cumprida. Quem diria…

Um dia, depois de tantos outros dias, você acorda, abre a janela, puxa o ar pelos pulmões e eles, finalmente, voltam a oxigenar a alma…

Fonte imagem: https://www.bomdiahoje.com.br/esteja-em-paz-consigo-mesmo/

Turbilhão

Mulher meditando praia 2

O PC já estava ligado para escrever, quando chega uma mensagem no meu whatsapp. No descanso de tela, retalhos da viagem dos sonhos que gostaria de fazer com os mais chegados – no momento específico, fotos dos lugares mais bacanas de New York. No aparelho telefônico, fotos de pessoas numa construção simples – mas quanta paz e acolhimento revivi.

Hoje tudo o que eu queria era estar no mar. Tenho sentido esta necessidade de forma constante, ultimamente. Contudo, já passei pela experiência de você projetar tudo em um lugar e quando lá se vai, de novo ou pela primeira vez, nada muda, dentro. É quando percebemos que a coisa está feia e o problema está, mesmo, na gente – nem o ambiente externo mais ajuda.

Sendo assim, estou tranquila aqui mesmo, em casa, perto das montanhas. Tudo de que preciso, por ora, está aqui. (Desesperadamente. Adoraria me movimentar e fazer tudo sumir. Quase saí de carro às 22h24 só para espairecer, mas devido à cidade e à hora, achei mais sensato ficar, e voltei para o PC, que já me esperava, ligado).

Se eu soubesse do que este texto seria, seria ótimo. Simplesmente abri a tela, escolhi a foto que me acalmava e comecei.

No sentido de reflexão e “dar a volta por cima”, não queixa ou depressão, tenho sentido muita solidão já há algum tempo, e acho isso alarmante.

Sei que não sou imbatível nem melhor que ninguém, mas no quesito “autonomia” sempre fui bem independente. Nunca me incomodei em comer sozinha, ir ao cinema sozinha, pegar avião sozinha… O que é oposto a quando conheço gente nova: se tiver alguém para me introduzir ou grupo, ótimo! Se não, prefiro (inconscientemente) ficar na minha. A não ser que eu esteja muito despreocupada, aí vou me arranjando mesmo, e confesso ficar até mais à vontade para ir para o círculo novo quando não tem ninguém antigo por perto.

Só consegui cantar no Jô Soares porque ninguém ali me conhecia, então, a vontade de fazer o que se tem vontade falou bem mais alto que a insegurança ao ser julgada.

Tenho quase 40 anos e ainda sinto que vivo pela metade. Eu deveria “cantar no Jô Soares” até diante do “crush”, num dia de cabelo feio e sinusite (rs…), numa transmissão ao vivo, não ficar ainda sentada vendo a vida passar de uma janela.

Já tenho descido do trem um pouco. Mas ainda falta um tanto que não sei se a ansiedade deixa o tempo fazer o trabalho – e temo ficar sempre girando sempre no mesmo ponto.

Cada vez mais a vida tem se mostrado única, agora e preciosa, e eu continuo traçando um Excel de possibilidades na mente antes mesmo de levantar a mão para fazer uma simples pergunta num grupo de três (rs… aí é exagero).

São tantas previsões, hipóteses e cálculos para sofrer o menos possível que eu não vivo. Lá vem ele, o medo, travando a gente. O medo de errar, o medo de mudar, o medo de não ser aceita, o medo de ter que lutar, o medo do novo e etc.

Por que fazemos isso? Sim, eu sei: insegurança, falta de coragem, orgulho etc. Mas por quê??? Algum defeito a gente tem que ter, somos seres imperfeitos aqui nestas paragens, então, melhor aceitar e seguir vivendo, crescendo, que travando. Sabendo disso, de nossas imperfeições inevitáveis E sabendo do porquê da existência – aprendizado – como temos coragem de continuar desperdiçando?

Claro que a vida é sempre uma dádiva, e, enquanto estivermos em nosso tempo de processo de transformação em tal quesito, ela sempre vale a pena, todavia, refiro-me ao objetivo final: para quê uma vida sem sal, sem risco, sem recomeço, sem a gente se reinventar, sem diferença?

Se podemos ser mais prósperos, mais amados, mais amáveis, mais corretos, mais divertidos, mais FELIZES, por que sempre nos protegermos no lugar-comum, nos rótulos, nos hábitos (não aqueles abençoados advindos da sabedoria, da identidade, da saúde etc., mas sim aqueles castradores da zona de conforto)?

Lá vem a frase pronta: se queremos resultados diversos, como podemos continuar fazendo tudo igual?

Se eu, até hoje, não consegui desistir de mim, de quem eu sou, por que simplesmente não confio em mim e me aceito? Se eu vejo um video sobre pessoas, mas pessoas com quem basicamente exercitei as verdades de Deus, por que ainda caio em conflitos tão batidos?

Por que ainda aquela veia de ceticismo, falta de possibilidade e “ridículo”, “viagem”, me tiram do caminho para o qual meu coração (não a parte imatura e ou ingênua, mas ele em essência), quando alinhado com a luz, me leva?

E daí se tem hora que eu sou diferente, não exatamente igual aos outros? Que ninguém é tão crente, ou tão sensível? Não é a vida dos outros, é a minha! Nela, quem dita as regras (além de Deus) sou eu e a minha verdade.

Por que eu me privo das coisas que eu quero? Se eu busco pessoas como eu nos outros e, quando as encontro, as admiro e aplaudo, por que duvido de mim? Só porque é comigo? Isso não é certo!

Voltando a falar da solidão, isso tem ficado ainda mais pesado porque eu não tenho cuidado da minha diversão, do meu lazer, da minha mente leve. De mim. Tenho, no máximo, visto seriados de comédia, o que já é alguma coisa, mas nem isso é suficiente. Tenho sede de mais.

Não aceito perder minha juventude. Ainda nem fui adolescente direito. Para contas, respeito ao próximo, bom senso social e etc. continuo sendo adulta, não tem problema. Refiro-me à vida.

Não aceito ter um relacionamento amoroso qualquer, só para ter alguém ao lado. Ao passo que a maturidade me faria ver o que eu já via desde bem nova embasando o começo deste parágrafo, paradoxalmente os mesmos anos acumulados fariam com que cada vez menos afiado fosse o meu crivo, contudo, eu ainda me nego a desistir. Não quero uma pessoa roubando meu tempo, ou tendo o tempo dela – pior, o coração – roubados em troca de alguns bons momentos. Não nasci para meio-termo. Quero ser revirada do avesso, com insegurança e tudo, mas viver por inteiro.

(Se for esperar chegar perto da perfeição para somente então começar a viver, não saio do lugar e perco ainda mais tempo – e o tempo é agora).

Não quero mais não ser eu mesma e não cumprimentar as pessoas no aniversário (ou, de novo, nem agradecer os meus cumprimentos).

Quero voltar a tirar foto de todos os momentos. E voltar a revelá-las. Este mundo virtual é um suporte, uma ajuda muito bem-vinda, mas não é tudo. Falo sobre isso outro dia.

Quero voltar a receber telefonemas e cartões no meu aniversário. Mensagens, mesmo que audios, só para os interurbanos e pessoas não tão próximas.

Quero visitar os meus. Tomar um café, ver a pessoa de perto, saber como vai a vida.

Quero ir ao Hopi Hari. Passar um feriado numa pousada. Outro em São Paulo. Não perder a Flip este ano. Nem a próxima Bienal. Quero num dia de pura alegria ou angústia, fazer meu bate e volta à praia, sozinha, além de ir constantemente a passeio, de preferência com (boas) pessoas.

Quero dançar.

Rir com meus amigos.

Amá-los e à minha família.

Quero ser amada. Ter um bom namorado, passar o dia 12 de junho acompanhada – bem acompanhada. “Estar, sentir e viver”, como diz a música da Sandy – e isso ser tudo. Troco um check-in num restaurante caro e romântico no sábado à noite por um domingo com sol (moderado – ou uma noite estrelada) num banco de praça de mãos dadas. No dia, posso até aceitar o cartão, as flores (flores! mesmo sem data!) e por que não o urso gigante (rs…), a comida badalada e terminar com um champagne e lingerie ousada, só para caracterizar o romantismo, para celebrar a data especial, mas não quero nada montado. Quero algo vivido.

Quero ter acesso ao botão do “f” como ocorreu na última sexta-feira, na festa de fim de ano do novo trabalho: o DJ abriu karaokê, o qual eu sonho encontrar há anos. Escolhi a música mais fácil, porém potente, que canto, e fui.

Fácil foi tremer de cima para baixo, além dos lados, para cantar “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” no Jô, com o Sexteto. Fora do nosso dia a dia, plateia e banda intimidadores, mas naquele dia eu tinha uma dádiva: minha voz.

Sexta a música precisou começar para eu perceber que mesmo ela sendo mais “de base” que aguda (se é que algum músico entende o que eu quero dizer), minha voz estava “pela metade” e impedia a potência, o que me deixou nervosa demais a ponto de eu não conseguir terminar (eu desafinava!). Mico.

E eu não me importo! Sabe porquê? Não porque eu não me importe, mas porque eu sei que posso. Só fui ingênua ao pensar que conseguiria, saindo ainda da garganta inflamada. Mas eu fui porque a vida me deu a oportunidade de um karaokê e eu não quero mais perder oportunidades; porque eu queria fazer o quê eu queria, ainda que eu não fosse tão solta com as pessoas, pois ainda sou nova, e isso, originalmente, me deixasse presa na cadeira; e porque eu queria começar a me sentir mais à vontade, fazendo até coisas que só faria com quem eu tivesse mais intimidade.

Quase não sobrou espaço para o nervosismo de estar em público, não ser ainda tão íntima etc.

Foi péssimo, mas foi ótimo: eu saí da minha zona de conforto totalmente aquele dia, nem tive um bom resultado, mas o que me moveu foi tão certo que eu não me arrependo e, apesar de todos os motivos contrários, não me envergonho.

Acho que este foi um episódio isolado do que eu busco na vida: “eu me aprovo”, como li recentemente (reli) num livro. Mesmo que eu erre: e daí? Por um acaso sou perfeita?

Não é sair machucando os outros; sair se queimando sem avaliar situações e, com isso, cair em descrédito e ter, de fato, a autoestima diminuída: é fazer o que é a sua realidade, dentro. Ainda que ela seja equivocada, só colocando para fora para ter certeza. Mas e se der certo? E se você estiver certo? E daí que nem sempre, a maioria, ou até mesmo todos, não entendam?

Frase borboleta

Semana passada vi esta postagem no Instagram de uma amiga e isso me fez pensar… eu sou a pessoa que contagia os outros com a verdade deste pensamento, mas quando é para agir na minha vida, seja por pensamento negativo, seja por medo, acabo sempre deixando cem por cento de lógica agir e penso na queda, no não, no absurdo e etc., então, me preservo.

E me frustro, porque, geralmente, deveria ter ido. (O inferno é saber quando).

Já tive meus episódios de acreditar no voo e quebrar a cara (aliás, o que muito me prende/prendeu), mas como pode uma coisa ter validade por você ter acreditado que mesmo com o risco de cair, você achar que é possível voar, se voar fosse sempre a resposta e bastasse apenas a sua boa vontade em acreditar?

Talvez a grande sacada em acreditar seja ter força e humildade para encarar a queda e entender que ela não é um acidente, mas necessária para seu voo, que você considerava ser agora mas que, por questões maiores, será ainda daqui um tempo.

Vale a pena, então, deixar de voar, de conhecer uma mesma vida de um ângulo incrivelmente mais amplo e bonito, só por causa da possibilidade da queda? Mas a gente já não vive mesmo grudado ao chão, bem perto mais perto dum tombo que do céu? Já não é tudo muito parecido? Agora… E se for possível voar???

PS-> Revisão final às 01h34 de quinta-feira (para mim considero quarta, porque não dormi). O turbilhão passou, só pelo ato de escrever.

Fonte das imagens: Google

Quero Ser Eu

Blog - Mulher Livre praia 1

Queria ter um computador que escrevesse na velocidade em que as ideias passam pela mente.

Queria saber dizer em versos o que levam laudas para serem expressos. Talvez, ainda, nem com tanta exatidão.

Não que eu não goste do que faço. De quem sou. Só queria ser um pouco mais erudita, mesmo admirando justamente quem fala para a multidão. Queria, no entanto, parar de querer ser mais rebuscada e amar plenamente o que sou. Sem, contudo, deixar de me lapidar e crescer.

Queria acreditar que meus sonhos são possíveis não apenas porque coloco meu coração neles  – mas este tipo de gente nem sempre dá certo. Queria acreditar nos meus sonhos porque acredito tanto neles – e em mim – que simplesmente os faço acontecer. Sem receios, ceticismo (até), titubeios. Com esforço e fé.

Certa vez, assistindo à série favorita, fiquei admirada com a protagonista que, ainda adolescente, beijou o rapaz “só para saber como era”. Eu já tenho mais de 30 e mal consigo sustentar um olhar. Risos. Não porque beijos e carinhos e sentimentos devam ser banalizados, isso, não! E sim porque um ser que se valida e se aprova, aceitando-se como é, no que quer, vive, enquanto os outros apenas observam e vêm a vida passar.

Queria estar deitada, lendo os livros aos quais me propus dar andamento. Queria ler novamente todos os dias, sem exceção, antes de dormir.

Queria escrever todo dia, ou, ao menos, com certa frequência.

Queria parar de perder meus cremes relativamente caros para o rosto. Os de massagem para as pernas. Ou os hidratantes (mas, para isso, eu precisaria querer também passar o ar condicionado na frente na fila de compras ou querer um clima ameno, pois verão e creme simplesmente não combinam).

Queria caminhar cinco vezes por semana novamente.

Queria comer peixe e legumes basicamente (salada! <3), dois cappuccinos a cada sete dias, um doce. Ficar sem comer e nem sentir falta, porque se está empolgada demais, vivendo. Não ocupada, não se cuidando. Vivendo.

Queria, ah, como eu queria… dormir às dez, acordar às seis da manhã, sentir a brisa matutina mesmo em janeiro, e saber que tenho o dia todo pela frente…

Queria dar ok em boa parte do que me proponho a fazer. Mesmo com os imprevistos. Sentir-me eficiente outra vez.

Queria finalmente começar o Bullet Journal e, uma vez por semana, sozinha, me rodear de uma música ou animada, ou relaxante – dependendo do dia -, vinda de um Wi-fi que eu também queria ter, um café com castanha ou um bolo, se for domingo, e um monte de caneta colorida. E adesivos. Glitter, por que não?

Planejar a semana toda. Não como quem controla algo incontrolável como a vida, mas como quem volta a ser dona de si e atua como coautora em seu destino, não mais a vítima indefesa e inerte que precisou aprender a ser, por falta de opção.

O tempo passa, e ainda assim eu não termino de aprender a tocar violão, tampouco começo piano e violino, que simplesmente não posso morrer sem saber.

Sem falar nos alfinetes que não espeto no mapa-múndi. Ou no Francês e Italiano que só posso agradecer ao Il Divo por saber.

Queria minha voz de volta, e cantar. Cantar até “My Immortal”, ainda que sorrindo, mas cantar sem falsetes ou segunda respiradas numa frase mais longa: simplesmente abrir a boca, controlar a nota e deixar a voz fluir.

Queria parar de acreditar que não sei cozinhar somente porque conheço poucas receitas. Como se não houvesse Google para buscar, como se eu não percebesse, no pouco que fiz, que eu levo jeito para a coisa. Queria parar de acreditar que sou incompetente.

Queria entender, de verdade, de maquiagem. Sair do bege, marrom ou as sombra da cor da blusa…rs… Queria não precisar emprestar o pincel de brincadeira para a sobrinha de quatro anos, e, eu mesma, esfumar meu olho. Saber o que passar para um look romântico, um casual e aprender logo a maquiagem do Halloween, que é daqui uma semana, for God´s sake.

Queria ter tempo e emocional ou sei lá o quê para estudar mais Física, História, Ciência em geral, Filosofia, Psicologia e assuntos super variados, não necessariamente ligados a trabalho, mas à riqueza mental.

Queria saber Mecânica. E Informática. Até mesmo bricolagem em um nível bem profundo.

Nas horas vagas, ter um jardim e fazer jardinagem. Entender de flores.

E saber fazer perfume.

Queria renovar meu passaporte.

Queria ter de novo um videogame (ou que meu antigo funcionasse).

Queria ter jogado uma partida inteira de RPG. Risos.

Queria ir a São Paulo uma vez por mês, pelo menos, para ver minha família e para me sentir culta e urbana – ir a shows, teatro etc. Dirigir à noite por largas avenidas. Andar pela Paulista. Conhecer o Jardim Botânico, pelo qual passei por quatro anos, louca para descer, mas nunca paguei duas passagens ou arrumei tempo, e segui. O Ipiranga, a três quarteirões de onde cantei com os amigos tantas vezes e onde até aniversário já comemorei, este não adianta, está fechado. Ficou na memória dos 8 anos mesmo.

Queria ir a shows e teatro aqui em Lorena também, que já tem.

Queria me libertar de tudo isso e ver meus amigos com ainda mais frequência, não apenas uma rodada após Aldeia. Quero ordem. E quero vida!

Se eu tivesse escrito para voltar a escrever no blog pelo menos uma vez por mês, ao menos este pedido teria sido atendido.

Queria ter coragem de lutar pelo que é meu não quando no fundo a gente sabe que não é para ser e não se tem quase nada a perder, só o passar pela decepção da situação – mas quando o risco é alto e, na verdade, é necessário crer, para ver.

Queria acreditar que um dia minha luz também vai brilhar, é só eu parar de ouvir os ruídos que me distraem e olhar para o fundo, lá dentro, para quem está aqui, pedindo para (re)nascer.

Queria não ser tão dura comigo, que não sou, nem de longe, tudo que gostaria tanto assim de não ser.

Quero dançar!

E ver o mar! Mais que tudo…

Quero Jogar The Sims de novo, até quase a estafa chegar, só para matar as saudades…

Quero estar no hoje. Atrair coisas boas com minha mente e meu coração bem sintonizados. Não perder o contato com Deus, mesmo quando vivo no mundo. Quero a prosperidade, porque poder consertar uma máquina de lavar ou finalmente colocar uma antena digital/ Netflix não é ostentação, mas é sensação de fazer parte, de manutenção dos ciclos da vida. De dizer “eu posso”. E posso até não querer nada disso, mas quando a decisão de não ter for minha.

Quero ter o direito de escolher, não apenas de me submeter. Embora submeta-me à consciência de que nem sempre nos seja permitido escolher.

Quero sentir-me adulta não porque eu tire de minha bolsa uma carteira retangular que acomode um cheque, que menores não carregam, ou porque eu tenha boletos em meu nome, ou pelo sexo que já posso fazer sem pedir permissão nem dar satisfação: mas por sentir que eu crio a minha vida com meus pensamentos, sentimentos e atitudes (ainda que seja pela forma como reajo ao que não é atração ou escolha). E consigo administrar isso, não simplesmente ir vivendo.

Para ser esta eu, preciso deixar para trás algo que ainda não sei, que ainda não deixei ir.

O que me faz lembrar que quero, muito, demais, limpar meus armários. Não a limpeza de pano úmido ou de “liberar espaço” que tenho feito menos que o necessário, mas às vezes faço, mas um limpar de limpar, mesmo. Desapegar. Reinventar. Libertar.

Neste exato momento, quero dormir.

Queria falar tudo que quero, mas aqui não é o lugar.

Quero acordar amanhã mais próxima do que já sou e que ainda não sei, andando para frente sem olhar para trás daquela que observa, tem vergonha, deixa para depois, disfarça, nega a intuição, nega a lógica, nega até os outros que apontam o caminho, às vezes, fingindo-se de cega. Para não ter que enfrentar.

Detesto que me tirem da zona de conforto quando não me sinto pronta, porque isso é violência, entretanto, a maior agressão à vida é não viver, não se mexer, nunca mudar, ficar onde está. Não na Geografia, na mente. Na alma.

Cansei do “e se…”, “tenho que” e o meu tão repetido “um dia”. Quero o “sou”, “posso”, “vou”. Agora! Melhor: já fui!

Quando o assunto for viver, quero parar de esperar, imaginar, conjecturar, especular, raciocinar, nem mesmo mais escrever… Quero agir, ver acontecer, errar, acertar, refazer, respirar, escutar, lembrar, reviver, sorrir, interagir, aprender, admirar, sentir…

Amar: existir!

Imagem: Google

Muitas perguntas sobre nada

Janela-mar

Começo um texto sobre perguntas com talvez a única afirmação lúcida: não sei nem por onde começar.

Há alguns dias, em um final de semana com minha irmã, víamos um vídeo no youtube de uma ex-atriz que hoje é Psicóloga (e que, portanto, está registrada em nossa mente como uma “menininha”) dizer que quando ela era pequena e via as crianças maiores usando fichário  porque haviam passado para o ginásio, ela pensava: “nossa, como elas são grandes”, mas que quando ela se viu na papelaria comprando um fichário, ela percebia que era a mesma pessoa, não tão próxima daquela idealização que tinha de crianças mais velhas. E que ocorreu o mesmo na vida adulta.

Eu tive meu episódio quando criança também (tinha 7 anos e a Marina e Francisco, que usavam o mesmo transporte escolar, tinham 10, porém, quando eu cheguei aos 10 não me achava tão amadurecida assim..rs…), e só acenava com a cabeça ao concordar com a situação: não é porque eu tenha quase 37 anos que me sinta TÃO adulta quanto eu achei que eu seria quando tinha 15 anos, por exemplo.

Não digo isso sob o prisma da imaturidade, mas de uma alteração na noção da realidade que, justamente, somente a maturidade e a verdadeira noção do que é a realidade nos ensinam.

E, ainda assim, assusta ver como às vezes temos os mesmos questionamentos de anos atrás e venha a amarga sensação de falência, como se não tivéssemos evoluído nem um pouco.

Será que eu passei por tudo o que vivi em vão, e ainda assim, caio nos mesmos erros, nas mesmas armadilhas? Ou será que o erro recorrente seja justamente não acreditar em si e no próprio discernimento?

Há pouco mais de um mês eu tive a oportunidade divina de participar de uma vivência realizada pela Igreja Católica chamada “Aldeias de Vida”. Estou com um computador realmente limitado agora (o meu está no conserto) e não sei se conseguirei abrir a página para copiar o link, mas nada que uma rápida busca no Google não resolva.

Neste final de semana que eu passei sem celular e muito mais, mas obviamente não vou estragar a surpresa aqui, foi não apenas o que faltava, mas o catalisador do meu retorno a Deus. Desde o primeiro dia de afastamento e revolta eu o buscava de volta, mas foram longos anos de um relacionamento conturbado: com Deus, com o mundo, com os outros (os mais próximos) e comigo – bem o oposto do lema da Aldeia.

Durante todo caminho há quedas e, talvez, até desvios, mas o segredo para estar em um, ou estar no que se quer, naquele que se considera bom, é ter a coragem de dizer: eu vou – e vou conseguir. Nem todos os que disseram isso, de fato, chegaram ao ponto desejado (por fraqueza, falta de afinidade descoberta ao longo do trajeto etc.), mas todos os que chegaram só o fizeram porque se propuseram desde o primeiro passo, quando tudo ainda era incerto. Há os que não chegaram porque nem começaram. Portanto, sem ouvir os “diabinhos”, como nos desenhos animados, posso afirmar que agora não há mais volta: estou de volta ao caminho ao qual cheguei há muito tempo, e do qual não consegui me desviar tanto assim, na prática, mas do qual fiquei afastada por muito tempo.

Há uma frase Espírita, de Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, que diz algo assim: “Não há infortúnio maior que estar sem Deus e prosseguir vivendo”. Foi bem isso que vivi fortemente por uns quatro anos, mas de forma geral, por pouco mais de seis. Indescritível desespero. Acabou, ufa! Mal ou bem, eu venci.

Com um ou outro efeito colateral, ok, mas o exercício aqui é justamente tentar sair dos grilhões da culpa, que já muito me atormentou, no passado (e às vezes – ou muitas – culpa por coisa que eu nem fiz, mas porque deveria ter pensado em ter evitado, ou por medo de que pensem que fiz…rs…), contudo, hoje, segue “controlada”. Rs…

Eu sobrevivi a um completo furacão nível 5. Nos últimos anos fui limpando os escombros de 2012 (mas os ventos já sopravam agitados desde o ano anterior, eu deveria ter colocado madeira nas janelas…), entretanto, era um trabalho ingrato: após todo esforço, o resultado ainda era o retrato da destruição. Só que sem esta limpeza inicial, não tinha como entrar na fase de limpeza e, depois, reconstrução.

Parece que agora o pedreiro já está contratado e o material está no portão, mas o que eu queria mesmo era descer, ir correndo para a praia, que já está azul de novo (imagino o Caribe, claro! Ou Bora Bora…rs…), deitar na rede larga e tomar uma água de coco. Poxa, ontem eu coloquei o último escombro na caçamba, precisava apenas de umas mini-férias…rs…

Mas a vida é dinâmica (e eu adoro pedras), então, nada de sombra e água fresca: somente o sono reparador e mãos a obra de novo na sequência.

Será que a vida é assim tão, tão rápida, ou sou eu que sou parada demais? Ai, mas de pensamento negativo a meu respeito eu também já estou farta, não me permito mais este tipo de tortura.

Será? Ou será que não é justamente o que tenho feito, nas entrelinhas, na calada da noite, sussurrando bem baixinho?

Será que eu cresci, que eu mudei, ou eu ainda faço as mesmas coisas ou em menor escala, ou na surdina?

Por que eu ainda me acho infantil?

E eu não me refiro a comprar tiaras de unicórnios com a sobrinha ou mergulhar em piscina de bolinhas, porque isso é só manter a criança interior viva – para os mais tímidos, é só estar sempre acompanhado da criança, jogar a culpa nela (“Ai, o que não fazemos por esses pequenos?”, como se isso fosse um fardo :D) e ser feliz. Quem não o faz, só lamento.

Estou me referindo a ter quase 37 anos e não ser a adulta que eu pensei que seria nesta idade – da mesma forma que quando eu tiver 68 talvez não seja a senhorinha que hoje eu penso que serei. E estou falando de não ter crescido tanto assim. Ou por pensar isso porque eu ainda sou muito dura comigo.

O fato é que mesmo na fase “escombros” eu via a luz bater no azul do mar de novo e queria ir lá fora. Eu quero ser feliz. Eu busco isso. Talvez com a velocidade que uma água do mar e vento corroem uma pedra, mas eu não aceito mais a infelicidade.

Justamente porque eu aceitei tudo o que aconteceu, por mais que tenha parecido sem sentido. Isso que foi bacana, e que a Aldeia somente finalizou de forma nobre e eficaz: eu não apenas aceitei o que foi, como desapeguei do que poderia ter sido. E não apenas isso: eu não quero mais nada do que poderia ter sido, ou do que eu penso que poderia ter sido (e às vezes nem era mesmo O plano, eu é que não entendia, ou eu é que precisava pensar que sim para aprender algo que me seria últil mais adiante).

Eu quero o hoje, o agora e tudo de bom e de melhor que podem advir daqui, desta eu que sou, deste momento que vivo, destas oportunidades que se abrem, agora, e que não posso mais perder. Sou a rainha do “um dia”, não por procrastinar ou por não saber dizer não para não magoar, mas por ter medo de falhar, medo de errar, medo de me confundir e medo até de ser feliz, se bobear. Medo de mudar, mesmo que seja para melhor. Acho que é bem por aí.

Entretanto, como dito acima, eu voltei a caminhar, não dá mais para fugir.

Este foi o texto mais chato que eu escrevi, tanto que nem vou divulgar, vai ficar meio escondido, aqui. Eu tenho falhado muito comigo no quesito cuidar do que mais amo, que é minha própria obra, minha Literatura. Quem sabe o objetivo literário deste texto seja apenas um leve contato com o ato de escrever e publicar, que o texto em si?

Hoje estou mais para desabafo sem sentido, ainda por cima, que texto com começo, meio e fim. Hoje eu não vim pelo leitor, vim por mim. Sempre venho, mas sempre penso em deixar algo de mim para quem lê. Hoje não, hoje eu estou mais para receber.

Queria ter escrito de forma bem mais interessante para ter pelo menos uma identificação, algo que gerasse uma pequena reflexão ou coisa assim, mas não tomei este cuidado: como quem tem algo há muito tempo guardado, simplesmente despejo tudo sem ritmo, sem medo e quase, quase, sem censura.

Porque precisa sair. Tem muita coisa acumulada. Seja a energia que era boa e ficou parada pela dor, e precisa fluir; sejam as angústias que giram ainda como uma tempestade tropical mas não fazem tanto estrago; seja tudo de bom que tenho em potencial e que ou está parado, ou não foi vivido, e que precisa começar a sair. Senão eu surto, eu explodo.

Tem um aluno meu que tem onze anos e gosta de conversar com todos, é muito inteligente e carinhoso, vários adultos o admiram. Desde a semana passada ele está inconformado que eu não sou casada e não tenho filhos, nem mesmo um animal doméstico, e afirma que sou solitária.

Há anos eu falaria cem por cento do que sou obrigada a responder nestas situações com cem por cento de verdade. No primeiro dia eu até falei com uma sinceridade superficial. Hoje eu penso no quanto administrei mal meu dinheiro este mês de tanto que não suportei ficar em casa e precisei sair. E logo eu vi o quanto ele está me ajudando a enxergar o óbvio, o que sempre foi uma queixa da minha alma, muito mais que da minha pessoa.

Eu sempre tive tanto orgulho de mim por ser tão independente: já fui para Fortaleza sozinha (e lá até flutuei no céu com o jeep que nos prende à terra), fazia maratona de cinema, como sozinha o tempo todo em público, porque gosto muito de ler e escrever, e isso é melhor fazer sozinho – ou fazer isso com pessoas em volta que trancada no quarto; faço bate-volta até São Paulo ou à praia sem medo algum, fui até ao Programa do Jô E cantei com o Sexteto antes do programa começar (acho que essa parte só tive coragem justamente por não ter medo de pagar mico para algum conhecido caso eu me desse mal – contudo, o fato é que eu neguei conhecer o diretor artístico do programa para falar da minha voz porque “não, obrigada, meu negócio é escrever”…rs… se eu fosse fazer um post de oportunidades perdidas na vida, eu precisaria de outra Aldeia…rs…). Até em balada, sozinha, eu já fui!

(Ok, foi aqui, no interior, eu achei que fosse ter algum conhecido, mas o ruim de envelhecer  é isso: seus amigos ou já estão casados, ou mudaram de cidade e você só fica com os bêbados ou sem noção porque mulher sozinha vira presa fácil e em menos de uma hora e meia você leva sua produção e sua expectativa e ingenuidade de volta para casa a tempo de ver alguma sessão corujão ou algo assim. Rs… Aí você envelhece mais um pouco e depois de até tentar ir com a prima (porque a gente tinha 15 anos e ela 5 e só ouvia falar do “Gordo”, e você deve isso a ela, que cresceu e se tornou tão irmã que é até maldade pensar que se foi lá com todo mundo, menos com ela..rs…) e depois com a amiga (a reclamação da época era não aguentar mais saber a programação do Altas Horas, mas ao chegar a certo ponto de sono, muvuca e tantas outras coisas mais tão nada a ver com seu ser, o desejo mais sincero era estar naquele exato momento debaixo das cobertas, assistindo “Altas Horas”…rs…), mas vê que vai ter que deixar este planeta sem saber ao certo como é estar numa balada, onde “tudo acontece”, onde o clima é de paquera, querer alguém E esta pessoa querer você também – e não a menina da sua turma mais atirada e mais magra…rs… Ou o que me faz até hoje lamentar o fim dos bailinhos que acabavam quando as baladas ainda estão no “esquenta”: as danças de pares. (Nossa, parei na adolescência! :O Enfim, ok: ficar com o “crush” na balada vai ser minha mini saia aos 50 anos! Hahahahahahahaha! OBS: Antes do mimimi, há algum tempo esta expressão era sinônimo de quem não tinha coragem de viver algo na hora certa, mas não consegue trabalhar o conceito e depois vive algo de forma deslocada, querendo dizer que não devemos perder oportunidades etc. Era o significado implícito. Eu não sou contra pessoas que queiram se vestir de jeito X ou Y, cada um se expressa como quer e etc. Eu compro tiara de unicórnio, quem seria eu para falar de alguém :D, então, por favor, sigamos em paz…rs…) ) – vou usar parênteses dentro de parênteses porque acho melhor que travessão, embora não seja a regra.

Hoje, tem dia que nem escrever eu consigo. Tenho usado muito meu celular antigo como terapeuta, e fico quase uma hora falando, falando… Tem vez que a coisa é tanta que escrever não basta; mas tem hora que a coisa só se resolve escrevendo. Hoje foi assim.

Sobre este negócio de solidão. Primeiro, não me assusta, tanto porque já era esperado, depois de certo tempo e somado a isso o sofrimento, o vazio emocional que vivi; segundo, sei ter condições de passar ilesa por isso, pois, ao passo que dói, às vezes, quando vem (não sinto isso o tempo todo), já sobrevivi sozinha por todos estes anos e sei que sou do tipo independente, então, pior do que foi, acho que não pode ficar. Ou, ao menos, eu espero…rs…

Ainda sobre a solidão, o fato é que este sentimento me leva a uma coisa boa, um retorno à minha origem: fazendo o link com a solidão a dois, volto ao relacionamento a dois, e percebo que minha crença inicial continua intacta. E isso é uma parte boa da minha essência. Apesar do número de pessoas envolvidas com o individualismo; das crenças desfavoráveis à monogamia e até mesmo estabelecendo rótulos pejorativos, como “mulher hoje é tudo p…” ou “homem trai”, ou até mesmo resumindo isso à área sexual e só, eu sigo tendo certeza de que é possível, sim, um ser humano encontrar alguém para dividir a vida. Que, claro, após o mínimo de compatibilidade (afinal, dividir a vida é muito complexo, tem que ser com alguém que tenha um mínimo de afinidade), um sentimento que, claro, tem atração, paixão (senão são só dois amigos), mas que é baseado no respeito, na consideração, no carinho, na amizade e, claro, só pode resultar em amor, além do compromisso diário e individual de cada um em cultivar este sentimento, é possível, sim, uma relação durar. E durar para a vida toda, sim. Não por comodismo, mas por conquista. Muito encontram alguém compatível; têm um pelo outro um sentimento forte mas… descuidam, e encerram o relacionamento como se a culpa fosse falta de amor.

Lá estou eu escrevendo sobre o amor de novo…rs… Que bom! 🙂

Há alguns meses, quando me diziam que eu precisava ter um namorado, foi a primeira vez na vida que fiz o que tanto li: apesar de querer ter alguém, eu entendia que não era o momento, que eu não estava bem e precisava primeiro me encontrar para depois ter espaço, em mim, para alguém – apesar de já voltar a desejar muito que eu finalmente tivesse alguém bacana.

Hoje que minha fé está de volta e eu consigo enxergar tudo isso com mais clareza, só me pergunto quanto tempo vou levar para reorganizar minha alma…rs… (nossa, só falta levar mais 36 anos…rs…)

O trabalho vem na frente, claro. Mas parece que eu, justo eu, tão “Excel”, responsável e “certinha”, me esqueci como se termina o que um dia demos início. Da pilha de livros inacabados até a dieta que meu corpo já pede com ênfase há mais de um ano e que eu quase cedo; do hábito da meditação à constância do contato com as pessoas mais próximas; da administração decente das redes sociais, e-mails etc. (hoje para entrar aqui precisei resgatar a senha, rezando para que a mesma não tivesse sido encaminhada para o e-mail antigo, para o qual eu também iria precisar solicitar nova senha; antes era falta de tempo, agora de computador rápido, enfim, o fato é que eu descuidei de TUDO) à faxina nos pensamentos, que tão rápido passam, o que deixa tão susceptível às oscilações da vida meu campo energético, que é bem mais sensível do que eu tenho capacidade, hoje, de controlar…rs…  Até o controle do sono (e olha a hora da postagem, mas hoje o sono está há tempos, ainda bem, sinal que quero dormir e mais cedo, mas cedi em nome da causa nobre)… Parece que eu preciso só rasgar uma membrana de seda, muito fininha, para que eu acesse o que preciso para reorganizar tudo…

Não me culpo, todo este aparente caos hoje foi fruto de um desalinhar quase que definitivo de mim. Por isso a sede por vida, proporcional ao que quase não mais existiu. Mas uma pessoa amiga que se foi, ao ir, mostrou o quanto eu mesma tenho capacidade de seguir; e outra, esta que, com tanto alívio e carinho, eu deixei ir, cujo erro talvez tenha sido apenas não saber lidar com o fato de não ser para mim, não foi capaz de, nem com seu erro, deixar morrer em mim o que é tão eu, que sempre foi. Eu não precisei, afinal, me anular para existir.

Não me sinto negativa, só confusa. Não com relação a ideias, a energia emanada, talvez os outros não percebam, ou percebam tanto. É só com relação a por qual cômodo começar a reforma. Às vezes, ao olhar para todas aquelas portas, móveis, pilhas, bolas de poeira e crostas de azulejos por tanto tempo malcuidados e esquecidos, encosto só um pouquinho no batente, penso no trabalho todo que me aguarda, as costas ainda doídas da caçamba, olho por entre as cortinas esvoaçantes aquela praia, aquele mar, para onde irei em breve, vejo o sol já brilhando lá fora e levo só mais um instante sonhando, antes de abrir a torneira que vai liberar a água para toda esta sujeira sair.

********

PS- Só foi possível fazer uma revisão deste texto devido limitações técnicas.

(fonte imagem: google – sem condições técnicas de colocar link)

O caminho de volta

Blog Refletindo Mar

Oi.

Como pode algo ser tão eu e eu ficar tanto tempo longe de mim?

Tanto a escrever que não se encaixa nas horas do relógio e dos afazeres, não cabe aqui.

Segui em frente como quem sobrevive à dor, nada em suas bordas para não afogar-se nela.

Foi quando eu descansei de fugir e mergulhei de uma vez no turbilhão que encontrei não a paz, mas a certeza de que ela está a caminho. E que um dia serei feliz de novo.

Falar em perdão talvez seja de um otimismo que eu lamento não mais sentir em abundância, mas que nunca me abandonou em faíscas.

Não entendo “o quê” aconteceu, mas aceito “que” aconteceu.

Olhei a previsão do tempo. Nuvens esparsas, dia ensolarado, mar azul – de um azul único somente para aqueles que acreditam. Saí de casa rumo à praia. Andei desavisada pelo furacão, recolho, ainda hoje, apenas com a sacola de praia, os óculos escuros e o livro, sem ferramentas, os escombros de algo que eu não sabia que viria.

Vejo a escuridão da madrugada que agasalha meu dorso. Escolhi, porém, virar o rosto, o corpo, e ver o mar, ainda turvo, vislumbrando o rosa alaranjado no nascer do sol que se aproxima.

Tudo volta a ser ordem, esperança, amorosidade. Alegria. Tudo para colocar em prática como quem anda de bicicleta outra vez e cambaleia, mas não perde o equilíbrio. Quem sabe um dia, novamente, fé.

O melhor lugar para retornar é aquele aconchego que só tem aqueles que encontraram-se a si.

Ainda falta um tempo, um esforço, uma humildade. Nada mais, entretanto, de miragem. Este pedaço de chão, para quem flutuou, boiou, afundou rapidamente e voltou, mas não saiu da superfície nem por um segundo por todo este tempo, é real. Depois de tanto esforço, atinge-se a costa e as ondas ajudam a fazer a braçada final.

O litoral é visto. Falta pouco. Respire. Continue a nadar.

Fonte imagem: https://www.mensagenscomamor.com/mensagens-lindas-refletir

 

 

 

 

Seguir em Frente

amor casal

Roubei/troquei a foto do post anterior e não é à toa que o título parece uma continuação. Porque, ainda que acidentalmente, é. Se eu não tivesse consolidado e admitido tudo o que fiz no texto anterior, se tivesse negado aquele sentimento, que faz parte de mim, eu não teria tido condições de deixar o que não ocorreu para trás, e viveria assombrada por um fantasma que deveria ser, sempre, apesar do não, a coisa mais linda da minha vida. Mas nunca seguiria em frente…

No passado já um tanto distante, nos tempos de possibilidades e esperanças, com a alma no máximo da expansão, eu compreendia que se fosse necessário, não viveria aquele amor e teria outro alguém. O sentimento era tão puro que nunca seria maculado por outro, se verdadeiro. Não porque o “original”seja maior que uma ilusão ou coisa passageira, como também ocorre quando pessoas que amam verdadeiramente “pisam na bola”, mas por ser algo tão generoso como um coração de mãe. O amor cresce, o amor gera amor. O amor aceita outro amor. A paixão, o desejo, a carência, a possessividade, não.  O amor, sim. Sempre sim!

A vida não quis que eu vivesse um sublime sentimento no qual sempre acreditei e sabia existir, mas ensinou-me uma bela lição: apesar de ser único diante de tantas confusões, que vão de status a paixão, o amor não precisa ser apenas de um jeito. Não precisa ser aquele que nasce conosco e que se mostra numa pessoa: pode ser belo e digno de ser vivido não importa como: o amigo que julgamos um irmão ou cujo caráter conhecemos ao longo do tempo e que nos conquista, ou um encontro efêmero de uma alma boa, com pegada, que cruza nosso caminho: numa viagem, num acidente de trânsito, numa fila de banco ou até na internet ou numa balada.

O que importa é o quê, não o como. E, se não estivermos abertos para as diferenças, perderemos a oportunidade. Fecharemos nossa existência para as possibilidades. Porque fazemos sempre igual, mesmo quando não deu certo; porque fazemos sempre igual, nem sempre por juízo ou por maturidade, o que também é necessário, mas por medo de arriscar. Medo de se machucar.

Ora, o amor não bate à porta. Tampouco precisa ser banalizado, como lamentavelmente ocorre. Todavia, relacionamento é como empresa: é preciso investimento, isso é certeza. Porém, por mais sólido que seja, não há garantias. Nos negócios, há os casos de sucesso completamente amadores, vindos da sorte, do acaso, entretanto, atualmente, a maioria venceu os primeiros anos devido a um profundo conhecimento teórico, estudo de mercado, sacrifício contínuo depois de aberto etc. Por que nos relacionamentos fazemos tudo diferente? Os namoros/casamentos do acaso são raros: a maioria exige mínima noção de como agir, análise de compatibilidade com relação a com quem nos envolvemos (do contrário, o fim é apenas questão de tempo, tal qual um negócio mal das pernas que prospera apenas pela cenário externo favorável, mas cedo ou tarde decreta falência) e, quando começamos a nos acomodar é justamente o princípio da luta: o esforço e manutenção diários.

O amor certamente supera tudo e é a melhor fonte de inspiração e força para passarmos pelos desafios e dificuldades do próprio relacionamento, contudo, o maior erro é achar que “conquistou, está garantido”. Até o este nobre sentimento pode ser calado sob pressão de desprezo, indiferença, cansaço físico etc. Não porque desapareça, mas porque não entra mais em harmonia com o autoamor, que está gravemente danificado. E que é o verdadeiro carro-chefe da nossa vida.

O medo de entrar num relacionamento talvez seja fruto do quanto o indivíduo muito pouco se conhece. Talvez, inconscientemente, julgue-se frágil para viver a dor do fim, se ela vier. Por outro lado, há inseguros exigindo garantias que vão além da natureza da alma humana. Como dito acima, o amor é como um negócio. E um negócio pode falir apesar de todo estudo e preparo, por algum fator externo. É preciso ter também um capital reservado para o fechamento da empresa, assim como emocional para sobreviver ao “não”, num relacionamento – ou numa simples ficada -, se este vier. Não estou falando de pessimismo ou ceticismo, apenas do funcionamento das coisas. Ninguém gosta de finais, ninguém vai buscar este desfecho, mas ele é possível. Deveríamos estar melhor preparados. Pois, assim, correríamos mais riscos. Teríamos mais experiência, mais lembranças e aumentaríamos muito a chance de encontrar a felicidade. Seja aquela que já teríamos agora, ao ser cada vez mais livres de amarras tais como medo ou insegurança, seja daquela única e insubstituível que vivemos quando há reciprocidade no ser amado.

Assim, não apenas o amor modelo, aquele profundo e eterno, seria vivido, mas todos aqueles que colaboram para sua existência – sejam os que vêm antes, que têm tempo pré-definido, ainda que não se saiba, e servem para fazer crescer ambos os seres envolvidos; sejam os posteriores, que existem para renovar a alegria de vida e tornarem-se ainda maiores que o primeiro, por serem fortes e belos o suficiente para existirem apesar disso.

Continuo sendo romântica, carinhosa e sonhadora, como sempre fui e sou por dentro. Continuo defendendo que o amor é o que vale a pena e não pode nunca ficar abaixo do orgulho, do preconceito, do rótulo, da carência, da beleza, do dinheiro, do status social e mesmo da paixão, e que o sexo pelo sexo, na verdade, não compensa.

Contudo, duas lições ficaram: a primeira é que por mais nobre que seja ter um sentimento, regra geral, declará-lo de cara, seja o homem ou a mulher (mas principalmente as mulheres para os homens), é estragar ou pelo menos atrasar e conturbar a possibilidade de um envolvimento. Há o tempo e o processo de tudo, e um sentimento complexo, logo de cara, assusta. Devemos nos permitir e permitir ao outro o tempo da conquista, das descobertas, do encantamento para somente então nos entregarmos ao sentimento. Ou – e esta é a dica para os ansiosos! 😉 -, muitas vezes, verbalizar antecipa e “tira o clima” das coisas, e o melhor é deixar rolar. Se respeitando a fase normal da paquera muitos se privam de um relacionamento por medo ou apenas pela responsabilidade que tememos ter pelo coração do outro, imagine nos mostrando totalmente envolvidos antes mesmo do primeiro beijo. Ou logo após. É necessário, na maior parte dos casos, apenas o “curtir descompromissado”, mesmo que já seja com exclusividade, para depois virar algo mais profundo. Por mais que já tenha sido desde o começo.

A segunda lição é que relacionar-se por carência, ilusão, atração, paixão etc. quando ainda não sabemos a diferença e quando isso vem de um erro novo, que nos fará crescer, é não somente aceitável, como necessário. Por não saber a diferença entre uma pessoa que se relacione com uma pessoa nova por final de semana por busca sincera ou por mesmice, nunca poderemos julgar alguém, pois a vida íntima às vezes não cabe nem no entendimento do condutor, que dirá de quem tem outro momento, outra experiência, outra alma.

O importante é não existir violência – ao relacionamento alheio (se for um relacionamento de verdade, e não um rótulo), a si. A forma como nos encontraremos, bom, esta não é reta e simples como nos romances, ainda que já se tenha entendido que o príncipe é apenas um homem há muito tempo: pode estar no amigo que você conhece e admira, que virou paquera, que virou namorado; ou no homem que te deu aquela olhada no metrô e com quem você dormiu no primeiro dia – e que nunca chegará perto se você não estiver seguro o suficiente para experimentar o novo, reinventar as próprias regras, quando necessário, e se você não “se garantir” o suficiente a ponto de se manter firme, apesar de chateado/a, com a possibilidade do “não”. Só vivendo, na maioria das vezes errando, mas talvez acertando, para saber.

Há duas formas de conhecer o resultado de uma prova: ter tido acesso ao gabarito e saber todas as alternativas, prontas, olhando apenas o enunciado e a resposta; ou ter passado noites e noites estudando, sofrendo, quase desistindo, mas fazendo o teste, entendendo e acertando, conquistando com o próprio suor cada alternativa. É fácil viver sob regras prontas. Difícil mesmo é parecer abandoná-las quando o que se faz é justamente encontrá-las, mas experimentando o processo, fora, não protegendo-se em nome de um objetivo final forçado, dentro de uma bolha.

A felicidade não está em quem apenas projeta, repete, planeja ou se protege, mas em quem sabe que, se um lado verdadeiramente seu (não uma fraqueza, uma tentação), pede, não vai se perder de quem é, apenas acrescentar, quando se permite descobrir e tem a ousadia de perguntar o que existe além do que não mais estimula, vibra, realiza, satisfaz… ou faz feliz. 😉

**************

Obs: Já que é para “desenterrar o passado” e zerar tudo (rs…), segue aqui, no mesmo molde do texto anterior, um poema, há anos engavetado. Foi um dia endereçado a uma pessoa específica, sim, contudo, hoje, simboliza apenas um aprendizado meu e a possibilidade de recomeço que cada um de nós sempre pode ter, quando deixamos de depender de algo ou de alguém, abrindo-nos para todas as possibilidades da vida! 🙂

Como no último poema do texto anterior, também encontrei sincronia do texto de agora e no poema que eu não lia há muito tempo. Tudo tem a sua hora.

Vale lembrar que minhas rimas nem sempre rimam, e que minhas estrofes têm um tempo todo peculiar…rs…

Múltipla Escolha

“Como posso amar

se tenho medo de me jogar

Ao olhar você

De alguma forma

Todas as dúvidas se vão”,

diz a canção.

O ódio, a hostilidade e a insatisfação

São facilmente demonstrados

Por uma sociedade doente,

Que declara guerras abertamente

Todavia,

ainda admira pelas costas

E chora ao transbordar

O que em silêncio

Por muito tempo

Vívido pulsa

No coração.

 

Porque te quero

Aceito as palavras alheias

Respondo aos elogios

Paquero, interajo

imagino com terceiros a possibilidade,

a fim de respeitar as regras da vida

à qual apenas agora me adaptei

 

Porque te quero

Sou livre para conhecer Deus e o mundo,

Não conto com o amor

Antes da realidade

Preciso aceitar o desejo

E admiração de outrem

Que enaltecem minha alma

Iluminando a coragem

Para transformar em fatos

O que venho sentindo

A fim de que somente então

Encontre você

 

O que é?

Um carinho que enternece,

Respeito que encanta,

Admiração que eleva,

Esperança que renasce

Bem estar que contagia

E angústia que enlouquece:

É para ser?

Você quer?

Por que o medo de tentar?

Só porque outrora de amor quase morri?

Ou por causa do futuro

Onde temo ser apenas mais uma

De múltiplas oportunidades?

 

Porque te quero

Vivo um dia a cada dia,

Ajudo-o com outros relacionamentos de euforia,

Entendo seus sentimentos,

Não insisto quando não sou desejada,

Deixo-o ir.

 

Porque te quero

Voltei a sorrir

Recomecei a sonhar

Passei a viver…

Compreendi

O bom-senso da vida,

O que está preso e precisa voar

Em mim

 

É para ser?

Quero tentar,

Não precisa ser eterno para ter valor,

aprendi.

Estou com a palheta de cores aberta, como se diz

E por mais que eu procure,

Olhe,

Experimente,

Nada muda a cor que eu tinha em mente desde sempre

Só porque te quero

Aceitei ceder

Entretanto,

É você a cor exata de que necessito, percebi.

Ao menos eu tentei

E exatamente por isso, escolhi.

 

Porque te quero

Vou perder o medo

Não digo sair da ilusão,

Pois foi muito bonito o que vivi

E é belo o que sou,

Contudo,

Terei coragem de sonhar

Na prática

E fazer poemas com gestos

Ao lutar pelo seu coração

 

Porque te quero

Decidi deixar para o mundo dos fatos

A mais linda história de amor

Construída passo a passo

De pés fincados no chão.

Não, das nuvens não me esqueci

Nem meu romantismo perdi

Ou deixei de acreditar em algo maior

Acontece que a beleza consiste

Em trazer para a matéria

O que é verdade na alma,

No Imo do Ser,

Elevando a realidade.

E você me despertou esta possibilidade

Assim,

Pensando não apenas no amor,

Mas em tudo que precisaríamos superar

E em sempre lembrar de mim,

Resolvi correr o risco da rejeição,

Da incompatibilidade

Ou do rompimento

Materializar, experimentar.

Viver. Existir.

Continuarei escrevendo

Minha própria história

Chamada vida

Entretanto,

Deixarei para os livros

Apenas a ficção,

Decidi.

 

Porque te quero

Consegui sorrir após a tempestade

Encantei-me novamente com a doçura,

o bom coração,

onde havia orgulho,

arrogância,

indiferença

e só restava maldade.

 

Porque te quero

Quebrei as minhas leis

Para trilhar o meu caminho

Voltei a perseguir a felicidade

Consegui me salvar de mim

Tornei a crer no inacreditável

“Antes só do que mal acompanhado”

É quando damos murro em faca

Para quem acredita no amor

Faz confidências,

Gosta da companhia

E dá risadas

Não há tamanho ou diferença de idade

Que tal fazer a escolha de verdade,

Aceitar o improvável;

Descobrir que há mais opções na profundidade de um

que na superficial realidade:

Apoio, intimidade, concessões, carinho;

Companhia, segurança, cumplicidade,

E arriscar a ousada

Única, exclusiva, inusitada

diversa e louca aventura

De nunca mais ser sozinho?

 

 

 

 

Voltar Atrás

Casal praia blog

Este texto foi escrito no dia 25 de dezembro e era para se chamar “Futuro do Pretérito”. Entretanto, achei que o escolhido, apesar de mais simples, apresenta um trocadilho, útil de diferentes formas, a ambas as partes.

É uma carta e foi inspirada em uma pessoa e em um sentimento, mas não tem endereço único: dirigida a todos que gostam de textos humanos, que perderam um amor porque a outra parte escolheu o caminho mais fácil, mais comum, ou àqueles que busquem palavras de amor e de perdão. Ao final, na íntegra, os poemas citados.

Antes, uma citação relacionada ao tema, mas não necessariamente endereçada “a ele”. A ideia serve, mas o conteúdo específico, não.

“Se tivéssemos a coragem de aceitar como nosso o que já somos agora somado ao que podemos nos tornar no futuro, ao invés de nos enxergarmos como o que ainda somos e de onde viemos, almas não se desconstruiriam e se perderiam buscando sexo pelo sexo em nome de uma transitória realidade. Sexo desregrado e coletivo nada mais é do que um grito de dor, talvez ainda não consciente, de um indivíduo implorando para ser amado. Quem já sofre de solidão está séculos a frente. O dia em que as almas no mundo respeitarem sua essência de Deus e ousarem ou experimentarem com a mesma intrepidez e desprendimento as verdades do Ser, como força, paciência, amor e fé, abandonando o egoismo de querer conhecer todos para si, serão tão felizes nas novidades e desafios das profundezas de um que, através da plenitude pessoal, unir-se-ão a muito mais almas, pelos laços do amor fraternal”

Camila Pigato, 19/01/2016

Voltar Atrás

Verde e azul. Vermelho e amarelo. Aconteceu: cá estou eu, à beira da árvore de Natal, pensando. Sentindo…

Reconhecendo que ainda dói, física e energeticamente, o coração, ao ver a foto do nosso casamento – mas você com ela.

Já faz um bom tempo que eu parei de berrar; algum que eu deixei de querer morrer; e momentos, praticamente, que começo a fazer as pazes com a fé que eu perdi ao ver tudo acontecer. Mesmo assim, repito tudo o que solucei, escrevi, gritei, falei, chorei, argumentei. Morri: não era para você não estar aqui.

Esta imagem é um impacto muito forte a tudo o que eu sinto. E sou.

Hoje eu estou quase em paz. Faz tempo que ensaio voltar a ser eu. É a primeira vez, nestes três anos, que eu sinto vontade, sincera, de viver o Natal – não porque eu deveria sentir e me pergunto o quão perdida estou porque não sinto. É a primeira vez, que, quando as férias me permitem, eu encontro forças internas, sendo capaz de deixar minha casa perfeitamente limpa, em ordem, com a energia fluindo e que, assim, tudo parece simples e possível outra vez. É a primeira vez que tenho lembranças sólidas como se ainda fossem agora, e não de um tempo que já passou e virou uma época maravilhosa em contraste com o pesadelo de agora; lembranças da “eu” que eu era quando vivi o que se mostrava ser, até então, o cumprimento do meu planejamento reencarnatório, os planos de Deus, para mim. Da minha “eu” mais feliz, plena, em paz e serena.

E, apesar desta mudança tão bem-vinda, dói. Da mesma forma que senti um arrepio na alma, depois no corpo, quando te vi pela primeira vez, de costas para mim, sinto agora uma massa dolorida na região do coração, antes que ele mesmo doa.

O que você fez com o que éramos para ser exatamente agora?

Eu fui ansiosa e duvidei, o que o pressionou, o assustou? Sim! Contudo, minha angústia era deixar de acreditar, não deixar de me sentir bem. Eu nunca desisti do amor, mesmo quando esta busca me machucou, exigiu sacrifícios e me fez “perder” para o “agora” e o tangível. Em você, incomodou e você acabou, depois de muitas fugas, fugindo para casar em *******, justamente para onde eu havia ido anos antes, sozinha, cheia de dúvidas, para me reconectar internamente com você. Para não desistir…

Onde estará a árvore de Natal para a qual você olha agora? Será que olha? Ou apenas cumpre um protocolo? Não necessariamente para os outros, mas para a pior pessoa a quem se pode fingir: para si.

Este é o primeiro Natal que eu vivo o Natal, por mais que tenha perdido um tio (pois isso, sim, é a vontade de Deus: dar e levar a vida e, indo, ele foi poupado de muito sofrimento, além de, de meu lado, ter tido o conforto de toda família, o que ameniza as coisas), e não tenha tido momentos isolados que se perdiam na dolorosa teia de fundo onde eu sempre acabava presa. Se hoje há espaço para que eu escreva este texto não é mais porque vou me arrastando em outras áreas da vida para poder lidar com o que de fato demanda a atenção e sorve as energias da minha alma, para o “que realmente importa” – você -, mas porque graças à sua escolha facilitada há um buraco em minha existência  permitindo que eu sinta o erro da sua ausência. Hoje fui feliz como amiga, sobrinha, prima, filha, cunhada, neta, irmã, tia… Continuarei feliz boa parte do tempo nestas áreas (a vida tem seus altos e baixos), voltarei a ser feliz como profissional e ainda hei de ter liberdade e segurança que, para quem está encarnado aqui nesta prisão louca, se chama “dinheiro”, mas nada disso me faz ou fará uma mulher feliz. E, como filha de Deus, terei que sugá-lo e depender única e exclusivamente Dele se quiser ter fé, pois este erro grosseiro de jornada me fez perdê-la.

O que me fez abraçá-lo novamente com amor e aceitação na última vez que nos vimos, a despeito da rivalidade natural entre uma mulher rejeitada e a atual – principalmente se aquela tem a certeza de que esta é a figurante, no máximo, coadjuvante que, por um erro da vida, assumiu o papel de protagonista -, foi ver a sua esposa tossindo e eu apenas perceber, sem pensar, que minha vontade natural era fechar a janela para cortar a corrente de vento, porque ela era sua (vale reforçar que não uso pronomes possessivos necessariamente para indicar posse, o que tanto te arrepia, mas também relação). Ou seja, algo relacionado a você – mesmo que uma mulher… (Aquela primeira, a biscate, com e por quem gritei, não conta, pois tanto eu estava tão em choque e dor a ponto de ter praticamente qualquer atitude esdrúxula desculpada por ter sido mesmo o meu melhor, quanto ela era baixa e pequena a ponto de fazer até Jesus perder a calma; porém, esta e a anterior têm o meu respeito). Naquele dia eu conversei com ela não para “te ameaçar”, chegando perto demais, ou saber sobre você, mas porque eu queria me testar, e passei: deixei-o ir.

Meses depois, apesar do que parecia ter sido o ponto final-final, a súbita vontade de ver você, que vai e volta como as cores na minha árvore de Natal, ressurgiu, e as redes sociais às vezes fornecem o mínimo necessário que precisamos saber. Que golpe… eu vi a foto do meu casamento, certamente na mesma linha do tempo, mas não apenas isso: o mesmo tipo de cerimônia, a mesma paisagem, o noivo… só que sem mim! (Com um buquê que, confesso, não seria o meu…Rs…). E doeu mais do que eu achei que doeria a esta altura; mais do que eu gostaria de admitir.

Ah, se você soubesse o quanto eu amadureci! O quanto eu aprendi a valorizar os outros tipos de amor, não apenas este “cinematográfico e maioral”, quando eu, de tão certa do que queria e determinada, passava, no exagero, a ser inflexível; o quanto eu tentei, as coisas encantadoramente lindas que senti, o quanto me entreguei. Eu voltei a ver beleza no amor, apesar de entender que era para ter sido você, mas que teria que recomeçar a partir daí. Eu aceitei, já que não pelo amor em si, mas pela vida e por mim, me amar e ser feliz, abrir mão de tudo o que era para ser, de tudo pelo quê lutei. Como eu quis este recomeço! E como doeu não ter dado certo ainda assim… Não apenas pelo novo sofrimento, mas porque este novo vazio fazia esta nossa dor ficar ainda maior. Todavia, juro que quis prosseguir. Pelo visto, por um motivo ou por outro, não era para ser. Eu aceitei amar de verdade e com o meu melhor, apenas de outra forma, mas foi a própria vida que não quis. Portanto, pela primeira vez nestes três anos, me admito aqui. Não preciso mais fugir da dor para sobreviver. Eu já sobrevivi! E finalmente deixei que ela viesse. Eu, pela primeira vez no controle em sua companhia, a vivi.

Pergunto-me se “ler a sua alma” naquela época e falar tão naturalmente dos seus pontos nevrálgicos (assim como eu procuro fazer ao admitir os meus) não o tenha magoado mais do que eu possa imaginar, e pergunto-me se fazê-lo novamente não seria repetir um erro e afastá-lo ainda mais de mim. Por outro lado, apesar de tudo o que fiz para impedir, você está tão fora da minha vida que eu não me vejo nem no direito de te enviar o que vivo, não sei nem se você vai tomar conhecimento destas palavras, e este texto passa mais a ter um valor literário para explicar algo meu, um sentimento pessoal com o qual outros seres humanos possam se identificar e que seja útil para salvar outras histórias, que algo que faça parte da minha. As coisas ficaram tão fora do lugar que parece que isso não existe mais, que eu não tenho mais nada a temer. Nem a figurante fui rebaixada, eu simplesmente fui expulsa de cena na história que eu mesma escrevi. Sendo assim, talvez seja oportuno desabafar: sabe, casar outra vez com sua ex-esposa na forma de outra mulher não vai amenizar a mágoa que você possa ter causado no passado ou resgatar o que acabou antes do que você certamente previa (como sabemos, separações não são apenas fraquezas, mas fazem também parte da dinâmica dos relacionamentos, da realidade da alma; nós é que, quando desenvolvemos o caráter e queremos passar a respeitar a lei da vida, quando milenarmente inexperientes, somos rígidos para julgar as coisas e rotulamos tudo, no medo inconsciente de cair em erro novamente – “casar é nobre, separar é pecado”. E, assim, muitos erros são iniciados ou antigos acertos irremediavelmente danificados são mantidos, enquanto verdadeiros amores já prontos para serem vividos, eternamente na fila de espera quando tinham prioridade, nunca são formados). Muito pelo contrário: um dia a mesma situação chegará ao mesmo ponto e você terá que romper outra vez, ou se violentar. Não entrarei em detalhes aqui, mas ela ocupa o mesmo lugar dentro de você, lugar este muito mais guiado pelos caprichos do ego que pelas fibras de amor, paciência, coragem e fé. É sua zona de conforto que impera, não sua potencialidade. E lá venho eu novamente falar do seu semblante, que não mente. Desde mim, eu nunca mais o vi daquele jeito… Se você não tivesse capacidade de mais, eu estaria sendo egoísta, arrogante e orgulhosa ao te pedir algo que te agredisse as condições máximas atuais da alma; entretanto, por voltar a seguir a minha intuição e ter visto em seus olhos o que eu preciso para saber que você pode muito mais e que fazer de novo o que já foi feito é desperdício de tempo, de energia e vitalidade – é estacionar -, continuo batendo na tecla do que poderia ser.

Ela é igual onde há um vício na sua alma, um padrão de comportamento já conhecido, daí a falsa noção de afinidade – não similar em sua essência. Embora você tenha uma doçura e emotividade nitidamente em desenvolvimento (e esta foi uma das características básicas que tanto me encantou em você!), seu lado prático, reto, objetivo, de homem, militar, ainda fala muito alto. Eu também fui me descobrindo muito assim, mas em mim, é o inverso não em essência, e sim em proporção: o que se destaca é a emotividade. Além do diferencial de um amor bem mais real, eu te daria a espontaneidade e uma sensibilidade mais aflorada, o que em um primeiro momento iria desafiar, mas somar, porque você já está aberto para isso; enquanto por dentro, não apenas na objetividade, mas em valores essenciais da vida, já somos muito parecidos – identificação mínima necessária, a longo prazo, para confortar. E manter…

Ambos estamos sozinhos. A única diferença é que você está acompanhado.

Você precisa de uma mulher que te admire, te respeite, te ame e seja sua companheira e que se descabele se você for embora por motivos vãos; que se desespere ao não tê-lo consigo não apenas pela própria infelicidade, mas por doer no coração a noção de que você se prive da felicidade que, merecidamente, está guardada para você; porém, uma vez juntos, que não tenha medo de perdê-lo se você for teimoso, orgulhoso ou imaturo, maltratá-la ou ao amor e fizer por merecer.

Eu lutei solitária e como louca (aliás, passei por quase louca e certamente passaria/passarei se/quando souberem o que eu ainda sinto. No entanto, eu sinto. Que fazer?) não apenas pela minha história, mas por uma ideologia, coloquei outdoor e subi num balão para, a olhos nus e em poucos anos, nada em troca ter recebido (muito pelo contrário, virei uma verdadeira “loser” diante dos baixos valores vigentes, pois em meses perdi você, meu pai, meu dinheiro e meu carro, sem ter alguém para conversar “de homem para homem”, por mais que sua falha tenha sido no âmbito emocional e não físico; não podendo nem sair para distrair a cabeça de uma dor que me dilacerava a alma, sem poder pagar um curso ou uma viagem, conhecer gente nova, me divertir, nem sair para tomar um café, a pé, enfim, fazer algo bom por mim em outro setor da vida a fim de amenizar a dor de te perder), enquanto você seguiu em frente, várias vezes, “bombou”, e hoje está casado. Já eu, seguindo este parâmetro limitado, apesar de pequenas melhoras neste quadro, “fiquei para tia”. (Embora, como tal, eu esteja no céu!).

Entretanto, eu sou livre para sentir sua ausência; sou livre para lidar com esta infelicidade, enquanto você está anos atrás, ainda no começo de uma história que, desculpe, de verdade (não tem mais raiva ou arrogância aqui, apenas uma triste constatação de fatos), mas, fatalmente, irá falhar, para que o estrondo lhe faça redimensionar os fatos. E tudo…

Você não apenas me rejeitou, como me desprezou e me humilhou para, anos depois, sem nunca se desculpar nem mesmo como ser humano, quiçá como homem, casar o nosso casamento com outra pessoa. Era inconcebível a ideia de te perdoar… “Over and over” a ideia de você me procurar e admitir que errou passa pela mente, não apenas como um desejo, mas como uma premonição ou, no mínimo, uma possibilidade. Você estragou tudo, foi longe demais com o “ninguém é perfeito”, “às vezes nos afastamos da vontade de Deus” ou “ops, sorry, cometi um erro”. Se isso realmente acontecesse, eu ficaria muito triste por, então, viver esta história mais como por ser algo a ser cumprido ou à natureza da lei de Deus, que não nos deixa opção a não ser o perdão e o amor, se quisermos ficar bem; mas nunca mais, pelo menos nesta vida, haveria a empolgação, a magia, a beleza de quando algo acontece espontaneamente… Precisaríamos construir pedra a pedra o que já estava pronto e não sobre um terreno plano, mas sobre escombros. E lidar com intrusos no que estava protegido. Perdemos o encanto do começo e do reconhecimento, do plano divino se sobrepondo ao material; temos agora uma grande bagunça, muita influência das imperfeições do Homem, reflexão, responsabilidade e trabalho para poder chegar somente à primeira conversa – que dirá de todo o resto. Não me refiro a ilusionismos românticos, pois apesar de ter chegado realmente perto de deixar de ser essencialmente romântica e acreditar no amor, o que sou eu (e foi isso, não ter tão pouca autoestima a ponto de quase morrer por causa de um homem, que me matou por dentro), eu, com esta dose exagerada de “realismo”, aparei muitas arestas e perdi muitas ilusões. Refiro-me à diferença entre algo divino acontecer no tempo e jeito certo ou o homem interferir com suas limitações, orgulho, falta de fé e, mesmo que temporariamente, destruir e danificar o que ele mesmo havia construído com seu lado bom, que Deus havia enviado e estava pronto e puro. Depois de tudo o que ocorreu, eu viveria isso mais pela constatação de que mesmo com o erro do homem há a possibilidade de conserto, graças à força do amor; haveria a humildade diante da vontade de Deus, da qual eu obrigatoriamente retiraria bons fluidos e bons sentimentos, mas seria uma história que não conseguiria mais ser tão bonita porque passou a ser um remendo, uma adaptação cheia de falhas da sólida estrutura original: em segundo plano ficou tudo pelo quê lutei a vida inteira, antes mesmo de o (re) conhecer.

Que diferença faria para você passar por todo o processo comigo, se já viveu isso tantas vezes? Você responderia: “o amor”.  E, por mais que eu quisesse que desse certo, depois de tantos “nãos”, tantas certezas e fés transformadas em ilusão de uma boba imatura e, consequentemente, da minha autoestima tenha ido ao chão, seria obrigada a questionar: “Mas, por Deus, se há amor, COMO foi possível haver outras pessoas depois de mim?”.  Apesar de “o Bem sempre vencer o Mal”, de todo o orgulho não ser mais do que uma gota no oceano do amor, não seria tão simples assim… O que fazer por uma alma que era “limpa” e agora está toda remendada com o cansaço e com a dor (quem sabe, em breve, pela corrupção), e não é mais a mesma para deixar este sentimento fluir? Sabe aquela história da tábua e os pregos, relatando que podemos até tirar os pregos da tábua, mas ainda restarão marcas? Melhor tirar, claro, que deixar a tábua toda martelada, contudo, bom mesmo seria nunca terem martelado onde não era devido… Eu fiz a minha parte, eu “protegi a tábua”, lixei, passei lustra móveis (rs), eu nunca toquei em um martelo e, ainda assim, por causa de uma pessoa que não teve o mesmo cuidado, eu acabei com a minha tábua toda pregada. Que bom que “Deus enviou” alguém para tirar os pregos, mas, já que ele é Deus, onipotente e pode decidir como, onde e quando, eu preferiria que Ele me tivesse protegido das marteladas, para fazer valer a própria lei, que eu, by the way, defendia; não me feito pagar pelo erro de outra(s) pessoa(s), principalmente quando, justamente neste assunto específico, eu tive as minhas precauções, para somente depois do estrago feito Deus ser Deus e “lembrar que existe”. (E esta é a minha queixa real – Deus – pois você e eu somos apenas criaturas; estranho seria nós sermos perfeitos e Ele ter falhas). Apesar de tudo o que eu sei e, no fundo, ter consciência de que estou errada – mas é assim que sinto – complicado este conceito de justiça…

Para dar certo, deveria ser possível voltar no tempo. Queria apagar estes tormentosos três anos e todos mais que ainda forem longe deste amor, longe de você. Gostaria que fizessem uma lavagem cerebral a colocassem a história original neste espaço em branco. Ainda assim, não adiantaria, pois seriam informações, não experiências, sentimentos. A época, a atmosfera, o contexto, além do amor em si e da minha “tábua sem pregos”, faziam parte da “magia”. No caminho, havia uma bifurcação para o “céu” e para o “inferno”. Hoje, até o caminho do bem tem um quê de dor, de tristeza. Ambas as opções não são boas.

Ah, meu Deus, eu demorei tanto para entender que eu merecia, eu tive coragem de ir atrás… eu só queria ter sido feliz!

Fico aqui, me perguntando, se, apesar de conhecer este mecanismo, você vai ser uma daquelas pessoas que vão se contentar com o superficial e viver uma vida de fora até que os últimos instantes venham e, somente com a chegada da “morte”, você se aproxime da consciência da verdadeira realidade e faça alguma confissão, deixando um recado quase póstumo – ou pior, que precise “ver para crer” e só tome consciência disso quando já estiver imerso no outro plano e lhe “passem um filme” -, ou se vai acordar durante o caminho. Eu já devo ter sido assim, por isso, nesta vida, num momento decisivo, coloquei tudo num outdoor, para que fosse um fato consumado, a tempo de ser vivido – não lamentado ou refletido.

Meu Deus, isto não é um filme, um texto ou apenas uma música bonita;  isto não é Hollywood, não é ficção, é a minha vida!!! Como pode a maior certeza de Deus na minha existência ter se transformado na maior mentira?

Eu definitivamente não sou apenas aquela que não gostou de ser contrariada, assim como você não é somente o homem que negou o amor. Será que ainda há oportunidade para ambos entendermos isso?

Há uma gigantesca chance, no entanto, de você não estar nem minimamente interessado. Estou, como meu poema diz, “Sozinha na Chuva”. Como pode, “Mensageiro de Deus”, ao invés de ter a “Sua Presença” (já que sua história original de fato acabou e você tenha ficado livre), eu velar a “Sua Ausência”, não por uma causa justa, ou quando era necessário e parte dos planos divinos – o que era difícil, porém, sublime -, mas para você, teimosa e desnecessariamente, “Mentir-se Feliz”?

******

Imagem: google

Poemas – Observações

1 – Serão publicados na ordem cronológica, não de citação;

2 – Desde quando compus que não lia o “Mentir-se Feliz”. Percebo que o conteúdo é muito parecido, embora naquela época houvesse mais mágoa e revolta;

3 – Neste mesmo poema, há uma estrofe sobre suor e dinheiro. Esta única estrofe é destinada ao meu pai, não ao meu amor. Este poema nasceu da sensação de abandono, de escolha por um caminho mundano, negando o divino, e meu pai fez a mesma coisa, apenas por outros motivos.

Sua Presença

Quando não está por perto

Percebo o quanto sou feliz

Quando o tenho ao redor

Sua presença é tão marcante

Que me faz bem

Mesmo quando está longe

Hoje, porém, quero apenas

Enaltecer a sua existência.

 

Tê-lo no mesmo cômodo que eu

Poder vê-lo somente pelos lados

E mesmo que sejam

Apenas pernas e sapatos

Mas saber que estamos próximos

Provavelmente juntos no coração

Gera em mim inenarrável alegria.

 

Seguro-me para não demonstrar

Este sentimento

E tento agir com naturalidade

Às vezes, tratando-o

Com excesso de normalidade

pelo receio que notem

não só a natureza

mas também o tamanho

e a força do meu amor

Colocando nós dois em situação indesejada,

E este sentimento de sublime

Possa momentaneamente causar tormento

 

Ouvi seu suspiro

E imaginei como seria

Poder senti-lo mais de perto,

Numa situação do dia a dia

E, neste sonho,

Como seria poder olhá-lo

Mesmo sem que percebesse

Admirá-lo e agradecer a Deus

Por colocar a luz da sua presença

Na rotina da minha realidade.

 

Sei que se eu pudesse tê-lo desde o começo

Saberia dar valor ao que temos

Pois antes de você

Muitos anos se passaram

E eu soube que quando te encontrei

A minha busca havia terminado

Mas hoje penso se,

Além de outras lições,

O fato de não poder tê-lo de imediato

Não seria algo culposo, negativo ou um teste,

Mas sim um meio ainda não compreendido

Em essência pelo homem

De fazer ficar mais lindo o reencontro

Quando duas almas descobrem

O limite do quanto se querem

Para em determinado momento da Vida

Encontrarem a pura felicidade

No momento exato

Da livre troca de olhares.

 

A esperança deste dia

E a riqueza deste sentimento

Motivam a minha existência

Enchem minha alma de paz,

Minha vida de alegria.

 

Em seus olhos vejo a luz

Que em minha humilde interpretação

Ainda é o mais próximo

Que posso chegar de Deus

Sua vida, sua presença

Representam para mim

A Bondade Divina, o sentido da Vida

Algo que todos sentiremos em tudo,

Um dia.

 

O mínimo que posso dizer é

Que eu amo você,

Pois para tudo que sinto

Não há palavras ou explicação

E o mais próximo que conseguiria mostrar

Para que pudessem entender,

Seria o meu olhar

Que se ilumina quando encontra o seu.

 

Quem sabe um dia eu possa

Dizer tudo isso a você…

Dar todo o amor que eu tenho guardado

Há muito tempo

Para você,

Somente para você.

 

Encontrei o amor…

Sou feliz…

Adoraria poder dividir esta felicidade

Com você

Meu amado,

Meu exemplo,

Minha vida,

Minha luz,

Minha calma,

Minha paz,

Minha emoção,

Minha certeza,

Meu amor,

Meu enviado.

Que Deus Ilumine a sua existência

E que abençoe nossos caminhos

Sejam eles juntos

Ou temporariamente separados…

(Camila Pigato, agosto 2009)

Sua Ausência

Quando vejo você partir

Sinto que meu coração

Vai querer desanimar

E para não desistir

Eu começo a me lembrar

Dos momentos que vivi

E me sinto elevar

Olho o céu, olho as montanhas

E sinto o seu olhar

Percebo que ele está em mim

 

Sua ausência fere minha alma

Faz a minha luz estremecer,

Meu coração diminuir

E a saudade bater

Mas quando a tristeza

Quiser aparecer

Eu começo a me lembrar

Do oposto, que é ter você,

E percebo que até a sua ausência

Serve para valorizar

Tudo que passo a ser

Quando o tenho ao meu lado

E eu percebo a grandeza

Do que a sua simples presença

Pode revolucionar e enobrecer

Dentro do meu ser.

 

Então eu entendo que longe ou perto

Você está comigo

Modificou minha vida

Minha visão de mundo

Enalteceu minha fé

 

Mas enquanto a distância for necessária

O simples fato de você existir

Vai inspirar meus passos

Iluminar minhas idéias

E alimentar meu coração

 

Quando penso no sorriso (sincero e sem culpa)

Que nunca darei

Nas suas mãos,

Que sobre as minhas eu não sentirei,

No abraço aconchegante que não vou ter

Ou no beijo que teremos que evitar

Enfim, no amor que nunca vou viver

Poderia começar a chorar…

Mas é exatamente quando fico feliz!

 

O que eu sinto é mais forte que tudo

Não é deste mundo,

Nem deste tempo

É algo que somente me faz crescer

 

Sua presença ilumina o meu dia

Engrandece minha alma

Enche minha vida de alegria

 

Faz com que eu ame mais os que me cercam

Que eu agradeça a Deus a todo instante,

Gostaria que todos sentissem esta harmonia

 

Se sempre chorei de saudade ou decepção

E no “amor” fui sempre renegada

Ou desejada por quem eu não queria,

Tudo não passou de ilusão

Hoje escrevo sobre as lágrimas que caem

Mas que são expressão de alegria,

Vindas do fundo do meu coração.

 

Que a sua presença em minha vida

Me ajude a ser melhor

Para um dia merecer você

Hoje

Tão perto,

Mas sem seu olhar constante,

Eu dizia em pensamento o que sinto

E imaginava nós dois

Nos abraçando,

Observando a imensidão do mar azul

A brisa a nos envolver,

A paz a nos completar

E o amor a nos guiar

 

Mesmo que não seja a hora

Vou continuar a te esperar

E em meu pensamento te amar

Pois é isso que alimenta meu ser

Um dia, perante a eternidade,

Iremos nos reencontrar

Seja amanhã ou daqui cem anos

Só a vida vai nos dizer

Mas eu digo estar certa de que vai acontecer.

 

Eu não preciso tê-lo por perto para lhe ver

Nem poder lhe tocar,

Para o abraçar

Ou preciso do seu beijo

Para o amar

 

Encontrei o amor

Pude confirmar minha essência

E saber que o tempo é relativo

Que meu caminhar

Vai um dia me levar até você

É preciso ter esperança, paciência e fé

 

Eu posso não ter tido seu corpo

A caminhar ao lado do meu

Mas a cada dia,

Em cada gesto,

Em meus sonhos

E em meus pensamentos

Pude imaginar como vai ser

Quando nossa união acontecer

Somente este reencontro

Basta para ser feliz enquanto eu viver.

 

Tê-lo junto de mim,

Vivo no meu coração

Fez-me notar que somente por acreditar

Eu pude encontrar a verdadeira felicidade

Poderia viver um único momento eternamente…

Nunca antes senti nada assim

É difícil explicar minha gratidão

Por tudo que a Vida passou a me dar

Sinto que este amor , na verdade,

não tem começo nem fim

É algo que me faz seguir sempre em frente…

Não importa quando nossos caminhos se encontrarão

Nem ouço o que os outros vão falar

Não sou eu que vivo longe da realidade

São eles que não entendem, infelizmente.

Houve tempos em que quase duvidei de mim

Foi difícil viver a separação

Mas nenhum obstáculo conseguiu me desviar

Sou feliz mesmo “contra” a sociedade

Não podemos fugir do amor, quando se sente

Um dia eles compreenderão

Vale mais o encontro de um olhar

Do que tudo o que eu poderia viver

Por este sentimento

Serei grata eternamente

Somente por saber de sua existência

A paz invadiu meu coração

E se hoje sinto sua ausência

É porque um dia vi o seu sorriso

E isso basta

Para que esteja  sempre presente…

(Camila Pigato, fev e out 2009)

O Mensageiro

Vejo anjos

Em torno de mim

Com os olhos

Apenas o abajur

Que irradia linda luz

E abana suas asas

Para nos lembrar

Do Bem que nos conduz

Mas os que realmente estão aqui

Vejo com o que sinto

Para o que me transformo

Quando penso em você

 

O que é a criação

Senão apenas um meio

Que Deus sabiamente Inventou

Para que a alma

Possa sentir fora e aprender como seu

Algo que já traz desde sempre,

Dentro de si?

 

Os mundos, as estrelas, o mar,

O céu, as árvores, a chuva,

O sol, as pedras, o ar

Todos seguem um caminho

E com eles, interagindo,

Sentimos a grandeza

E a simplicidade

Do existir

As plantas, os animais,

Desde o unicelular

Ao homem que pensa saber

Todos são seres amados

Cujas vidas devemos celebrar

 

Na forma do pai

A sabedoria, o carinho, a proteção;

A mãe ensina à alma

O conforto, a bondade, o amor incondicional;

Filhos ensinam a quem os têm

A doação, a resignação, a vida pela vida,

Amor sem igual;

Os amigos são tesouros

Irmãos que escolhemos

E que tanto nos amam

Que não precisam mais estar por perto

Para continuarem a ser

E mesmo longe pelo lugar ou pelo tempo

Basta um sorriso

Para a intimidade de outrora

Venha aparecer

 

A criança foi criada para que ainda se lembre

Da inocência, da bondade, da pureza;

A adolescência nos relembra,

Para que com a criança não se engane,

A inconstância que podemos ter;

O adulto demonstra a força que

Precisamos exercer

E o idoso novamente é um convite

À realidade de que a vida é um ciclo sem fim

Novamente nosso tamanho pequeno é apontado,

Não sem antes novamente despertar

a inocência do começo misturada

da sabedoria adquirida pelo tempo

 

Há também os relacionamentos conjugais

Que nos ligam profundamente

Sem do sangue ter-se laços de afinidade

Têm a pureza dos sentimentos mais fortes

Advindos normalmente da família

Junto do conforto de uma amizade.

A comunhão de idéias, a convivência fraterna

A doação, o carinho, o amor incondicional

Pelo menos, é assim um casamento de verdade

 

O momento que vivemos na atualidade

Ainda é de aprendizado

Portanto, nem todos os relacionamentos assim serão

Pois muitos deles ainda são também um meio,

E não a finalidade

Como muitos ainda pensam que são.

 

Seja como for, todo tipo do que hoje chamamos “amor”

São modos da Criação nos mostrar

O amor sublime que um dia iremos experimentar

Cada ser, em seu caminho, tem muito a aprender,

Mas também algo a ensinar.

 

Entre tantas outras coisas,

O medo de tudo o que sinto estar errado,

E com isso o modo como vejo Deus,

Tudo o que aprendi,

A paz que senti,

Fez com que, exatamente por temer perder,

Eu me afastasse de minhas crenças,

De mim mesma, minha essência,

E até mesmo de você eu me perdi.

 

Suas palavras de bondade

Têm um efeito em mim

Mais poderoso que as mesmas ou ainda melhores

Que qualquer outro ser no mundo pudesse dizer

Mesmo sem resultado imediato,

Você não deve nem saber,

Mas o simples fato de sorrir

E ter vontade de ajudar

Resgatou-me de mais um tormento

Onde eu estava escondida,

presa dentro de mim

 

Como sou ainda muito pequena

Falar com os anjos não me é permitido

E talvez por ter o coração endurecido

Para entender a pura caridade

O modo mais rápido de encontrar minha alma

E fazer com que entenda os recados que a Vida

Quer que eu aprenda

Seja colocá-los nas mãos de alguém

que me fez encontrar a mais sublime felicidade

 

Você talvez não fale a língua dos anjos

E sei também não ser perfeito

Mas é exatamente daí que vem toda beleza

Porque o que sentimos, pensamos,

Do que gostamos podem ter muito em comum

E cada defeito seu talvez seja

O que minhas qualidades conseguem compreender

 

Seus olhos humanos, como um outro qualquer;

Seu modo de viver, tentando ser melhor,

Mas fazendo o mesmo que vejo um grupo fazer

Podem ser simplesmente apenas “mais um”

Mas para mim são o intermédio

Entre este mundo e aquele que de muito perto

ainda não nos é dado conhecer

 

Você não é melhor do que ninguém

É mais um homem doce, generoso, gentil

Sábio, vivido, inteligente,

Verdadeiramente bom

Sei não ser maioria,

E isso talvez o destacasse.

Destaca, sim.

Mas ainda que houvesse um outro homem assim

Que cruzasse meu caminho neste momento

Não diria em forma de sentimento

Tudo o que sua existência toca em mim

 

E isso faz com que,

Exatamente por ser humano,

Seja perfeito:

Bom, generoso, gentil,

Mas como só você poderia ser

 

Por ter encontrado este tipo de sentimento

Ter um relacionamento só por ter

Passa a ser banalidade

Ter alguém ao lado

para não sentir solidão

é muito pequeno, inútil,

vira tormento.

Eu mal comecei a aproveitar este amor,

Impossível seria esquecer

Você me mostra uma outra realidade

Sinto-me completa, feliz, sempre bem-acompanhada,

Pois o tenho no lugar que mais interessa:

O coração.

 

Belo e pequeno ser humano

Ser por Deus tão Amado

Pois para Ele,

Pouco Importa sermos almas crianças,

Que ainda erram,

Ou aqueles que do Mais Alto cantam

Somos nós que temos sentimentos condicionados

Ele Vê apenas um que já terminou uma etapa

E o outro que pelo próprio ato de errar

Fatalmente irá ao mesmo destino chegar

Para Ele somos todos iguais,

A diferença é que nossa bondade ainda se expressa

Na forma de erraticidade

A deles já está iluminada

E na harmonia consegue se mostrar

 

Tudo isso para dizer

Que por ainda termos tanto o quê aprender

Esta querida humanidade, onde sou iniciada

Não detém palavras nobres o bastante

Para explicar este sentimento

E que por falta de expressividade

Chamamos “amor”

Então, é assim que denomino

Tudo que sinto por você

 

Você também veio para crescer

Mas isso é tudo o que imagina ser

Não sabe que sem nada precisar fazer

Me leva direto ao céu,

Sem daqui poder ainda partir.

Faz com que eu me lembre que há amor,

Resignação, esperança, fé

Não apenas por suas palavras,

Mas pelo simples fato de existir.

 

Você é o maior Presente

E o maior contato com o Criador

Que eu poderia conhecer

Graças ao que sinto

Sou melhor comigo mesma,

Com todos os que me cercam

Com aqueles que talvez eu quisesse manter longe

E agora preciso também viver o amor

 

Nestes momentos de elevação

Casar parece pouco

Pois o que sinto vem antes e vai muito além desta morada

Consigo apenas elevar o pensamento

E agradecer pela grandeza de Deus

Ao colocá-lo em minha caminhada

 

Sinto seu abraço

Num olhar

Seu beijo

Num sorriso

E isso é tudo que preciso por enquanto sentir

Talvez se você chegasse mais perto

Eu poderia não suportar

Pois o que sinto é tão intenso

E ao mesmo tempo tão radiante

Que parece desperdício limitar

A um corpo, ainda que abençoado

A um local, em todo firmamento,

A um instante, em toda linha do tempo

 

O amor que sinto é tão grande…

É difícil de explicar!

Independe de você,

De nossas experiências,

Que são a forma que nossas almas

Encontram de melhorar

E que podem exatamente por isso

Ainda nos afastar

Para que quando não haja mais nada a aprender

E possamos ser livres de outros relacionamentos

Exercer livremente

e nossa união enaltecer

Não sei se você já me encontrou

Mas eu encontrei você

Agora, meu amor,

Ser amado,

Abençoado,

Iluminado…

Graças a você

Deus e eu podemos dialogar

(Camila Pigato, julho de 201o)

Sozinha na Chuva

Vencia a Chuva

Que embaçava minha visão

Nossos caminhos se cruzaram

Mas íamos em outra direção

 

Duas almas buscando abrigo,

Aconchego, proteção

O mesmo fim

Porém, caminhos diferentes

Molhada, precisando de calor

Cansada, para me aquecer

Só o banho ou chocolate quente

Será possível ter o seu amor?

 

Aqui dentro as luzes harmoniosas

Mais uma vez piscavam

Cintilando na árvore de natal

Lá fora você chegava

Onde te esperavam

Aqui dentro

Chuva torrencial

 

Na caixa, o livro autografado

Que eu nunca entreguei

No carro, a folha

Que há meses imprimi

Nos lábios

O beijo que nunca dei

No peito a esperança

Que não me deixa seguir

A campainha toca toda semana

O coração dispara, entristece

É sempre outro rosto a sorrir

Tanta dúvida, demora

A mente enlouquece

A solidão devora

Quase desisti

 

O vento sopra e apavora

Revira a vida perto de mim

Tira tudo do lugar

A chuva cai,

Sem fim

No entanto,

Já passou

Só as luzes de harmonia

Brilham em melodia,

Alegrando meu coração

A tempestade que veio

Não tirou nenhum telhado

Apenas me arrancou o chão

Esperar você é acreditar no sonho

Ou viver de ilusão?

 

Venci a vida

Que quase embaçou minha visão

Enfim nossos caminhos se cruzaram

Afinal, estamos indo na mesma direção?

(Camila Pigato, dez 2011)

Mentir-se Feliz

Até quando sentirei a falta

De quem não me quer bem?

Paredes que falam

Pessoas que lembram

Hábitos que revivem

Quem por vontade

Quis partir

 

Segundos desperdiçados

Vidas desviadas

Dores desnecessárias

Amor não vivido

Certeza enlouquecida

Fé que deixou de existir

 

Desprezo a fraqueza

Lamento a covardia

De quem preferiu

O mundo a mim

 

Cada passo que dei

Pingando de chuva ou sol

Castigando o corpo

E calando a alma de exaustão

Equivale a todo milhar a ser perdido,

Se a vida é justa,

Do dinheiro que você escolheu

No lugar do meu coração

 

Para uma única lágrima

Da tormenta que me acometeu

De sua indiferença, arrogância e traição

Vários sorrisos

Em diversos rostos de mulher

Que vivem o momento,

Surgirão;

Cada noite aqui vivida de solidão

É mais uma,

Dentre tantas,

Da companhia, de toques,

Abraços, beijos, vida social;

Satisfação sexual, rotina compartilhada

Por quem,

Originalmente,

Não deveria ser mais que uma amiga

Ou passar de uma balada

 

São,

Contudo,

Sorrisos de euforia, carência, acomodação

E a minha dor –

Sem igual –

De tudo ruim que traga,

Ao menos é verdadeira,

O oposto de uma ilusão

 

Como a que vive

Com as escolhas que fez

E o que constrói

Única e exclusivamente

Pelo medo de enfrentar o que sente

Obrigando-se, assim,

A fugir de mim

Para mentir-se feliz

 

Que restará de nós

Quando despertar?

Haverá segunda oportunidade?

Conseguirei,

Depois de tudo,

Perdoar?

Sobreviverei?

Qual a pior morte:

A do coração fisicamente estagnado que liberta a individualidade,

Ou a da alma banalmente acorrentada a um corpo que ainda respira?

Estarei,

Enfim,

Aceitando o inaceitável,

Vivendo o presente transformado,

Ou ainda debatendo-me

No inferno que amiúde dorme,

Mas não cessa,

Tendo presa nesta indescritível situação

A minha liberdade?

 

A certeza do que um dia nos uniu

E sempre nos ligará,

Além de tudo o que você também irá saber,

De sólido e eterno que é,

Consola e eleva;

Enquanto desola, desespera, revolta,

Pela magnitude do que foi perdido,

Agora,

Tamanho deserto que se instalou

No límpido mar azul que flutuava em mim

E que secou.

Apenas porque você quis,

A despeito de tudo que fiz.

Apesar do brilho único e cristalino em seu olhar

Do sorriso involuntário

Quando eu,

Tímida,

Revelei o que senti.

 

Se é mesmo algo tão elevado,

Como pôde escolher –

Dentre todas as confusas opções

Deste mundo tão diverso –

Querer, imaginar, atrair, desejar, aceitar e materializar

Qualquer que seja,

Por mais tentador,

(Algo tão íntimo, único e seu):

o que não fosse o amor e a mim?

A cada dia tento superar

Esquecer, amar, perdoar, sublimar, entender.

Impossível…

Desisti!

(Camila Pigato, abril 2014)

 

Aniversário de Morte

mar 1

“Uma mãe nunca deveria enterrar seu filho”. Concordo! Entretanto, esta semana, não apenas minha avó chorava em cima do meu tio: “Meu filho, que dor, no mesmo dia em que Deus me deu você, Deus me tirou”, quanto ele foi o melhor presente de aniversário que esta mãe já teve: seu primogênito. Vai ser difícil querer comemorar outra vez o dia em que ela veio ao mundo…

“A morte é a única certeza da vida”. Certamente. Faz parte de sua dinâmica natural. Todavia, nos abate, nos choca, desola. Atropela. A cada tempo e espaço os grupos constroem hábitos e culturas, entretanto, há certas leis naturais que são comuns a todos os povos, em todos os tempos: fenômenos naturais, nascimentos, doenças, lições de vida, morte… Aquilo que o Homem constrói também contribui para seu próprio crescimento, contudo, em nossa constante inabilidade em encontrar um ponto de equilíbrio, apesar de a própria ciência já explicar que todo nosso corpo busca o meio termo (assim como em breve explicará a mesma necessidade na alma), é comum pendermos para o “lado de cá”. Esquecemos que há uma lei maior, algo que não de todo conhecemos e, quando este “todo” se reapresenta, ficamos momentânea ou permanentemente “acordados”.

“Coitado, era tão bom”, dizem quase sempre sobre um corpo inerte. Retirando a hipocrisia de alguns neste ato, há aqueles que desacreditam nesta postura e, dos sinceros, tiram sarro. Isso é mesmo piegas? É a pessoa que, ao morrer, magicamente vira santa?

Afirmativamente, não.  Mas o nosso “lado santo” que fica iluminado. Porque saímos do torpor do modus operandi deste mundo e dos constantes problemas de agora, para a realidade da alma…

Na origem de tudo, de âmago de cada um, não existe espaço para orgulho, indiferença, raiva, rancor, desprezo, desonestidade, traição, intrigas. Ou, pelo menos, para os já mais libertos das más inclinações de forma geral, existe o desequilíbrio da razão que faz frios por praticidade, não por falta de amor, aqueles que muitas vezes não suprem as necessidades da sociedade moderna e, máquina de cumprir tarefas que são, nunca têm tempo para enviar um cartão, fazer uma visita ou mesmo uma simples mensagem pelo smartphone.

É esta lei natural que nos tira da ilusão momentânea da vida material humana e nos recorda o que realmente importa. E, nesta hora a dor é tão íntima, instintiva e intensa que a barreira que separa as escolhas são milimétricas, dentro de um buraco infinito. Ou você volta para ou passa a acreditar em Deus, reconhecendo que, por mais que o Homem tente fugir e se enganar considerando-se maior que o Universo, há coisas que ele mesmo não controla, estando este submetido a uma vontade maior, a uma lógica da vida e, assim, com fé ou desespero, implora que este “algo maior” seja bom e cuide daquele que se foi com o mesmo amor que você gostaria de cuidar neste exato momento; ou você deixa a dor vencer a queda de braço e se revolta ou desacredita em Deus. Não existe alívio pleno, somente a melhor escolha. Uma dor te acompanha, a outra, devora.

Embora estivesse com as malas prontas, não tive tempo de me despedir do meu tio. Ele foi embora do corpo ainda de noite. No dia seguinte bem cedo, toda a família pegou um congestionamento monstro na entrada de São Paulo e um medo voraz de não vê-lo pela última vez tomou conta de mim. Desespero indescritível.

Por outro lado, mal sabia eu que tentar chegar era tão melhor, pois conseguia me distrair. Eu tinha uma meta. Quando pisei no cemitério, desabei: só havia a perda.

Consegui, enfim, dizer o Adeus. Vi a terra cobrindo o caixão e apenas assenti, como se aceitasse que a partir dali, não podemos mesmo fazer nada. Como ele mesmo disse certa vez, “agora temos que enfrentar”.

O dia em que meu tio foi enterrado estava paradoxalmente lindo. Como o padre que eu não ouvi, falou, que todos acalmassem o coração e vissem aquele dia não como o aniversário e a morte dele, mas um novo aniversário: o do recomeço na vida espiritual. Um dia lindo!

Voltei para casa a fim de não atrapalhar os que sofriam, cumpri meu dever final no trabalho (que violência, eu mal conseguia me concentrar até “pegar no tranco”) até que a esperança de reunir todos apareceu. Foi lindo. Juntos, nos demos mais força, ainda que isso não tenha sido declarado oficialmente. Juntos, até ríamos. Lembrávamos dele. Juntos, não apenas tínhamos uns aos outros, como todos tínhamos em cada um de nós um pouco mais dele…

Na dor das cinzas desta vida, a união da nossa família renasceu. Sentimos necessidade uns dos outros. Dizemos o quanto nos amamos. Eu queria que ele soubesse o quanto eu o amo. Eu queria que ele soubesse como eu me sentiria se um dia como este acontecesse. Queria ter dito com todas as letras, não deixado implícito. Por isso, não deixo mais de dizer aos outros…

Ao fim do encontro com toda a família e no dia seguinte, todavia, a cada um de quem nos despedíamos que ia, parece que o sofrimento ficava mais forte… Porém, era a vida, que seguia…

Meu tio me salvou de um falso incêndio; não me deu uma bronca merecida quando minha irmã e eu apenas perdemos o último ônibus na noite de férias numa cidade litorânea, o que para minha vó e para ele pareceu um sumiço; me ensinou a pescar, embora eu não seja lá tão boa; sempre me deu atenção, me viu crescer; trabalhou muito; gostava do Corinthians; amava pescar, ir para a praia, assim como eu. Era simples, discreto. Forte. Amava os filhos acima de tudo. Ama!

Certamente tem também os defeitos. Todos os temos, ninguém é perfeito, como dizemos. O que ocorre, como já disse, não é um floreamento ou hipocrisia, quando a pessoa não é hipócrita: mas uma necessidade inconsciente de voltar às origens de nós mesmos, ao cerne da consciência e da alma. O equilíbrio respira amor, perdão, esperança, paz. Não há mais espaço para transtornos. Brigas. Mágoas. Nem culpas. Reflexões, nunca culpa. Porque a verdade da vida é grandiosa demais para mágoas, imperfeições e mesquinharias. O amor é o que impera. Ele é a verdadeira realidade da vida. Todo o resto é acessório, é meio para desenvolver outras habilidades e encontrá-lo. E a morte é parte do processo do ato de existir. Não apenas um fardo que assola a humanidade, mas a prova do fato de que estamos nesta Terra de passagem. Necessário se faz honrá-la. Afinal, o que virá após dela?

A morte não é o fim, mas o começo. A continuidade para quem vai, o “fazer diferente” – seja por mudança nas circunstâncias, seja por amadurecimento – para quem fica.

Apesar de falar de sentimentos genéricos com relação à morte e ser direcionado a qualquer pessoa que queira refletir, este texto é carinhosamente dedicado a Antônio Teixeira Lopes Filho, meu tio Toninho. O amado filho da Elza (e do Antônio, que deve estar com ele!). O querido irmão da Beth, do Beto, da Elzinha e do Marcelo. O adorado pai da Paula e do Guilherme. Saudoso ex-marido da Elisete. O estimado tio da Carlinha, da Tatá, da Gabi, do Lucas e da Marcela. O breve “titio” avô da Carolina, que insiste em mandar beijinhos para o céu. O prezado cunhado do Roberto e da Soraia. O amigo querido de todos seus amigos.

Obrigada, tio, por sua presença! Obrigada por ter estado em nossas vidas! Somos nós que pedimos, assim que possível, que nos honre e ilumine com sua visita!

Minha vó me deu um café que era para ser seu, que você gostava, igual ao que eu já comprava. A cada xícara estarei vendo-o em seu chapéu verde e vara de pescar, na beira da nossa praia. Eu o honrarei não apenas por mais ou menos um mês, esperando o pó acabar, mas conhecendo ao menos o nome do técnico do Corinthians, eu, a corinthiana desnaturada que sou (rs) – somos Hexa, né?;  fazendo o que for possível para acalmar e ajudar quem ficou;  demonstrando a eles o amor que eu queria ter feito você conhecer com mais evidência.

Você segue na sua nova vida, passando pelo processo de adaptação necessário para voltar a ser pleno, a ter consciência de si. Nós vamos cumprindo um dia a cada dia, a fim de ter forças para prosseguir.

Neste instante em que escrevo acontecia sua missa. Após fazer uma oração simultânea, esta foi a minha forma de homenagear você, fazendo o que eu faço com o fundo do meu coração, o que move a minha vida: criando.

Não vejo a hora de abrir aquele cafezinho. Porque outra forma de honrar você é, no seu devido tempo, sair da dor e ter uma história linda. Porque a morte nada mais é que um incentivo no sentido contrário para a compreensão da importância da vida. E a sua também continua. Preciso, assim como todos, te deixar tranqüilo e orgulhoso, e cuidar bem da minha!

Eu sei que em uma dessas xícaras você estará geograficamente comigo, ainda que invisível. Mas, certamente, não imperceptível. Neste dia eu vou te contar, ou você vai sentir, que, quando cheguei da segunda viagem,  com um ar solene e respeitoso, guardei o café do Ponto Exportação de 500g na geladeira, esperando por este momento. Não sem antes, confesso, abraçar e beijar interruptamente o pacote, umas quatro vezes, com muito carinho!

Imagem mar: google

Apogeu

texto apogeu

Olá!

Já que o clima é ficar feliz por lidar com minha veia literária, mais um post! Este é um texto que não enviei a concursos devido ao tamanho, mas que eu queria muito ver publicado!

Dizem que o melhor caminho para livrar-se de uma dor é esgotando-a. Nem sempre uma produção artística demonstra fielmente a essência atual da alma de alguém ou ao menos seus novos sonhos, mas, também, os reflexos de fatos antigos, que precisam justamente serem ouvidos e trabalhados para que quem os carrega possa se libertar e seguir em frente com mais leveza.

Este texto foi escrito em um domingo, 26/07/2015.

“Apogeu”

– Meu filho! Meu filho! Preciso falar com meu filho!

Desesperador quando a mente, lúcida, não comanda mais o corpo. Ninguém o ouvia ou entendia seu olhar. Até que a luz cessou. Já era tarde…

A segunda corda arrebentara do violão enquanto mais uma planilha era finalizada às pressas, após a noite mal dormida e o café da manhã que não havia. Luiz precisava correr se quisesse ser bem sucedido em mais uma reunião.

Não havia notado a segunda corda, assim como não percebeu que o instrumento não mais se encontrava ali no canto, naquela noite. Agora, dormia no quarto do mais velho.

Aos dezessete anos e com uma rotina extenuante de estudos para o vestibular, começar a tocar o violão abandonado do pai deu a Rodrigo novo ânimo. Não entendia porque aquele pedaço de cordas e madeira não dava ao ambiente da casa nem sequer um acorde de melodia.

Passou a ser hábito: após o almoço, apenas meia hora praticando antes de voltar aos estudos. Ele queria ser professor de história, mas o pai, sujeito sisudo e autoritário, o pressionava para a carreira do momento: tecnologia da informação. “Tem que ser alguém na vida. Sustentar a família. Não ser um fracassado e ouvir o escárnio dos familiares, dos vizinhos, dos amigos”.

Luiz pouco ficava em casa, era ríspido com a esposa e dos filhos só esperava resultados, embora inspirasse certo carinho. Rodrigo reconhecia seu caráter firme, sua decência, suas responsabilidade e disciplina, além da doçura diante das coisas mais sensíveis da vida, como uma filha que nasce, um cachorro que sofre na rua ou uma esposa doente, mas a conversa entre eles era sempre objetiva. Ele via nos olhos do pai um mar revolto: ternura e dor. Não era possível não amá-lo, mas era quase impossível ser amado por ele.

Queria agradá-lo. Ser motivo de orgulho para, quem sabe, poder ter apenas outros cinco minutos a mais.

Durante meses funcionou para ele: meia hora, depois uma, após o almoço, e em poucos meses ele tocava de quase tudo, sendo o violão como um terceiro membro de seu corpo.

Na festa de aniversário do pai, família e pessoal do trabalho reunidos no amplo salão de festas do clube high society da cidade, Rodrigo anunciou seu presente: iria tocar no violão a música cuja cifra encontrara no escritório de casa, já amarelada.

Os primeiros acordes fizeram com que Luiz empalidecesse e Denise, a mãe e esposa, fechasse a cara. Rodrigo, já mergulhado na música, mal notou a alteração de olhares.

Cada nota musical era uma pincelada mais forte de cor, e, segundos depois, lá estava ela: Antonella. O corpo esguio, bem formado, coberto por um vestido solto e acinturado, de cor clara, esvoaçando sob o vento do litoral. Os cachos, bem definidos e pesados, loiro-escuros, mal se mexiam. O olhar cheio de esperança, sinceridade e amor, primeiro lhe sorriam, movimentando tudo que, há muito, jazia lá dentro, desperdiçado. Contudo, conforme os acordes se opunham e a melodia chegava ao clímax, viu-a com a maquiagem borrada, chorando infinitamente, sentada no chão, apoiada na parede da igreja que os dois frequentavam.

Ao final da música, de volta ao presente, todos aplaudiram e ao longo da festa não lhe cansavam de dizer o quanto o menino tinha talento. A maioria, claro, afirmando que tocar era nada mais que um excelente hobby. Antes de sair, lançou um olhar duro ao filho, logo acompanhado da expressão de uma mulher que chegou a se considerar “vencedora” diante da oponente de outrora, mas era destas esposas que nunca estão aonde vão os olhares perdidos do marido, que não habitam seus pensamentos, enfim, nunca conseguem entrar: são ostensivamente vistas por fora, todavia, sumidas por dentro.

São não as fiéis companheiras por quem no começo não se sentiam tão apaixonados ou por quem construíram outro tipo de amor e lhes dedicam carinho e gratidão, mas daqueles pedaços de carne que simplesmente estavam ao lado, com quem a vida seguiu seu percurso natural e por isso estão ali – sendo totalmente substituíveis. Tolas, gabam-se em possuir o homem, quando não são donas nem de si, mantendo-se atadas a uma tóxica dependência emocional. Mulheres assim continuam ali somente por status, rotina ou necessidade. Não por serem desejadas. Nem felizes…

Denise, furiosa e ríspida, pediu a Rodrigo que guardasse o instrumento, o qual trazia ao pai memórias ruins, e que fosse procurar os amigos empresários para fazer possíveis alianças em busca de um futuro estágio.

O rapaz, sem nada entender, magoado, simplesmente guardou o equipamento e fez o que lhe foi pedido.

Luiz voltou à festa apenas cinco minutos depois, já recuperado, mas não direcionou nem à mulher, nem ao filho, olhar algum. Apenas Raquel, as filha mais nova, foi capaz de fazê-lo sorrir, ainda que superficialmente.

Ao chegar em casa, o violão foi tirado do quarto de Rodrigo e acabou no maleiro do casal:

– A música vai distraí-lo, Rodrigo. Se quiser segurança, liberdade e paz na vida, vai ter que se concentrar nos estudos e na carreira. Sou seu pai e sei o que estou dizendo.

Cinco anos depois, com um diploma na mão e o primeiro abraço do progenitor em anos, nem Luiz nem Rodrigo jamais tocaram novamente o violão. A oferta de primeiro emprego fez com que pai e filho ficassem cada vez mais próximos e, quando passou a ser rotina almoçarem juntos porque trabalhavam no mesmo conjunto empresarial, a alegria por ter aprovação de Luiz era tanta que Rodrigo nem lembrava mais que um dia havia segurado um violão. Muito menos tocado com a alma.

Até que a namorada morreu em um acidente de carro e ele, dormindo na casa de um amigo, viu o instrumento e voltou a dedilhá-lo. As informações na tela do computador não eram capazes de amenizar aquela dor, mas os acordes e a melodia, sim. Eis que, em um jantar de família, Rodrigo comunica a inscrição em um concurso, após uma noite num bar, quando um produtor musical deu-lhe seu cartão e incentivou-o a seguir carreira.

O pai ficou vermelho de raiva. A mãe, que, apesar de tudo, amava o filho, não gostava de assuntos de sentimento, intuição ou vocação a despeito de dinheiro porque, no fundo, isso a obrigava a repensar quem era – e a lembrar-lhe de quem não era: Antonella.

Rodrigo perguntou o que se passava, como podia o pai ter um instrumento em casa e odiar a música. O pai apenas falava:

– Isso é passado! Não se meta!

Assim que o filho cruzou a porta, Luiz trancou-se no quarto e partiu o violão em pedaços.

O concurso seria apenas em três meses e, enquanto isso, Rodrigo continuava comendo, vestindo, limpando-se e pagando contas, portanto, lidar com computadores ainda era o que fazia. Os almoços antes aguardados com o progenitor agora lhe sufocavam. Num Café ali perto do trabalho, conheceu uma moça encantadora, que entendia sua vocação e era também escritora, embora trabalhasse em um prédio na esquina, na área de advocacia.

Deste encontro de almas, num descuido da empolgação repentina, veio logo a notícia de mais uma vida. Confuso, embora feliz, Rodrigo procurou o pai para orientação. Este, com um olhar meio chocado e um frio na espinha, foi taxativo:

– É um homem feito e precisa arcar com suas responsabilidades. Não posso mais completar suas despesas se já possui família. Não vou pagar a ultrassonografia. Cancele a viagem para o concurso, esqueça a música. Agora é um pai de família.

– Mas, pai, você tem rendimentos o suficiente para me emprestar este montante com folga! Eu pago em breve! Assim, não preciso desistir do meu sonho!

– Esqueça! Não vou bancar um devaneio de juventude para um homem feito! Seja responsável pela sua família!

Humilhado pelo tom pedante de Luiz, como se ele fosse um irresponsável e nem emprego tivesse, ou em algum momento estivesse fugindo da realidade de ser pai ou pedindo um valor exorbitante, Rodrigo sentiu-se abandonado por aquele que era seu porto seguro.

Aquele emprego não apenas não lhe representaria futuro, como renderia bem menos se sua intuição estivesse certa: colossal, como dissera o produtor, seria o retorno que a música lhe traria. “Você tem um talento raro, meu rapaz. Poderia seguir carreira comercial ou clássica, em ambos seria muito valorizado. O mundo da música está precisando de pessoas como você”.

A cada centavo que a conta polpuda do pai aumentava, o sonho de Rodrigo morria. Era, contudo, feliz com a esposa que amava e a bela menininha. Faltava-lhe algo, mas o jeito positivo de ver a vida sempre permitiu que valorizasse o que possuía e (quase) esquecesse do que não tinha.

Novamente, com a postura prática e protetora de pai de família, Rodrigo e Luiz voltaram quase a ser amigos. Denise, com o passar dos anos, estava nitidamente infeliz, desiludida, e sorria apenas para manter a paz na família.

Luiz mais um dia se enganou ao olhar para a vista do escritório e pensar aonde havia chegado na vida, quão longe tinha ido. Após o almoço prolongado, deixou no motel a jovem moça do momento que o admirava e lhe enaltecia o ego (afinal, seu casamento era totalmente incompleto), correndo para um encontro com outros empresários para uma possível expansão, quando a gravata começou a ficar mais apertada do que devia.

A vista ficou um pouco turva e ele podia jurar que à sua frente estava Antonella, recém-caída no chão, sem forças, com a maquiagem estragada.

As pessoas de agora corriam à sua volta, preocupadas, e ele compreendeu que tinha pouco tempo:

– Meu filho! Meu filho! Preciso falar com meu filho!

E a boca não obedecia.

Ah, se ele pudesse voltar atrás…

Não a teria deixado pular. Não eram as palavras duras de covardia e indiferença, dirigidas a ela, que lhe incomodavam tanto, tampouco os soluços ou a maquiagem borrada: era a falta de toda aquela luz em seus olhos, era o jeito como seu corpo estava quando ele virou para trás e a viu após ter-lhe dito as últimas palavras. Não sentada e encostada na parede, mas caída e escorada, como se, mesmo sem forças, lutasse para não sucumbir de vez, mas estivesse profundamente derrotada:

– Eu também espero um filho seu! Primeiro você tem a audácia de me trair, depois quer desistir da nossa banda, do nosso sonho, e agora quer ainda me deixar sozinha para cuidar de uma criança só porque uma “filha de papai” está grávida e sua família lhes deve satisfações? Quem é você e o que aconteceu com a fé e o amor que você mesmo me ensinou? Que eu alimentei em mim após te conhecer?

– Desculpe, Antonella, mas o que vivemos foi um sonho e eu me tornei homem, está na hora de encarar o mundo real. Por favor, não me procure mais.

Ela o segurou pelos ombros e, diante de tantas lágrimas e dor, ele ainda pôde ver a chama do amor em seus olhos quando ela lhe fez a última súplica:

– Luiz, o que você está fazendo? Você se esqueceu do que está abrindo mão? Nós tirávamos sarro dos céticos, lamentávamos o mundo que eles não viam e dizíamos que eles nunca iriam encontrar um amor como o nosso, pelo qual sempre esperamos, porque não acreditavam e não podiam ter ou atrair aquilo que julgavam não existir! Este amor, além de nos dar paz, nos deu força para agir com o coração, seguir a intuição. Nossa banda vai se apresentar semana que vem no festival da região! Nós temos potencial, sabe disso! Você não pode estar me dizendo que isso foi um sonho e que a realidade é uma mentira que você viveu em uma noite de briga e fraqueza, que seu caminho é igual a todos os outros. Estas palavras são do seu pai! Você não enxerga?

– Acabou, Antonella.

Frio. Duro. Irônico. Prepotente.

Era isso, ou ele desmoronaria junto com ela. Contudo, ela era a materialização e a lembrança da sua coragem e do seu medo; da sua fé e da sua dúvida; do amor e da indiferença que se obrigara a sentir. Ele não tinha escolha.

Virou-lhe as costas ali mesmo, porque, no fundo, não suportava vê-la sofrendo.

No dia de seu casamento com Denise, dois meses depois, ela apareceu visivelmente abatida. Com o olhar mais vazio e sofrido que ele já havia visto:

– Eu perdi meu carro, meu pai, minha segurança financeira e você em apenas um mês. Vim aqui para lhe dizer que a vida, não satisfeita, ainda me levou o nosso bebê. Por toda a minha existência eu acreditei em homens decentes como você, apesar dos discursos prontos das mulheres de que “homem não presta” ou que “casamento é um fardo”. Nós nos encontramos e o que eu senti mexeu com o melhor em mim. Eu descobri minha musicalidade e nunca estive tão sintonizada com Deus, produzindo tanto, como quando estávamos juntos. Muito mais do que ter encontrado você, eu me encontrei. Seja por ver o amor em que eu sempre acreditei se tornar realidade, seja por ter encontrado minha vocação, minha função neste mundo. Aqueles anos foram os melhores da minha vida! O final de uma jornada cheia de dúvidas e lutas. Eu havia encontrado a felicidade. Faltava, apenas, mantê-la e, com isso conquistado, crescer ainda mais. Distribuí-la. O que eu sinto por você, o que vivemos, é verdadeiro demais para ser substituído por fatos tão contraditórios. Pequenos, vãos. Comuns, vis. Estou enlouquecendo para conseguir entender. Como pode algo tão bom ser, então, falso? Eu só precisava ver com meus próprios olhos a prova de que minha vida realmente acabou. Que o melhor já passou e a partir de agora eu vou ter que sobreviver aos restos do que eu poderia ter vivido. Que eu não tenho mais o que buscar, porque já encontrei tudo o que mais queria, e me foi tirado. Arrancado. Violentamente, por medo, por orgulho. Que, então, se Deus permitiu, não era meu, não era verdade…

– Não diga isso, Antonella!

Ela não respondeu. Simplesmente saiu. Sem derramar uma lágrima. Sem demonstrar alteração de emoções em seus olhos, apenas um olhar raso e sofrido que nunca mudava. Uma dor tão infinita quanto um dia havia sido seu amor.

Uma semana antes de Rodrigo nascer, soube de seu falecimento. Um amigo em comum o procurou. Louca para voltar a se sentir viva, pulou de bungee jump, mas a corda arrebentou e ela não resistiu.

Finalmente, diante de sua lápide, ele chorou. Como o homem sensível e com fé que um dia fora:

“Antes passar toda a existência na esperança de um dia chegar, que ter toda a vida pela frente após o apogeu”. Ao lado das palavras, uma foto sua “daquela época”, que é como gostaria de ser lembrada, e muitas flores.

Naquele dia, ele também não conseguia acreditar no fato que acontecia. Era uma verdade que não combinava com o que sentia: ela não mais vivia. Não restava mais aquele fiozinho tênue de esperança para quando as crianças crescessem ou os tempos mudassem. Foi obrigado a esconder. Era o filho, que nascia.

Mais de vinte anos depois, ainda via nela as lágrimas que, na verdade, eram de ambos, entretanto, somente ela teve a coragem de deixar escapar.

Haviam-lhe tirado a gravata, mas ainda estava tonto. Colocavam-no na maca. Estava, agora, dentro da ambulância. Mal ouvia o que diziam, porque queria falar.

Desesperador quando o coração, lúcido, não é mais comandado pela mente, contudo, não há mais tempo para consertar. Alguém, que não mais chorava, todavia, o ouvia e entendia seu olhar. Até que a escuridão cessou. E era possível recomeçar…

Fonte imagem: mperatorl.wordpress.com

Sinopse “Virgem por Acidente”

Capa Virgem Final Versao 3Virgindade é, hoje em dia, escolha individual ou incompetência afetiva? É possível ser “normal” e dizer “não” ao sexo, que ficou tão fácil e explícito? Seria justo rotular e padronizar escolhas tão íntimas? Afinal: é preciso negar a natureza humana e sua sexualidade para ser espiritualmente evoluído?

Gabriela é uma encantadora assistente editorial, com vida social agitada e cheia de pretendentes. Independente financeiramente, frequenta shoppings, clubes, Cafés, barzinhos, spas, teatros, colabora na sociedade, dirige o próprio carro e mora em um belo apartamento, na cidade de São Paulo. Todavia, apesar dos vinte e nove anos, ainda é virgem! Notamos, porém, desde a primeira página que ela, nem de longe, vive uma castidade adormecida…

Uma estória pacificadora de extremos: nem a negação da natureza humana dos defensores da moral, tampouco a libertinagem fantasiada de liberdade daqueles que gastam sua própria sexualidade como se não houvesse consequências emotivas.

De formato leve, ideal para quem quer relaxar após um longo período de trabalho, este romance reflexivo, contudo, está longe de ser “água com açúcar” e vai mexer não apenas com seus instintos, mas também com a razão, e, principalmente, com seus sentimentos…

Censura:  16 anos

Observação: Livro aguardando retorno da loja virtual para ser publicado. Formato e-book. Em breve, informações de lançamento.