Turbilhão

Mulher meditando praia 2

O PC já estava ligado para escrever, quando chega uma mensagem no meu whatsapp. No descanso de tela, retalhos da viagem dos sonhos que gostaria de fazer com os mais chegados – no momento específico, fotos dos lugares mais bacanas de New York. No aparelho telefônico, fotos de pessoas numa construção simples – mas quanta paz e acolhimento revivi.

Hoje tudo o que eu queria era estar no mar. Tenho sentido esta necessidade de forma constante, ultimamente. Contudo, já passei pela experiência de você projetar tudo em um lugar e quando lá se vai, de novo ou pela primeira vez, nada muda, dentro. É quando percebemos que a coisa está feia e o problema está, mesmo, na gente – nem o ambiente externo mais ajuda.

Sendo assim, estou tranquila aqui mesmo, em casa, perto das montanhas. Tudo de que preciso, por ora, está aqui. (Desesperadamente. Adoraria me movimentar e fazer tudo sumir. Quase saí de carro às 22h24 só para espairecer, mas devido à cidade e à hora, achei mais sensato ficar, e voltei para o PC, que já me esperava, ligado).

Se eu soubesse do que este texto seria, seria ótimo. Simplesmente abri a tela, escolhi a foto que me acalmava e comecei.

No sentido de reflexão e “dar a volta por cima”, não queixa ou depressão, tenho sentido muita solidão já há algum tempo, e acho isso alarmante.

Sei que não sou imbatível nem melhor que ninguém, mas no quesito “autonomia” sempre fui bem independente. Nunca me incomodei em comer sozinha, ir ao cinema sozinha, pegar avião sozinha… O que é oposto a quando conheço gente nova: se tiver alguém para me introduzir ou grupo, ótimo! Se não, prefiro (inconscientemente) ficar na minha. A não ser que eu esteja muito despreocupada, aí vou me arranjando mesmo, e confesso ficar até mais à vontade para ir para o círculo novo quando não tem ninguém antigo por perto.

Só consegui cantar no Jô Soares porque ninguém ali me conhecia, então, a vontade de fazer o que se tem vontade falou bem mais alto que a insegurança ao ser julgada.

Tenho quase 40 anos e ainda sinto que vivo pela metade. Eu deveria “cantar no Jô Soares” até diante do “crush”, num dia de cabelo feio e sinusite (rs…), numa transmissão ao vivo, não ficar ainda sentada vendo a vida passar de uma janela.

Já tenho descido do trem um pouco. Mas ainda falta um tanto que não sei se a ansiedade deixa o tempo fazer o trabalho – e temo ficar sempre girando sempre no mesmo ponto.

Cada vez mais a vida tem se mostrado única, agora e preciosa, e eu continuo traçando um Excel de possibilidades na mente antes mesmo de levantar a mão para fazer uma simples pergunta num grupo de três (rs… aí é exagero).

São tantas previsões, hipóteses e cálculos para sofrer o menos possível que eu não vivo. Lá vem ele, o medo, travando a gente. O medo de errar, o medo de mudar, o medo de não ser aceita, o medo de ter que lutar, o medo do novo e etc.

Por que fazemos isso? Sim, eu sei: insegurança, falta de coragem, orgulho etc. Mas por quê??? Algum defeito a gente tem que ter, somos seres imperfeitos aqui nestas paragens, então, melhor aceitar e seguir vivendo, crescendo, que travando. Sabendo disso, de nossas imperfeições inevitáveis E sabendo do porquê da existência – aprendizado – como temos coragem de continuar desperdiçando?

Claro que a vida é sempre uma dádiva, e, enquanto estivermos em nosso tempo de processo de transformação em tal quesito, ela sempre vale a pena, todavia, refiro-me ao objetivo final: para quê uma vida sem sal, sem risco, sem recomeço, sem a gente se reinventar, sem diferença?

Se podemos ser mais prósperos, mais amados, mais amáveis, mais corretos, mais divertidos, mais FELIZES, por que sempre nos protegermos no lugar-comum, nos rótulos, nos hábitos (não aqueles abençoados advindos da sabedoria, da identidade, da saúde etc., mas sim aqueles castradores da zona de conforto)?

Lá vem a frase pronta: se queremos resultados diversos, como podemos continuar fazendo tudo igual?

Se eu, até hoje, não consegui desistir de mim, de quem eu sou, por que simplesmente não confio em mim e me aceito? Se eu vejo um video sobre pessoas, mas pessoas com quem basicamente exercitei as verdades de Deus, por que ainda caio em conflitos tão batidos?

Por que ainda aquela veia de ceticismo, falta de possibilidade e “ridículo”, “viagem”, me tiram do caminho para o qual meu coração (não a parte imatura e ou ingênua, mas ele em essência), quando alinhado com a luz, me leva?

E daí se tem hora que eu sou diferente, não exatamente igual aos outros? Que ninguém é tão crente, ou tão sensível? Não é a vida dos outros, é a minha! Nela, quem dita as regras (além de Deus) sou eu e a minha verdade.

Por que eu me privo das coisas que eu quero? Se eu busco pessoas como eu nos outros e, quando as encontro, as admiro e aplaudo, por que duvido de mim? Só porque é comigo? Isso não é certo!

Voltando a falar da solidão, isso tem ficado ainda mais pesado porque eu não tenho cuidado da minha diversão, do meu lazer, da minha mente leve. De mim. Tenho, no máximo, visto seriados de comédia, o que já é alguma coisa, mas nem isso é suficiente. Tenho sede de mais.

Não aceito perder minha juventude. Ainda nem fui adolescente direito. Para contas, respeito ao próximo, bom senso social e etc. continuo sendo adulta, não tem problema. Refiro-me à vida.

Não aceito ter um relacionamento amoroso qualquer, só para ter alguém ao lado. Ao passo que a maturidade me faria ver o que eu já via desde bem nova embasando o começo deste parágrafo, paradoxalmente os mesmos anos acumulados fariam com que cada vez menos afiado fosse o meu crivo, contudo, eu ainda me nego a desistir. Não quero uma pessoa roubando meu tempo, ou tendo o tempo dela – pior, o coração – roubados em troca de alguns bons momentos. Não nasci para meio-termo. Quero ser revirada do avesso, com insegurança e tudo, mas viver por inteiro.

(Se for esperar chegar perto da perfeição para somente então começar a viver, não saio do lugar e perco ainda mais tempo – e o tempo é agora).

Não quero mais não ser eu mesma e não cumprimentar as pessoas no aniversário (ou, de novo, nem agradecer os meus cumprimentos).

Quero voltar a tirar foto de todos os momentos. E voltar a revelá-las. Este mundo virtual é um suporte, uma ajuda muito bem-vinda, mas não é tudo. Falo sobre isso outro dia.

Quero voltar a receber telefonemas e cartões no meu aniversário. Mensagens, mesmo que audios, só para os interurbanos e pessoas não tão próximas.

Quero visitar os meus. Tomar um café, ver a pessoa de perto, saber como vai a vida.

Quero ir ao Hopi Hari. Passar um feriado numa pousada. Outro em São Paulo. Não perder a Flip este ano. Nem a próxima Bienal. Quero num dia de pura alegria ou angústia, fazer meu bate e volta à praia, sozinha, além de ir constantemente a passeio, de preferência com (boas) pessoas.

Quero dançar.

Rir com meus amigos.

Amá-los e à minha família.

Quero ser amada. Ter um bom namorado, passar o dia 12 de junho acompanhada – bem acompanhada. “Estar, sentir e viver”, como diz a música da Sandy – e isso ser tudo. Troco um check-in num restaurante caro e romântico no sábado à noite por um domingo com sol (moderado – ou uma noite estrelada) num banco de praça de mãos dadas. No dia, posso até aceitar o cartão, as flores (flores! mesmo sem data!) e por que não o urso gigante (rs…), a comida badalada e terminar com um champagne e lingerie ousada, só para caracterizar o romantismo, para celebrar a data especial, mas não quero nada montado. Quero algo vivido.

Quero ter acesso ao botão do “f” como ocorreu na última sexta-feira, na festa de fim de ano do novo trabalho: o DJ abriu karaokê, o qual eu sonho encontrar há anos. Escolhi a música mais fácil, porém potente, que canto, e fui.

Fácil foi tremer de cima para baixo, além dos lados, para cantar “Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim” no Jô, com o Sexteto. Fora do nosso dia a dia, plateia e banda intimidadores, mas naquele dia eu tinha uma dádiva: minha voz.

Sexta a música precisou começar para eu perceber que mesmo ela sendo mais “de base” que aguda (se é que algum músico entende o que eu quero dizer), minha voz estava “pela metade” e impedia a potência, o que me deixou nervosa demais a ponto de eu não conseguir terminar (eu desafinava!). Mico.

E eu não me importo! Sabe porquê? Não porque eu não me importe, mas porque eu sei que posso. Só fui ingênua ao pensar que conseguiria, saindo ainda da garganta inflamada. Mas eu fui porque a vida me deu a oportunidade de um karaokê e eu não quero mais perder oportunidades; porque eu queria fazer o quê eu queria, ainda que eu não fosse tão solta com as pessoas, pois ainda sou nova, e isso, originalmente, me deixasse presa na cadeira; e porque eu queria começar a me sentir mais à vontade, fazendo até coisas que só faria com quem eu tivesse mais intimidade.

Quase não sobrou espaço para o nervosismo de estar em público, não ser ainda tão íntima etc.

Foi péssimo, mas foi ótimo: eu saí da minha zona de conforto totalmente aquele dia, nem tive um bom resultado, mas o que me moveu foi tão certo que eu não me arrependo e, apesar de todos os motivos contrários, não me envergonho.

Acho que este foi um episódio isolado do que eu busco na vida: “eu me aprovo”, como li recentemente (reli) num livro. Mesmo que eu erre: e daí? Por um acaso sou perfeita?

Não é sair machucando os outros; sair se queimando sem avaliar situações e, com isso, cair em descrédito e ter, de fato, a autoestima diminuída: é fazer o que é a sua realidade, dentro. Ainda que ela seja equivocada, só colocando para fora para ter certeza. Mas e se der certo? E se você estiver certo? E daí que nem sempre, a maioria, ou até mesmo todos, não entendam?

Frase borboleta

Semana passada vi esta postagem no Instagram de uma amiga e isso me fez pensar… eu sou a pessoa que contagia os outros com a verdade deste pensamento, mas quando é para agir na minha vida, seja por pensamento negativo, seja por medo, acabo sempre deixando cem por cento de lógica agir e penso na queda, no não, no absurdo e etc., então, me preservo.

E me frustro, porque, geralmente, deveria ter ido. (O inferno é saber quando).

Já tive meus episódios de acreditar no voo e quebrar a cara (aliás, o que muito me prende/prendeu), mas como pode uma coisa ter validade por você ter acreditado que mesmo com o risco de cair, você achar que é possível voar, se voar fosse sempre a resposta e bastasse apenas a sua boa vontade em acreditar?

Talvez a grande sacada em acreditar seja ter força e humildade para encarar a queda e entender que ela não é um acidente, mas necessária para seu voo, que você considerava ser agora mas que, por questões maiores, será ainda daqui um tempo.

Vale a pena, então, deixar de voar, de conhecer uma mesma vida de um ângulo incrivelmente mais amplo e bonito, só por causa da possibilidade da queda? Mas a gente já não vive mesmo grudado ao chão, bem perto mais perto dum tombo que do céu? Já não é tudo muito parecido? Agora… E se for possível voar???

PS-> Revisão final às 01h34 de quinta-feira (para mim considero quarta, porque não dormi). O turbilhão passou, só pelo ato de escrever.

Fonte das imagens: Google

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Casal praia blog

Este texto foi escrito no dia 25 de dezembro e era para se chamar “Futuro do Pretérito”. Entretanto, achei que o escolhido, apesar de mais simples, apresenta um trocadilho, útil de diferentes formas, a ambas as partes.

É uma carta e foi inspirada em uma pessoa e em um sentimento, mas não tem endereço único: dirigida a todos que gostam de textos humanos, que perderam um amor porque a outra parte escolheu o caminho mais fácil, mais comum, ou àqueles que busquem palavras de amor e de perdão. Ao final, na íntegra, os poemas citados.

Antes, uma citação relacionada ao tema, mas não necessariamente endereçada “a ele”. A ideia serve, mas o conteúdo específico, não.

“Se tivéssemos a coragem de aceitar como nosso o que já somos agora somado ao que podemos nos tornar no futuro, ao invés de nos enxergarmos como o que ainda somos e de onde viemos, almas não se desconstruiriam e se perderiam buscando sexo pelo sexo em nome de uma transitória realidade. Sexo desregrado e coletivo nada mais é do que um grito de dor, talvez ainda não consciente, de um indivíduo implorando para ser amado. Quem já sofre de solidão está séculos a frente. O dia em que as almas no mundo respeitarem sua essência de Deus e ousarem ou experimentarem com a mesma intrepidez e desprendimento as verdades do Ser, como força, paciência, amor e fé, abandonando o egoismo de querer conhecer todos para si, serão tão felizes nas novidades e desafios das profundezas de um que, através da plenitude pessoal, unir-se-ão a muito mais almas, pelos laços do amor fraternal”

Camila Pigato, 19/01/2016

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Verde e azul. Vermelho e amarelo. Aconteceu: cá estou eu, à beira da árvore de Natal, pensando. Sentindo…

Reconhecendo que ainda dói, física e energeticamente, o coração, ao ver a foto do nosso casamento – mas você com ela.

Já faz um bom tempo que eu parei de berrar; algum que eu deixei de querer morrer; e momentos, praticamente, que começo a fazer as pazes com a fé que eu perdi ao ver tudo acontecer. Mesmo assim, repito tudo o que solucei, escrevi, gritei, falei, chorei, argumentei. Morri: não era para você não estar aqui.

Esta imagem é um impacto muito forte a tudo o que eu sinto. E sou.

Hoje eu estou quase em paz. Faz tempo que ensaio voltar a ser eu. É a primeira vez, nestes três anos, que eu sinto vontade, sincera, de viver o Natal – não porque eu deveria sentir e me pergunto o quão perdida estou porque não sinto. É a primeira vez, que, quando as férias me permitem, eu encontro forças internas, sendo capaz de deixar minha casa perfeitamente limpa, em ordem, com a energia fluindo e que, assim, tudo parece simples e possível outra vez. É a primeira vez que tenho lembranças sólidas como se ainda fossem agora, e não de um tempo que já passou e virou uma época maravilhosa em contraste com o pesadelo de agora; lembranças da “eu” que eu era quando vivi o que se mostrava ser, até então, o cumprimento do meu planejamento reencarnatório, os planos de Deus, para mim. Da minha “eu” mais feliz, plena, em paz e serena.

E, apesar desta mudança tão bem-vinda, dói. Da mesma forma que senti um arrepio na alma, depois no corpo, quando te vi pela primeira vez, de costas para mim, sinto agora uma massa dolorida na região do coração, antes que ele mesmo doa.

O que você fez com o que éramos para ser exatamente agora?

Eu fui ansiosa e duvidei, o que o pressionou, o assustou? Sim! Contudo, minha angústia era deixar de acreditar, não deixar de me sentir bem. Eu nunca desisti do amor, mesmo quando esta busca me machucou, exigiu sacrifícios e me fez “perder” para o “agora” e o tangível. Em você, incomodou e você acabou, depois de muitas fugas, fugindo para casar em *******, justamente para onde eu havia ido anos antes, sozinha, cheia de dúvidas, para me reconectar internamente com você. Para não desistir…

Onde estará a árvore de Natal para a qual você olha agora? Será que olha? Ou apenas cumpre um protocolo? Não necessariamente para os outros, mas para a pior pessoa a quem se pode fingir: para si.

Este é o primeiro Natal que eu vivo o Natal, por mais que tenha perdido um tio (pois isso, sim, é a vontade de Deus: dar e levar a vida e, indo, ele foi poupado de muito sofrimento, além de, de meu lado, ter tido o conforto de toda família, o que ameniza as coisas), e não tenha tido momentos isolados que se perdiam na dolorosa teia de fundo onde eu sempre acabava presa. Se hoje há espaço para que eu escreva este texto não é mais porque vou me arrastando em outras áreas da vida para poder lidar com o que de fato demanda a atenção e sorve as energias da minha alma, para o “que realmente importa” – você -, mas porque graças à sua escolha facilitada há um buraco em minha existência  permitindo que eu sinta o erro da sua ausência. Hoje fui feliz como amiga, sobrinha, prima, filha, cunhada, neta, irmã, tia… Continuarei feliz boa parte do tempo nestas áreas (a vida tem seus altos e baixos), voltarei a ser feliz como profissional e ainda hei de ter liberdade e segurança que, para quem está encarnado aqui nesta prisão louca, se chama “dinheiro”, mas nada disso me faz ou fará uma mulher feliz. E, como filha de Deus, terei que sugá-lo e depender única e exclusivamente Dele se quiser ter fé, pois este erro grosseiro de jornada me fez perdê-la.

O que me fez abraçá-lo novamente com amor e aceitação na última vez que nos vimos, a despeito da rivalidade natural entre uma mulher rejeitada e a atual – principalmente se aquela tem a certeza de que esta é a figurante, no máximo, coadjuvante que, por um erro da vida, assumiu o papel de protagonista -, foi ver a sua esposa tossindo e eu apenas perceber, sem pensar, que minha vontade natural era fechar a janela para cortar a corrente de vento, porque ela era sua (vale reforçar que não uso pronomes possessivos necessariamente para indicar posse, o que tanto te arrepia, mas também relação). Ou seja, algo relacionado a você – mesmo que uma mulher… (Aquela primeira, a biscate, com e por quem gritei, não conta, pois tanto eu estava tão em choque e dor a ponto de ter praticamente qualquer atitude esdrúxula desculpada por ter sido mesmo o meu melhor, quanto ela era baixa e pequena a ponto de fazer até Jesus perder a calma; porém, esta e a anterior têm o meu respeito). Naquele dia eu conversei com ela não para “te ameaçar”, chegando perto demais, ou saber sobre você, mas porque eu queria me testar, e passei: deixei-o ir.

Meses depois, apesar do que parecia ter sido o ponto final-final, a súbita vontade de ver você, que vai e volta como as cores na minha árvore de Natal, ressurgiu, e as redes sociais às vezes fornecem o mínimo necessário que precisamos saber. Que golpe… eu vi a foto do meu casamento, certamente na mesma linha do tempo, mas não apenas isso: o mesmo tipo de cerimônia, a mesma paisagem, o noivo… só que sem mim! (Com um buquê que, confesso, não seria o meu…Rs…). E doeu mais do que eu achei que doeria a esta altura; mais do que eu gostaria de admitir.

Ah, se você soubesse o quanto eu amadureci! O quanto eu aprendi a valorizar os outros tipos de amor, não apenas este “cinematográfico e maioral”, quando eu, de tão certa do que queria e determinada, passava, no exagero, a ser inflexível; o quanto eu tentei, as coisas encantadoramente lindas que senti, o quanto me entreguei. Eu voltei a ver beleza no amor, apesar de entender que era para ter sido você, mas que teria que recomeçar a partir daí. Eu aceitei, já que não pelo amor em si, mas pela vida e por mim, me amar e ser feliz, abrir mão de tudo o que era para ser, de tudo pelo quê lutei. Como eu quis este recomeço! E como doeu não ter dado certo ainda assim… Não apenas pelo novo sofrimento, mas porque este novo vazio fazia esta nossa dor ficar ainda maior. Todavia, juro que quis prosseguir. Pelo visto, por um motivo ou por outro, não era para ser. Eu aceitei amar de verdade e com o meu melhor, apenas de outra forma, mas foi a própria vida que não quis. Portanto, pela primeira vez nestes três anos, me admito aqui. Não preciso mais fugir da dor para sobreviver. Eu já sobrevivi! E finalmente deixei que ela viesse. Eu, pela primeira vez no controle em sua companhia, a vivi.

Pergunto-me se “ler a sua alma” naquela época e falar tão naturalmente dos seus pontos nevrálgicos (assim como eu procuro fazer ao admitir os meus) não o tenha magoado mais do que eu possa imaginar, e pergunto-me se fazê-lo novamente não seria repetir um erro e afastá-lo ainda mais de mim. Por outro lado, apesar de tudo o que fiz para impedir, você está tão fora da minha vida que eu não me vejo nem no direito de te enviar o que vivo, não sei nem se você vai tomar conhecimento destas palavras, e este texto passa mais a ter um valor literário para explicar algo meu, um sentimento pessoal com o qual outros seres humanos possam se identificar e que seja útil para salvar outras histórias, que algo que faça parte da minha. As coisas ficaram tão fora do lugar que parece que isso não existe mais, que eu não tenho mais nada a temer. Nem a figurante fui rebaixada, eu simplesmente fui expulsa de cena na história que eu mesma escrevi. Sendo assim, talvez seja oportuno desabafar: sabe, casar outra vez com sua ex-esposa na forma de outra mulher não vai amenizar a mágoa que você possa ter causado no passado ou resgatar o que acabou antes do que você certamente previa (como sabemos, separações não são apenas fraquezas, mas fazem também parte da dinâmica dos relacionamentos, da realidade da alma; nós é que, quando desenvolvemos o caráter e queremos passar a respeitar a lei da vida, quando milenarmente inexperientes, somos rígidos para julgar as coisas e rotulamos tudo, no medo inconsciente de cair em erro novamente – “casar é nobre, separar é pecado”. E, assim, muitos erros são iniciados ou antigos acertos irremediavelmente danificados são mantidos, enquanto verdadeiros amores já prontos para serem vividos, eternamente na fila de espera quando tinham prioridade, nunca são formados). Muito pelo contrário: um dia a mesma situação chegará ao mesmo ponto e você terá que romper outra vez, ou se violentar. Não entrarei em detalhes aqui, mas ela ocupa o mesmo lugar dentro de você, lugar este muito mais guiado pelos caprichos do ego que pelas fibras de amor, paciência, coragem e fé. É sua zona de conforto que impera, não sua potencialidade. E lá venho eu novamente falar do seu semblante, que não mente. Desde mim, eu nunca mais o vi daquele jeito… Se você não tivesse capacidade de mais, eu estaria sendo egoísta, arrogante e orgulhosa ao te pedir algo que te agredisse as condições máximas atuais da alma; entretanto, por voltar a seguir a minha intuição e ter visto em seus olhos o que eu preciso para saber que você pode muito mais e que fazer de novo o que já foi feito é desperdício de tempo, de energia e vitalidade – é estacionar -, continuo batendo na tecla do que poderia ser.

Ela é igual onde há um vício na sua alma, um padrão de comportamento já conhecido, daí a falsa noção de afinidade – não similar em sua essência. Embora você tenha uma doçura e emotividade nitidamente em desenvolvimento (e esta foi uma das características básicas que tanto me encantou em você!), seu lado prático, reto, objetivo, de homem, militar, ainda fala muito alto. Eu também fui me descobrindo muito assim, mas em mim, é o inverso não em essência, e sim em proporção: o que se destaca é a emotividade. Além do diferencial de um amor bem mais real, eu te daria a espontaneidade e uma sensibilidade mais aflorada, o que em um primeiro momento iria desafiar, mas somar, porque você já está aberto para isso; enquanto por dentro, não apenas na objetividade, mas em valores essenciais da vida, já somos muito parecidos – identificação mínima necessária, a longo prazo, para confortar. E manter…

Ambos estamos sozinhos. A única diferença é que você está acompanhado.

Você precisa de uma mulher que te admire, te respeite, te ame e seja sua companheira e que se descabele se você for embora por motivos vãos; que se desespere ao não tê-lo consigo não apenas pela própria infelicidade, mas por doer no coração a noção de que você se prive da felicidade que, merecidamente, está guardada para você; porém, uma vez juntos, que não tenha medo de perdê-lo se você for teimoso, orgulhoso ou imaturo, maltratá-la ou ao amor e fizer por merecer.

Eu lutei solitária e como louca (aliás, passei por quase louca e certamente passaria/passarei se/quando souberem o que eu ainda sinto. No entanto, eu sinto. Que fazer?) não apenas pela minha história, mas por uma ideologia, coloquei outdoor e subi num balão para, a olhos nus e em poucos anos, nada em troca ter recebido (muito pelo contrário, virei uma verdadeira “loser” diante dos baixos valores vigentes, pois em meses perdi você, meu pai, meu dinheiro e meu carro, sem ter alguém para conversar “de homem para homem”, por mais que sua falha tenha sido no âmbito emocional e não físico; não podendo nem sair para distrair a cabeça de uma dor que me dilacerava a alma, sem poder pagar um curso ou uma viagem, conhecer gente nova, me divertir, nem sair para tomar um café, a pé, enfim, fazer algo bom por mim em outro setor da vida a fim de amenizar a dor de te perder), enquanto você seguiu em frente, várias vezes, “bombou”, e hoje está casado. Já eu, seguindo este parâmetro limitado, apesar de pequenas melhoras neste quadro, “fiquei para tia”. (Embora, como tal, eu esteja no céu!).

Entretanto, eu sou livre para sentir sua ausência; sou livre para lidar com esta infelicidade, enquanto você está anos atrás, ainda no começo de uma história que, desculpe, de verdade (não tem mais raiva ou arrogância aqui, apenas uma triste constatação de fatos), mas, fatalmente, irá falhar, para que o estrondo lhe faça redimensionar os fatos. E tudo…

Você não apenas me rejeitou, como me desprezou e me humilhou para, anos depois, sem nunca se desculpar nem mesmo como ser humano, quiçá como homem, casar o nosso casamento com outra pessoa. Era inconcebível a ideia de te perdoar… “Over and over” a ideia de você me procurar e admitir que errou passa pela mente, não apenas como um desejo, mas como uma premonição ou, no mínimo, uma possibilidade. Você estragou tudo, foi longe demais com o “ninguém é perfeito”, “às vezes nos afastamos da vontade de Deus” ou “ops, sorry, cometi um erro”. Se isso realmente acontecesse, eu ficaria muito triste por, então, viver esta história mais como por ser algo a ser cumprido ou à natureza da lei de Deus, que não nos deixa opção a não ser o perdão e o amor, se quisermos ficar bem; mas nunca mais, pelo menos nesta vida, haveria a empolgação, a magia, a beleza de quando algo acontece espontaneamente… Precisaríamos construir pedra a pedra o que já estava pronto e não sobre um terreno plano, mas sobre escombros. E lidar com intrusos no que estava protegido. Perdemos o encanto do começo e do reconhecimento, do plano divino se sobrepondo ao material; temos agora uma grande bagunça, muita influência das imperfeições do Homem, reflexão, responsabilidade e trabalho para poder chegar somente à primeira conversa – que dirá de todo o resto. Não me refiro a ilusionismos românticos, pois apesar de ter chegado realmente perto de deixar de ser essencialmente romântica e acreditar no amor, o que sou eu (e foi isso, não ter tão pouca autoestima a ponto de quase morrer por causa de um homem, que me matou por dentro), eu, com esta dose exagerada de “realismo”, aparei muitas arestas e perdi muitas ilusões. Refiro-me à diferença entre algo divino acontecer no tempo e jeito certo ou o homem interferir com suas limitações, orgulho, falta de fé e, mesmo que temporariamente, destruir e danificar o que ele mesmo havia construído com seu lado bom, que Deus havia enviado e estava pronto e puro. Depois de tudo o que ocorreu, eu viveria isso mais pela constatação de que mesmo com o erro do homem há a possibilidade de conserto, graças à força do amor; haveria a humildade diante da vontade de Deus, da qual eu obrigatoriamente retiraria bons fluidos e bons sentimentos, mas seria uma história que não conseguiria mais ser tão bonita porque passou a ser um remendo, uma adaptação cheia de falhas da sólida estrutura original: em segundo plano ficou tudo pelo quê lutei a vida inteira, antes mesmo de o (re) conhecer.

Que diferença faria para você passar por todo o processo comigo, se já viveu isso tantas vezes? Você responderia: “o amor”.  E, por mais que eu quisesse que desse certo, depois de tantos “nãos”, tantas certezas e fés transformadas em ilusão de uma boba imatura e, consequentemente, da minha autoestima tenha ido ao chão, seria obrigada a questionar: “Mas, por Deus, se há amor, COMO foi possível haver outras pessoas depois de mim?”.  Apesar de “o Bem sempre vencer o Mal”, de todo o orgulho não ser mais do que uma gota no oceano do amor, não seria tão simples assim… O que fazer por uma alma que era “limpa” e agora está toda remendada com o cansaço e com a dor (quem sabe, em breve, pela corrupção), e não é mais a mesma para deixar este sentimento fluir? Sabe aquela história da tábua e os pregos, relatando que podemos até tirar os pregos da tábua, mas ainda restarão marcas? Melhor tirar, claro, que deixar a tábua toda martelada, contudo, bom mesmo seria nunca terem martelado onde não era devido… Eu fiz a minha parte, eu “protegi a tábua”, lixei, passei lustra móveis (rs), eu nunca toquei em um martelo e, ainda assim, por causa de uma pessoa que não teve o mesmo cuidado, eu acabei com a minha tábua toda pregada. Que bom que “Deus enviou” alguém para tirar os pregos, mas, já que ele é Deus, onipotente e pode decidir como, onde e quando, eu preferiria que Ele me tivesse protegido das marteladas, para fazer valer a própria lei, que eu, by the way, defendia; não me feito pagar pelo erro de outra(s) pessoa(s), principalmente quando, justamente neste assunto específico, eu tive as minhas precauções, para somente depois do estrago feito Deus ser Deus e “lembrar que existe”. (E esta é a minha queixa real – Deus – pois você e eu somos apenas criaturas; estranho seria nós sermos perfeitos e Ele ter falhas). Apesar de tudo o que eu sei e, no fundo, ter consciência de que estou errada – mas é assim que sinto – complicado este conceito de justiça…

Para dar certo, deveria ser possível voltar no tempo. Queria apagar estes tormentosos três anos e todos mais que ainda forem longe deste amor, longe de você. Gostaria que fizessem uma lavagem cerebral a colocassem a história original neste espaço em branco. Ainda assim, não adiantaria, pois seriam informações, não experiências, sentimentos. A época, a atmosfera, o contexto, além do amor em si e da minha “tábua sem pregos”, faziam parte da “magia”. No caminho, havia uma bifurcação para o “céu” e para o “inferno”. Hoje, até o caminho do bem tem um quê de dor, de tristeza. Ambas as opções não são boas.

Ah, meu Deus, eu demorei tanto para entender que eu merecia, eu tive coragem de ir atrás… eu só queria ter sido feliz!

Fico aqui, me perguntando, se, apesar de conhecer este mecanismo, você vai ser uma daquelas pessoas que vão se contentar com o superficial e viver uma vida de fora até que os últimos instantes venham e, somente com a chegada da “morte”, você se aproxime da consciência da verdadeira realidade e faça alguma confissão, deixando um recado quase póstumo – ou pior, que precise “ver para crer” e só tome consciência disso quando já estiver imerso no outro plano e lhe “passem um filme” -, ou se vai acordar durante o caminho. Eu já devo ter sido assim, por isso, nesta vida, num momento decisivo, coloquei tudo num outdoor, para que fosse um fato consumado, a tempo de ser vivido – não lamentado ou refletido.

Meu Deus, isto não é um filme, um texto ou apenas uma música bonita;  isto não é Hollywood, não é ficção, é a minha vida!!! Como pode a maior certeza de Deus na minha existência ter se transformado na maior mentira?

Eu definitivamente não sou apenas aquela que não gostou de ser contrariada, assim como você não é somente o homem que negou o amor. Será que ainda há oportunidade para ambos entendermos isso?

Há uma gigantesca chance, no entanto, de você não estar nem minimamente interessado. Estou, como meu poema diz, “Sozinha na Chuva”. Como pode, “Mensageiro de Deus”, ao invés de ter a “Sua Presença” (já que sua história original de fato acabou e você tenha ficado livre), eu velar a “Sua Ausência”, não por uma causa justa, ou quando era necessário e parte dos planos divinos – o que era difícil, porém, sublime -, mas para você, teimosa e desnecessariamente, “Mentir-se Feliz”?

******

Imagem: google

Poemas – Observações

1 – Serão publicados na ordem cronológica, não de citação;

2 – Desde quando compus que não lia o “Mentir-se Feliz”. Percebo que o conteúdo é muito parecido, embora naquela época houvesse mais mágoa e revolta;

3 – Neste mesmo poema, há uma estrofe sobre suor e dinheiro. Esta única estrofe é destinada ao meu pai, não ao meu amor. Este poema nasceu da sensação de abandono, de escolha por um caminho mundano, negando o divino, e meu pai fez a mesma coisa, apenas por outros motivos.

Sua Presença

Quando não está por perto

Percebo o quanto sou feliz

Quando o tenho ao redor

Sua presença é tão marcante

Que me faz bem

Mesmo quando está longe

Hoje, porém, quero apenas

Enaltecer a sua existência.

 

Tê-lo no mesmo cômodo que eu

Poder vê-lo somente pelos lados

E mesmo que sejam

Apenas pernas e sapatos

Mas saber que estamos próximos

Provavelmente juntos no coração

Gera em mim inenarrável alegria.

 

Seguro-me para não demonstrar

Este sentimento

E tento agir com naturalidade

Às vezes, tratando-o

Com excesso de normalidade

pelo receio que notem

não só a natureza

mas também o tamanho

e a força do meu amor

Colocando nós dois em situação indesejada,

E este sentimento de sublime

Possa momentaneamente causar tormento

 

Ouvi seu suspiro

E imaginei como seria

Poder senti-lo mais de perto,

Numa situação do dia a dia

E, neste sonho,

Como seria poder olhá-lo

Mesmo sem que percebesse

Admirá-lo e agradecer a Deus

Por colocar a luz da sua presença

Na rotina da minha realidade.

 

Sei que se eu pudesse tê-lo desde o começo

Saberia dar valor ao que temos

Pois antes de você

Muitos anos se passaram

E eu soube que quando te encontrei

A minha busca havia terminado

Mas hoje penso se,

Além de outras lições,

O fato de não poder tê-lo de imediato

Não seria algo culposo, negativo ou um teste,

Mas sim um meio ainda não compreendido

Em essência pelo homem

De fazer ficar mais lindo o reencontro

Quando duas almas descobrem

O limite do quanto se querem

Para em determinado momento da Vida

Encontrarem a pura felicidade

No momento exato

Da livre troca de olhares.

 

A esperança deste dia

E a riqueza deste sentimento

Motivam a minha existência

Enchem minha alma de paz,

Minha vida de alegria.

 

Em seus olhos vejo a luz

Que em minha humilde interpretação

Ainda é o mais próximo

Que posso chegar de Deus

Sua vida, sua presença

Representam para mim

A Bondade Divina, o sentido da Vida

Algo que todos sentiremos em tudo,

Um dia.

 

O mínimo que posso dizer é

Que eu amo você,

Pois para tudo que sinto

Não há palavras ou explicação

E o mais próximo que conseguiria mostrar

Para que pudessem entender,

Seria o meu olhar

Que se ilumina quando encontra o seu.

 

Quem sabe um dia eu possa

Dizer tudo isso a você…

Dar todo o amor que eu tenho guardado

Há muito tempo

Para você,

Somente para você.

 

Encontrei o amor…

Sou feliz…

Adoraria poder dividir esta felicidade

Com você

Meu amado,

Meu exemplo,

Minha vida,

Minha luz,

Minha calma,

Minha paz,

Minha emoção,

Minha certeza,

Meu amor,

Meu enviado.

Que Deus Ilumine a sua existência

E que abençoe nossos caminhos

Sejam eles juntos

Ou temporariamente separados…

(Camila Pigato, agosto 2009)

Sua Ausência

Quando vejo você partir

Sinto que meu coração

Vai querer desanimar

E para não desistir

Eu começo a me lembrar

Dos momentos que vivi

E me sinto elevar

Olho o céu, olho as montanhas

E sinto o seu olhar

Percebo que ele está em mim

 

Sua ausência fere minha alma

Faz a minha luz estremecer,

Meu coração diminuir

E a saudade bater

Mas quando a tristeza

Quiser aparecer

Eu começo a me lembrar

Do oposto, que é ter você,

E percebo que até a sua ausência

Serve para valorizar

Tudo que passo a ser

Quando o tenho ao meu lado

E eu percebo a grandeza

Do que a sua simples presença

Pode revolucionar e enobrecer

Dentro do meu ser.

 

Então eu entendo que longe ou perto

Você está comigo

Modificou minha vida

Minha visão de mundo

Enalteceu minha fé

 

Mas enquanto a distância for necessária

O simples fato de você existir

Vai inspirar meus passos

Iluminar minhas idéias

E alimentar meu coração

 

Quando penso no sorriso (sincero e sem culpa)

Que nunca darei

Nas suas mãos,

Que sobre as minhas eu não sentirei,

No abraço aconchegante que não vou ter

Ou no beijo que teremos que evitar

Enfim, no amor que nunca vou viver

Poderia começar a chorar…

Mas é exatamente quando fico feliz!

 

O que eu sinto é mais forte que tudo

Não é deste mundo,

Nem deste tempo

É algo que somente me faz crescer

 

Sua presença ilumina o meu dia

Engrandece minha alma

Enche minha vida de alegria

 

Faz com que eu ame mais os que me cercam

Que eu agradeça a Deus a todo instante,

Gostaria que todos sentissem esta harmonia

 

Se sempre chorei de saudade ou decepção

E no “amor” fui sempre renegada

Ou desejada por quem eu não queria,

Tudo não passou de ilusão

Hoje escrevo sobre as lágrimas que caem

Mas que são expressão de alegria,

Vindas do fundo do meu coração.

 

Que a sua presença em minha vida

Me ajude a ser melhor

Para um dia merecer você

Hoje

Tão perto,

Mas sem seu olhar constante,

Eu dizia em pensamento o que sinto

E imaginava nós dois

Nos abraçando,

Observando a imensidão do mar azul

A brisa a nos envolver,

A paz a nos completar

E o amor a nos guiar

 

Mesmo que não seja a hora

Vou continuar a te esperar

E em meu pensamento te amar

Pois é isso que alimenta meu ser

Um dia, perante a eternidade,

Iremos nos reencontrar

Seja amanhã ou daqui cem anos

Só a vida vai nos dizer

Mas eu digo estar certa de que vai acontecer.

 

Eu não preciso tê-lo por perto para lhe ver

Nem poder lhe tocar,

Para o abraçar

Ou preciso do seu beijo

Para o amar

 

Encontrei o amor

Pude confirmar minha essência

E saber que o tempo é relativo

Que meu caminhar

Vai um dia me levar até você

É preciso ter esperança, paciência e fé

 

Eu posso não ter tido seu corpo

A caminhar ao lado do meu

Mas a cada dia,

Em cada gesto,

Em meus sonhos

E em meus pensamentos

Pude imaginar como vai ser

Quando nossa união acontecer

Somente este reencontro

Basta para ser feliz enquanto eu viver.

 

Tê-lo junto de mim,

Vivo no meu coração

Fez-me notar que somente por acreditar

Eu pude encontrar a verdadeira felicidade

Poderia viver um único momento eternamente…

Nunca antes senti nada assim

É difícil explicar minha gratidão

Por tudo que a Vida passou a me dar

Sinto que este amor , na verdade,

não tem começo nem fim

É algo que me faz seguir sempre em frente…

Não importa quando nossos caminhos se encontrarão

Nem ouço o que os outros vão falar

Não sou eu que vivo longe da realidade

São eles que não entendem, infelizmente.

Houve tempos em que quase duvidei de mim

Foi difícil viver a separação

Mas nenhum obstáculo conseguiu me desviar

Sou feliz mesmo “contra” a sociedade

Não podemos fugir do amor, quando se sente

Um dia eles compreenderão

Vale mais o encontro de um olhar

Do que tudo o que eu poderia viver

Por este sentimento

Serei grata eternamente

Somente por saber de sua existência

A paz invadiu meu coração

E se hoje sinto sua ausência

É porque um dia vi o seu sorriso

E isso basta

Para que esteja  sempre presente…

(Camila Pigato, fev e out 2009)

O Mensageiro

Vejo anjos

Em torno de mim

Com os olhos

Apenas o abajur

Que irradia linda luz

E abana suas asas

Para nos lembrar

Do Bem que nos conduz

Mas os que realmente estão aqui

Vejo com o que sinto

Para o que me transformo

Quando penso em você

 

O que é a criação

Senão apenas um meio

Que Deus sabiamente Inventou

Para que a alma

Possa sentir fora e aprender como seu

Algo que já traz desde sempre,

Dentro de si?

 

Os mundos, as estrelas, o mar,

O céu, as árvores, a chuva,

O sol, as pedras, o ar

Todos seguem um caminho

E com eles, interagindo,

Sentimos a grandeza

E a simplicidade

Do existir

As plantas, os animais,

Desde o unicelular

Ao homem que pensa saber

Todos são seres amados

Cujas vidas devemos celebrar

 

Na forma do pai

A sabedoria, o carinho, a proteção;

A mãe ensina à alma

O conforto, a bondade, o amor incondicional;

Filhos ensinam a quem os têm

A doação, a resignação, a vida pela vida,

Amor sem igual;

Os amigos são tesouros

Irmãos que escolhemos

E que tanto nos amam

Que não precisam mais estar por perto

Para continuarem a ser

E mesmo longe pelo lugar ou pelo tempo

Basta um sorriso

Para a intimidade de outrora

Venha aparecer

 

A criança foi criada para que ainda se lembre

Da inocência, da bondade, da pureza;

A adolescência nos relembra,

Para que com a criança não se engane,

A inconstância que podemos ter;

O adulto demonstra a força que

Precisamos exercer

E o idoso novamente é um convite

À realidade de que a vida é um ciclo sem fim

Novamente nosso tamanho pequeno é apontado,

Não sem antes novamente despertar

a inocência do começo misturada

da sabedoria adquirida pelo tempo

 

Há também os relacionamentos conjugais

Que nos ligam profundamente

Sem do sangue ter-se laços de afinidade

Têm a pureza dos sentimentos mais fortes

Advindos normalmente da família

Junto do conforto de uma amizade.

A comunhão de idéias, a convivência fraterna

A doação, o carinho, o amor incondicional

Pelo menos, é assim um casamento de verdade

 

O momento que vivemos na atualidade

Ainda é de aprendizado

Portanto, nem todos os relacionamentos assim serão

Pois muitos deles ainda são também um meio,

E não a finalidade

Como muitos ainda pensam que são.

 

Seja como for, todo tipo do que hoje chamamos “amor”

São modos da Criação nos mostrar

O amor sublime que um dia iremos experimentar

Cada ser, em seu caminho, tem muito a aprender,

Mas também algo a ensinar.

 

Entre tantas outras coisas,

O medo de tudo o que sinto estar errado,

E com isso o modo como vejo Deus,

Tudo o que aprendi,

A paz que senti,

Fez com que, exatamente por temer perder,

Eu me afastasse de minhas crenças,

De mim mesma, minha essência,

E até mesmo de você eu me perdi.

 

Suas palavras de bondade

Têm um efeito em mim

Mais poderoso que as mesmas ou ainda melhores

Que qualquer outro ser no mundo pudesse dizer

Mesmo sem resultado imediato,

Você não deve nem saber,

Mas o simples fato de sorrir

E ter vontade de ajudar

Resgatou-me de mais um tormento

Onde eu estava escondida,

presa dentro de mim

 

Como sou ainda muito pequena

Falar com os anjos não me é permitido

E talvez por ter o coração endurecido

Para entender a pura caridade

O modo mais rápido de encontrar minha alma

E fazer com que entenda os recados que a Vida

Quer que eu aprenda

Seja colocá-los nas mãos de alguém

que me fez encontrar a mais sublime felicidade

 

Você talvez não fale a língua dos anjos

E sei também não ser perfeito

Mas é exatamente daí que vem toda beleza

Porque o que sentimos, pensamos,

Do que gostamos podem ter muito em comum

E cada defeito seu talvez seja

O que minhas qualidades conseguem compreender

 

Seus olhos humanos, como um outro qualquer;

Seu modo de viver, tentando ser melhor,

Mas fazendo o mesmo que vejo um grupo fazer

Podem ser simplesmente apenas “mais um”

Mas para mim são o intermédio

Entre este mundo e aquele que de muito perto

ainda não nos é dado conhecer

 

Você não é melhor do que ninguém

É mais um homem doce, generoso, gentil

Sábio, vivido, inteligente,

Verdadeiramente bom

Sei não ser maioria,

E isso talvez o destacasse.

Destaca, sim.

Mas ainda que houvesse um outro homem assim

Que cruzasse meu caminho neste momento

Não diria em forma de sentimento

Tudo o que sua existência toca em mim

 

E isso faz com que,

Exatamente por ser humano,

Seja perfeito:

Bom, generoso, gentil,

Mas como só você poderia ser

 

Por ter encontrado este tipo de sentimento

Ter um relacionamento só por ter

Passa a ser banalidade

Ter alguém ao lado

para não sentir solidão

é muito pequeno, inútil,

vira tormento.

Eu mal comecei a aproveitar este amor,

Impossível seria esquecer

Você me mostra uma outra realidade

Sinto-me completa, feliz, sempre bem-acompanhada,

Pois o tenho no lugar que mais interessa:

O coração.

 

Belo e pequeno ser humano

Ser por Deus tão Amado

Pois para Ele,

Pouco Importa sermos almas crianças,

Que ainda erram,

Ou aqueles que do Mais Alto cantam

Somos nós que temos sentimentos condicionados

Ele Vê apenas um que já terminou uma etapa

E o outro que pelo próprio ato de errar

Fatalmente irá ao mesmo destino chegar

Para Ele somos todos iguais,

A diferença é que nossa bondade ainda se expressa

Na forma de erraticidade

A deles já está iluminada

E na harmonia consegue se mostrar

 

Tudo isso para dizer

Que por ainda termos tanto o quê aprender

Esta querida humanidade, onde sou iniciada

Não detém palavras nobres o bastante

Para explicar este sentimento

E que por falta de expressividade

Chamamos “amor”

Então, é assim que denomino

Tudo que sinto por você

 

Você também veio para crescer

Mas isso é tudo o que imagina ser

Não sabe que sem nada precisar fazer

Me leva direto ao céu,

Sem daqui poder ainda partir.

Faz com que eu me lembre que há amor,

Resignação, esperança, fé

Não apenas por suas palavras,

Mas pelo simples fato de existir.

 

Você é o maior Presente

E o maior contato com o Criador

Que eu poderia conhecer

Graças ao que sinto

Sou melhor comigo mesma,

Com todos os que me cercam

Com aqueles que talvez eu quisesse manter longe

E agora preciso também viver o amor

 

Nestes momentos de elevação

Casar parece pouco

Pois o que sinto vem antes e vai muito além desta morada

Consigo apenas elevar o pensamento

E agradecer pela grandeza de Deus

Ao colocá-lo em minha caminhada

 

Sinto seu abraço

Num olhar

Seu beijo

Num sorriso

E isso é tudo que preciso por enquanto sentir

Talvez se você chegasse mais perto

Eu poderia não suportar

Pois o que sinto é tão intenso

E ao mesmo tempo tão radiante

Que parece desperdício limitar

A um corpo, ainda que abençoado

A um local, em todo firmamento,

A um instante, em toda linha do tempo

 

O amor que sinto é tão grande…

É difícil de explicar!

Independe de você,

De nossas experiências,

Que são a forma que nossas almas

Encontram de melhorar

E que podem exatamente por isso

Ainda nos afastar

Para que quando não haja mais nada a aprender

E possamos ser livres de outros relacionamentos

Exercer livremente

e nossa união enaltecer

Não sei se você já me encontrou

Mas eu encontrei você

Agora, meu amor,

Ser amado,

Abençoado,

Iluminado…

Graças a você

Deus e eu podemos dialogar

(Camila Pigato, julho de 201o)

Sozinha na Chuva

Vencia a Chuva

Que embaçava minha visão

Nossos caminhos se cruzaram

Mas íamos em outra direção

 

Duas almas buscando abrigo,

Aconchego, proteção

O mesmo fim

Porém, caminhos diferentes

Molhada, precisando de calor

Cansada, para me aquecer

Só o banho ou chocolate quente

Será possível ter o seu amor?

 

Aqui dentro as luzes harmoniosas

Mais uma vez piscavam

Cintilando na árvore de natal

Lá fora você chegava

Onde te esperavam

Aqui dentro

Chuva torrencial

 

Na caixa, o livro autografado

Que eu nunca entreguei

No carro, a folha

Que há meses imprimi

Nos lábios

O beijo que nunca dei

No peito a esperança

Que não me deixa seguir

A campainha toca toda semana

O coração dispara, entristece

É sempre outro rosto a sorrir

Tanta dúvida, demora

A mente enlouquece

A solidão devora

Quase desisti

 

O vento sopra e apavora

Revira a vida perto de mim

Tira tudo do lugar

A chuva cai,

Sem fim

No entanto,

Já passou

Só as luzes de harmonia

Brilham em melodia,

Alegrando meu coração

A tempestade que veio

Não tirou nenhum telhado

Apenas me arrancou o chão

Esperar você é acreditar no sonho

Ou viver de ilusão?

 

Venci a vida

Que quase embaçou minha visão

Enfim nossos caminhos se cruzaram

Afinal, estamos indo na mesma direção?

(Camila Pigato, dez 2011)

Mentir-se Feliz

Até quando sentirei a falta

De quem não me quer bem?

Paredes que falam

Pessoas que lembram

Hábitos que revivem

Quem por vontade

Quis partir

 

Segundos desperdiçados

Vidas desviadas

Dores desnecessárias

Amor não vivido

Certeza enlouquecida

Fé que deixou de existir

 

Desprezo a fraqueza

Lamento a covardia

De quem preferiu

O mundo a mim

 

Cada passo que dei

Pingando de chuva ou sol

Castigando o corpo

E calando a alma de exaustão

Equivale a todo milhar a ser perdido,

Se a vida é justa,

Do dinheiro que você escolheu

No lugar do meu coração

 

Para uma única lágrima

Da tormenta que me acometeu

De sua indiferença, arrogância e traição

Vários sorrisos

Em diversos rostos de mulher

Que vivem o momento,

Surgirão;

Cada noite aqui vivida de solidão

É mais uma,

Dentre tantas,

Da companhia, de toques,

Abraços, beijos, vida social;

Satisfação sexual, rotina compartilhada

Por quem,

Originalmente,

Não deveria ser mais que uma amiga

Ou passar de uma balada

 

São,

Contudo,

Sorrisos de euforia, carência, acomodação

E a minha dor –

Sem igual –

De tudo ruim que traga,

Ao menos é verdadeira,

O oposto de uma ilusão

 

Como a que vive

Com as escolhas que fez

E o que constrói

Única e exclusivamente

Pelo medo de enfrentar o que sente

Obrigando-se, assim,

A fugir de mim

Para mentir-se feliz

 

Que restará de nós

Quando despertar?

Haverá segunda oportunidade?

Conseguirei,

Depois de tudo,

Perdoar?

Sobreviverei?

Qual a pior morte:

A do coração fisicamente estagnado que liberta a individualidade,

Ou a da alma banalmente acorrentada a um corpo que ainda respira?

Estarei,

Enfim,

Aceitando o inaceitável,

Vivendo o presente transformado,

Ou ainda debatendo-me

No inferno que amiúde dorme,

Mas não cessa,

Tendo presa nesta indescritível situação

A minha liberdade?

 

A certeza do que um dia nos uniu

E sempre nos ligará,

Além de tudo o que você também irá saber,

De sólido e eterno que é,

Consola e eleva;

Enquanto desola, desespera, revolta,

Pela magnitude do que foi perdido,

Agora,

Tamanho deserto que se instalou

No límpido mar azul que flutuava em mim

E que secou.

Apenas porque você quis,

A despeito de tudo que fiz.

Apesar do brilho único e cristalino em seu olhar

Do sorriso involuntário

Quando eu,

Tímida,

Revelei o que senti.

 

Se é mesmo algo tão elevado,

Como pôde escolher –

Dentre todas as confusas opções

Deste mundo tão diverso –

Querer, imaginar, atrair, desejar, aceitar e materializar

Qualquer que seja,

Por mais tentador,

(Algo tão íntimo, único e seu):

o que não fosse o amor e a mim?

A cada dia tento superar

Esquecer, amar, perdoar, sublimar, entender.

Impossível…

Desisti!

(Camila Pigato, abril 2014)

 

Fundo Musical

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A noite fazia-se presente há pouco mais de uma hora. O trem partia enquanto eu caminhava em direção à escada, mas algo era novo.

Um som puro e harmonioso invadia a acinzentada estação de metrô e fez parar verdadeira multidão. “É uma banda formada pelos seguranças”, informou-me um homem. Fiquei encantada.

O preocupado portador de necessidades especiais apertou o botão e por pouco não perdeu o elevador, esquecendo-se de tê-lo chamado. O casal que, apressado, certamente ia a algum local específico para poder ficar junto, lembrou que a jornada, muitas vezes, é mais importante que o destino, e deixou-se enamorar ali mesmo, ao som da melodia suave.

Outros, ocupados ou insensíveis, simplesmente passaram reto. Mas muitos se permitiram alguns minutos de folga, apreciando aquela demonstração de sentimento que une as pessoas pela linguagem universal da música.

Eu escolhi trocar as paredes lotadas das grandes marcas de um shopping para viver aquele momento. Esqueci um pouco o mundo lá fora para ouvir a música que vinha, na verdade, de mim.

Esta parada, no meu caso, obrigatória, lembrou-me que existe muito além da rota pré-moldada; que a vida, muito mais que um vai-e-vem de estações de trem, pode ser a música que colore e ilumina a alma neste caminho necessário, a qual desperta o que o trajeto muitas vezes machuca ou apaga. Basta aceitar finalmente ouvi-la, ao invés de simplesmente repetir o mesmo caminho de ontem e seguir em frente…

(Texto referente à quinta-feira, 30/07/205, estação Ana Rosa do Metrô de São Paulo e à banda “Seguranças do Metrô”).

Imagem: pt.forwallpaper.com

Pedaços de mim

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Quero as noites de finais de semana para mim.

Vivo a vida de trás par frente. Adolescente, queria ler e desvendar meu próprio mundo. Não tive crise dos 30.  Mas agora, preciso entender tudo do mundo, fazer check-in nas redes sociais e ser a atração principal da balada.

Como, se eu nem frequento uma?

O mundo é rápido e múltiplo. Eu gosto de me dedicar a uma única coisa de cada vez e explorar todas as suas possibilidades, usando este conhecimento para as próximas experiências.

Não sei onde encontrar as músicas atuais e estes artistas, contudo, não suporto mais o meu vasto, porém, decorado, grupo de álbuns e cantores de novas músicas – mas sempre os mesmos. Ainda que mais maduros.

Quero fazer tudo o que falta em uma lista logicamente elaborada para me libertar do trabalho acumulado, contudo, passo o feriado apenas extravasando as angústias do meu coração confuso, da minha mente estressada. 

Faço tudo diferente, de certa forma, e nada muda. Todavia, ainda me sinto estagnada, sabendo que preciso dar um passo muito maior para que o novo venha.

Nunca acreditei no rótulo do homem insensível, infiel e padronizado e, no entanto, fui punida por ter sido tão “ingênua”. Não (apenas) pelo mundo, mas sim por Deus  e pelo que ele desejou – ou não impediu que não acontecesse.

Pelo mesmo Deus que transcende os efêmeros valores humanos (vide culturas, pensamentos e hábitos dignos de risada advindos de povos antigos), tais quais o de que um homem não pode chorar, não pode ter sentimento e não consegue, portanto, ser fiel a uma única mulher porque só quer saber de sexo. Se fosse assim, mulher não deveria votar, trabalhar fora ou fazer cálculo – tampouco trair – porque deveria estar sempre em casa costurando roupa, à espera do marido e completamente abandonada em caso de desavença conjugal. O mesmo Deus que é amor. Amor que, em um planete criado POR DEUS, não conseguiu ser mais forte que carência, medo e presunção.

Sempre fui uma filha decente, um ser relativamente consciente e não indiferente a quem não tinha a mesma sorte que eu, e, ainda assim, tudo me foi arrancado como se eu tivesse aproveitado todas as músicas do mundo, as baladas, os gastos descontrolados e como se eu tivesse consumido homens – produtos padronizados – e precisasse desses baques que a vida sabiamente dá para trazer à consciência quem vive apenas no padrão atual estipulado, que precisa entender um pouco mais das coisas verdadeiras da vida.

Olhar para trás não faz bem. Com muita dificuldade, desapego e sigo. O novo, porém, aceito e conquistado com o aprendizado adquirido, não acontece – como se eu fosse a mesma criança de antes.

Sinto-me tão inadequada a ponto de pensar uma blasfêmia, mas sinto, e mais honesto é contar. O que escondemos, nos devora. Fica assim: a vida mudou da água para o vinho. Até aí, normal, acontece e poderia, claro, acontecer comigo. O ponto aqui não é não compreender que nem sempre tudo são flores ou que sempre pensamos “isso acontece com o vizinho, mas nunca comigo”. Minha angústia é já ter as angústias e mudanças e a minha bagagem, entretanto, a minha bagagem não ter absolutamente nada a ver com o que aconteceu comigo. Às vezes somos tão atentos que podemos aprender na escola da vida pelo amor. Contudo, como uma criança da alma, que pouco conhece, reconheço a importância de aprender pela dor. Reconheço que um aparente mal pode, sim, ser um bem, que talvez não identifiquemos de imediato. O que ocorre é que concluí – e aí vem a minha blasfêmia – que o Bem, este que amadurece, que evolui e enobrece, nem sempre é um pedaço de bolo chocolate em um sábado à noite, mas também um comprimidinho amarelado e amargo. Nunca, jamais, um taco de beisebol que te colocam à força, sem aviso, na forma de um supositório. O segundo caso sendo o meu.

O que está errado?

Não há para onde ir, mas assim, não é possível ficar. Não posso mais voltar, porque já passou, não existe mais.

Queria ter novamente a liberdade de circular e, na ausência de coisas mais complexas, fazer algo simples e meu: tomar um café, ler e escrever. A impossibilidade de ir, de escolher, de ser obrigada apenas a fazer uma única coisa e continuar onde estou, mata a minha alma a cada dia. Não tenho mais escolha, espontaneidade, vontade, liberdade… alegria. Contudo, quando quase reverti a situação e fui como podia ir, fazendo apenas o que dava para fazer, paradoxalmente aos meus questionamentos, pensei no quão vazio seria ter que estar em um lugar mais caro e longe para fazer o que eu poderia fazer em casa – o que depende apenas de mim.

Quando eu podia ter, nunca me importei com o mundo. Agora, a impossibilidade de frequentar o mundo me deprime. Oprime! Porque me sinto presa, tolhida, excluída. Contudo, quando bato asas e voo, sinto o vazio de quem vive a vida de fora. Não é mais como antes…

Não poder viver a vida de fora me obrigou a viver para o corpo, para o sustento, e me tirou da vida de dentro; ter vivido para Deus e para o Amor naturalmente, sem precisar ter sofrido para isso, e levar um tombo como se eu fosse leviana e precisasse do tombo, foi bem mais do que eu suportaria, do que eu esperaria – como alguém que recebe a encomenda errada, ou que vai com a mala da praia para uma cidade de montanha – e fez-me perder-me de mim.

É como se eu não fosse mais a mesma. Não com a vantagem de uma “eu” amadurecida – também – mas com o prejuízo de ter perdido o melhor de mim, de eu não ser mais inteira, de não conseguir ver além de um dia ou um corpo ou uma carência e necessidades vis. E, então, todo o começo do texto poderia explicar-se, enfim. Aí, eu voltaria a explicar que quero ir, mas não consigo; e voltar não me é permitido; que o hoje me faz negar quem eu fui, mas não acontece; e o ontem, que era a realidade, não passou de uma ilusão – apesar de eu nunca ter sido tão eu, nem tão feliz. Em contrapartida, reconhecendo o que não deu certo e recomeçando, anseio, tanto, a vida nova que tenho… que simplesmente não é. Enfim, seria um texto sem fim. Um presente que gira interruptamente em torno do mesmo ponto.

O que sinto é fragmentado, não apenas porque escolhi pôr para fora pequenos sentimentos, mas porque por mais que eu me esforce e fique bem, no fundo, nada muda e eu seja obrigada a aceitar que o que restou após esta infeliz mudança – e dá medo de ficar sempre assim – foram apenas pedaços de mim…

Fonte imagemwww.gostodeler.com.br

 

 

 

 

Orgulho de Ser Brasileira*

 

bandeira brasil

“As coisas nem sempre são como a gente quer”. Ontem 200 milhões de pessoas foram contrariadas, dentro de sua própria casa. E hoje, ainda por cima, a “visita indesejada” conta vantagem. Só falta vencer o mundial. Pois é, difícil de engolir…

Acostumados a ter uma estrutura de vida precária, o brasileiro coloca toda sua energia onde consegue (conseguia) ser sublime: no esporte.

Acontece que tudo o que sobe, desce; tudo muda; ciclos têm seu fim, cada um deve ter a sua vez e por aí, vai. A hegemonia do Brasil no futebol, por enquanto, acabou. Não em essência (não perco a fé), mas em momento (ter fé não significa ausência de lucidez).

As derrotas fazem parte da vida, embora nós, “crianças mimadas” quando o assunto é este esporte, não estávamos assim tão acostumados a sair da mansão de mármore e “dormir na rua”. No máximo, mudar para uma confortável moradia em condomínio fechado de classe média, com pelo menos uma empregada. Acontece que o pior, infelizmente, aconteceu: perdemos de lavada. Pior que uma pelada. Saímos da Copa. Não faremos a festa em nossa casa. Ficamos sem teto da alegria nacional.

Apesar do absurdo, do grosseiro, a aceitação é começo do fim de sofrimentos: perdemos. É preciso saber perder. Pois isso é saber viver. Amadurecer.

Quem me conhece, sabe que eu sou sensível e uma mulher cor-de-rosa. Contudo, quando o assunto é futebol da seleção – sou corinthiana por osmose, mal acompanho, só a cada quatro anos me transformo – meu lado masculino aflora e eu lembro da música da Maria Rita: “sou mais macho que muito homem”. Nem eu me reconheço, eu realmente vivo a competição. Por alguns momentos, naquele turbilhão de emoções, parece que o esporte é tudo.

Minha reação no jogo Brasil x Alemanha, ontem, foi xingar e falar alguns palavrões, mesmo em público. E ficar com raiva do “inimigo”. Claro, com aquele conjunto de gols, com o tempo, fui obrigada a reconhecer a decência e competência da seleção alemã e fui praticando a arte de perder. Ri da desgraça para conter as lágrimas, reconheci a falha. Todavia, nunca, jamais, voltei-me contra os meus.

Nossa seleção errou? SIM! E muito! Não estou passando a mão na cabeça nem dizendo que é normal. Aquilo foi um filme de terror no formato bola. Contudo, deixo as reflexões táticas e técnicas, extremamente pertinentes, para quem entende de esporte. Eu entendo de gente.

Sai o esporte e entra a vida do indivíduo. E em nosso dia-a-dia, a reação saudável em um convívio afetivo é estar ao lado “na alegria e na tristeza”, não apenas quando nos convém. Se, quando estivermos infelizes por nós mesmos, depositarmos nos próximo o pesado fardo da nossa felicidade, estaremos criando expectativas e frustrando-nos diariamente. Então, é assim: quando não mais agradar, abandonaremos o outro? “Um campeão se mostra na derrota”, diz a frase. Espero que joguem de cabeça erguida. E nós? Que tipo de plateia somos: aquela que apenas considera o título, ou a que valoriza a superação, o recomeço?

Torcedores, vamos discutir a relação: é justo torcer e dar apoio moral, somente quando o time vai bem? Brasileiros, pensemos: nosso país tem tantos problemas de vida real que o futebol virou a válvula de escape. Aí, quando este falha, como um vulcão regurgitando, surgem a decepção, raiva, a revolta. E o abandono à nossa seleção. Que, no fundo, é apenas o abandono que já praticamos há tanto tempo, a nós mesmos, porque depositamos num time a responsabilidade de fazer plenamente feliz uma nação.

Por que devemos comemorar muito o terceiro lugar, se vier? Porque, para nós, é só um jogo e nossa vida, mesmo, segue normalmente. Coloquemos os valores em real escala. Para eles, contudo, é a carreira, é o que fazem, é um mal momento da vida; e porque, se eles ganharem, mostrarão com fatos, ainda que esportivos, a capacidade que o ser humano tem de não desistir e de se refazer. Se um dia nos deram tanto, ao longo dos anos, que tal a retribuição? Aí, seria demonstrada também a força da união.

Penso que esta catástrofe no entretenimento de competição, dedicação e superação, da qual eu ainda não me recuperei (confesso), aconteceu como instrumento de uma mudança para o bem. Tal qual aqueles choques que muitas vezes acontecem individualmente, nas histórias mundo afora, para fazer o indivíduo crescer: estamos, por ora, sem o nosso futebol. O que restou? Corrupção extirpando cada possibilidade de dignidade, de respeito, de estruturada de vida, de civilidade; desorganização, burocracia e “jeitinho” atrasando o pouco que conseguimos; cidadãos sem educação, manipuláveis e anestesiados por qualquer festa que exista. Fome, miséria, mortes injustas, violência, sufoco, desespero, dor. Etc.

Estas são as nossas feridas, nosso vício social. Tal qual um viciado comum, só se educa um vício aceitando-o, entendendo-o e contornando-o. Falar de tudo o que sofremos com esta linha de pensamento é necessário. O que não suporto é a crítica destrutiva, o deboche/desdém e o pessimismo.

Porque coisas boas e ruins existem em todos os lugares de mundo, em qualquer categoria: em todos os países, em todas as profissões, em todas as religiões etc. E só se transforma o mal em bem quando se alimenta do que é bom e se reconhece o que é mal. Olhar o mal e anular o bem apenas eleva o mal. Faz o mal não apenas quem o pratica, mas aquele que envenena a chance de bem ao esfacelar perseveranças, esperanças e esforços com pensamentos e palavras negativas.

E nós, apesar deste sofrimento de vida estrutural, temos não apenas um país de belas paisagens, sem muitos transtornos climáticos e infinitos recursos naturais (dignos de abastecer o mundo): temos esta riqueza humana, esta força, esta união, este élan que nos une, talvez em um primeiro momento da evolução social brasileira, pelo futebol, algo que exige bem menos esforços e tempo para ser bem-sucedido e gerar frutos (apenas algumas décadas) mas que, uma vez com dificuldades sérias, talvez nos desperte para uma causa mais cotidiana, profunda e de resultados lentos (séculos), que exige esforço de todos: o respeito por esta terra que nos abriga, por este povo irmão de lutas, que nos acompanha.

Está na hora de sermos dignos de amadurecermos nossa cidadania e usarmos o sentimento de patriotismo, que tanto já experimentamos, porém, não mais para extravasar apenas no formato de paixão nacional, e sim, cada um não mais torcedor, mas cidadão, repensar seu voto, sua vida social e demonstrar toda esta energia no tímido, contudo, verdadeiro, amor pela nação!

No próximo sábado eu vou vestir o verde e o amarelo, vou continuar reunindo os amigos e vou estar com eles – jogadores – para o que der e vier. Afinal, sou muito mais “onze” vencedores que 200 milhões de perdedores. E, movida não apenas pela minha consciência, mas também pelo choque sofrido ontem, despertarei para a importância de cantar o hino com uma só voz, de abraçar alguém só porque veste as mesmas cores ao sentir-me parte de um todo – e um todo tão bonito! -, pesquisando mais sobre meus candidatos, debatendo para angariar idéias – não impor opinião – e realmente votando de forma consciente, a fim de que vençam aqueles que, de fato, vão trabalhar melhor na tática do time, estabelecer uma excelente defesa, fazer uma goleada e trazer não o hexa, ainda, mas o primeiro título no quesito “dignidade brasileira” para nossa população!

 

Seleção Brasileira 2014

Nossos guerreiros do esporte

 

 

 

 

 

 

 

Nossa torcida

Nossa torcida. Guerreiros de outros esportes, saúde, faxina, transporte, arte, finanças, leis, serviços, fábricas etc.

 

 

 

 

 

 

 

 

O símbolo maior de nossas belezas naturais, presentes até na cidade. Nosso paraíso.

O símbolo maior de nossas belezas naturais, presentes até na cidade. Nosso paraíso.

 

 

 

 

 

 

 

 

* – O título deste texto é uma frase comum, contudo, recomendo a procura pelo documentário homônimo de um grande colega de profissão (jornalismo), Adalberto Piotto:

site: http://orgulhodoc.com.br/

Fonte das imagens: google

Manual do Ser Humano Apaixonado

Apaixonados 1

(Texto escrito em 26/05/2014 e finalizado hoje)

Começarei com a frase de um personagem de novela, que ouvi há alguns minutos: “A única coisa que devemos temer na vida é o medo”. (Laerte, novela “Viver a Vida”, Manoel Carlos).

Sou a favor da paixão quando ela é a porta de entrada para o que depois vai se transformar em amor ou quando ela representa o máximo que um ou dois indivíduos conseguem ofertar no campo da afetividade, e ainda assim não desistem de tentar. Vejo a paixão como ruim quando vira vício que impede voos maiores, prendendo pessoas que já poderiam conhecer outros patamares da afetividade e, ou pela lei do menor esforço, ou iludidas, ficam presas em seus imediatismos, emoções intensas: extremos.

Começaremos com alguns conceitos básicos, contudo, pretendo, aqui, resumir um conjunto de aprendizados que talvez possibilite uma melhor vivência desta situação.

Se você quer aparecer diante de alguém; se não gosta de alguém mas, em vez de afastar-se (reação natural), vive procurando esta pessoa com a desculpa de resolver algo; se tudo o que você faz ou vive lembra de alguém; se o rosto desta pessoa não sai da mente; se você fica olhando o nada, sorrindo, ou se não consegue se concentrar direito no que precisa fazer; se você sempre dá um jeito de incluir alguém em uma conversa com terceiros; se você, involuntariamente, fica leve ou feliz após ter estado com uma pessoa (com exceção de pessoas brandas e pacíficas que emanam este tipo de energia a todos, não tendo necessariamente algo a ver com o campo da afetividade, mas sim como um estado energético) ou se a ausência de alguém é tão forte que se torna presente, dentre outros sintomas, prepare-se: você, certamente, está apaixonado.

Sei que parece um estado à parte, uma exceção à regra. Contudo, na minha opinião, o que sentimos neste estado tão especial nada mais é do que um dia sentiremos constantemente, sem a necessidade de outro ser, fora, para nos colocar em contato com o nosso melhor, dentro. Contudo, deixemos a projeção de séculos ou milênios de lado e fiquemos com a nossa possível realidade. 🙂

Porque os tipos de amor – conjugal, de amigo, de pai, de mãe, de filho, fraterno – nada mais são que métodos pedagógicos para aprendermos o amor maior, de acordo com o que estamos possibilitados a desenvolver em tal momento: um amor mais abnegado (mãe/pai), um amor mais cordial (amizade), um amor mais generoso (fraterno, coletividade) ou um amor mais reflexivo, espelho de nós, como o conjugal.

Claro, muito já foi escrito entre a diferença entre paixão e amor. Não serei repetitiva aqui. A paixão mexe mais com os sentidos e é efêmera, já o amor geralmente também desperta instintos (do contrário, é amizade), desejo e etc., todavia, tem como característica marcante os laços sutis, da alma.

No começo, não é muito fácil fazer a diferença entre um e outro. Contudo, com o tempo, a paixão pode desenvolver-se em amor, ou extinguir-se. Se o que ocorre for o segundo caso, ainda assim não há contra-indicação para a experiência. Vale apenas relembrar que a paixão é fugaz e, se relacionamentos rápidos é o máximo que queremos ou podemos oferecer, negar esta realidade e ser o que não se é, seria errado.

O respeito (que muitos ignoram, julgando pessoas em algo tão íntimo, tão pessoal) por estados de alma que geram práticas diversas no campo da vida amorosa não deve servir, entretanto, de motivo para menosprezar quem pensa de forma distinta e vive outra realidade. Julgar aquele que não consegue viver o amor é anti-amoroso, contudo, ouvir estas pessoas que vibram “paixão” ou insensibilidade e afirmam que o amor é ilusão ou coisas de românticos é tão leviano e ingênuo quanto uma criança de uma cidade minúscula e miserável do interior do Brasil afirmar com veemência que higiene é coisa utópica, que escola não existe ou que asfalto é ilusão ou que computador é coisa de louco apenas porque nada disso exista na realidade dela.

Sendo assim, se não somos mais insensíveis e se já estamos cansados da paixão (daquela que é sempre a mesma, mudando apenas o “objeto de desejo” e que apenas nos suga a energia e gasta o tempo, não das que ficam como novos aprendizados ou que resultem em amor), buscando mais e, por ventura, a reconhecemos novamente em nosso caminho, estranho seria ficar estagnado e repetir a mesma experiência insuficiente. Porque a lei natural da vida é movimento e crescimento.

Uma vez feita a distinção entre uma experiência válida (ainda que não eterna) ou algo que já não nos acrescenta mais nada, e realizada a melhor escolha, vem o segundo passo: mergulhar. E é aqui que ocorre, das duas, uma: ou levamos apenas o lado emocional, o “exagero no outro” e embarcamos com tudo, doa a quem doer – principalmente a nós mesmos, se não der certo; ou travamos o processo.

Ao contrário da minha bandeira (sempre a favor do amor a despeito de todos os sentimentos enganosos que existem no mundo) vou argumentar, em um primeiro momento, aparentemente contra a prática do sentimento. Porque, se o homem é inevitavelmente dotado de razão e emoção (apesar de algumas “pessoas exceções à regra”, excessivamente insensíveis ou totalmente desprovidas de qualquer tipo de lucidez), faz sentido que, ainda que em campos opostos, uma metade ajude a outra.

Paixão/ amor é algo inerente ao setor “emoção”, tal qual “planilha de finanças” pertence ao setor racional. Contudo, não é necessário manter estas duas metades em extremos opostos. Portanto, se, ao contrário do que alguns economistas radicais apregoam, quando pensamos na organização de nossas contas pessoais, não dá apenas para pensar em dinheiro e cortar “momentos” (cafezinhos, viagens, cursos), aumentando a poupança e aniquilando a qualidade de vida, não podemos nos entregar cegamente a uma emoção nossa, por melhor que ela aparente ser (ou realmente seja), sem ponderá-la.

Há séculos o homem usava sanguessugas para tratamentos de doenças e um médico ia de uma necropsia direto a um parto sem nem lavar as mãos, não entendendo que o que hoje chamamos de infecção matava filho e às vezes, a mãe. Hoje conhecemos o corpo humano consideravelmente e a Psicologia já avança em direção a mente. Falta, contudo, um conhecimento mais profundo e lógico dos sentimentos. Entretanto, comparando-os com a fisiologia do corpo, fica fácil deduzir alguns conhecimentos (além de raciocinar e perceber que, da mesma forma que no passado um médico não conhecia nem os microorganismos e hoje conhece-se bem o corpo humano, atualmente pouco se sabe sobre o funcionamento de nossas emoções, todavia, é seguro dizer que este quadro não ficará eternamente assim).

Há sentimentos saudáveis ao nosso ser e há sentimentos nocivos, tal qual os alimentos, por exemplo. Uma vez que se saiba que comer alimento “a” faz mal a saúde e que você possui, inclusive, tendência a desenvolver doença “x” com este hábito alimentar, não dá para chamar de acaso ou fatalidade seu adoecimento no futuro. Ao contrário do médico que matava o bebê após a necropsia, foi você o maior causador do seu mal. O mesmo ocorre com sentimentos ruins que não evitamos.

É graças ao raciocínio diante de um sentimento que conseguimos fazer escolhas melhores. Por exemplo: se já vivenciamos uma daquelas paixões avassaladoras, mas não estas que defendo aqui, e sim as “por fora, bela viola, mas por dentro, pão bolorento”, aquelas que nos seduzem em um primeiro momento para custarem caro a médio ou longo prazo, que nos prejudicaram, seja no trabalho, seja financeiramente ou seja emocionalmente (ou por sugar nossas energias ou por, ao serem bem mais rápidas e fáceis de executar, nos desviarem de relacionamentos mais sólidos – tal qual você querer um produto caro mas nunca conseguir comprar porque em vez de passar meses juntando o dinheiro, gasta todo mês o valor da parcela em coisas secundárias e no final fica frustrado porque nunca consegue o que quer), podemos ficar mais fortes para “lutar contra a tentação” e não repetir algo nocivo. Não é apenas o corpo humano que fica viciado em álcool, açúcar ou drogas: a alma também tem vícios em comportamentos autodestrutivos. Sejam eles com relação aos outros – egoísmo, arrogância, crimes – ou conosco: paixões destrutivas, ciúmes, culpa, falta de autoamor etc.

É graças ao raciocínio também que fazemos melhores escolhas também diante de uma história bonita, mas que, devido a fatores externos ao relacionamento, exige que pesemos valores e verifiquemos o resultado final, fazendo uma escolha saudável. Por exemplo: amar uma pessoa compromissada, mas não usar a força do sentimento como desculpa para interferir na vida de terceiros (se for para acontecer, a vida fará com o que não for verdadeiro se rompa para o que é real possa acontecer; não cabe a nós sermos a terceira pessoa na história de ninguém); precisar abrir mão de um relacionamento se for para o parceiro/a realizar um sonho, tal qual estudar fora do país; entender que, apesar de um sentimento verdadeiro, um ou os dois parceiros chegaram a um ponto de desgaste que talvez um tempo longe seja melhor que continuar juntos, quando há um vício de comportamento na dinâmica do casal (ciúme, carência, cobrança excessiva etc.).

Agora, sim, o oposto. Quando a razão interfere de forma negativa na emoção: alimentada pelo medo (que vem da alma), por exemplo, podemos cometer o engano de racionalizar tudo: “não vai dar certo, pois: ele é mais novo que eu; é muito mais velho; é pobre; é rico; é inteligente demais; inteligente de menos; é homem; é mulher; é de religião “A”; não tem religião; é negro; é branco; é japonês (etc.); é careta; é moderno; ele já fez “x” no passado dele (uma coisa é o passado refletir quem ele ainda é hoje, outra bem diferente é a pessoa ter tido um comportamento tal e hoje querer mudar, é não ser mais aquela pessoa e nós colocarmos um rótulo nela e lhe tirarmos a chance de recomeço, que existe a cada segundo, para todos) etc”. E, o pior de tudo: pensamentos que bombardeiam nossa mente, fazendo com que nos preocupemos mais com o que os outros pensarão destes rótulos que com o que sentimos.

Claro, somos seres únicos, formados por um conjunto de características. Sendo assim, haverá um determinado perfil compatível e outro incompatível conosco. Não me refiro a ficar com qualquer um ou não fazer nenhuma exigência, pois o amor conjugal é do tipo mais íntimo, é do tipo “espelho”. Para existir de forma satisfatória, precisa ser baseado na afinidade. Não escolher, nunca – principalmente quando o objetivo é um laço sério e duradouro, algo que vai nos exigir esforços para manter – não é arrogância ou egoísmo: parece mais falta de respeito e consideração consigo.

O que não pode ocorrer é quando afinidades profundas (visão de vida, valores, atrações sinceras e bem estar) são calados por rótulos, por títulos circunstanciais. Muito mais vale um casal de uma mulher vinte anos mais velha que o homem ou de um branco e uma negra que compartilhem a mesma opinião quanto à criação de uma criança ou como cuidar de um parceiro amoroso, que duas pessoas brancas, modernas, que freqüentadoras da mesma igreja, que gostam de filmes europeus e de pizza sem cebola, mas que não concordam quanto à monogamia, ter ou não filhos, limpar ou não a casa, ser caseiro ou baladeiro etc.

Claro, às vezes o desafio do amor será aceitar algumas diferenças – pois ninguém é igual – mas um verdadeiro casal é aquele que tem o maior número de afinidades possíveis não apenas no campo superficial – gosta de tomar café ou de ler jornal de domingo – mas com relação a valores, a perfis de vida. Nestes valores intrínsecos ao ser, parafraseio meu próprio livro (“Desvendando o Amor”): os opostos se atraem, sim: para delegacias, fóruns, hospitais e necrotérios. Quer ter várias experiências advindas de pessoas? Viaje, interaja com pessoas, converse, conviva, faça amigos. Não se envolva emocionalmente, pois depois dá muito trabalho e dor desfazer o laço.

Voltando ao segundo passo, ao ato de usar a razão para justificar o “não mergulho”: geralmente, encontrar desculpas lógicas desta natureza de aparências para a não vivência de um sentimento é apenas negar o que já ocorre: a vontade de vivê-lo.

E, assim, com a ajuda do medo do compromisso, ou, mesmo que apenas por alguns momentos, medo de se entregar, de, ao menos, arriscar para entender qual é a natureza do sentimento (medo do desconhecido: quando nunca sentimos e precisamos experimentar para saber se é passageiro ou se é algo que vai crescer e se tornar amor; e, em se tornando amor, se será daqueles amores que aparecem em nossa vida para nos ensinar algo, mas passam, ou daqueles que vêm para ficar – cada ser humano tem uma mistura distinta desta categoria em sua história passada e futura, de acordo com as necessidades íntimas), fugimos.

Talvez, até, passemos por este medo da entrega, aceitemos o sentimento e tenhamos nossos momentos de sonho, contudo, fugimos quando chega o momento do confronto: envolver o outro. O medo do “não”. E, assim, vamos nos empurrando, sem saber, para a vivência deste sentimento, só que da forma contrária: ou buscando experiências e sensações ou emoções que já vivemos antes, porque é seguro, ou enfiando os pés pelas mãos em qualquer oportunidade que nos bata à porta, apenas para nos manter ocupados e distrair nossos sentidos – e nosso coração.

E é aqui que chegamos ao ponto delicado. Porque se, por um lado, é preciso ser muito racional para saber separar, na análise da situação – eu tenho chance? – o que é a vontade de que aconteça (esta “danada” que pode criar muitos gestos inocentes que podem parecer, aos nossos corações carentes ou simplesmente extasiados, declarações de amor), do que é real percepção (aqueles gestos realmente são pessoais, então, sou correspondido… e agora?), precisamos parar de pensar um pouco e deixar as coisas fluírem. Quando tudo está entendido, desligar o modo “pensar” e parar de cruzar dados, enxergar negativas em gestos inocentes, projetar futuros maravilhosos sem nunca ter nem havido um beijo e por aí, vai.

Por que arriscar o não? Simples: porque, cedo ou tarde, para acontecer, alguém terá que se manifestar, seja com gestos ou falas. Entendo o receio: o fato de ir não garante o “sim”, contudo, só acontecerá se alguém se dispuser a arriscar. Do contrário, seremos protagonistas de belos enredos dignos de livros e filmes que passam uma bela mensagem para a humanidade a respeito do amor, que existiu por toda uma existência, isolado no coração de cada uma das partes, perdendo, contudo, algo ainda mais belo que é trazer um sentimento assim ao cotidiano, tocando, também, a humanidade não apenas com uma mensagem poética, mas sim incentivando sentimentos e pessoas pela força do exemplo. Fora a dor poupada pelos “protagonistas”, ao escolherem viver sua própria história em vez de sofrerem calados.

Romântica e aprendiz de poeta que sou, se experimentei uma lição na vida, foi esta: não há melhor gesto amoroso que uma companhia ao supermercado, um carinho perdido na fila do banco ou uma casa planejada e pensada entre brigas e acertos de um casal que se ama, nem maior poesia que um corriqueiro (porém intenso) encontro de olhares.

Funciona assim: antes de mais nada, descubra da forma como estiver ao seu alcance (terapia, conversa com amigos, reflexões a respeito de experiências passadas, sofrimentos-aprendizado etc.) se você é carente, ansioso, inseguro e se possui autoestima baixa. Porque todas as distorções na percepção, seja para mais ou para menos (“ele me ama” quando apenas é um ser humano gentil, ou “ele não me ama” quando só falta se declarar e é você quem, no fundo, foge ou – preste atenção nisso! -, ao menos, o desestimula com seu medo de rejeição, inconscientemente o renega e, assim, o confunde e o afugenta), irão atrapalhar o processo e, em casos extremos, fazer com que percamos oportunidades.

Se descobrir uma ou mais destas características em você, não se desespere, mas também não se acomode: dependendo de outros fatores de sua personalidade ou do grau de profundidade destas características em você, é possível que não vá ter tempo de lapidar completamente estas lacunas sem perder a oportunidade da história em potencial que aparece AGORA. Você terá, então, que detectar estas características, conhecer seus mecanismos e descobrir onde elas interferem na sua percepção, para poder dar continuidade à possível história, apesar delas. Do contrário, se elas ainda forem forte demais, você simplesmente não conseguirá viver o relacionamento, ou, ao menos, este relacionamento, e será atraído por outro mais compatível pelo momento emocional que vive.

Se tudo estiver em equilíbrio dentro de você e o sentimento for assumido e desejado, até mesmo o medo do “não” internamente superado, agora chega o outro desafio: a interação. Colocar o sentimento em prática. Lembre-se de que por mais vontade que haja, não há compromisso algum entre você e o ser amado e, se mesmo quando há um laço, nunca há garantia absoluta (o risco faz parte da natureza do assunto “relacionamentos”. Geralmente só se dá bem neste campo quem assume o risco e, desencanado, coloca menos pressão ficando assim em paz, dando o melhor de si, o que é a base para o êxito desta experiência), não será agora que tudo o corre somente no mundo íntimo, que haverá.

Portanto, se, por um lado, não devemos nunca nos desvalorizar e correr atrás de quem não nos ama (não quem é teimoso, “duro na queda”, ou está confuso, o que requer tato e paciência, mas quem de fato não nos quer!), não devemos desistir na primeira negativa. Porque nesta fase tudo são experiências, e o fato de existir uma terceira pessoa na história, por exemplo, em vez de sinal de que “não é para mim” pode, sim, ser o impulso que faltava. Seja para os mais acomodados tomarem uma atitude ou os mais medrosos perderem o medo, seja para mostrar ao indeciso ou aparente indiferente o quanto quer aquela história, quando a vê escapando para “os braços” de outrem.

Ou, (e, perdoem a brincadeira, mas aqui se manifesta a minha fase “beijinho no ombro”…rs…) seja para os seguros praticarem a arte de serem conscientes de que o que têm a oferecer é mais sólido, de que a vida às vezes pode estar ofertando um parâmetro de comparação que fará com que a pessoa tenha mais certeza na escolha, quando optar ficar com você, apesar destas outras experiências que viveu.

Porque para quem não (mais) se assusta com as aparências dos fatos, quem leva mais em conta a essência, fica ainda mais forte – e não fraca, perdedora! – ao saber que por mais que aparentemente o que se vê é a negação, a causa daquele fato é exatamente porque o que a pessoa sinta seja tão poderoso que o move, ainda que seja na direção contrária. Que o que este sentimento poderia ser pode, sim, mostrar-se maior que vivências passageiras, e espera seu tempo e o amadurecimento oportuno da outra parte para acontecer. (Desde que esta “espera” respeite suas – de quem ama –  próprias limitações e seu tempo, do contrário, é inevitável uma temporária separação de caminhos. Refiro-me a pequenos “desencontros” que não atrapalham o andamento da história, que acontece em um ritmo lento por ainda não haver laços consolidados, não a insistirmos em algo que ainda não está maduro ou que não é para ser).

Ainda que tudo dê certo e o relacionamento aconteça, o perigo na paixão e mesmo no amor é que, por ser um “amor de reflexo”, é muito comum buscarmos no outro o que deveríamos encontrar em nós. Deveríamos estar inteiros para, somente então, atrair o parceiro por afinidades. Pois esta forma de amor (conjugal) é, ao mesmo tempo, algo muito íntimo, só que mudamos o que incomoda fora, no outro – onde é bem mais fácil. A projeção é saudável, desde que seja para naturalmente atrair os iguais, não para pegarmos atalhos catastróficos rumo ao nosso autoconhecimento.

Ou, muitas vezes, até iniciamos um relacionamento pelo motivo certo – admiração pelo que o outro é, não a complementação de lacunas que eu tenho que é mais fácil buscar fora que lapidar em mim – mas, devido a outras situações da vida, à incapacidade do ser humano em manter o que obtém, ou às suas oscilações emocionais, passamos a tratar o relacionamento mais como expectativas e recebimento do que como doação e engrandecimento, projetando a própria vida no parceiro, na relação, perdendo a individualidade.

Este fato ocorre não apenas quando a relação está estabelecida, mas também quando esperamos a reciprocidade. Pois o que era uma possibilidade maravilhosa de experiência, entretanto, por não ser nossa, ainda, maduramente aceita como impossível caso recusada, passa a ser uma necessidade de nossas carências e a possibilidade do “não” é tão horripilante que passa a ser preferível não vivê-la que arriscar conhecer a verdade.

Vale lembrar que alguns de nós têm experiências negativas que nos travam a caminhada e às vezes passam uma mensagem equivocada, necessitando atenção específica para este tipo de interação. Nem sempre quem não quer o faça porque não sente nada, pois se forem dois tímidos, dois inseguros ou dois traídos e/ou traumatizados emocionalmente (em diversos setores, não apenas na vivência afetiva) interagindo, será difícil guiar-se por clichês do tipo” homens geralmente tomam a iniciativa” ou “se não lhe der bola, é porque não quer, esqueça, a fila anda”. O tempo e os sinais aqui serão outros e as barreiras, maiores, dobradas. Cada caso, sempre, é um caso.

Esta ressalva feita, a conclusão é que, de maneira geral, quando passarmos (ou voltarmos) a ser apenas indivíduos inteiros, com outros setores para administrar – trabalho, família, amigos, hobbies, projetos pessoais etc. –, por mais que este setor de nossa alma mexa lá no fundo e realmente tenha o poder de iluminar ou escurecer o pano de fundo da vida, e não mais quem se deixe levar 99% pelo setor afetivo e 1% por todos os outros, teremos muito mais coragem para levar os “nãos” necessários e comuns que naturalmente nos acometem, até que o “sim” ocorra.

Portanto, doar tudo o que temos nem sempre será garantia de retorno, contudo, boicotar o que sentimos ou acreditamos é definitivo para determinar o fim de algo que poderia ir longe, muito além do que se poderia imaginar.

Assim, o “não” pode até ser evitado com a nossa pseudo autopreservação, mas o “sim” só acontece quando perdemos o medo de errar, o medo da rejeição e quando, apesar da consciência do fim, vivemos cada dia como se fosse o último e o sentimento, como se fosse mesmo eterno, aceitando as cenas do cotidiano, os vai-e-vens de emoções, os altos e baixos e recomeços que vivemos fora de duas horas de edição em uma tela ou quatrocentas páginas em um livro, somando tantos dias assim que, quando menos se percebe, era este mesmo o grande amor de nossas vidas e passou-se tanto tempo que, quando paramos para ver, percebemos tratar-se, como se desejava, de toda uma existência…

Fonte imagem: todateen.uol.com.br

Minha Vida que Não Minha 2

solidao caminhoAprendo pelo o posto aquilo que a vida quer que eu conheça. Não seria assim com todos, na maioria do tempo? Prazer, mundo! Acabaram-se meus benefícios.

Não compreendo como pode ser melhor ser obrigada pela força dos acontecimentos a escolher o pior dos caminhos. Eu que sempre penso antes de fazer, tendo concluído ser o amor a melhor escolha, brinco sem achar graça alguma o jogo do contrário na versão dolorida.

Só porque tive por opção inicial valorizar o ser humano masculino e acreditar no amor, fui deixada para trás por muitas garotas “descoladas” que convenceram o pior lado dos seres deste gênero e cada uma destas uniões mostrou-me apenas que o amor vale muito pouco quando o assunto é relacionamento.

Só porque fui uma boa filha, não roubei atenção o suficiente daquele que deveria me proteger e suas próprias questões, deste lado negativo do homem, cresceram no palco da vida. E esta, então, me pagou com abandono onde eu plantei amor.

Só porque é belo seguir o coração e o sonho, acreditei nos meus e dei com a cara no chão.

Tudo isso, apenas devido ao único e exclusivo fato de ter resolvido mudar. Decidido crescer. Somente porque parei de ouvir meus medos, minha gigante insegurança e passei a alimentar minha autoestima. Porque confiei em mim.

Tivesse sido covarde, jamais teria vendido um negócio que me sufocava e me prendia, para retornar ao jornalismo que eu não tinha tido a chance de exercer. Houvesse eu ainda continuado insegura, agarrar-me-ia ao título do diploma e jamais ousaria ouvir, finalmente, a minha vocação. E nunca teria escrito um texto literário neste blog, muito menos escreveria nenhum livro, ou, plenamente realizada e em paz, me sentiria capaz de conseguir coisas por mim mesma.

Se eu tivesse seguido meus instintos, minha carência, minha solidão, teria tido cada um dos variados tipos de relacionamentos possíveis, na confusão que o Homem ainda faz com a emoção – os quais eu descrevo com detalhes e argumentos convincentes no livro pelo qual precisei vender meu carro para poder terminar, mas que quase ninguém (re)conhece –, repetidas vezes. Não teria escrito nenhum poema. Não teria feito um outdoor para lutar pela felicidade, pela vida – com a qual não deveriam brincar. Não teria tomado benzetacil sem dor. Não teria sonhado acordada. Não teria amado incondicionalmente. Não teria sido alimentada por apenas um olhar, um sorriso. Não teria conhecido a verdadeira felicidade. Contudo, ainda acreditaria no amor, que sempre seria maior do que isso – e não o contrário.

Se eu não tivesse acreditado em mim, não teria movimentado o melhor que possuo, trocaria a fé pela razão e hoje estaria muito bem. Teria tirado vantagem da minha época de classe média alta, sem um pingo de culpa ou consideração por quem me sustentava, e hoje teria muito (muito) mais do que possuo; estaria sempre acompanhada e seria uma das mais populares do meu meio.

Se em vez de meiga eu também tirasse sarro; se em vez de humilde (em alguns aspectos) eu fosse vaidosa; se, em vez de sonhadora, eu fosse esperta; e se em vez de romântica, eu fosse a eu fogosa mesmo sem nenhum sentimento, não faltariam homens enlouquecidos ao meu redor. Seria única e exclusivamente a minha conveniência, não meu coração, quem escolheria.

Parece, entretanto, que o problema continua sendo a tal da autoestima, porém, em uma lógica invertida. Não existem mais leis e regras da vida, apenas um grande erro: eu. Tudo o que faço, não importa a causa e muito menos o efeito, ainda que estejam em extremos opostos ou mesmo no caminho do meio: é errado. Sou eu a inadequada. Quis acreditar no melhor e a vida, surpreendentemente, me deu o chapéu; em contrapartida, quero, exausta, sucumbir, mas algo aqui dentro simplesmente não me permite cair de vez. Nada é certo, nada acontece.

Parece que a vida passa lá longe, para todos, e eu vejo tudo de fora. Ou melhor, de dentro: presa em uma fina camada de vidro transparente que tem plena consciência do que não vive, mas que nunca quebra para deixar viver.

Nada entra em harmonia. Nada acontece. O tempo passa apenas para me consumir a saúde, a fé, a paciência, a força… o tempo. Para eu ver a vida de todo mundo progredindo. Nunca para fazer justiça. Para a acreditada reviravolta. Aliás, quem devolve o tempo perdido? Por melhor que tudo um dia aconteça, quero saber do tempo perdido. Que nada nem ninguém pode mais restituir. Que será da vida que eu estou perdendo, agora? Já que a vida é tão preciosa, por que preciso me contentar, aceitar, esperar e ter fé em perdê-la? Por que, para mim, só vale o “um dia”, justo quando tudo o que fiz foi exatamente parar de deixar as coisas para “um dia”, ter coragem de mudar, de crescer, de agir, e construir o presente?

Estou cansada, mas tão cansada, de aprender a cuidar de mim por sentir o desprezo dos outros e precisar me defender. Gostaria de poder concordar com a valorização e relaxar, deixar o bom sentimento fluir. Queria que fizessem questão, não receber sorrisos por compaixão. Todo mundo vai, eu fico. Faz tempo, ah, muito tempo, que não me contento mais com migalhas. Por que elas parecem ser a única opção? Justo eu, que tenho muito mais que migalhas a oferecer?

Eu sempre optei pelo amor, seja para viver, seja para aprender. Por que a vida me lê com a dor?

Pelo mero fato de ser como sou, escolhi o pior tipo de solidão. Não a do corpo, mas da alma. A primeira oferece a companhia desacompanhada, contudo, a distração dos sentidos, o encaixe na sociedade. A segunda promove o isolamento, exponencialmente multiplicado pelo instinto reprimido, as ácidas opiniões alheias, a ausência de conhecimento de tantas causas, no convívio.

Tal qual uma doce e bela criança indefesa cai numa cela de assassinos e estupradores, na minha ingenuidade de conceitos, eu pensei que o sacrifício valia a pena. Que o amor era maior que tudo. Que ao fazermos coisas boas, atraímos coisas boas. Que há justiça. Que a mudança faz parte da vida. Que estamos aqui para crescer.

Todavia, se eu tivesse deixado minha autoestima quieta, bem baixinha, teria percorrido os caminhos mais seguros e, com a minha inteligência, responsabilidade, esforço, hoje estaria rica, ou, pelo menos, muito bem na vida; teria me contentado com qualquer pessoa por companhia e poderia até não ter um companheiro, mas talvez tivesse um presente em datas específicas, um perfil para colocar no status de relacionamento da rede social e, se eu seguisse apenas os instintos ou necessidades, por que não, alguns orgasmos, só para deixar a mente mais desanuviada e a pele mais bonita?

Nesta cena grotesca, Deus seria o carcereiro que me tiraria da prisão, não o magistrado que me colocou nela. Ainda assim, no mais profundo do meu ser, ele é apenas o juiz sábio, justo e bom, e nada entendo.

Deslocamento é inefável angústia que perturba o ser humano. Já é ruim o bastante viver uma vida alheia. Pior ainda é sentir tanta dor por ter tido a sua arrancada bruscamente, que – por ter conhecido a morte – se busca a vida acima de tudo, e sofre-se também por não conseguir se encaixar. Nem mesmo em uma vida que não minha.

Fonte da imagem: almadegolfinho.blogspot.com

O Vestido Azul-Marinho

vestido azul marinho

Hoje eu fiz o que há muito não fazia.

Era um dia de calor, não necessariamente de verão. Queria vestir uma roupa leve, de algodão. Sentir-me livre, como um domingo à tarde permite.

Abrindo a porta do armário, passei cabide a cabide. Voltei no vestido azul-marinho, meu preferido de outros tempos.

Acontece que agora ele fica meio apertado. Tirando isso, é perfeito: decote discreto, tecido solto, comprido até os pés. Leves estampas brancas e florais enfeitam o pano, a saia balança quando ando. O problema é que ultimamente ele andava “marcando”, e eu simplesmente não queria me ver daquele jeito.

Não porque eu tenha noção de como me vestir bem e não queira usar uma roupa que desvalorize meu corpo, mas por não conseguir me visualizar como acontecia ao usá-lo, ultimamente. Eu o evitava.

Acontece que todo o meu guarda-roupa passa mais ou menos pelo mesmo processo e a parte que não passa, está suja ou secando. Ou eu saio de casa desconfortável para evitar ver o que não quero, ou escolho o conforto, a sensação de liberdade e fico um pouco desapontada com o que vejo. E que, se eu for parar para pensar, estará igual em qualquer roupa que eu use.

Visto-o. O aperto em minha lembrança parecia maior do que realmente é, embora a silhueta ainda seja diferente da data da compra.

Tal qual uma senhora não se envergonha de suas rugas – marcas de dores e lutas e não apenas a prova de uma plástica que não houve – olhei-me no espelho com meu vestido um pouco inchado, a minha própria versão de marcas de lutas e dores.

Parei de me culpar por cada vez que recorri ao chocolate em noites de tristeza e solidão, ou tardes de croissant e capuccino que eram o máximo de passeio que eu podia ter, na maior parte das vezes. Porque entendi o que vivi: por mais externa que eu tenha deixado minha dor – e, acredite, eu a coloquei! – havia ainda uma parte de mim que estava explodindo.

Uma parte sensível que, bombardeada, testada, simplesmente foi humana, não perfeita, e não suportou o peso de tanto sofrimento e perda. Tanta mudança. Tanta violência.

Por muito e muito tempo, para conseguir entender o que sucedia, eu pensei que era necessário matar o melhor de mim, e não suportei. Encontrar na comida, muitas vezes, a única fonte de prazer, não foi apenas um descuido com a minha alimentação ou falta de autoestima: mas mecanismo de sobrevivência.

Não, não cultuo o desregramento alimentar nem a dependência de coisas externas para ficar bem. Principalmente agora, sou alegre e profundamente adepta do bem estar pessoal em todos os níveis – corporal, mental, emocional e espiritual – e da saúde, da beleza, da higiene, da ordem, da prosperidade, quando vierem naturalmente como resultado de um estado de alma, não como fruto de idolatria ou escravidão.

Contudo, ver o reflexo no espelho, ter coragem de fixar o olhar e ver-me exatamente como estava: acima do peso, fez-me compreender que aqueles dezessete quilos que eu perdi naturalmente no passado, sim, voltaram.

Que a causa desta perda natural – um estado único e profundo de felicidade – também passou, não existe mais. Vivendo em um mundo material, uma vez com a situação financeira limitada, não sou mais tão livre e passei, até, por algumas necessidades. Não posso mais escrever nem viver o êxtase de encontrar a mim mesma como vivia, pois a vida, hoje, me exige outras prioridades (e eu sempre soube, ao contrário do que me diziam, que quando aceitasse um novo caminho – por melhor e necessário que fosse e hoje, com gratidão, reconheço, seja – teria a escrita praticamente “tirada” de mim, daí a relutância em mudar).

E o amor… ah, o amor… Sim, o amor no qual acreditei a vida inteira, que vi desabrochar (involuntariamente, com muita resistência, inclusive!) dentro de mim, que VIVI (e nada, absolutamente nada que experimentei foi mais real do que isso!), de repente, sem sentido algum, como se fosse algo insignificante, simplesmente não aconteceu. Não se concretizou. O que, para nós, geralmente é o mesmo que “não é verdade”. (Ainda que não seja… Já cansei de parecer louca ao tentar afirmar isso, então, simplesmente deixemos o barco fluir).

De quebra, no meio disso tudo, meu pai também me abandonou. Eu nunca havia chorado por isso, pois simplesmente não acreditava ser possível. Mas foi. É. Eis que as lágrimas, finalmente, tiveram endereço definido, não mais abstratas, por um estado de depressão.

Quando o pano deslizou até o pé e eu me preparei para sair, parei de negar o que vivi depois do céu. Tudo isso aconteceu, sim. E, se cheguei até aqui, é porque sobrevivi.

O que restou? Quando reconheci minhas dobras, percebi que tinha forças para transformá-las novamente em desafio, em autoamor. E que, portanto, restou muito mais do que eu imaginava quando eu ainda negava o vestido que não mais cabia.

O essencial continua aqui. Lapidado. Não apenas mais maduro, reconheço. Talvez, ainda um tanto dolorido. Aprendi não pelo amor, mas por uma dor muito bruta, sendo eu tão sensível. Não fosse de Deus as leis da vida, diria mesmo que sofri uma violência. Não fosse eu consciente de minha inferioridade diante a lógica da vida, diria que formato de lição desnecessário. Desperdício de energia vital.

Todavia, não mais sem chão porque meu pai – minha referência, minha segurança, meu amigo – não está mais aqui. Não mais no chão porque o homem que eu mais admirava escolheu me achar pouco, indigna não apenas de um genuíno relacionamento duradouro, mas de simples palavras de apaziguamento entre um cristão e outro – e nada mais.

Tive tantos motivos para desistir (e cheguei perto de chegar muuuito perto), entretanto, ainda estou aqui. Sendo assim, aceitei o inaceitável, acreditei no inacreditável (com a ressalva de isso ser o oposto de mim e, mesmo assim, conseguir colocar cada coisa no seu lugar eu não mais “surtar”), possibilitando a passagem do impossível.

Aprendi, um pouco mais, a conviver com a razão e a emoção. Deixar-me levar sem racionalizar o que é para sentir, porém, não deixando o sentimento me guiar nuvem acima quando a razão tem alguma objeção séria a fazer.

Para conseguir seguir, precisei deixar os dois (bem como tudo de bom que representaram) para trás. Não há mais espaço para eles agora, pois preciso aceitar o presente, o que a vida oferece (nem sempre o que quero, no entanto, às vezes, melhor do que julgava possível), o novo. E eles, infelizmente, por opção própria, viraram passado. Não cabem mais aqui, pois eu fui obrigada a desconstruir e improvisar. Modificar.

Eu aceitei que aquele tempo já se foi. Por melhor, único, maravilhoso que tenha sido. Passou. Não é. Mudou. Acabou. Não importa mais o que era, nem o que tinha que ser. O fato é que não foi.

Como sempre, coloquei meu brinco de coração, pintei minha unha de rosa cintilante (que eu adoro) e fui passear. Renascendo. Sendo eu. Percebendo que eu ainda acredito no amor (também e principalmente neste amor de almas, transcendental – embora reconheça sua raridade no plano dos fatos, ainda), apesar de tudo. Que deixar de fazê-lo é me aniquilar. (É sim o que eu dizia ter acontecido devido à rejeição amorosa: morrer a fazer o hercúleo sacrifício de ser obrigada a respirar). Portanto, devo fazê-lo não necessariamente inspirada em fulano ou ciclano, mas por mim. Porque esta sou eu. E eu, simplesmente, gosto – e realmente gosto! – de ser assim!

Fonte imagem: apenaxx.blogspot.com

Renascendo das Cinzas

fenix mulher

Existem três tipos de pessoas:
1 – as românticas puras que enxergam apenas o sentimento, a beleza e o resultado final de todo um trabalho em um relacionamento, que se chocam com os momentos de tédio, brigas ou detalhes práticos e sentem-se desiludidos diante dos fatos;
2 – aquelas que acham que o amor é algo quase matemático, simples resultado de convivência ou combinações de lacunas (trocas de favores) e que escolhem ou são atraídos (a) seus pares mais por situações circunstanciais, enxergando apenas o lado prático de um relacionamento, como se fosse algo comum e qualquer, fazendo com que pessoas sejam secundárias, substituíveis por outras parecidas que cumprissem a mesma função em determinado momento;
3 – e aqueles que entendem que há várias formas de o amor entrar em nossas vidas: amor à primeira vista, amizade que vira amor, paqueras bem sucedidas e todas as variáveis. Maduros, têm consciência de que o final feliz e as cenas editadas dos filmes e livros são apenas mensagens gerais, passadas por um formato específico (filme – apenas 2 horas de duração e livro, mais ou menos 400 páginas, portanto, há uma necessidade de resumo) por necessidade, e que as “cenas cortadas” também fazem parte do roteiro da vida. Contudo, não usam esta sabedoria como desculpa para serem realistas demais, não românticos ou céticos, porque entendem a grandeza que pode, sim, haver em um relacionamento a dois, quando não predominantemente guiado pelo ego e pelas necessidades individuais, quando se espera receber muito mais do que dar (número 2); mas sim, guiado pelo lado mais íntimo e sublime de nós, tocado pela presença e existência da outra pessoa em nossas vidas, estimulando o gesto de doar muito antes de receber. Embora todos os fatos e seus “efeitos colaterais” de circunstância e realidade também aconteçam – porém, como consequência, não causa.

Lamento a humanidade “doente” que, em sua grande maioria, ainda está no grupo dois e chama muitos “3” de “1”, contaminando a prática dos relacionamentos conjugais humanos. Que têm o poder de, por serem tão íntimos, despertar o melhor em nós e elevar também todos os outros setores de nossa alma: cidadania, profissão, autoestima, relacionamentos diversos (família, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, humanidade) etc.

Lamento quando, repetidas vezes, valores secundários – como uma cor de cabelo bonita, um óculos de sol atraente e o fato de alguém preencher uma carência sua e ter um status social favorável (ou seja: “Os outros vão me achar o máximo por estar com esta pessoa… quem é a pessoa mesmo? Ah, não importa, o que importa é que meu ego vai no teto” e, assim, eu terei a falsa noção de autovalor) – geram um pseudo sentimento e falam mais alto do que poderia ser bom de verdade, não importa como, não importa o tempo.

Embora minha sensibilidade ainda ache um método muito cruel de aprendizado e preferisse um mais brando e longo, às vezes acho que Deus desaparece de nossas vidas, fora, para que possamos enfatizar a nossa própria capacidade de superação, sem depender de terceiros, sendo obrigados a buscar mais fundo dentro de nós por nosso lado divino e, de tanto apanhar, escolher usa-lo de uma vez, parar com essa bobagem de insegurança, medo de perder e/ou assustar os outros com sua potencialidade e finalmente virar o jogo.

Quando a verdade, um dia (pode levar anos, décadas, eu sei, porque o tempo de Deus, infelizmente – cansada de sofrer, não consigo mesmo mais barrar minha ansiedade nem ter um segundo mais de paciência, embora seja o obrigada a ter), aparecer (e até lá, eu sei que muitos terão pena de mim ou me chamarão de louca – por não entenderem o que eu sinto e o que de fato vivi não caber em sua noção de realidade, não por eu realmente ser – embora quase tenha ficado), o meu NÃO valerá anos de espera e será do tamanho de um Outdoor!

Não há amor maior que manter-se fiel à sua essência, apesar de tudo que o convida para fazer o contrário (e que machuca mortalmente quando você, cansada, quase cede). Não, não jogarei no lixo a grandeza de ser número 3 (apesar de toda dor e decepção) por uma pessoa que fala outra língua e ainda vive presa em 2, desperdiçando a chance ÚNICA que teve. Atraímos para nós aquilo que vibramos. E este, muitas vezes, já é o nosso próprio inferno!

Fonte imagem: priscila.antunes.blog.uol.com.br

Metamorfoses

dancando na chuva mulher

Sinto um ciclo chegar ao fim e o que eu já sabia e queria evitar, acontecer e tomar conta de mim. Vencida pelo cansaço do movimento e aprendizado, rendida à dança da vida, deixo medos e posturas pela metade de lado, encontrando-me novamente, todavia, pronta e renovada.

Transtornada pelos desencontros e espinhos à princípio tenazes, torno a descobrir o meio detalhado para o final da estrada, o qual, no fundo, já conhecia. Caí na armadilha própria da raiva por desamores ao acreditar também eu na mentira que me diziam, em sua linguagem distinta da minha. Expectativas frustradas por quem não via em mim o que já sou e posso ser, se eu acreditar em quem realmente me conhece.

(Eu).

Até então, angustiada e descrente, negando-me por inteiro, indagava-me da probabilidade do romance e da vontade de Deus e sua justiça, na não exclusividade dos caminhos do amor a dois, incomodada pela aparente experiência exterior a despeito do que cada uma delas pode contribuir, não somente pela concretização de fatos outrora apenas interiorizados, contudo, também pela vivência e negação do que não mais se deseja. O quê, em vez de separar, aproximaria.

Perdida de mim, negava com a boca e com a dor tudo o que eu, profundamente, sentia, desesperando-me no martírio do suplício sem fim que é a vida sem sentido, só palpável, do vazio, sem amor.

Nos detalhes retomados do caminho relembrei, no agora – não “um dia”, da jornada, individual e intransferível que trilhamos, voluntária e inevitavelmente, cuja razão é iluminar, antes de tudo, a essência do ser.

Acontecimentos não são tudo, meros meios de lapidar o que habita em nós e que, somente então, encher-se-á verdadeiramente de vida.

Refletia, então, se era válido o movimento de admirar o sorriso de alguém e deixar-se mergulhar neste momento, sorrindo também, natural e inconscientemente. Ou se isso seria fugir de si.

Todavia, o que é o amor a dois se não um grande espelho individual? Ou, ao menos, deveria ser, não fossem os sutis e devastadores enganos das atrações fugazes, arrogância de egos ou emocionais comprometidos.

Onde a tênue barreira delimitando a busca pela distração no outro para fugir-se de si, e a necessidade natural de abrir-se para seu igual, executando apenas mais um tipo de sentimento indispensável para a evolução única e pessoal?

Encontrar um defeito e desistir é agir com parcimônia ou alimentar o próprio medo de ser quem pisa o primeiro passo e (a princípio) dá sem nada receber?

Se tudo nos faz crescer, existe motivo para não amar? Proteger-se antes de tentar não faça, talvez, sensatos, mas mortos. E não há morte pior que ter morrido e ainda sentir o coração bater.

Estaria a maturidade na não vivência de um sentimento sem garantias, ou na coragem de arriscar?

Quem de fato quer aprender não tem medo de errar. Afinal, não há morte pior que ter morrido e ainda sentir o coração bater. Do deserto de minha desilusão nasce a delicada e solitária flor do recomeço, que clama por um pouco de irrigação. Mas existe. Não mais aceitarei fatigar-me com o peso das costas sobrecarregadas de bolsas com capas de chuva ou sapatos plastificados, com suas prevenções e situações precavidas. Quando a água cair, vou dançar debaixo dela e, assim, deixando o cabelo grudar no rosto enquanto, de braços abertos, rodopio livremente, finalmente irei mergulhar em seu fluxo inadiável e matar minha ávida e postergada sede de VIVER!!!

Fonte imagem: agentepodiasevernoar.blogspot.com