Metamorfoses

dancando na chuva mulher

Sinto um ciclo chegar ao fim e o que eu já sabia e queria evitar, acontecer e tomar conta de mim. Vencida pelo cansaço do movimento e aprendizado, rendida à dança da vida, deixo medos e posturas pela metade de lado, encontrando-me novamente, todavia, pronta e renovada.

Transtornada pelos desencontros e espinhos à princípio tenazes, torno a descobrir o meio detalhado para o final da estrada, o qual, no fundo, já conhecia. Caí na armadilha própria da raiva por desamores ao acreditar também eu na mentira que me diziam, em sua linguagem distinta da minha. Expectativas frustradas por quem não via em mim o que já sou e posso ser, se eu acreditar em quem realmente me conhece.

(Eu).

Até então, angustiada e descrente, negando-me por inteiro, indagava-me da probabilidade do romance e da vontade de Deus e sua justiça, na não exclusividade dos caminhos do amor a dois, incomodada pela aparente experiência exterior a despeito do que cada uma delas pode contribuir, não somente pela concretização de fatos outrora apenas interiorizados, contudo, também pela vivência e negação do que não mais se deseja. O quê, em vez de separar, aproximaria.

Perdida de mim, negava com a boca e com a dor tudo o que eu, profundamente, sentia, desesperando-me no martírio do suplício sem fim que é a vida sem sentido, só palpável, do vazio, sem amor.

Nos detalhes retomados do caminho relembrei, no agora – não “um dia”, da jornada, individual e intransferível que trilhamos, voluntária e inevitavelmente, cuja razão é iluminar, antes de tudo, a essência do ser.

Acontecimentos não são tudo, meros meios de lapidar o que habita em nós e que, somente então, encher-se-á verdadeiramente de vida.

Refletia, então, se era válido o movimento de admirar o sorriso de alguém e deixar-se mergulhar neste momento, sorrindo também, natural e inconscientemente. Ou se isso seria fugir de si.

Todavia, o que é o amor a dois se não um grande espelho individual? Ou, ao menos, deveria ser, não fossem os sutis e devastadores enganos das atrações fugazes, arrogância de egos ou emocionais comprometidos.

Onde a tênue barreira delimitando a busca pela distração no outro para fugir-se de si, e a necessidade natural de abrir-se para seu igual, executando apenas mais um tipo de sentimento indispensável para a evolução única e pessoal?

Encontrar um defeito e desistir é agir com parcimônia ou alimentar o próprio medo de ser quem pisa o primeiro passo e (a princípio) dá sem nada receber?

Se tudo nos faz crescer, existe motivo para não amar? Proteger-se antes de tentar não faça, talvez, sensatos, mas mortos. E não há morte pior que ter morrido e ainda sentir o coração bater.

Estaria a maturidade na não vivência de um sentimento sem garantias, ou na coragem de arriscar?

Quem de fato quer aprender não tem medo de errar. Afinal, não há morte pior que ter morrido e ainda sentir o coração bater. Do deserto de minha desilusão nasce a delicada e solitária flor do recomeço, que clama por um pouco de irrigação. Mas existe. Não mais aceitarei fatigar-me com o peso das costas sobrecarregadas de bolsas com capas de chuva ou sapatos plastificados, com suas prevenções e situações precavidas. Quando a água cair, vou dançar debaixo dela e, assim, deixando o cabelo grudar no rosto enquanto, de braços abertos, rodopio livremente, finalmente irei mergulhar em seu fluxo inadiável e matar minha ávida e postergada sede de VIVER!!!

Fonte imagem: agentepodiasevernoar.blogspot.com